sábado, 30 de junho de 2007

Poesia: FALTAM-ME PALAVRAS




FALTAM-ME PALAVRAS


Faltam-me palavras
Atônito
Paralisado diante das letras
Que saltam do papel aos meus olhos
E as letras dançam, ganham vida
Soam deliciosamente aos meus ouvidos
Perfumam o ar
Inebriam todo meu ser
Flutuo, levito
Torno-me um anjo
Um pássaro de grande envergadura
E alço vôo no céu anil
Despido de nuvens
Colorido pelo astro rei.
Coração a batucar
Em ritmo de samba, em ritmo de bateria
Em ritmo único e particular
Palavras simples que dizem tudo
Que sussurram com sotaque arrastado
Com malícia e jingado
Com jeito moleque
Coração dançarino
Ao som de nova melodia.

(RLBF - junho 2007)


sexta-feira, 29 de junho de 2007

Crônica: Só, na noite.


As crianças adormeceram e ele saiu do quarto silenciosamente. O silêncio reinava na casa. Havia uma paz de início de noite, sem ruídos. Estava sozinho pela primeira vez desde que os filhos nasceram. Marina havia viajado a trabalho e ausentava-se num dia de semana à noite.




Sentiu uma profunda liberdade, algo que não havia sentido há anos. Caminhou até a varanda e ficou a admirar a noite, degustando aqueles momentos de solidão, sozinho. O sentimento que mais temia, o sentimento que o levou a casar-se com Marina, agora era nutrido e enchia-o de satisfação. Não tinha que ficar conversando com ninguém. Podia conversar com seus pensamentos, conversar consigo mesmo, sem interrupções, sem brigas, sem discussões. Estava só em um ambiente que lhe era familiar. Tudo aquilo era novo, pois já estivera só em viagens, em quartos de hotel, caminhando no meio da rua ou num almoço. Algo de diferente havia naquela situação. Quando viajava, era um forasteiro, agora era um nativo no seu habitat natural. Estava tranquilo e sereno. Surpreendeu-se ao sentir-se confortável com a solidão.

O que mais temia na vida era ficar só, mas agora ansiava por momentos como este. Pensamentos confusos, sentimentos inexplicados rondavam sua cabeça. Não ficou admirado com o fato de não sentir ciúmes da mulher, de não querer saber onde estava ou com quem estava. Estava bem consigo mesmo, e isto era o que importava. Algo de sublime possuía sua alma, algo que não conseguia descrever ou entender. Afastou a lógica e a racionalidade e simplesmente degustou aquelas horas na noite adentro. Só, na noite.

quinta-feira, 28 de junho de 2007

Um encontro com o passado


O Mar é um primoroso romance de John Banville (foto ao lado), escritor e crítico irlandês. Este livro lhe rendeu o prestigioso Booker Prize em 2005, prêmio máximo da literatura inglesa.



Narrado em primeira pessoa, o enredo é um diálogo entre presente e passado, onde o protagonista revisita o seu passado para conseguir viver o presente. Em um trecho, a filha do protagonista afirma: "Você vive no passado!" e isto faz com que Marden mergulhe no seu passado para romper a inércia. Ele percebe que está preso ao passado, que vive o presente de forma melancólica e sem esperança.



A estória é um pouco densa, talvez pesada para alguns, num estilo de escrita que mais se assemelha a uma longa divagação interior. Ainda estou na metade do livro, mas a qualidade do texto é indiscutível. Não é um livro para ser lido na praia, mas combina bem com dias frios de inverno ou para dias chuvosos, o que pode facilitar ao leitor vislumbrar os nevoeiros e a garoa fina no litoral inglês. Um clima que ajuda a voltar ao passado, a sonhar, e renovar as forças para viver o tempo presente.



Transcrevo um trecho como degustação:


"Naquelas noites intermináveis de outubro, deitados ali, um ao lado do outro, no escuro, estátuas derrubadas de nós mesmos, buscávamos escapar de um presente insuportável indo para o único tempo possível, o passado, ou seja, o passado distante. Voltávamos aos nossos primeiros dias juntos, lembrando, emendando, ajudando-nos mutuamente, como dois velhinhos trôpegos, de braço dado, contornando as muralhas de uma cidade onde haviam morado muito tempo atrás."

(trad. Maria Helena Rouanet, Rio de Janeiro : Nova Fronteira, p. 86)







quarta-feira, 27 de junho de 2007

Nota Curta

Os 2 últimos posts geraram alguns bons comentários. Como prometi não me alongar no assunto, respondi aos comentários no post.

Apenas para manter a bola de cristal funcionando, notem que os jornais já estão falando de apagão em 2009. Acho que li algo parecido por aqui...
Amanhã volto com literatura e O Mar, de John Banville.

Dicas da Dani: Kings of Tomorrow

Mudando de estilo e animando o começo do inverno com uma versão remix de Finally. Para mudar de assunto e deixar a música falar por si só.


Antes de mudar de assunto

Não vou continuar a bater na mesma tecla e parecer ranzinza. Não vou afugentar os leitores, mas antes de mudar de assunto, e depois de ter lido todos os comentários, vou concluir o que comecei no último post.

O Brasil tem mais uma oportunidade para crescer e acelerar o desenvolvimento econômico. O modelo a ser seguido é o chileno, e não o venezuelano, boliviano ou argentino.

Aparelhar o Estado com o inchaço da máquina pública, criação de cargos de confiança e possibilidade de empregar companheiros só vai levar ao aumento do gasto do público pressionando a necessidade de maior receita. Traduzindo: aumento de carga tributária, a perenização da CPMF (que de provisória só tem o nome) e socialização dos custos previdenciários com aumento das contribuições.

O Brasil não precisa pensar em salvar o Mercosul, o Brasil tem que adotar uma política externa de seu interesse e não de interesse dos outros. Acordos bilaterais vão ajudar o país a crescer e a gerar riqueza. Só que os nossos líderes ainda olham para a área externa como se estivéssemos no século passado.

Prometo voltar - hoje ainda - com assuntos mais interessantes e menos indigestos.

terça-feira, 26 de junho de 2007

Privacidade e Delinquência

Não sou adepto de teorias conspiratórias, nem tampouco sou partidário de visões apocalípticas, quando o assunto é política. Porém, não canso de me surpreender com a capacidade que o PT tem de insistir em tentar implementar um projeto de poder (e não programa de governo, pois estou convencido de que o projeto do PT não se exaure no 2º. Mandato do Presidente Lula, mas tentará se perpetuar no tempo no estilo Chávez).

O jornal Estado de São Paulo traz a seguinte manchete hoje: “Polícia Federal diz que delinqüente não tem direito a privacidade”.

Notem que agora a Polícia Federal decide quem é inocente ou culpado, esquecendo que existe um Poder Judiciário, uma Constituição Federal e que vivemos num Estado de Direito, pelo menos supostamente.

Outro exemplo é a postura do Ministro Marco Aurélio Garcia que voltou a defender o pagamento de dízimo ao PT mesmo depois que o Tribunal Superior Eleitoral decidiu que o dízimo é ilegal. Vejam só: um Ministro de Estado defende uma conduta ilegal ou a desobediência à uma decisão judicial. Não seria ele um delinqüente na visão da Polícia Federal e, portanto, deveria ter seu direito fundamental à privacidade defenestrado?

Se um ministro defende de forma aberta o desrespeito à lei e às decisões judiciais, como pode o Estado exigir que o cidadão cumpra seus deveres e obrigações? Por que a Polícia Federal não investiga o Sr. Renan Calheiros e seu gado excepcional?

Preocupa-me, nesta estória toda, a forma como surge um estado policialesco de forma silenciosa e sem alarde – corporificado na Polícia Federal – e como há uma campanha de desmoralização de determinadas instituições no país, campanha esta que visa primordialmente o fortalecimento do presidente.

Pensem apenas nas figuras que foram objeto de escândalos, eficientemente afogados, tais como Waldomiro Diniz, Marcos Valério, Zé Dirceu, Delubio Soares e tantos outros.

Os fatos vão surgindo e o projeto de poder do PT vai se revelando.

domingo, 24 de junho de 2007

Poesia: Vinicius de Moraes

EXTENSÃO

Eu busquei encontrar naextensão um caminho
Um caminho qualquer para qualquer lugar.
Eu segui ao sabor de todos os ventos
Mas somente a extensão.

Chorei. Prostrado na terra eu olhei para o céu
E pedi ao Senhor o caminho da fé.
Noites e noites foram-se em silêncio
E somente a extensão.

Quis morrer. Talvez a terra fosse o único caminho
E à terra me abracei esperando o meu fim
Porém tudo era terra e eu não quis mais a terra
Que era a grande extensão.

Quis viver. E em mim mesmo eu busquei o caminho
Na ansiedade de uma última esperança
Eu olhei - e volvi à extensão desesperado
Era tudo extensão.

Tudo neles é a paralisação da dor no paroxismo
Tudo neles é a negação do anjo... ...são os Inconsoláveis

- Águias acorrentadas pelos pés.

(As Coisas do Alto. São Paulo : Companhia das Letras, 1993, p. 33)

Águias são seres que voam alto, um vôo suave, artístico. Certa vez tive a oportunidade de presenciar uma águia de cabeça branca, a famosa Bald Eagle, símbolo dos EUA, voando livremente na natureza. É um espetáculo único. Uma pintura de asas que desenha curvas e linhas no céu.

Somos como águias e devemos voar, não rastejar. Alçar vôos em busca de objetivos altos e nobres, objetivos e sonhos arrojados. Cortemos as correntes que nos amarram e voemos como águias.

sábado, 23 de junho de 2007

Mudanças e novos ciclos

(Noite Estrelada - Vincent Van Gogh - 1889)


No post Fim do Outono, a Simone fez um comentário sobre mudanças e novos ciclos. Respondo ao comentário por aqui, esticando o assunto e refletindo um pouco, pensando em forma escrita. Ando um turbilhão de idéias que revolvem e pressionam para erupcionar do pensamento para o papel, para a tela do computador e ocupar espaço no blog. A correria profissional tem tomado parte do meu tempo para pensar e escrever. Sinto falta de momentos tranquilos no final do dia, solitário e silencioso, quando o telefone pára de tocar no escritório. São momentos em que organizo minhas idéias. Ultimamente tenho feito isto no trânsito, com o rádio do carro desligado. São momentos para ouvir meus pensamentos.



Tudo isto tem coincidido com uma nova estação e algumas mudanças profissionais. Engraçado como somos temerosos das mudanças. Elas nos afligem, inquietam. Não sou diferente. Fiz tantas mudanças na vida, tomei tantas decisões difíceis e arriscadas, mas mesmo depois de decidir, é custoso cortar as amarras com a segurança e o conforto do passado e do presente.



O presente é familiar, o futuro é escuro. O presente é fruto do passado, o futuro é fruto do presente. O que fazemos hoje será o futuro, as decisões e escolhas que tomamos serão o futuro que planejamos. Nem sempre o que planejamos acontece, mas o futuro é um sonho que procuramos concretizar. Estas mudanças e este novo ciclo espero que sejam para melhor. Pelo menos é isto que está nos planos! Agora, é confiar no tempo e trabalhar.






sexta-feira, 22 de junho de 2007

Dicas da Dani: Gotan Project

Não vou deixar a 6a. feira ficar em clima de raiva. Depois do último post, onde descarreguei minha indignação, um pouco de música.

Aproveitando a passagem do Gotan Project pelo Brasil (São Paulo no dia 20 de junho e no Rio de Janeiro dia 21 de junho), trago esta mistura de tango com um tempero contemporâneo. O Caderno 2 do Estadão (página D-12, 20.06.07) disse que o Gotan "põe a batucada no tango."

O crítico Lauro Lisboa Garcia comenta: "O que já era bom ficou melhor. Em vez de repetir a fórmula do primeiro álbum - em que o grupo promoveu um pioneiro e relevante equilíbrio entre os elementos fundamentais do universo tangueiro com programações eletrônicas e batidas de dance music -, Lunático envereda por uma trilha mais voltada para a estrutura orgânica do tango, com efeitos de dub, mas mantendo bem vivos quatro bandeneóns e muitas cordas em seu percurso, além da sensualidade."

Para quem não conhece - como eu não conhecia até esta semana -, escute antes de julgar. Seja um pouco eclético e abram suas cabeças musicais.

Lunático, o novo CD do Gotan Project, é uma referência ao nome do cavalo alazão de Carlos Gardel. Turfe e tango sempre andaram de mãos dadas, como se revela no famoso tango Por una cabeza, que narra a derrota de um cavalo numa corrida por apenas uma cabeça de diferença.

Antes que termine, e mudando de assunto, se alguém for a Buenos Aires e quiser assistir a um show de tango, fuja das casas para turistas. A melhor pedida é o tradicionalíssimo Café Tortoni, que fica perto da Casa Rosada. Tem mais de 100 anos e o tango ainda é puro, como os argentinos gostam.

Deixo-os com Mi Confesión e Diferente.



O Óbvio Ignorado

Ouvi no rádio agora de manhã um depoimento do Ministro da Fazenda, Guido Mantega, atribuindo o caos aéreo à prosperidade do país. Prosperidade!? Crescimento!? Fiquei indignado, se bem que já deveria ter me acostumado a ouvir declarações óbvias e rídiculas de integrantes deste Governo. A afirmação de Mantega revela o óbvio e demonstra a cada declaração do Presidente Lula e de seus Ministros (não deveria colocar em maiúsculas, mas...) a incompetência acerca da gestão do país.

Então, Sr. Ministro, vou lhe dar uma explicadinha de como as coisas funcionam no setor privado. Setor Privado? Sim, Ministro, aquele setro do país que trabalha sem estabilidade de emprego, que não pode fazer greve de 90 dias, que tem que pagar uma carga tributária escorchante sem receber nada em troca, que levanta cedo e vai dormir tarde, que enfrenta a burocracia e a preguiça de um outro setor chamado público.

No setor privado, que gera riqueza para o país e paga o seu salário, prosperidade significa investimento, significa arriscar, significa planejar e agir. Agir, Ministro. Se ninguém no Governo é competente para resolver o problema do caos aéreo, contrate alguém que seja ao invés de chamar uma companheira que prefere relaxar.

O óbvio desta declaração é que o Governo não tem planejamento, não sabe para onde vai, apenas curte o gosto do poder e da autoridade.

O óbvio desta bagunça é que prosperidade gera gargalos e gargalos matam a prosperidade. Não se assustem com o apagão de energia que virá em poucos anos. O óbvio, Ministro, é que se não tivesse havido privatização - aquela que os Senhores tanto criticam - hoje não teríamos telefonia confiável.

O óbvio é que é preciso trabalhar para resolver o problema. Sim, trabalhar!!!! Eu sei que cansa, que é difícil, mas é isto que o setor privado faz no Brasil, ainda que o Governo atrapalhe.

quinta-feira, 21 de junho de 2007

Fim do outono

Hoje acaba o outono e começa o inverno. Uma estação que sucede a outra, o ciclo da vida, o tempo que marcha sem pausas, que parece se acelerar com os compromissos e a correria da vida moderna.

Acaba o outono com um belíssimo dia de sol e céu azul em São Paulo, com tardes ainda quentes e ar muito seco. O dia ficará mais longo e as noites se encurtarão até a chegada do verão.

Não há noite tão longa que não traga a luz no dia seguinte e não há inverno que se arraste eternamente. As estações acompanham os ciclos da vida, de mãos dadas, para valorizarmos as coisas simples e apreciarmos cada estação, cada momento, que é sempre único, ainda que de dor ou de tristeza. O inverno, por mais rigoroso e frio, sempre passa, e cede lugar à primavera, com seus aromas e sorrisos.

quarta-feira, 20 de junho de 2007

Crônica: Quer dançar?


Avistou-a do outro lado do salão, sentada na mesa bebericando uma taça de Prosecco e conversando com uma amiga. Ela não o viu. Estava com um lindo vestido azul escuro, com decote discreto e cavado nas costas cobertas por seus longos cabelos castanhos. Algo de especial havia naquela noite de festa, talvez o sorriso que escondia um sentimento de tristeza, disfarçado no clima de alegria que envolvia o ambiente. A banda cumpria o roteiro típico de festas de casamento, começando com músicas de Frank Sinatra e sucessos da época em que se dançava com um par a noite inteira.

Pacientemente, Eduardo esperou que ela ficasse sozinha. Queria ter certeza de que ela não estava acompanhada. A amiga deixou-a na mesa e ele foi ao seu encontro. Estava distraída quando perguntou:

- Quer dançar?

- Vou pisar no seu pé. – respondeu rindo. Estou meio altinha com estas taças de Prosecco.

- Não me importo, desde que dance comigo. Fique tranqüila que não vou deixar você cair. – retrucou com um sorriso correspondido com um olhar que dizia que ela estava contente de encontrá-lo.

Estendeu a mão e conduziu-a à pista. Dançaram uma, duas, três músicas sem trocarem qualquer palavra. Eduardo sentia seu coração acelerado, o perfume suave inundava suas narinas, o toque das mãos, o cabelo que roçava seu rosto, tudo aquilo fez com que esquecesse por completo tudo à sua volta. Sabia que aquele momento iria se eternizar em sua memória com todos os pequenos detalhes, queria que o tempo parasse, que todos sumissem e que a música nunca cessasse. Queria ficar dançando com ela, coladinho, para sempre. Palavras não eram necessárias e ele tinha certeza de que ela era capaz de ler seus pensamentos e adivinhar o que se passava no seu interior.

- Está vendo como não pisou nos meus pés. – disse ele.

Ela colou seu rosto no dele, aproximou-se mais e suspirou. Um desabafo que deixava transparecer a tristeza que havia detectado no sorriso disfarçado.

A música vinda do despertador acordou-o. Jogou as pernas para fora da cama e viu-se num quarto vazio, despertado do sono da noite. Queria voltar a dormir, queria voltar a sonhar, queria que o sonho continuasse.
(Ilustração do post: Baile, de Fernando Botero)

terça-feira, 19 de junho de 2007

Poesia: MÁSCARAS


MÁSCARAS


Não se engane com meu riso fácil

É simples máscara social

Persona vivida e encenada

Vivida sem ensaio

Para disfarçar e esconder

A dor nas profundezas do ser

A tristeza que me assola

E me derruba e me conduz

Que seria incompreendida pelo mundo

Mundo egoísta e indiferente

Indiferente ao sentimento

Que gira ao redor de egos

Egos grandes e obesos

Egos cegos e arrogantes

Egos e mais egos.

Quão diferente seria o mundo sem máscaras

Sem egos, sem fantasias, sem falsidade.

Quão diferente seria o mundo com um olhar,

Um olhar penetrante e transparente

Que vê tudo sem máscaras.


(junho 2007)

segunda-feira, 18 de junho de 2007

Ruth Rocha e literatura infantil

O Caderno de Fim de Semana do Valor Econômico de 8,9 e 10 de junho trouxe uma interessante entrevista com a escritora Ruth Rocha. Nas páginas 15 e 16, ela responde à seguinte pergunta: "Em que medida a literatura pode ajudar [uma criança]?

"A literatura, quando é boa, pode ser tudo para uma criança. Ela ensina vocabulário, ortografia, narração, ética, estética, ensina a sonhar, a pensar, a imaginar, a viver. A literatura é um ensaio para a vida. É Milan Kundera quem diz que para viver não existe ensaio, não existe treino, você entra direto no jogo. Mas literatura pode ser, sim, uma espécie de ensaio para a vida, uma preparação. Ele é esse condão que ajuda a formar o pensamento. Infelizmente, temos milhões de analfabetos e também milhões de analfabetos funcionais, incapazes de ler. E temos ainda, o que é mais grave, milhões de alfabetizados que, apesar disso, também não lêem."


Os grifos no texto são meus. Vamos por partes. Ler é um hábito que se adquire, que precisa ser incentivado com exemplo e incentivo. As estórias infantis podem ser uma excelente forma de educar, de ensinar, de ilustrar, de tornar palpável à criança o que se espera dela. Tomemos como exemplo a estória dos 3 Porquinhos. O porquinho diligente, esforçado, prevenido é aquele que constrói a casa mais sólida. Dá mais trabalho, mas não tem dor de cabeça quando vem o lobo. Esta estória pode ajudar os pais a treinar os filhos a vencerem a preguiça, a fazerem suas tarefas de forma bem feita, com capricho, com ordem.


Sou um pai que se envolve na educação dos filhos. Procuro participar ativamente, saber o que aprendem na escola para complementar em casa, de forma lúdica e divertida. Fui provocado a inventar um personagem e estórias para contar antes de dormir. O personagem das aventuras antes de dormir chama-se Miguel. As estórias geralmente são simples, mas me forçam a ser criativo. Se há algo para ensinar, se houve alguma coisa em que a criança fez e que precisa ser corrigido, uso a estorinha noturna para ilustrar como esperam que se comportem.


Uma destas estorinhas virou uma crônica publicada neste blog, que é Borboleta Azul.


Mas a leitura não fica de lado. Minha filha está em fase de alfabetização e adora ler. Sento com ela e lemos juntos, inclusive substituindo a televisão por um bom livro. A leitura desperta a curiosidade e auxilia o desempenho escolar. A função dos pais é incentivar isto. Concordo integralmente com Ruth Rocha, temos um país com poucos leitores, mas precisamos insistir para mudar isto. Compete a nós, pais, fazer isto.

Outsider no São Paulo Fashion Week





Fui ao São Paulo Fashion Week na tarde de ontem. Um novato, mas curioso, fui ver pessoalmente o que este evento tem de tão especial. Não fui de bicão, pois tinha convites para o desfile do português Miguel Vieira (fotos que ilustram o post). Confesso que não me senti um estranho fora do ninho, mas a muvuca e os tipos que circulam é bem divertido.

Seguindo o conselho de frequentadoras do evento, fui de táxi até o prédio da Bienal, no Parque do Ibirapuera. Bem tranquilo de chegar, já que o desfile era às 16:30, ou seja, o segundo desfile do dia. A Bienal ainda estava meio vazia e circulei pelo prédio, tomei um café. Não me aventurei nos lounges, salas de diversos patrocinadores e revistas de moda espalhados pelos 2 pavimentos da Bienal. Todos tinham seguranças na porta e não estava disposto a ter que me explicar para segurança para conseguir dar uma olhadinha.

A Natura montou um redário no primeiro pavimento. Bem, o que é um redário? Um local onde foram penduradas redes para descanso e a empresa aproveitou para divulgar seus produtos ecologicamente corretos. Aí eu aproveitei: estiquei-me numa rede e fiquei folheando o jornal do SPFW com informações sobre o evento.

Hora do desfile, dirijo-me à Sala 1, no térreo. Pequena fila para entrar, mas tudo muito bem organizado, lugares marcados na sala de desfile, um monte de fotógrafos quando chega algum famoso, mas tudo tranquilo. 35 minutos de atraso e o desfile começa. Ritmo alucinante. Modelos (homens e mulheres) entram na passarela rapidamente, chegando a ter 3 modelos ao mesmo tempo na passarela. Quanto tempo dura um desfile? 10 a 15 minutos. Isto mesmo, só isso. No final, o estilista entra e todos aplaudem.

Na minha opinião de outsider, ou não-fashionista, para usar o jargão do mundinho, achei o desfile morno, sem empolgação. Tudo em branco, preto e prateado. Monocromático, mas chique. E minha análise se esgota aqui. Li os comentários dos desfiles no site da Gloria Calil e tem que ser muito entendido para escrever sobre o assunto, então não me aventuro.

Achei divertido e algo diferente. Para quem assistiu ao filme O Diabo Veste Prada, há uma cena em que Meryl Streep explica a importância da indústria da moda e dos desfiles. Trata-se de antecipar tendências, de perceber o que estará nas vitrines e no vestuário das pessoas nos próximos meses. E antecipar tendências e movimentos faz parte da vida das pessoas. Este é o ponto que talvez mais me interessou ao ir ver um desfile: tentar perceber tendências, ver coisas novas e abrir a cabeça um pouco.

Sou curioso e, ainda que desconfiado de inovações muito revolucionárias, gosto de estar bem informado. Afinal, este blog procura olhar para a frente e não para trás.

sábado, 16 de junho de 2007

Dicas da Dani: Insônica

Esta coluna musical do blog apresenta uma banda nacional, para variar um pouco. Trata-se do primeiro trabalho da banca independente paulista Insônica. Conhecida dos frequentadores da night paulistana, eles agora alçam vôo próprio com seu primeiro CD gravado.

Formada em julho de 2003, a banda paulistana tem um eclético repertório de pop e rock, composto por mais de 100 músicas, que vão desde clássicos até canções de grupos e músicos contemporâneos .

A experiência dos integrantes, que contam com mais de 10 anos de estrada, inclui jingles profissionais, ensino de instrumentos e acompanhamento musical em gravações e shows de artistas, além de apresentações em lugares como Charles & Edward's, Córcoran´s Irish Pub, A Lanterna, Vera Cruz, Miscelânea, Blue Note, Vitória Pub, Aeroanta e DamaXoc.

Trazemos um vídeo de Vazio, uma das músicas do CD que está à venda com exclusividade na Saraiva. Há outros vídeos disponíveis no Youtube com o repertório do CD. Vale a pena conferir mais uma banda brasileira que batalha para ganhar espaço.

sexta-feira, 15 de junho de 2007

Espírito Crítico e Liberdade de Imprensa


Alguns temas rondaram as revistas, jornais e telejornais nesta última semana. Entre algumas notícias esparsas há um tema de fundo: liberdade de imprensa e liberdade de expressão.


Comecemos com a notícia de que uma mãe questionou judicialmente alguns erros contidos em apostilas do grupo COC. Depois o Presidente Lula atacou a imprensa, afirmando que a imprensa só publica notícia ruim e que isto impede o crescimento do turismo no país (não vou entrar no mérito da lógica do nosso presidente). E trago também, para esta colcha de retalhos, um artigo escrito por Carlos Costa na Revista Getúlio nº 3 (Samba de uma nota só) em que ele critica as figurinhas carimbadas que dão opinião nas revistas e jornais. Ele lança a questão: será que não tem mais nenhum outro especialista no assunto? Por que sempre os mesmos?


Agora vou costurar estes retalhos.


A liberdade de imprensa e a liberdade de expressão e pensamento são fundamentais em qualquer sistema democrático e livre. São liberdades fundamentais, pilares de uma sociedade plural e com diversidade de correntes de pensamento. Isto deve levar-nos a desenvolver um apurado espírito crítico. Não podemos aceitar tudo que lemos ou ouvimos. A imprensa também erra. Mas uma imprensa livre é garantia de que o Estado não invadirá nossos direitos e liberdades. No momento em que se cria uma TV estatal para divulgar as ações do Governo, ou como fez Hugo Chávez, revoga-se a concessão de um canal de televisão que tem posições diferentes das do ditador, a liberdade individual está ameaçada.


Estas ameaças, este patrulhamento ideológico, não pode ser admitido no Estado de Direito. Fico abismado como um Presidente pode agredir a imprensa da forma como fez - e sempre tem feito. Ele só pode falar o que fala por causa da liberdade que ele tanto critica. E a liberdade de pensamento, de questionar, de criticar, é que permite os grandes avanços científicos em todos os campos. Crítica e diversidade é sinônimo de desenvolvimento.


Por isso concordo com Carlos Costa, precisamos entender que os "especialistas" ouvidos pelos meios de comunicação não são os únicos, nem que aquela posição é única. A atitude da mãe que questionou as apostilas do COC foi uma atitude crítica, de exercício de sua liberdade de pensamento, de não concordar com uma tese marxista de esquerda. Ela tem todo o direito de fazer isto, do mesmo jeito que os marxistas têm direito de criticar o capitalismo.


Aguçar o espírito crítico é fundamental no proceso educacional. Algumas vezes escrevi cartas para jornais e revistas e algumas foram até publicadas na coluna dos leitores, mas para alguns meios de comunicação simplesmente desisti. Parei de comprar determinada revista ou de ouvir determinada rádio por não concordar com as opiniões expressadas.~É meu direito fazer isto.


Esquece-se o Presidente Lula que hoje existe a internet e a blogosfera. Não há forma mais livre de liberdade de expresão e pensamento do que os milhões de blogs que existem. Viva a internet! Viva o espírito crítico e viva a liberdade!

quinta-feira, 14 de junho de 2007

Pausa para rir

No meio de tantas notícias para comentar, no meio de tantas trapalhadas do Governo em seus discursos, vou aproveitar a deixa humorística e fazer uma pausa para rir um pouco. Estou com mil coisas na cabeça para escrever, mas aprendi com minha irmã, que é joranlista, que notícia tem prazo de validade. Algumas têm prazo de validade de 1 dia, outras de 1 semana e outras não têm prazo de validade.

Sobre a frase brilhante de nossa Ministra do Turismo dei uma palhinha ontem - antecipando o noticiário da noite, como é o espírito deste blog - e vou abordar a questão de outro ponto de vista mais tarde, com mais tempo para escrever. Acho que o grave não é frase dela, mas o descaso, a mensagem subliminar que vem com um comentário entremeado com uma gargalhada. Em outras palavras, ela disse a todos os brasileiros: Apertem o botão do Fo.....-se!


Vale a pena ler também o que escreveu hoje o Reinaldo Azevedo sobre o tema. Concordo em gênero, número e grau!

No meio à indignação, vamos rir. Ao invés de deixar um comentário no blog da Simone, vou sugerir que leiam o post dela sobre o Business Bingo. Achei divertidíssimo! Lanço aqui uma campanha: vamos mudar o Business Bingo para o Bingo dos Aeroportos. Ao invés de usar palavras usadas em reuniões de negócios, poderíamos incluir palavras como atrasado, cancelado, filas no check-in, overbooking, infraero informa etc.

Isto seria uma ótima distração para os passageiros que ficam horas e mais horas esperando nos nossos aeroportos, enquanto o Presidente acha que a culpa é da imprensa.

Volto depois.

quarta-feira, 13 de junho de 2007

Não posso ficar quieto!

Acabo de ler um depoimento da Ministra do Turismo, Exma. Sra. Marta Suplicy, ao responder uma pergunta sobre o caos nos aeroportos brasileiros. Ela disse: "Relaxem e gozem, porque depois você vai esquecer todos os transtornos."

Não sei se rio, se choro, se grito de raiva. Não gosto de Marta Suplicy. Não gosto deste governo que nos faz de trouxas e otários todos os dias. A declaração é um atestado de que a Ministra não entende de nada além de sexo, lembrem-se que ela é sexóloga. Se não me falha a memória, esta frase foi dita pelo então candidato a prefeito de São Paulo, Sr. Paulo Salim Maluf, ao afirmar que se o estupro é inevitável, relaxe e goze. A declaração - de péssimo gosto - foi atacada por todas as feministas, inclusive a Sra. Ministra.

Numa disputa eleitoral entre Maluf e Marta, o assunto voltou à tona. E novo bate-boca em que a então prefeita, repetiu umas 500 vezes no debate de que Maluf era mitômano (eu não tinha a menor idéia o que significava a palavra na época, mas é sinônimo de mentiroso, de uma pessoa que cria mitos).

E agora, a Ministra usa a brilhante frase de Paulo Maluf.

O mundo dá muitas voltas, e na política, as voltas são mais rápidas. Agora Maluf é aliado de Lula e todos são amiguinhos. Coisa linda! Só neste país mesmo...

Quero ver o que o Reinaldo Azevedo vai falar do assunto. Vai ser divertido.

Mexendo nos links

Acrescentei alguns links a este blog.

O primeiro deles é o blog Do Avesso, editado pela Nilza. Um blog de poesias e excelentes textos. Este blog eu não descobri, ela me descobriu primeiro e fui visitá-la. Gostei e divido com todos.

A outra novidade é o blog Papos Culturais, dos jornalistas cariocas Katia Barros, Michele Rangel e Jayme Rocha. Textos bem pesquisados e bem elaborados que tratam de cultura, principalmente cultura popular e folclore. A coluna do Jayme Rocha lança um olhar diferente sobre o Rio de Janeiro, sugerindo passeios e lugares para visitar. Para quem não é carioca, ou mesmo para quem mora no Rio, é uma ótima sugestão para novas aventuras e descobertas.


Fabricio Carpinejar é um poeta gaúcho e seu blog tem um pouco de tudo. Uma visão masculina para variar um pouco que vale a visita. Recentemente ele lançou o seu 10o. livro "Meu filho, minha filha", com poesias sobre seus filhos, sobre a paternidade.


Por fim, Manuela Alves tem um blog com contos, crônicas e poesias. Textos intimistas que fazem pensar.

segunda-feira, 11 de junho de 2007

Crônica: Carta a uma amiga

(Jan Vermeer - Mulher lendo carta)


Luis sentou-se diante da tela do computador, num final de dia, e resolveu redigir um email a uma amiga.

Querida amiga,

Sinto que preciso te dizer algumas coisas neste teu aniversário. Coisas estas guardadas dentro de mim e que borbulham no meu interior prontas para ganhar vida. Redescobri a poesia da vida com você. Seu jeito, seu olhar, sua voz, seu sorriso, seu carisma mudaram minha vida de uma forma tão delicada, sutilmente feminina, carinhosa. Naturalmente você me fez perceber as coisas, sem imposições, simplesmente sendo você. E quando me dava conta, uma implicância já havia desaparecido, um momento que passaria despercebido marcou-me de forma inesquecível, um simples encontro para um café cravou na minha alma um sentimento novo.

Você trouxe música de volta aos meus dias, adivinhando meus gostos, falando com palavras em forma de canções. Música que me faz sorrir e leva meu pensamento a viajar para junto de ti.

Sim, minha amiga, você é a culpada por tudo isto. Somente coisas boas que sem você não teriam acontecido.

A magia da amizade transforma até os corações mais gelados, mais frios, mais indiferentes. E esta magia faz acender no coração empedernido o calor da brasa. A pedra se torna fonte de vida e de luz. O coração se transmuda em algo divino, compartilhando do amor maior.

Minha amiga, sou-lhe eternamente grato e eternamente endividado por terdes feito tudo isto por mim, ainda que sem querer, ainda que sem notar.

Sei que não detenho a mesma magia, que não sou capaz de estampar um eterno sorriso no teu rosto, mas sempre vou tentar, pois uma amiga como você é muito valiosa. Feliz Aniversário.

Um beijo carinhoso,


Releu a mensagem. Achou-a muito intensa, muito sincera. Desistiu de mandá-la. Marcou o texto e apagou a mensagem. Começou de novo e escreveu algo que pensava ser mais condizente com seu estilo.


Querida amiga,
Feliz Aniversário. Parabéns e muitas felicidades.
Um beijo do seu amigo.

Professor em fim de semestre

Hoje dei minha última aula de Direito Financeiro para uma turma de 5o. ano na Universidade Paulista (UNIP). A vantagem de dar aula para o último semestre de um curso de direito é a chance de fazer um discurso de encerramento. Eu sempre faço. O discurso é o fechamento do ano, o fechamento de um ciclo de convivência com os alunos. Alunos que depois de formados passam a ser colegas e amigos. Depois de 9 anos dando aulas no ensino superior ainda não me acostumei em ser chamado de Professor. Sinceramente não me acho digno do título.

Porém, algo de inusitado aconteceu hoje na aula. Enquanto falava - foram 5 ou 10 minutos - percebi algo de novo. Pela primeira vez notei olhos marejados e duas mulheres chorando. Fiquei tocado com a reação, pois nunca tinha despertado emoção nos ouvintes. Marcou-me. E vou lembrar desta última aula com carinho. Diria que a reação só aumenta a minha responsabilidade como docente, pois a matéria que leciono é muito chata, mas enfrento o desafio com paixão. Acho que isto falta a muitos professores universitários: despertar, nos alunos, a paixão pela matéria lecionada.

Os mestres que me marcaram ao longo da vida eram assim, apaixonados pelas disciplinas que davam.

sábado, 9 de junho de 2007

Poesia: ALMA ILUMINADA


ALMA ILUMINADA

Alma iluminada pela luz da lua
Luzeiro que me guia na noite enevoada
E aqueces meu coração
E alumias meus passos.
Alma radiante que transborda alegria
Ainda que escondida
Ainda que discreta
Perceptível apenas ao olhar mais atento,
Ao ser mais sensível
Ao espírito mais observador.
Pedra preciosa em forma bruta
Que descortina com o nascer do sol
E reflete a luz e a cor com teu olhar
De uma alma valiosa, sem preço
Mulher desenhada com atenção
Nos menores detalhes
Sem reparos ou rebarbas
Pura e perfeita
Encanto e magia em forma humana,
Em forma feminina.
Se perfeição existe, ela é você.

(RLBF - 8/06/07)

A alma nasce no momento da concepção de cada ser humano e não perece. Transcende para a eternidade. Deixa rastro. Algumas deixam rastros com sulcos profundos, outras correm pelo mundo como água sobre a pedra, que debaixo do forte tem o rastro evaporado. Gosto da imagem tão utilizada pelos escritores da folha em branco deitada na mesa, esperando a tinta da caneta. Hoje, não há mais folhas em branco. Elas foram substituídas por telas de computador em branco, mas estão prontas para serem preenchidas. Cada novo ano, cada aniversário, cada dia que nasce é uma nova folha em branco a ser escrita. Alguns nada escrevem. Outros marcam profundamente as páginas de vida que lhe são dadas. Alguns desenham e com os desenhos dizem milhares de palavras. Alguns só rabiscam, deixam um rascunho mal redigido, superficial, inacabado.


Almas iluminadas marcam nossas vidas de forma indelével, de forma inesquecível. Mexem com a nossa própria alma, despertam sentimentos e ajudam-nos a descobrir lados novos a nosso respeito. Faço aqui uma confissão: um incentivo de uma destas almas iluminadas me fez perceber que podia escrever e dividir o que escrevia. Um empurrãozinho, carinhoso, delicado, que só podia ser feminino.

sexta-feira, 8 de junho de 2007

Poesia: Carlos Drummond de Andrade

Um curto poema de Drummond. Primeiro o poema, depois um breve comentário.

POESIA

Gastei uma hora pensando um verso
que a pena não quer escrever.
No entanto ele está cá dentro
inquieto, vivo.
Ele está cá dentro
e não quer sair.
Mas a poesia deste momento
inunda minha vida inteira
.

(Sentimento do Mundo. 7a. ed. Rio de Janeiro : Record, 1999, p. 47)

Há momentos em que a poesia silenciosa, a alegria transbordante, de um simples e banal momento, de um telefonema feliz depois de ganhar um presente inundam a vida inteira. Momentos que se congelam na memória para a posteridade, para na companhia de uma noite de lua cheia, ou ao som de uma canção que mexe com a alma, sorrir e relembrar....relembrar e sorrir...levitar na solidão que não é solidão, é companhia distante, é companhia silenciosa, é sussurro que faz a vida valer a pena.

Campeão de audiência

Estamos no meio de uma ponte de feriado e ia abordar um tema que me surgiu no livro O Mar, de John Banville, que comecei a ler faz uma semana. Livro denso e que avança meio devagar, mas me faz pensar. Resolvi tratar de um assunto mais leve, aproveitando o clima de feriado, calmaria e tempo para jogar conversa fora. Até porque acho que muita gente (exagero claro, já que não são tantos os leitores!) só vai ler o blog na 2a. feira, depois que voltar de viagem. Vamos ao assunto.



De tempos em tempos analiso as estatísticas de acesso ao blog para descobrir quem é o público leitor, o perfil do leitor e direcionar os temas conforme o interesse. As estatísticas não indicam o sexo de quem lê, mas nota-se uma esmagadora maioria feminina. Só as mulheres comentam. Talvez encontre 1 ou 2 comentários masculinos, mas quem dá palpite são as mulheres. Isto não me surpreende. Outro dia conversando com uma amiga comentei que os blogs de mulheres são mais divertidos, mais sinceros e mais pessoais. Vocês, mulheres, escrevem mais e falam mais também. Ressalvo que isto não é uma crítica, é uma constatação.



A maioria feminina revela uma forma diferente de pensar. No post Formas de Pensar (o campeão de audiência até agora em acessos e comentários), abordei esta questão. Acho que homens e mulheres se manifestam de forma diferente, falam de forma diferente, e estas diferenças são maravilhosas, são aqueles motivos que tornam os relacionamentos tão interessantes - ou caóticos.



Outro fato interessante a constatar: no post em que discutimos sobre A Trégua, a maioria das leitoras frisou a questão da TPM e do período menstrual, mencionado pelo escritor Mario Benedetti en passant no livro. As mulheres se prenderam neste ponto, e eu entendo a preocupação. Na visão masculina, este ponto quase passou de forma imperceptível para mim.



As crônicas também me dão uma dica muito preciosa de como as mulheres pensam ou como elas lêem o que escrevo. Por que abordo isto? Porque tento retratar personagens femininas de forma crível e convincente. O blog tem a função de ser um laboratório de escrita para mim e a receptividade - e críticas - dos leitores é fundamental para aprimorar os textos. Das últimas crônicas que escrevi, gosto muito de Tarde no Café e Uma Certa Madrugada. E tenho a impressão - ou seria intuição - de que a próxima vai agradar também.




Para quem gosta de crônicas, acrescentei o blog da Manuela Alves nos links. Textos muito bons que me fazem pensar e acabam por contribuir com a temática das minhas crônicas também.



Jogo apenas mais água no feiijão e requento o assunto já discutido, não para encher linguiça, mas para não ser pesado nesta 6a. feira de muito sol e céu azul em São Paulo. E este fim de semana tem que ser de alegria para uma amiga que aniversaria e dou minha contribuição com textos leves, já que humor não sei escrever. E eu? Eu estou fazendo uma pausa na rotina de trabalho no escritório.

quinta-feira, 7 de junho de 2007

Feriado em ritmo lento

O dia esplendoroso em São Paulo, com céu azul e sol agradável para o outono, não me tiraram a vontade de ficar na toca. Optei por uma saída curta na parte da manhã e passei o dia lendo, sentado na varanda, observando aquelas situações que não combinam com a cidade grande. Tenho o privilégio de ter uma vista razoável da minha varanda, pois resido em andar alto e com isto debruço-me sobre boa parte do bairro do Morumbi, repleto de casas e muitas árvores.

Na cidade, sem o trânsito e sem a confusão usual, graças ao êxodo dos paulistanos, é possível ouvir o canto dos pássaros e até os passos de um cavalo magro puxando uma charrete. Coisa de cidade de interior, coisa de uma tarde pacata e preguiçosa, convidativa à leitura e à reflexão. Algo apropriado para se fazer num feriado religioso. Não se trata de preguiça, mas de aproveitar a casa, local onde ficamos tão pouco tempo acordados, pois boa parte do dia estamos fora trabalhando e outra parte dormindo.

Este clima de outono parece convidar ao recolhimento caseiro. Principalmente nos finais de tarde, quando o friozinho vem chegando com o cair da noite.

Lula e Vavá

Feriado, mas estou aqui, logo cedo.

Manchete de jornal de São Paulo ontem: "Lula sabia sobre batida na casa do Vavá.

Vavá é irmão do presidente Lula e está sendo investigado por tráfico de influência. A manchete, de duplo sentido, faz rir. Lula deveria saber das 2 batidas na casa do Vavá: a policial e a feita com cachaça. Desta última, ele não só sabia como já teve ter provado muito.

Depois ele diz que não sabe de nada, mas da cachaça ele sabe!

quarta-feira, 6 de junho de 2007

Meio Ambiente: fazendo minha parte




Estamos na semana do meio ambiente e não vou ficar batendo em assunto que já cansou todo mundo. Sou daqueles que prefiro agir ao invés de ficar só no discurso.

Acho fundamental educar, desde pequeno, e ensinar a importância de não jogar lixo na rua, de reciclar, de economizar água, luz, e por aí vai.

Aqui em São Paulo, há postos eficientes de coleta de lixo para reciclagem nas lojas do Pão de Açucar. É uma parceria do Pão de Açucar com a Unilever e beneficia uma cooperativa de recicladores. Separo o lixo durante a semana e todo sábado de manhã levo o lixo para reciclagem. Torna-se algo lúdico e divertido, o que torna o processo educacional das crianças mais fácil.

Faço minha parte e não gosto de ficar fazendo terrorismo com aquecimento global.

terça-feira, 5 de junho de 2007

Dicas da Dani: Maná

Seguindo o gancho anterior da nova onda latina, o comentário musical da semana segue a linha latina. Maná é uma banda mexicana. Não é nova e nem o último álbum é tão recente, mas é muito bom. No ano passado, Maná ganhou o Grammy Latino pelo conjunto da obra.


Talvez alguns se lembrem de Corazón Espinado, gravado em parceria com o guitarrista Santana, outro expoente latino.

O CD é Amar es Combatir (Pode até ser uma boa sugestão de presente de dia dos namorados, para emendar a onda de propaganda que nos assola nestes dias. As letras são muito bonitas e as baladas merecem uma audição atenta.


Labios Compartidos tocou por aqui e fez sucesso. O vídeo é de Bendita tu Luz. A letra retrata a luz que vem do olhar dos olhos da amada. Num dia os olhares se cruzaram e o coração bateu mais forte.


Maná, no encarte que acompanha o CD, explica que a vida é um combate perpétuo, que amar não é silêncio , não é ausência de coragem e que combater é a forma mais constante de amor. Esta a visão que tentam retratar através de suas músicas.


segunda-feira, 4 de junho de 2007

Nova onda da Literatura Latino-americana


A edição de Maio de 2007 (número 117) da Revista Bravo trouxe uma interessante reportagem sobre a nova onda da literatura latino-americana.


A revista sugere nomes de bons autores argentinos, tais como Jorge Luis Borges, Adolfo Bloy Casares e Ernesto Sabato; chilenos, como Isabel Allende e Roberto Bolaño; e inclui os já conhecidos Mario Vargas Llosa e Gabriel García Márquez. Há menção também a Mario Benedetti, autor de A Trégua, livro que foi bastante comentado neste blog.


Há opções para todos os gostos e as novas edições recém-lançadas dão oportunidade para que os brasileiros tenham contato com estes escritores.


Interessante notar que não há brasileiros nestes nomes de destaque. Em outras palavras, não um romancista brasileiro que tenha influência fora do Brasil como escritor. Talvez alguém faça uma objeção: e o Paulo Coelho?


Vou responder a esta pergunta com a palavra de uma autoridade em literatura, do alto de seus mais de 90 anos e depois de ser considerada uma das intelectuais mais influentes no Brasil no ano passado. Ano passado, numa conversa vespertina agradabilíssima em seu apartamento em Copacabana no Rio de Janeiro, perguntei-lhe sobre quem seria o grande escritor brasileiro da atualidade (até para que eu balizasse minhas leituras).


Sem nenhum ar professoral e com muita candura, própria de uma pessoa que conviveu com Manuel Bandeira, Drummond, João Cabral de Melo Neto e de quem entende de Fernando Pessoa como poucos no mundo, ela me respondeu:


- Leia os mortos!


Perguntei então sobre Paulo Coelho. E ela foi enfática:


- Li um livro dele. Não preciso ler mais nenhum.


Para bom entendedor, meia palavra basta. O Brasil carece hoje de um expoente literário que tenha influência além fronteiras. Esta é a razão pela qual vale a pena ler os que já se foram ou então se aventurar pelos bons escritores latino-americanos.


O feriado é uma boa oportunidade para se enveredar por estes caminhos.


Antes de terminar, recomendo uma visita ao site da Revista Bravo pois há boas sugestões de leitura e críticas e sinopses de livros.

(A foto que ilustra este post é a capa da edição espanhola de Travessuras da Menina Má, de Mario Vargas Llosa)

Compensação

Hoje, por causa do rodízio, tive que chegar ao escritório antes das 7 da manhã. Explico o rodízio para quem não é de São Paulo. Devido aos problemas com o trânsito, há um rodízio de veículos. Na 2a. feira, não podem circular no horário entre 7 e 10 da manhã e 17 e 20 horas os carros com placa final 1 e 2. Na 3a. feira, são os carros com placas 3 e 4 e assim por diante.

Assim, saí de casa bem cedo com uma deliciosa temperatura de 8 graus!

Em compensação, quem levantou cedo hoje foi brindado com uma linda aurora. Céu de um azul impecável, sem uma nuvenzinha sequer (por isso o frio também) e uma lua quase cheia. A lua sobre um fundo de azul mais escurecido, enquanto do lado oposto o céu já ganhava tonalidades alaranjadas e amareladas.

Como diz o ditado: Deus ajuda quem cedo madruga! Não sei se isto é verdade, mas quem cedo madruga foi presenteado com uma linda aurora.

domingo, 3 de junho de 2007

Pêndulo

Sou um pêndulo que oscila, cumprindo sua trajetória no ar, balançando de um extremo ao outro do traçado invisível, sem paralisar no ar e no tempo, sempre em movimento. Movimento que por diversas vezes se revela mais lento do que gostaria, como se fosse em câmera lenta, bem lenta.

Numa extremidade da trajetória, fecho-me em mim mesmo, como concha. Emudeço e busco a solidão, momentos de reflexão, refugio-me nos meus livros, vivendo os sonhos e aventuras de personagens mais corajosos, mais valentes, mais bonitos, mais inteligentes, mais criativos do que eu. Fico à deriva, deixando que os momentos da vida me guiem e conduzam meu caminho, por tormentas e ao lado de precípicios, passo ante passo. O destino toma as rédeas de minha vida e me conduz. Na cegueira causada pela noite, os passos são curtos e titubeantes. Não há luz, mas o movimento continua, esperançoso de que a noite sempre acaba, pois um novo alvorecer está próximo. A neblina se dissipa, queimada pelo sol da manhã na fase descendente da trajetória do pêndulo.

Começa a bonança, os campos verdes com orvalho da manhã, o mar calmo para navegar, a correnteza do rio que segue a nosso favor, brisas suaves que somente aliviam o calor da viagem. Não chego à euforia desvairada, mas aprecio estes momentos de sublime paz, não entediado, mas com um certo receio de que tudo é passageiro e aflijo-me com mudanças e o que futuro me prepara. Ganho velocidade e avanço com determinação, sem olhar para trás, livre das amarras e de pesos mortos, que cortados, deixei pelo caminho. Mas sei que em breve o pêndulo iniciará sua trajetória descendente, qual as estações do ano, depois do verão vem o outono e o inverno....mas não há inverno que sempre dure, pois sucede-lhe a primavera.

Sigo como passageiro, mas tenho uma vontade cada vez maior de interromper a trajetória do pêndulo e mudar seu rumo, mudar o rumo da vida.

sexta-feira, 1 de junho de 2007

Monteiro Lobato e Meio Ambiente



Lendo o Diário da Noite Iluminada, de Josué Montello (o livro tem 546 páginas), achei a transcrição de uma carta encaminhada por Monteiro Lobato no jornal Estado de São Paulo em 1914.


Transcrevo o texto abaixo. Monteiro Lobato era um homem com visão ao longe e escreveu a carta a quase 100 anos atrás.


"Lobato, em 1914, fazendeiro em Buquira, na serra da Mantiqueira, mando ao Estado de São Paulo, para a seção 'Queixas e reclamações', um protesto contra as queimadas, e esse protesto, que seria o ponto de partida de uma grande obra literária, parece uma advertência atual, ajustada à preocupação ecológica de nossos dias: 'Preocupa a nossa gente o conhecer em quanto fica por dia, em francos e cêntimos, um soldado em guerra; mas ninguém cuida de calcular os prejuízos de toda ordem, provindos de uma assombrosa queima destas árvores. As velhas camadas de húmus destruídas; os sais preciosos que, breve, as enxurradas deitarão fora, rio abaixo, via oceano; o rejuvenescimento florestal da terra paralisado e retrogradado; a destruição das aves silvestres e o possível advento de pragas insetiformes; a alteração para pior do clima, pela agravação crescente das secas; os vedos e aramados perdidos; o gado morto ou depreciado pela falta de pasto; as mil e uma particularidades que dizem respeito a esta ou àquela zona, e, dentro dela, a esta ou àquela situação agrícola." (Rio de Janeiro : Nova Fronteira, 1994, p. 309)


Não poderia esta carta ter sido escrita hoje? Isto é o que torna um escritor universal e de grande vulto.

Curtas para começar

O debate iniciado pela Fabiola "bombou". Imaginava que as leitoras não iam deixar de dar sua opinião. Isto é o que torna divertido o mundo dos blogs, uma comunicação divertida e que permite que as pessoas expressem suas opiniões. E que expressem opiniões diferentes também, se não o debate perde a graça.

Sei que já sabem, mas não custa esclarecer que para ler os comentários é só clicar no link no final do post.

Mudando de assunto, falamos aqui que o dólar estava em queda livre. Fechou ontem a R$ 1,92, o nível mais baixo desde 2000. Eu avisei!