quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Crônica: Passos no infinito


CRÔNICA: PASSOS NO INFINITO


Caminhava displicentemente no horário do almoço absorto em seus pensamentos, quando foi desperto pelo sorriso de uma bela moça que vinha em sentindo contrário na calçada. Esboçou um sorriso, mais por educação do que por interesse. Não olhou para trás. Aquele sorriso havia feito com que caísse em si e percebesse algo banal, mas com uma nova luz.

Pedro tinha destas coisas. Ficava remoendo algum pensamento, algum fato – a maioria deles banais -, até que tudo se clareava e as nuvens da dúvida se dissipavam. Geralmente eram coisas rotineiras, coisas simples, detalhes. Detalhes que não passavam despercebidos. Ela sempre prestava atenção nos detalhes e, numa singela e despropositada frase, soltava alguma coisa corriqueira e ele se encantava. Não era charme de Marcela, era o jeito dela. Atenciosa, cuidadosa, cirúrgica. Tinha o dom para sempre acertar no alvo e deixá-lo embevecido por alguns dias.

Outro dia ela havia dito que ele mal ficava no escritório. Aquilo o intrigou. Como ela sabia? Como se ela estava tão longe, em outra cidade, em outro estado a quilômetros de distância? Mas, ela notava. Sabia que ela se atentava para detalhes que muitos não atentavam. Ela sabia. Ela prestava atenção nele e não tinha nenhuma obrigação de fazer isto. Fazia porque gostava de Pedro. Era amizade no sentido puro da palavra, desinteressada, mas sempre preocupada com ele. Marcela lhe dava valor, lhe dava atenção. Algo que lhe faltava nos últimos tempos. E muito. E faltava de quem deveria ser apoio e suporte. Não nas últimas semanas, mas nos últimos meses, talvez dois anos. Pedro não conseguia precisar a data, mas isto não era importante.

Deu-se conta disto num dia banal, num momento rotineiro, mas com novas cores. A distância física era irrelevante. Marcela estava sempre nos seus pensamentos. O problema era a distância emocional de quem estava sempre do seu lado. Uma distância que a cada dia se tornava esmagadora, desgastante. Algo quase intransponível. A cada dia que passava, Pedro se convencia de que deveria tomar uma decisão logo, de que os caminhos haviam tomado rumos diferentes para não mais se cruzar no infinito. Seus passos não tinham mais horizonte.

terça-feira, 30 de outubro de 2007

Deixou de ser notícia


Dizem que brasileiro tem memória curta. Talvez a imprensa tenha sua parcela de culpa. Talvez todos nós tenhamos nossa parcela de culpa. Porém, no que me concerne, não vou deixar o assunto morrer e ficar esquecido. Vou falar de novo do caos aéreo. Não, meus caros, ele ainda não acabou e as coisas não se normalizaram. Apenas deixaram de ser notícia.


Semana passada fui à Brasília. Na 5a. feira, demorei exatos 55 minutos para conseguir fazer o check-in na Gol. Uma verdadeira confusão, uma fila gigantesca e muito pouca informação. Vôo saiu com 1 hora de atraso, o que parece razoável.


A volta tinha nos reservado a melhor parte da comédia. Chegamos no aeroporto às 17 horas, para fazer o check-in e embarcar no vôo 1209, às 19:25 com destino a Congonhas. Éramos 4 advogados cansados depois de um longo dia de seminário e palestras. Fomos informados que o vôo partiria às 20:30. Interessante que o vôo imediatamente depois do nosso para São Paulo foi embarcado antes do nosso.


Todos embarcados, começa o espetáculo. O comandante informa que devido ao "sequenciamento de vôos no espaço aéreo de São Paulo, somos a quarta aeronove na fila de decolagem, com previsão para saída em 10 minutos". Esta informação nos foi passada por volta das 21 horas, ou seja, já estávamos no avião há mais de 40 minutos.


Nova informação do comandante: "Somos a próxima aeronave no sequenciamento."


E agora, senhores leitores, o clímax do primeiro ato: "Recebemos informação da torre que devido ao excesso de aeronaves no espaço aéreo de São Paulo, todas as decolagens para São Paulo estão suspensas até ordem posterior. O espaço aéreo de São Paulo está fechado." Gritaria geral, celulares sendo sacados pelos passageiros e os comissários distribuindo copinhos de água, lembre-se estamos na Gol.


Por volta de 21:45 - ou seja, com a iminência do fechamento de Congonhas às 23 horas -, novo recado do comandante. "Informamos que a torre autorizou nossa decolagem, porém iremos para Guarulhos." Decolamos às 22 horas de Brasília e chegamos em Guarulhos às 23:30. Comentei com o passageiro do meu lado: "Agora mais 30 minutos para que o avião encontre uma posição de desembarque." Ele riu. Não foram 30 minutos, foram 45 minutos parados na pista esperando para o desembarque.


Só que o avião atracou na área de desembarque internacional, o que impedia que saíssemos pelo finger. Mais 20 minutos aguardando que a Infraero providenciasse uma escadinha para o desembarque. Em resumo, saímos do aeroporto por volta da meia-noite e trinta. Um tumulto de passageiros procurando um táxi ou um ônibus para deixar o aeroporto.


A moral da história é muito clara: o caos aéreo não acabou. As autoridades continuam perdidas e a imprensa já cansou de informar sobre assuntos repetidos. E tudo vai ficar como dantes, e tudo será esquecido. Triste país!

sábado, 27 de outubro de 2007

Seguro morreu de velho

Uma mesa na hora do almoço com aproximadamente 10 pessoas. Advogados, dirigentes do Sesi, do Senai e da CNI. Assunto em pauta: sucessão presidencial. Ouvi todos atentamente e soltei o verbo.

- Eu, pessoalmente, acho que vão tentar uma emenda constitucional para um terceiro mandato do Lula!

Acharam que eu estava louco, que isto não aconteceria no Brasil, que a democracia está madura.

Notícia no Uol, ontem à noite, que a Fabiola me passou: Aliados articulam proposta que abre brecha para 3º mandato de Lula .

Cada um tire suas próprias conclusões.

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Notícia requentada

Slot é um blog especializado em aviação e notícias sobre as empresas aéreas editado por Marcelo Ambrósio. Como hoje vou a Brasília, já estou preparado para ter muita paciência e enfrentar o caos aéreo que continua. Não sou eu quem está dizendo, está tudo no Slot.

Esta semana a culpa pelos atrasos foi do tempo, da Fórmula 1 e blá, blá, blá. E agora o Ministro Nelson Jobim diz que a culpa é da ANAC.

Ué, então não mudou nada? Não vou me cansar nunca de me indignar diante da incompetência das autoridades brasileiras.

Comentários da Orquídea

Uma das coisas que mais intriga sobre a blogosfera e os textos que publicamos é a possibilidade de perceber que na nossa essência humana somos todos profundamente iguais.

Os comentários da Edna e da - blogs que leio sempre - mostram como realidades distintas confluem para a nossa humanidade. Preocupações, alegrias, angústias e aflições. Momentos da vida e experiências todas semelhantes, com personagens e cenários diferentes, mas tendo um pano de fundo igual: a vida.

Acho que esta unicidade, este ponto que nos une, que torna a literatura, a música, as artes plásticas tão importante no nosso processo de conhecimento próprio e amadurecimento.

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Crônica : A Orquídea

(Foto do autor do blog)

Há cerca de 4 anos, ganhei uma orquídea branca. Bem, na verdade, não fui quem ganhei, mas ela veio morar aqui em casa, e aqui, quem cuida das plantas sou eu. Se não for eu, elas morrem – de sede ou afogadas. Uma bela orquídea branca. Passado algum tempo, as flores murcharam, enegreceram, perderam a vibração e caíram. Restou apenas um caule verde, que mais parecia um espeto curvado, tombado para um lado. Cheguei a achar que ela tinha morrido, mas impedi que fosse jogada fora. Deixei-a num canto da varanda, onde a regava e podia observá-la. As folhas continuavam vistosamente verdes, o que me incentivou nos cuidados.


Para minha surpresa, notei no final do mês passado alguns brotos no caule. Os brotos ganharam volume e transformaram-se em pequenas esferas fechadas. Duas semanas se passaram até que as flores desabrocharam. A orquídea saiu da varanda e ganhou um recanto sobre uma mesinha ao lado do sofá. Estava surpreso com o "renascimento"da planta e das flores. Tudo simples e corriqueiro, tudo banal, como uma flor que nasce, assim como tantas outras.


Na quinta-feira, crianças dormindo, a casa silente, lia o jornal quando lembrei-me de algumas palavras que tinha ouvido pela manhã sobre a importância de ter calma, de ser paciente, de que tudo tem o seu tempo. Olhei para a orquídea e sorri.


Fico fascinado como certas coisas e certas pessoas, aparentemente vindas do acaso inexplicável e imprevisível, conseguem mostrar-nos verdades tão simples e ao mesmo tempo tão profundas. Um momento de inspiração, de lucidez. Naquele momento, percebi como a orquídea era um perfeito exemplo de paciência, de calma. Ela ficou dormente por vários anos, mas não a joguei fora. Cuidei dela, esperei por ela e agora ela me brindava com sua beleza e iluminava meu final de dia. As palavras escritas naquela manhã se materializavam à distância numa singela flor.


Alguém irá entender que ter calma, ter paciência não é fácil, ainda mais num mundo que funciona numa velocidade cada vez maior. Temos pressa. A orquídea pedia calma. E naquele momento, o acaso uniu palavras escritas a uma flor que não fala – pelo menos não com a boca, se bem que acho que flores falam muitas coisas. Basta perguntar a uma mulher que as ganha de presente!


Pode parecer tolo, mas há momentos em que é preciso dizer para aquela pessoa que tem paciência e sabe estender a mão, que sabe dar – e provocar - um sorriso, que sabe ouvir quando mais precisamos: Obrigado por você existir!


Este post é dedicado a todas aquelas pessoas com quem podemos contar sempre, que nos ajudam sempre, mesmo quando há distância física.

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Uma propaganda do Mac

A Apple lançou uma série de propagandas nos EUA comparando o desempenho do Macintosh com os PCs. É uma antiga briga Apple vs. Microsoft.

Em alguns campos, como MP3, o iPod da Apple dá um baile no Zune da Microsoft. Nos computadores, ainda somos reféns da Microsoft.

A propaganda é divertida e um bom jeito de começar a 2a feira: rindo!


domingo, 21 de outubro de 2007

Dicas da Dani: Feist

Feist é uma cantora/compositora canadense e estará no Brasil para o Tim Festival 2007. No Rio ela se apresenta no dia 26 de outubro; em São Paulo, ela cantará no dia 27 de outubro, mas os ingressos já estão esgotados para as duas cidades. Traz o estilo Indie Rock para as paradas de sucesso e para o Tim Festival vem como uma das "Novas Divas".

O vídeo traz a música "1 2 3 4" do álbum The Reminder (2007) chegou a 8a. posição nos EUA na lista da Billboard. Vale destacar também "My moon, my man" do último álbum para quem quer uma dica de download.

sábado, 20 de outubro de 2007

Vinicius de Moraes : Suspensão

SUSPENSÃO

Fora de mim, fora de nós, no espaço, no vago
A música dolente de uma valsa
Em mim, profundamente em mim
A música dolente do teu corpo
E em tudo, vivendo o momento de todas as coisas
A música da noite iluminada.
O ritmo do teu corpo no meu corpo...
O giro suave da valsa longínqua, da valsa suspensa...
Meu peito vivendo teu peito
Meus olhos bebendo teus olhos, bebendo teu rosto...
E a vontade de chorar que vinha de todas as coisas.

(As coisas do alto. São Paulo : Cia. das Letras, 1993, p. 103)

A música longínqua de uma valsa para embalar o sonho na noite em que a lua volta a despontar no céu claro, ainda tímida, ainda crescente, mas na noite quente, ela dá o ar da graça e leva consigo o beijo, o pensamento, o carinho. Distância? Não há distância para sentimentos puros.

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Juizados Especiais nos aeroportos

Não vou transcrever o longo artigo que postei hoje no Blog - Informativo Legal sobre a criação dos Juizados Especiais nos aeroportos brasileiros, mas apenas indicar a leitura para quem estiver interessado.

Adianto que achei esta medida muito demagógica. As razões podem ser lidas aqui.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Lembram do 3?


Encerrada a sequência de posts temáticos aproveitando o dia das crianças, volto com um tema menos agradável, mas muito necessário.


Lembram-se da Campanha do 3?


Pois é, ela sumiu. Curioso não?


Da coluna da Dora Kramer no Estadão (15 de outubro de 2007, p. A6):


"Ainda o 3


Antonio de Freitas, responsável pela campanha publicitária do Banco do Brasil que, por causa do slogan 'decida pelo 3' suscitou suspeita sobre propaganda subliminar para o teceiro mandato de Lula, rebate nota sobre o sumiço da prometida segunda fase da campanha, segundo ele baseada na soma dos algarimos 2 e 1 da Agenda 21 sobre a sustentabilidade do planeta.


Freitas informa que a segunda fase já está no ar e envia as peças da campanha para comprovar. Nelas não há uma referência sequer ao '3'. De acordo com ele, detalhes da campanha não podem ser revelados 'porque não podemos expor nossa estratégia e a nossa tática para a concorrência'.


Ah, bom, agora ficou claro!


Como não está fácil localizar posts antigos (vou ter que dar uma reorganizada no template agora que já tem bastante conteúdo), aqui vão os posts relacionados:


17 de agosto de 2007 - O misterioso 3

22 de agosto de 2007 - A campanha do 3


Não fui o único que notou a semelhança entre a campanha do Banco do Brasil e o logo do último congresso do PT, cuja imagem você confere acima. Depois alguém vai falar que fulano só se elegeu porque tinha a máquina administrativa por trás, que usou do poder econômico e blá, blá, blá. Eles aprendem rapidinho.


terça-feira, 16 de outubro de 2007

Conto: Semeadora de Sorrisos



SEMEADORA DE SORRISOS


A menininha de óculos vermelhos corria, pulava e sorria no tanque de areia do Bosque do Morumbi, sob o olhar atento do pai, tranquilamente sentado num banco sombreado pelas frondosas árvores do parque. Junto com ela, o irmão puxava um pequeno caminhão de plástico, enchendo a caçamba de areia e despejando em seguida para construir um castelo.

Uma manhã de sol tranqüila com o parque pululando de pequeninos, babás, pais e mães. O tempo corria lentamente e o pai não deixou de lembrar de sua época de criança. Bons tempos! Tudo se resumia a brincar, a inventar amigos imaginários e cenários para as brincadeiras. O tempo era medido pelas horas lúdicas, os dias pelos passeios e os fins de semana pelas visitas aos avós. Tudo era mais simples.

Aninha despertou-o do transe com uma pergunta:

- Pai, por que todo mundo ri para mim? Eles estão rindo dos meus óculos?

Com um olhar terno e cheio de confiança, o pai respondeu:

- Eles não estão rindo de você, estão sorrindo para você. Todo adulto, quando vê uma menininha linda e alegre sorri. As crianças trazem esta alegria para os adultos. As crianças fazem os adultos voltarem a ser criança, só que grandes. Vou te contar um segredinho. Quando nasce uma criança, o Papai do Céu lhe dá um poder mágico. O poder de semear sorrisos por onde a criança passa. E as sementes não acabam nunca. Elas só acabam se você quiser que elas acabem, se você deixar de ser criança, se você deixar de sorrir como criança. Se continuar sorrindo, as sementes vão sempre existir e todo mundo vai continuar sorrindo para você. Você, minha filha, será uma semeadora de sorrisos pelo mundo. Mas, agora, já é hora de ir embora. Vamos chamar seu irmão.

- Pai, quero colo! – pediu Aninha sorrindo.

- Mas uma meninona deste tamanho querendo colo! Tá bom, vai.

E ela pulou no colo do pai e abraçou-lhe bem forte.

- Quando eu for grande, você não vai mais conseguir me carregar no colo, então tenho que aproveitar. – e riu deliciosamente.

domingo, 14 de outubro de 2007

Ingenuidade na bicicleta

Li este texto de Caco de Paula ontem e transcrevo um trecho:

"Lembro-me disso sempre que escolho um novo caminho a seguir e procuro percorrê-lo mais com a alegria de uma criança de 10 anos que com a desconfiança dos quarentões. Você me dirá que um adulto já não pode agir com a ingenuidade de uma criança. Que já perdeu o entusiasmo movido por essa ingenuidade. E eu direi que, se isso for verdade, cabe ao adulto cultivar o entusiasmo e temperá-lo com, digamos, a sabedoria que os anos lhe deram, se é que deram. E, ainda que o adulto já não tenha todo o brilho genuíno da curiosidade da criança, que possa ver nela menos o símbolo de uma pequena pessoa inconsequente e mais o que ela é em essência: um ser livre para praticar a generosidade consigo mesmo.

Alguém já disse, ou deveria ter dito, que o adulto tende a ser justamente quem perde essa generosidade consigo, com os outros, com o ambiente. Só mais tarde fui conhecer os versos do poeta americano Robert Frost, que, diante de uma bifurcação na floresta, escolheu a estrada menos trilhada - e isso fez toda a diferença para ele. Era mais ou menos esse o espírito naquele fim de semana. E continua a ser agora, nestes tempos de insustentabilidade ambiental, econômica, social, afetiva." (Caco de Paula. "Origem e destino" in Revista Vida Simples, Outubro 2007, Edição 58, p. 78)


Ingenuidade e curiosidade. Coisas que vamos perdendo com o passar dos anos - menos as mulheres que continuam curiosas em sua essência. Ingenuidade de saber dizer "não sei", "não entendi", de pedir desculpas por um erro - aliás, aceitar que erramos faz parte desta ingenuidade -, de sermos simples e transparentes, de sair para almoçar e caminhar um quarteirão a mais para explorar e quem sabe descobrir um novo restaurante, ou para apenas apreciar a cidade.


O artigo de Caco de Paula utiliza o passeio de bicicleta para ilustrar esta ingenuidade materializada. Talvez o famoso slogan da Nike (Just do it!) seja outro exemplo desta volta aos tempos de criança. Comer um bombom não vai estragar sua dieta, tirar os sapatos enquanto está na sua mesa no escritório - desde que não fique passeando descalço se o escritório não for seu -, não vai escandalizar os colegas e por aí as coisas vão.


Coisas simples. Ingenuidade. E a vida fica mais leve. Lições que podemos aprender com as crianças.


Ah, para quem se interessou por Robert Frost, o poema The Road Not Taken e um comentário podem ser lidos em um post passado.

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Poesia para crianças

O gosto pela leitura também pode e deve ser incentivado através da poesia. A escola tem um papel importante neste aprendizado, mas cabe aos pais dar o exemplo e o incentivo final. Através de um poema que minha filha aprendeu na escola, fui procurar o livro de poesias de onde o poema havia sido tirado. Surpreendi-me ao achar duas boas obras de poesia, de grandes poetas, só que destinados ao público infantil.

No dia das crianças, deixo estas 2 indicações.

Pé de Pilão é de Mário Quintana, com prefácio de Érico Veríssimo, e está na 8a. edição da Editora Ática (2005). Boas ilustrações e poemas divertidos que podem levar os nossos pequenos a descobrirem um outro bom livro: o dicionário.

Ou isto ou Aquilo é de Cecília Meirelles. A 6a. edição é de 2002 da Editora Nova Fronteira. Livro em tamanho grande e textos com fonte grande também o que facilita para crianças em processo de alfabetização. E toda a genialidade de Cecília Meirelles para o universo infantil.

Confesso que ver minha filha de 6 anos lendo Cecília Meirelles ou pedindo que procurasse um livro de Mário Quintana me enchem de orgulho, ou melhor, indicam que exemplo é seguido pelos filhos sem necessidade de palavras.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Voltar a ser criança



"Tia Bilu parou o movimento das agulhas, deixou cair as mãos no regaço, por cima do novelo de lã, já com o novo casaquinho terminado:

- Por hoje, basta!

E como tinha também terminado de contar o seu mais belo conto, perguntei-lhe, afagando seus cabelos levemente prateados:

- Tia Bilu, a senhora acredita mesmo em tudo que contou?

E ela, depois de me beijar:

- Um pouco de inocência, para saber acreditar, também ajuda a viver. Foi por isso que Cristo ensinou aos seus discípulos que o reino dos Céus pertence às crianças. Eu, quando conto minhas histórias, sinto que volto a ser menina. E acredito em tudo."

(Josué Montello. O Carrasco que era Santo. Rio de Janeiro : Nova Fronteira, 1994, p. 100)


Este é o último trecho de um romance infanto-juvenil escrito por Josué Montello. Terminei-o na semana passada. Uma linda estória, excelente para jovens leitores. Queria uma pausa em leituras adultas e refugiei-me em uma estória juvenil, leve, para ver se tirava algumas idéias para uma semana temática sobre o dia das crianças.


Acho que o trecho é muito ilustrativo. Um pouco de inocência também ajuda a viver e rejuvenesce. Voltar a ser criança. Algo que poderíamos tentar fazer nestes próximos dias. E não precisa muito, basta achar tempo para sentar no chão e brincar com nossos filhos, a deixar que as coisas simples nos enterneçam e tragam sorrisos, a sonhar e contar estórias. Basta simplesmente brincar.

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Reestatização da Vale do Rio Doce

O Congresso Nacional do PT realizado em São Paulo aprovou a coleta de assinaturas para que se realizasse um plebiscito nacional em favor da reestatização da Vale do Rio Doce. O resultado da consulta feita pelo PT e alguns "movimentos sociais" não atingiu o número mínimo de assinaturas necessárias para que se convocasse um plebiscito.

Acho a idéia estapafúrdia e retrógrada. Uma verdadeira aberração.

A Companhia Vale do Rio Doce é hoje uma das maiores empresas brasileiras e que tem atuação multinacional, assim como a estatal Petrobrás. Na semana passada, o valor de mercado da Vale do Rio Doce superou o valor de mercado da Petrobrás e levou a Vale a ser a empresa brasileira de maior valor na Bolsa de Valores de São Paulo.

A Vale cresceu depois da privatização. Como também cresceram as empresas quase quebradas Embraer, CSN, Cosipa... Reestatizar a Vale seria em primeiro lugar um retrocesso. Em segundo lugar, quem pagaria a conta seriam todos os brasileiros, pois tratar-se-ia de um processo de desapropriação de um bem privado, e a Consituição Federal exige que se pague a justa indenização ao titular do bem expropriado. Em terceiro lugar, uma Vale estatal perderia dinamismo e agilidade, o que comprometeria seus lucros, e por consequência, o valor de tributos que a Vale paga ao Governo. Em quarto lugar, os fundos de pensão, que são acionistas da Vale, receberiam menos dividendos e isto comprometeria a aposentadoria dos milhares de funcionários públicos, alguns deles que devem ser a favor da reestatização.

Não vou fazer uma lista de números para provar meu ponto. Sou contra a reestatização da Vale. O Brasil não é a Bolívia de Evo Morales, nem a Venezuela de Hugo Chávez. Não é hora de aumentar o tamanho do Estado, mas de reduzi-lo.

Quem sabe o presidente Lula deveria levar a ferro e fogo suas palavras, quando afirmou que o Estado precisa de um choque de gestão. Choque de gestão significa fazer mais com menos. Basta colocar gente competente no Governo que as coisas funcionariam. E este Governo não prima em recrutar pessoas competentes para cargos públicos.

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Uma canção é pra isso

Uma música do Skank para animar o começo de semana curta. No último post, falava de música e alegria. Esta letra tem trechos que poderiam muito bem inspirar um conto ou uma poesia. Mas ela fala por si só: "uma canção é pra trazer calor / deixar a vida mais quente". Quantas canções tocam sem querer no rádio e nos trazem à mente bons momentos, boas lembranças e alegrias?

Deixo a música falar para quem quiser e souber ouvir.



Uma canção é pra acender o Sol
No coração da pessoa
Pra fazer brilhar como um farol
O som depois que ressoa

Uma canção é pra trazer calor
Deixar a vida mais quente
Pra puxar o fio da paixão
No labirinto da gente

Pra consertar
Pra defender a cidadela
Pra celebrar
Pra reunir bairro e favela

Uma canção me veio sem querer
Naquela hora difícil
Joguei-a logo nesse iê iê iê
Por profissão ou por vício

Pra clarear a escuridão
E o mundo encerra
Pra balançar
Pra reunir o céu e a terra

Uma canção é pra fazer o Sol
Nascer de novo
Pra cantar o que nos encantou
Na companhia do povo

Pra consertar
Pra defender a cidadela
Pra celebrar
Pra reunir bairro e favela

Uma canção é pra acender o Sol
No coração da pessoa
Pra fazer brilhar como um farol
O som depois que ressoa

Pra clarear a escuridão
E o mundo encerra
Pra balançar
Pra reunir o céu e a terra.

sábado, 6 de outubro de 2007

Alegria musical

(Jazz: Icarus, por Henri Matisse)


Este blog nasceu em janeiro deste ano sem grandes pretensões. Desde lá, foram mais de 8.000 visitas de diversos países e cidades espalhadas pelo Brasil, algo que me surpreendeu. A idéia inicial era usar o blog como um laboratório de redação, um teste para as coisas que escrevo, e um lugar para deixar recadinhos, pois sabia que alguém haveria de ler.



Recebi esta semana um email de um leitor de um estado do norte brasileiro. Por uma questão de privacidade, não vou mencionar o nome, nem detalhes do que me escreveu. Mas ele escreveu pedindo ajuda. Fez elogios às dicas musicais publicadas no blog e pediu que lhe enviasse um playlist com algumas sugestões.



Até aqui, nada demais.



Mas há algo de extraordinário neste simples email que me foi enviado, e isto me levou a ver como as coisas realmente têm um sentido, como nada acontece por acaso. Ele chegou até o blog por meio do Google (como vivíamos sem o Google?). Arriscou e mandou o email, que eu poderia ter apagado ou nem lido. A sucessão de eventos se deu com a minha resposta a ele e uma sincera tentativa de tentar ajudá-lo a vencer o seu problema. Tudo isto já seria algo somente possível com as novas formas de comunicação.



Porém, há algo a mais. Os elogios à "sensibilidade musical do blog" somente são possíveis por causa de outra pessoa. O blog é mero intermediário das ótimas dicas musicais postadas aqui. Não sou a fonte da maioria delas, apenas compartilho porque a música é uma forma de espalhar alegria e sorrisos. E alegria só é possível compartilhar se ela vem de dentro, mesmo quando estamos com problemas, ou quando há aquela nuvenzinha preta rondando nossa cabeça.



A alegria vem da alma, lá do fundo, de pessoas que contagiam o ambiente à sua volta, de pessoas que sabem semear sorrisos no seu ambiente. A música é sempre um excelente pano de fundo para esta alegria, como trilha sonora de nossos dias, ou para nos acompanhar em momentos de reflexão, de devaneios. Um porto seguro para recarregar as forças e trazer de volta o sorriso ao nosso rosto.

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Blog indicado



Recebi a indicação a este prêmio da Edna, do Pensamento Nosso. Agradeço a indicação e agradeço às suas frequentes visitas, dicas e comentários. O blog da Edna sempre vale a pena conferir. Uma corrente surgida na blogosfera. Aliás, vou comentar num próximo post algo muito interessante que aconteceu esta semana e algo que só possível pela internet.


Gosto e indico todos os blogs que estão na minha lista de links e visito-os frequentemente. Mas só posso indicar 5.

As regras são essas:


1. Basta indicar 5 blogs que você realmente ache interessante, mesmo que eles já tenham sido escolhidos por outros blogueiros.


2. O objetivo é unir blogs que se comunicam e formam uma grande rede na blogosfera com textos interessantes com a intenção de compartilhar, criar e interagir com todos os blogueiros de plantão.


Os indicados são:

1. Pensar de uma mulher
2. Ventos de Mudanças
3. Bicho Solto
4. Lonely Avenue
5. Uma estrela no céu

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Coitada da nossa língua




A foto acima foi publicada na Folha de São Paulo de hoje (3 de outubro de 2007). Trata-se de um carimbo elaborado no Congresso Nacional e que está estampado em milhares de documentos oficiais.

Alguém vai dizer que o "Congreço" se adiantou e já implementou o Acordo Ortográfico.



Quem sabe o Congresso pudesse comprar um dicionário para os funcionários? Ou melhor, colocar na intranet para que verificassem a ortografia.


Este país tem coisas que só rindo mesmo...

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Crônica: Brisa


BRISA


O vento brincou com seus cabelos, desarrumando-os e lançando uma mecha que lhe cobriu parte do rosto. Ela coçou o nariz duas vezes e puxou os cabelos para trás, prendendo-os num rabo-de-cavalo alto. O rosto livre dos fios aloirados e domesticados pelo elástico. Os longos cabelos presos revelavam toda a beleza do rosto sem maquiagem. O contorno do pescoço exposto com sua suave curva. Pedro gostava de apreciar as linhas que desciam de sua nuca e uniam-se aos ombros desnudos. Talvez fosse o tom da pele, talvez simplesmente fosse ela.

Ela permanecia imóvel, olhos fixos no mar, alheia ao ruído da Avenida Atlântica. A água de coco refrescava-lhe numa tarde quente de primavera. O pensamento longe tinha na saudade o conforto. Queria Pedro ao lado dela, naquele quiosque, naquela tarde, no meio do expediente, como fizera algumas vezes. Escapavam do trabalho para conversar e rir. Lembrou-se de quando ele percebeu a discreta cicatriz sobre a sobrancelha direita, um pequeno risquinho, quase imperceptível, mas que ele notara. Ele notava tudo. Não dizia tudo para não parecer paranóico, mas ela sabia que ele notava tudo. O silêncio, o olhar, o sorriso, os gestos. Ao rememorar estes fatos, alegrou-se, sorriu. Com a brisa do mar, afastou-se a saudade.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Reunião de família

Eventos familiares podem gerar todo e qualquer tipo de reação. Há aqueles onde reina a cizânia, a tensão, a indiferença, a maledicência. Outros há, onde os laços de sangue aproximam as pessoas num espírito cordial e fraterno, de alegria e respeito. Comemorar 90 anos é motivo mais do que suficiente para reunir a família próxima e distante. E motivo para superar implicâncias e diferenças para saudar o aniversariante.

Um tio-avô comemorou 90 anos neste final de semana. Um almoço festivo e agradável, onde parentes puderam se reencontrar. Ele é o mais novo de 4 filhos e sua única irmã viva, com 92 anos estava presente, lúcida, sorridente, vencedora.

Fiquei a pensar em como o tempo passa e como somos premiados com cada dia de vida com que somos presenteados. Um novo dia que começa é antes de tudo um dia a ser escrito e vivido. Será que chegaremos aos 90 anos? Será que chegaremos com saúde aos 90 anos? Não sei e ninguém sabe. Sabemos apenas que temos o momento presente para saborear, sabemos apenas que o presente está a ser escrito e isto afetará o futuro.

Um dia partiremos e ficarão as memórias, as lembranças de bons momentos, dos sorrisos, dos causos e histórias contadas – algumas reais, outras fantasiadas. E os pequenos que ali estavam, vendo o tio-bisavô sorrir, estranharam aquele senhor com o qual convivem muito pouco, e talvez guardem alguma lembrança deste dia. As fotos, porém, congelaram a cena para a posteridade e para manter viva a memória daqueles que são indispensáveis na formação daquilo que cada um de nós é. Carregamos no sangue e no caráter estes traços familiares que passam de geração em geração.