quarta-feira, 20 de junho de 2007

Crônica: Quer dançar?


Avistou-a do outro lado do salão, sentada na mesa bebericando uma taça de Prosecco e conversando com uma amiga. Ela não o viu. Estava com um lindo vestido azul escuro, com decote discreto e cavado nas costas cobertas por seus longos cabelos castanhos. Algo de especial havia naquela noite de festa, talvez o sorriso que escondia um sentimento de tristeza, disfarçado no clima de alegria que envolvia o ambiente. A banda cumpria o roteiro típico de festas de casamento, começando com músicas de Frank Sinatra e sucessos da época em que se dançava com um par a noite inteira.

Pacientemente, Eduardo esperou que ela ficasse sozinha. Queria ter certeza de que ela não estava acompanhada. A amiga deixou-a na mesa e ele foi ao seu encontro. Estava distraída quando perguntou:

- Quer dançar?

- Vou pisar no seu pé. – respondeu rindo. Estou meio altinha com estas taças de Prosecco.

- Não me importo, desde que dance comigo. Fique tranqüila que não vou deixar você cair. – retrucou com um sorriso correspondido com um olhar que dizia que ela estava contente de encontrá-lo.

Estendeu a mão e conduziu-a à pista. Dançaram uma, duas, três músicas sem trocarem qualquer palavra. Eduardo sentia seu coração acelerado, o perfume suave inundava suas narinas, o toque das mãos, o cabelo que roçava seu rosto, tudo aquilo fez com que esquecesse por completo tudo à sua volta. Sabia que aquele momento iria se eternizar em sua memória com todos os pequenos detalhes, queria que o tempo parasse, que todos sumissem e que a música nunca cessasse. Queria ficar dançando com ela, coladinho, para sempre. Palavras não eram necessárias e ele tinha certeza de que ela era capaz de ler seus pensamentos e adivinhar o que se passava no seu interior.

- Está vendo como não pisou nos meus pés. – disse ele.

Ela colou seu rosto no dele, aproximou-se mais e suspirou. Um desabafo que deixava transparecer a tristeza que havia detectado no sorriso disfarçado.

A música vinda do despertador acordou-o. Jogou as pernas para fora da cama e viu-se num quarto vazio, despertado do sono da noite. Queria voltar a dormir, queria voltar a sonhar, queria que o sonho continuasse.
(Ilustração do post: Baile, de Fernando Botero)

2 comentários:

Anônimo disse...

Hum, que bonito!
Me fez ter vontade de dançar...saudades de dançar e saudades tb de qdo dançava com um par virtual, sorriso.
Frank Sinatra era o cantor escolhido e a música, New York, New York.
Viu o que faz uma crônica, traz boas lembranças e um sorriso estampado no rosto!

Edna Federico disse...

Imagino a frustração de Eduardo ao acordar...
Tem sonhos que não queremos que acabe,não é?