sábado, 20 de abril de 2013

Poesia: ABRAÇO


ABRAÇO


tem abraço que parece beijo
tem beijo que parece morte
tem morte que parece festa
tem festa que parece reunião
tem reunião que parece descaso
tem descaso que parece amor
tem amor que parece sofrimento
tem sofrimento que parece alegria
tem alegria que parece carência
tem carência que parece grito
tem grito que parece suspiro
tem suspiro que parece socorro
tem socorro que parece abraço

(c) RLBF

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Um livro, dois momentos


"'Would you tell me, please, which way I ought to go from here?'
'That depends a good deal on where you want to get to,' said the Cat.
'I don't much care where - ' said Alice.
'Then it doesn't matter which way you go,' said the Cat.
'- so long as I get somewhere,' Alice added as an explanation."

(Lewis Carroll. Alice's Adventures in Wonderland. Penguin Books : London, 2008, p. 66-7)

Outro dia, percorrendo a esmo a seção de literatura estrangeira da Livraria da Vila do Shopping JK Iguatemi, em São Paulo, deparei-me com uma coletânea de textos de Edgar Allan Poe, edição em inglês da Penguin Books, em brochura. Abri o livro e deparei-me com um conto que li na adolescência. The Fall of the House of Usher foi um daqueles textos que odiei ter que ler. A obrigação de lê-lo tirou a beleza e a relevância do texto, deixando-o sem compreensão suficiente. Seguiram-se The Raven, The Tell-tale Heart e alguns outros. 

Aos poucos fui encaixando Poe no contexto histórico do século XIX e seus textos passaram a fazer algum sentido. A obrigação transformou-se em leve prazer, mas a obrigação de ler os textos ainda pesava. Entendia que era necessário para minha formação e que era necessário conhecer os textos clássicos. Alguns deixaram suas marcas, outros meros riscos superficiais que imaginava terem sido apagados pelo tempo. Até outro dia...

O outro dia deu-se no meu reencontro com Poe. Comprei a coletânea e reli os mesmos contos da adolescência. Descortinou-se diante de mim um mundo novo, uma compreensão mais aguda dos complexos personagens criados e suas crises, manias, visões de mundo, aflições e angústia. Como os anos de vida nos concedem um entendimento maior da conduta humana! O mesmo texto e dois olhares completamente diferentes!

A nostalgia me conduziu ao livro - e entendo melhor como é importante ler os clássicos na juventude, ainda que por obrigação - e me deu enorme prazer na sua leitura. Da mesma forma que a epígrafe deste texto, dica do excelente Terapia da Palavra. Fui atrás do livro para deixar a citação mais precisa. Alice só pode escolher o caminho se sabe para onde QUER ir. E quantos de nós não sabem para onde caminham?

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Conto: Meu medo


O grito, de Edvard Munch

MEU MEDO


Levantou-se da cama afastando o lençol e caminhou até a mesinha onde repousava o maço de cigarros dela. Estava nu, porém não se intimidara com o fato de que o corpo não guardava mais a firmeza da juventude. Lembrava mais uma gravura do Gustavo Rosa, do que o Davi de Michelangelo. Pegou o maço e fez um gesto silencioso pedindo-lhe autorização para subtrair o pequeno bastonete de tabaco de propriedade dela.  Ela não se espantou com o pedido, apesar dele não fumar. Sentou-se na cama, coberta pelo lençol, deixando apenas os ombros de fora, o que propiciou o rápido comentário dele.

- Está parecendo uma ninfa, minha querida!

Abriu a porta da sacada e deu uma longa tragada, totalmente indiferente ao fato de que estava nu. Era final de tarde e ainda havia luz suficiente para que um vizinho do hotel pudesse observá-lo.

- Não tem medo de que alguém te veja aí fora peladão? – perguntou a bela companheira com um ar cômico.

- Não....meu medo é outro.

E fez uma longa pausa, aguardando que ela interrompesse o silêncio com a pergunta.  Se ela aquiescesse ao silêncio, saberia que aquele encontro seria apenas um momento de luxúria perdido no tempo, numa tarde qualquer; se ela perguntasse, teria a certeza de que o que acontecera entre eles havia ultrapassado o meramente carnal.

Não tardou a que a doce voz dela soasse com a interrogação: qual é seu medo?


segunda-feira, 1 de abril de 2013

Primeiro de Abril


Verdades que poderiam ser mentiras (notícias de hoje):

- Dilma cria o 39o. ministério no governo federal.

- Rendimento dos alunos de matemática piora entre o 5o. e o 9o. ano. MEC minimiza queda e afirma que as perspectivas são positivas.

- Rondônia supera Pará no número de mortes por disputas de terras.

- Inflação dos alimentos afeta mais a baixa renda.




Mentiras que poderiam ser verdades (manchetes de um sonhador):

- PEC que reduz número de deputados e senadores é aprovada no Congresso Nacional.

- ENEM deve ser extinto, após desempenho excelente dos alunos em redação.

- Paulo Maluf reconhece que dinheiro nas Ilhas Jersey é fruto de desvio de recursos durante suas gestões.

- Coreia do Norte destrói todos seus mísseis e assina tratado de paz com a Coreia do Sul.

- Inflação deve ficar abaixo do piso da meta pela primeira vez.