quarta-feira, 30 de abril de 2008

Coisas cotidianas

Depois de passar alguns dias acometido por uma virose muito chata, hoje finalmente retomei a disposição para o trabalho. Um fim de semana de molho não foi o suficiente e me arrastei nas reuniões e tarefas do escritório por estes dias. Sou teimoso e ao invés de ficar quietinho em casa, vim trabalhar e fiquei revoltado comigo mesmo por não conseguir desempenhar bem o trabalho. Ontem, cedi e fui para casa cedo. Às 19 horas já estava dormindo, e hoje amanheci melhor, mais animado para escrever.

Fatos cotidianos não faltam para comentar.

Poderia falar da trapalhada de Ronaldo com travestis no Rio de Janeiro, das pesquisas que indicam que a maioria da população brasileira quer Lula por um mandato - eu bem que disse que esta estória de terceiro mandato era séria... -, da forma como os sindicalistas invadiram os órgãos públicos (vide caso BNDES) e acham que o país é um grande sindicato, ou até de como este Governo apoia a fusão OI e Brasil Telecom, mesmo que a lei proíba tal fusão! E a oposição, será que existe neste país?

Mas vou falar de uma coisa fresquinha: o Brasil virou grau de investimento. O que isto significa?

Em linhas simples, que o dólar vai cair mais - deve chegar ao final do ano abaixo de R$ 1,50 - e que a Bolsa de São Paulo vai subir mais e mais. Estudos econômicos comprovam isto de forma irrefutável. Então, meu caro leitor, investir em dólar nem pensar. Se vc quer arriscar, a hora de entrar na Bolsa é agora.

E vale lembrar que o país virou grau de investimento por causa do retrospecto do passado e não por mérito do atual governo. Nâo se iludam, não foi o companheiro que conquistou este prêmio.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Crônica: Poente



CRÔNICA: POENTE


A lua já despontara no céu de final de tarde, levemente avermelhado. Sentou-se no degrau da escada que levava à piscina e ela ao seu lado. Dividiam os fones de ouvido e o ipod fornecia a trilha sonora. Contemplavam o céu, sem trocar palavras. Ele estava feliz por tê-la ali com ele. Sozinhos. Somente os dois. Nada mais importava.

A luminosidade cadente tornava o rosto dela ainda mais belo, a pele mais dourada. O sol poente ressaltava seus traços. Ela fechara os olhos, enquanto John Coltrane fazia o pano de fundo musical. Ela não percebeu que ele a olhava, contemplava-a com um olhar embevecido. Roberto não conseguia imaginar mulher mais bela, mais encantadora. Hipnotizado por ela, ou talvez enfeitiçado pela sutileza feminina. Não frágil, mas delicada.

Minutos se passaram e a noite caiu. Ele ergueu-se da grama, onde estava deitado, e retornou para casa, subindo o morro gramado. Tudo não se passara de imaginação. Mas era assim que imaginara um final de tarde com ela. Só com ela.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

POESIA: Carta, de Carlos Drummond de Andrade


CARTA – Carlos Drummond de Andrade

Bem quisera escrevê-la
com palavras sabidas,
as mesmas, triviais,
embora estremecessem
a um toque de paixão.
Perfurando os obscuros
canais de argila e sombra,
ela iria contando
que vou bem, e amo sempre
e amo cada vez mais
a essa minha maneira
torcida e reticente,
e espero uma resposta,
mas que não tarde; e peço
um objeto minúsculo
só para dar prazer
a quem pode ofertá-lo;
diria ela do tempo
que faz do nosso lado;
as chuvas já secaram,
as crianças estudam,
uma última invenção
(inda não é perfeita)
faz ler nos corações,
mas todos esperamos
rever-nos bem depressa.
Muito depressa, não.
Vai-se tornando o tempo
estranhamente longo
à medida que encurta.
O que ontem disparava,
desbordado alazão,
hoje se paralisa
em esfinge de mármore,
e até o sono, o sono
que era grato e era absurdo
é um dormir acordado
numa planície grave.
Rápido é o sonho, apenas,
que se vai, de mandar
notícias amorosas
quando não há amor
a dar ou receber;
quando só há lembrança,
ainda menos, pó,
menos ainda, nada,
nada de nada em tudo,
em mim mais do que em tudo,
e não vale acordar
quão acaso repousa
na colina sem árvores.
Contudo, esta é uma carta.

(Antologia Poética. 26ª. ed. Rio de Janeiro : Record, 1991, p. 74-6)

Uma carta que narra a força da paixão e o abismo causado pelo silêncio da relação desgastada. Drummond capta de forma única esta mudança, tudo condensado numa carta, que parece ser uma carta de despedida. Uma carta que antecipa o fim e reconhece as mudanças, que talvez tenham passado despercebidas. A fenda rachou a proximidade, a intimidade, e interpôs-se entre amado e amada.

O tempo se torna longo, os encontros cansativos, o rosto, uma “esfinge de mármore”, e o que resta: “quando só há lembrança,/ ainda menos, pó,/ menos ainda, nada, / nada de nada em tudo”.

Nada de nada em tudo. O silêncio adentra sem ser convidado, um silêncio que tira a cor, o brilho, a vibração do alazão desbordado. As palavras triviais não estremecessem o coração, antes irritam, incomodam, lançam-se como um jugo insuportável sobre os ombros. Até que venha o inevitável fim.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

E a terra tremeu

Estava sentado numa poltrona, esperando minha filha dormir. Era perto das 9 da noite de uma terça-feira como qualquer outra. Senti um leve tremor que durou alguns segundos. Estranhei. A primeira coisa que passou pela minha cabeça era de que se tratava de um terremoto. Bobagem rapidamente descartada.

Pensei em um tremor causado pela obra do metrô, mas não havia ouvido qualquer explosão ou sirene de alerta. A certeza do tremor que sentira instigou a investigação mental. Labirintite, com certeza. Já estou na idade de começar a ter doenças causadas pela madureza. O pensamento viajou e divagou em questão de segundos.

Esqueci-me do assunto. Na quarta-feira, dia 23, ao ver o jornal da manhã e sua manchete tive a confirmação do terremoto. A terra tremeu no Brasil! Sim, meus caros, não queremos fazer parte do primeiro mundo? Pois bem, lá tem terremoto, furacão, tornado e neve. A neve ainda não chegou, mas pelo visto os terremotos sim.

E não me surpreenderei se o nosso presidente avocar o mérito de que o "nunca neste país" tivemos um terremoto! Eu sei que já foram registrados outros abalos sísmicos no país, mas ele não sabe de nada, não lembra de nada.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Salve Jorge



"Devotos no mundo inteiro comemoram no dia 23 de abril, o Dia de São Jorge, o santo padroeiro da Inglaterra, de Portugal, da Catalunha, dos soldados, dos escoteiros, e celebrado em canções populares de Caetano Veloso, Jorge Ben Jor e Fernanda Abreu. No oriente, São Jorge é venerado desde o século IV e recebeu o honroso título de "Grande Mártir"." (do site Paróquia São Jorge Mártir)


Não sou devoto de São Jorge, mas como hoje é feriado no Rio de Janeiro e recentemente um amigo disse que sou "um paulista com alma de carioca" - sabe-se lá o que isto quer dizer -, resolvi "pegar o gancho" e falar um pouco sobre esta data e sobre diferenças.


Recebi o comentário feito pelo meu amigo como um elogio, ainda que fosse uma provocação e que ainda exista uma certa rixa entre paulistas e cariocas. Sou um fã do Rio de Janeiro, de tudo que a cidade tem de bom, das pessoas, do clima, da paisagem maravilhosa. Gostaria muito de mudar-me para o Rio quando diminuir o ritmo de trabalho - ou quando abrirmos uma filial do escritório no Rio. Sou tachado de louco por muitos paulistas, mas não dou a mínima bola. Acho que existe sim muito preconceito. E isto inclui as críticas ouvidas ao feriado de hoje no Rio.


Todo lugar, não importa onde, tem seus pontos positivos e negativos. São Paulo tem um custo de vida alto, trânsito, poluição, mas tem um comércio vasto, excelentes restaurantes, uma vida cultural muito diversificada. O Rio tem lindas praias, um povo aberto e descontraído, excelentes restaurantes e vida cultural fértil, mas também tem problemas de violência, custo de vida alto, epidemia de dengue.


Cada lugar - como cada pessoa - tem suas virtudes e defeitos. Prefiro olhar as virtudes. Faço isto com qualquer lugar que visito a trabalho ou a passeio. Tempos atrás ia muito a Curitiba e aprendi a descobrir os seus encantos, apesar de ser uma cidade de clima frio, com um povo fechado.


Talvez, se pensar bem, só tenha conseguido descobrir - e entender - o Rio graças a uma carioca paciente e compreensiva, que soube desvendar a este paulista um pouco do Rio. Para quem confundia Leblon com Leme - cariocas podem rir da minha ignorância -, agora já estou ficando craque. Até os nomes das ruas eu sei!!


Acho que um paulista com alma carioca é um paulista que aprendeu a rir mais, a trocar um pouco da sisudez da cidade grande, a ser mais despojado, a sorrir para a vida e para os dias de sol, a cantar no carro para esquecer do trânsito, a ser mais ixperto e relaxado mermão!


* * * *
Agradeço aos cariocas que visitam este blog, e vocês são um número significativo de visitantes.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Festa Esportiva

No sábado passado (dia 12 de abril), foi realizada a 8a. Corrida Pão de Açúcar Kids. É um evento esportivo patrocinado pelo Pão de Açúcar para crianças de 4 a 12 anos, em provas que variam de 50m a 400m, conforme a faixa etária. Participaram 2.600 crianças.

Meus filhos participaram pela primeira vez desta festa esportiva e fiquei impressionado. A organização do evento é impecável e o tempo colaborou com muito sol no Conjunto Esportivo Constâncio Vaz Guimarães, que fica ao lado do Ginásio do Ibirapuera, em São Paulo.

É um evento que visa incentivar a atividade física. Todos são premiados, independente da colocação. A competição fica em segundo plano. O que importa é participar e competir de forma saudável.


Além da parte esportiva, havia grande preocupação com reciclagem do lixo. Era nítido cuidado das crianças em não jogar lixo no chão e com a reciclagem dos materiais. Enfim, uma iniciativa educativa e esportiva que precisa ser divulgada.


A 9a. edição da corrida acontecerá no dia 11 de outubro, em São Paulo e as inscrições já estão abertas no site do Pão de Açúcar Kids, onde podem ser vistas várias fotos do evento.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Paralisia

LA VAGUE - Renoir


"(...) Quanto à vida privada, era considerado uma vítima do afeto exclusivo e ciumento da mãe; e assim era. Chegando aos 40, ainda guardava dentro de si o desejo e o amor secreto por alunas e colegas que não percebiam nada ou mal se davam conta disso; e bastava que uma jovem ou uma colega demonstrasse corresponder ao seu interesse, para que ficasse logo gelado. A lembrança da mãe, do que teria dito, do juízo que externaria sobre a mulher escolhida por ele, da eventual convivência entre as duas mulheres, da possível decisão de uma delas naão querer a companhia da outra, sempre intervinha para apagar as paixões efêmeras; (...)" (A cada um o seu. Leonardo Sciascia. Rio de Janeiro : Objetiva, 2007, p. 38)

Esta é a descrição do perfil Professor Laurana, protagonista de A cada um o seu, de Leonardo Sciascia. Atenho-me a este trecho, que não revela o final da estória, nem tampouco compromete o interesse do leitor, para sair por uma tangente e abordar um assunto que me desperta especial interesse: o medo.

Interessante que escrevi este post há pouco menos de 1 mês, e com a correria, ele ficou guardado, esperando que me lembrasse dele. Depois de trazer as palavras de Fernando Pessoa, lembrei do nosso Professor Laurana, pois a travessia exige coragem.


Laurana poderia ser descrito como o típico homem tímido, que vive debaixo da saia da mãe, talvez um ser fácil de ser encontrado na Itália dos anos 60. O "filhinho"querido da mamãe, aparentemente um coitadinho, aparentemente um oprimido pela mamma italiana. Mas por detrás desta aparente timidez, esconde-se um covarde, um homem paralisado pelo medo, um acomodado. Palavras fortes? Talvez, mas paremos um pouco para pensar. O tímido é antes de tudo um covarde, uma pessoa que tem medo de revelar-se diante dos outros, do que os outros vão pensar. O tímido não se convenceu do seu valor individual, valor que existe em cada um de nós, de formas diferentes.

Nâo me refiro a uma timidez que todos nós temos, afinal somos humanos, àquela timidez que nos deixa vermelhos e envergonhados, mas sim a uma timidez que petrifica e inibe a ação humana. A timidez que paralisa é um problema que precisa de apoio psicológico para ser vencida. Laurana é um homem medroso. Tem medo de se revelar, de mostrar-se, tem medo de enfrentar a mãe - o que revela demasiado comodismo - , e tem medo de compromisso. Aqui é um ponto nevrálgico que amendronta muitos homens.


O medo se manifesta de formas sutis e algumas vezes exige um esforço enorme para ser superado. Toda mudança traz consigo o medo. O incerto, o futuro, o imprevisível. Tudo isto está associado a um pouco de medo. Há o medo de reconhecer erros, de olhar para dentro de si e olhar de frente para problemas e defeitos.


A coragem não está em vencer, mas em enfrentar o medo. O covarde definha diante de um obstáculo qualquer da vida, mas o corajoso (ou a corajosa) segue em frente, mesmo tremendo, mesmo apavorado.


Nâo vou divagar mais, mas gostei do trecho de Leonardo Sciascia. Um pequeno trecho, mas com a precisão de um grande escritor.

terça-feira, 15 de abril de 2008

Travessia Pessoana

"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos."

Fernando Pessoa


"Quem somos nós? Navios que passam um pelo outro na noite,
Cada um a vida das linhas das vigias iluminadas
E cada um sabendo do outro só que há vida lá dentro e mais nada.
Navios que se afastam ponteados de luz na treva,
Cada um indeciso diminuindo para cada lado do negro
Tudo mais é a noite calada e o frio que sobe das águas."

Álvaro de Campos
(Poemas de Álvaro de Campos. Rio de Janeiro : Nova Fronteira, 1999, p. 356)


Rasgar os grilhões que nos prendem ao passado, aventurar-se a desbravar novos mares. Não precisamos voltar aos tempos dos grandes descobrimentos para empreendermos novas jornadas. Novas jornadas podem ser jornadas interiores. Quebrar com o passado, sim! Desprender-se, inovar, renovar, seguir diante de uma realidade percebida. Há horas em que não adianta insistir, em que é preciso romper com um peso que carregamos nos ombros. Coragem!


A travessia pode ser um simples gesto, mas que custa, que dói, que machuca. Desvencilhar-se de algo que nos enraiza ao chão de tal forma que nos tornamos imóveis. Nesta travessia da vida, há atos que exigem coragem, ainda que simples. E todos temos a coragem para estas travessias! Talvez ela esteja dormente, mas ela existe no coração de cada um.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Vertentes do silêncio


O comentário da Edna - que ela chamou de longo -, no post Fechando o Círculo, provocou uma sequência ao assunto do silêncio.

Retomo o assunto pelo comentário e para mencionar o último livro de Lya Luft, O Silêncio dos Amantes, que será lançado pela Editora Record neste final de semana e objeto de artigo de Ubiratan Brasil no Estadão de 10 de abril (Caderno 2, p. D-14). A temática dos últimos posts não foi inspirado no livro de Lya Luft, mas no livro de Milton Hatoum. O comentário - e comentários longos têm o benefício de incitar o debate, coisa que adoro, pois o blog passa a ser um diálogo e não um monólogo - coincidiu com o recente lançamento, o que revela uma preocupação com o tema. É a arte discutindo a vida.

O trecho transcrito no Estadão parece repetir exatamente o que sugeriu a Edna - e antecipo que concordo. Eis o trecho de Lya Luft:

"Sem que eu soubesse, as coisas não ditas haviam crescido como cogumelos venenosos nas paredes do silêncio, enquanto ele ficava acordado na cama, fitando o teto, como branco dos olhos reluzindo na penumbra. Se eu o interrogava, o que você tem amor? ele respondia que não era nada, estava pensando no trabalho. A gente sabia que era mentira, ele sabia que eu sabia, mas nenhum de nós rompeu aquele acordo sem palavras. Nunca imaginei o mal que o roía. Era impossível qualquer coisa tornar a morte algo melhor do que tudo tínhamos. Isso era o que eu achava. Ele também falava pouco no passado, a infância numa cidadezinha do interior, o monte de irmãos, os pais morrendo cedo, ele responsável pelos menores. Haveria ali, com uma raiz venenosa, alguma coisa tão triste que o levava a querer morrer?"

Cogumelos venenosos nas paredes do silêncio é uma belíssima imagem para o silêncio que corrói, que desarma, que mina o relacionamento. Talvez tenha me precipitado, e só agora possa efetivamente fechar o círculo. Esqueci de falar do silêncio negativo, do silêncio que destrói. De fato, o silêncio, quando se instala num relacionamento, ele tende a ser muito espaçoso, tão espaçoso que afasta os envolvidos.


Vejo duas vertentes deste silêncio. O primeiro é o silêncio causado pela semelhança de pensamento, por pessoas que pensam igual, e que se entendem somente com um olhar. Tive um sócio com o qual conseguia conversar somente olhando. Eu sabia o que ele estava pensando e isto sempre funcionava muito bem em negociações e reuniões. Exatamente por pensarmos igual, acomodamo-nos. O comodismo se instalou e ocupou seu espaço minando as frequentes conversas. Um certo dia, a coisa estourou. Confesso que não tinha visto a situação desta forma tão racional até refletir sobre o silêncio para escrever este post.


Uma outra forma, mais comum num relacionamento afetivo, é o silêncio que decorre de subestimar o parceiro. Um deixa de dar valor ao que o outro fala, deixa de escutar, deixa de pedir a opinião. As decisões deixam de ser conjuntas e passam a ser meramente informadas. As tentativas de vencer esta barreira, de falar sem ser ouvido, tendem a cansar um dos envolvidos e o silêncio adentra a relação sem ser convidado. Com a rotina, o silêncio se alastra e vai criando raízes, novamente afastando os parceiros. É a falta de comunicação a que Lya Luft se refere como problema abordado em seu novo livro.


Um tema que pode ser visto na realidade de tantos casais. Um tema que é objeto de livros e de crônicas - inclusive neste blog. Um tema que vai continuar a nos intrigar e despertar reflexão. E esta reflexão para ser feita, exige o silêncio, mas o silêncio bom!

Brincadeira


Uma brincadeira para relaxar nesta 6a. feira. A dica é do blog O que penso, quando penso...






Your Mind is Blue



Of all the mind types, yours is the most mellow.

You tend to be in a meditative state most of the time. You don't try to think away your troubles.

Your thoughts are realistic, fresh, and honest. You truly see things as how they are.


You tend to spend a lot of time thinking about your friends, your surroundings, and your life.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Dicas da Dani: Sara Bareilles


Uma dica musical de peso - mais uma descoberta da nossa excelente consultora musical - que vai encantar quem gosta de Norah Jones, ou para quem gostou do álbum de estréia de Colbie Caillat.

Little Voice é o segundo álbum de Sara Bareilles. Nunca ouviu falar nela? Então prepare-se, pois com certeza você ouvirá falar nela e ouvirá as músicas dela. A música Love Song é uma das vendidas na loja de música digital iTunes Store, da Apple. A canção também está entre as 10 melhores da Billboard nos Estados Unidos. Por aqui, o álbum só está disponível na versão importada...e cara! Sai muito mais barato comprar todas as músicas do CD na iTunes Store.

Os vídeos originais do álbum estão disponíveis no Youtube, porém não permitem a inclusão no blog. Vale a pena dar uma olhada por lá!

O vídeo abaixo é uma performance da cantora ao vivo na televisão americana.

Between the lines é outra música do álbum e trilha sonora do post Circular.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Fechando o círculo



Os últimos posts acabaram sendo temáticos. Não há mensagem subliminar, mas um exercício criativo inspirado pelo livro do Milton Hatoum que estou lendo. Órfãos do Eldorado (Cia. das Letras, 2008) lida muito com o silêncio e o olhar, levando o leitor a suspeitar que Dinaura, amada por Armindo, não passa de alucinação ou de uma lenda das águas do rio.


Estes trechos ilustram um pouco a questão:


"A gente quer entender uma pessoa, só encontra silêncio." (p. 47)


"E me acostumei com o silêncio, com a voz que eu só ouvia nos sonhos." (p. 41)


"Foi um namoro silencioso. Às vezes, eu escutava a voz de Dinaura nos sonhos. Uma voz mansa e um pouco cantada, que falava de um mundo melhor no fundo do rio. De repente ela ficava muda, assombrada com alguma coisa que o sonho não revelava." (p. 41)


"Esperava com ânsia o sábado seguinte, e me rendia ao olhar de um rosto calado."


O silêncio parece ser algo reprovável no mundo moderno. Há um temor generalizado da ausência de ruído, mas é no silêncio que conseguimos ouvir nossos sentimentos e pensamentos mais íntimos. O silêncio é a porta para o mundo interior, para um mundo de auto-conhecimento. Aprendi a valorizar o silêncio, aprendi a ouvir o silêncio.


Vinicius de Moraes, no poema A TARDE, expressa isto de forma típica de um grande poeta: Meu espírito te sentiu. Só no silêncio podemos sentir o outro, apreciar o outro, prestar atenção no outro.


Com este post fecho o círculo temático, mas não tenho dúvida de que vez por outra, o tema voltará a frequentar este blog.

sábado, 5 de abril de 2008

Circular

PALAVRAS olhar silêncio
PALAVRAS silêncio olhar
OLHAR palavras silêncio
OLHAR silêncio palavras
SILÊNCIO palavras olhar
SILÊNCIO olhar palavras
Situações diferentes?
A ordem altera a realidade?
Ou tudo se confunde num único momento?



Trilha Sonora: Between the lines, Sara Bareilles.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Crônica: Caixa de Chocolates


CAIXA DE CHOCOLATES

Ao voltar do almoço, logo ao entrar na sala, reparou no embrulho sobre a mesa. Uma pequena caixa envolta em papel colorido, em tons claros, com uma etiqueta endereçada a ela. Ficou surpresa e curiosa, ainda que a intuição feminina lhe dissesse que o remetente era conhecido. Deixou a bolsa sobre a cadeira e apanhou o pacote ainda de pé. O coração palpitou mais forte enquanto retirava a fita adesiva com cuidado. Uma caixa de madeira de cor lilás e com uma tampa branca em pintura rústica. “Ele tem bom gosto!”, pensou em voz alta com um sorriso desabrochando.

Abriu a caixa e encontrou apenas três bombons e vários pequenos pedaços de papel dobrados de forma igual. No fundo da caixa, uma folha maior dobrada em quatro partes. Abriu primeiro a folha grande e nela uma carta:

Olá, minha querida!

Imagino-te surpresa. Gosto de te surpreender, mas os pensamentos e sentimentos também me surpreendem. No dia em que seu olhar cruzou com o meu, minha vida tomou um novo rumo, um rumo colorido, um rumo alegre. Nesta pequena caixa encontrará momentos e lembranças. Poucas palavras. Memórias, muitas. Memórias guardadas de forma especial e intensa no coração. Não em um cantinho escondido, mas no centro dele. Memórias espaçosas, que expulsaram a melancolia e a escuridão.

Cada papelote tem uma palavra que aflorará à memória gestos, ocasiões, sentimentos, sonhos, desejos. Uma música, um presente, um olhar, um brinco, uma surpresa, uma brincadeira, uma conversa, uma lágrima. Sei que você entenderá. E confio que a sua memória trará a lembrança de um momento inesquecível, de um acaso qualquer. São nestes momentos que pensei quando escrevi cada papelzinho.

Guarda-os contigo. E se precisares de um sorriso, ou de um carinho especial, tira um da caixa, leia-o e feche os olhos. Estarei pensando em você para lhe trazer um beijo e todo carinho que você merece.

Um beijo deste eterno amigo paulista.


Os olhos estavam marejados, o coração pulsando forte, a pele arrepiada. Sentia-se levitar, um sentimento sublime, doce, intenso. Beijou o papel com os olhos fechados. A surpresa dizia em poucas palavras tudo que ele sentia e ela teve uma vontade incontrolável de correr para os braços dele, de beijá-lo, de poder dizer obrigado mil vezes. Ela tinha que esperar. Tinha que esperar até que ele viesse novamente ao Rio. Enfim, tinha que esperar.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

O tapinha que doeu


O Juiz da 7a. Vara Federal de Porto Alegre condenou a empresa Furacão 2000 Produções Artísticas ao pagamento de multa de R$ 500 mil pelo lançamento da música "Um Tapinha Não Dói", por entender que a letra banaliza a violência e estimula a sociedade a inferiorizar a mulher.

Para quem quiser mais detalhes, a notícia pode ser lida aqui e aqui. Não vou entrar nos detalhes jurídicos da ação, nem no fato de que cabe recurso da sentença, mas vou abordar a questão sob a ótica da liberdade de expressão.

Ontem, no programa Saia Justa, do GNT, o tema foi abordado, com clara divisão entre as apresentadoras. Márcia Tilburi defendendo e aplaudindo a decisão e Maitê Proença, Bete Lago e Mônica Waldvogel contra.

Pessoalmente, achei a decisão um absurdo. Pergunto-me se o Ministério Público Federal não nada melhor para fazer, como por exemplo processar quem usa o cartão corporativo de forma indevida, ou de movimentos ditos sem terra que invadem e destróem a propriedade privada e pesquisas agronômicas?

Afirmar que a música incita a violência contra a mulher é reduzir qualquer letra musical de duplo sentido - e aqui teríamos que incluir toda a produção de axé, forró, pagode etc. - a algo agressivo. Então por que não proibir também - ou condenar - músicas que incitam claramente a violência, tais como MC Racionais e tantos outros grupos de periferia?

Em primeiro lugar, as letras de músicas populares são exatamente isto: populares, em linguagem simplória. Ou deveríamos esperar que as manifestações populares seriam obras-primas do cancioneiro popular?

Talvez a marchinha de carnaval "Olha a cabeleira do Zezé" também pudesse ser incluída como discriminatória contra os gays.
Se formos partir para uma rápida análise da literatura, o que dizer dos textos de Nelson Rodrigues? Será que eles não incitam a violência contra a mulher?
O ponto é a liberdade de expressão. Ela tem limites e se estes limites forem ultrapassados, aqueles que fazem mal uso de sua liberdade devem ser responsabilizados. Mas entender que uma música, ou um filme, incitam a violência contra a mulher, parece-me exagerado. Uma coisa é uma campanha ostensiva, outra é uma expressão cultural - ainda que alguns venham a dizer que funk não é expressão cultural.

Entendo que a "mulher melancia" é muito mais pejorativo, muito mais danoso à imagem das mulheres do que a música "Um tapinha não dói". A sentença judicial é exagerada, mas lanço a questão para debate.

terça-feira, 1 de abril de 2008

Dando crédito à autora

Quando recebi o selo "Uma Mente Iluminada", não pude dar crédito à criadora do selo, pois os posts anteriores não a citavam. Bem, ela me descobriu antes que eu a descobrisse. Isto demonstra que ela foi atrás para ver se o selo criado por ela estava sendo bem aplicado. E como todos nós que gostamos de escrever, que gostamos das coisas que escrevemos, nada mais justo do que dar crédito a quem merece. Afinal, neste blog, procuro sempre citar as fontes (mania acadêmica que permanece), mas que nada mais é do que o correto.

O selo foi criado pela Dominique do blog Dominus. Um excelente blog que merece ser visitado. Em sua visita por aqui, ela deixou o seguinte comentário:


"Sou uma pessoa cuidadosa com as idéias que tenho pois cada ato nosso reflete mais de mil vezes ao infinito e por isso, vim até aqui dizer que é um prazer ver que o selo chegou até o seu blog (que, por sinal, o merece consideravelmente)."


E agradeço também suas gentis palavras sobre nosso humilde blog. Todos estão sempre convidados a aparecer, darem uma olhada e comentar. Este espaço está sempre aberto!