sexta-feira, 16 de março de 2007

Crônica: Borboleta Azul


Aninha corria pelo gramado assustando os grilos que saltavam. Tentava pegá-los com suas pequenas mãos, mas eles eram mais rápidos. Incansável, a pequena menina de 5 anos insistia. Queria aprisionar um deles em suas mãozinhas. Ficou nesta caçada por vários minutos, sem perceber o tempo passar e sem notar o pai que a acompanhava de longe na varanda, degustando aquele momento pueril e relembrando seu tempo de criança. “Bons tempos. Como é bom ser criança” – pensou.

Entre as flores do canteiro, numa hortênsia florida, Aninha encontrou uma borboleta. Aproximou-se lentamente, colocou as mãozinhas sobre os joelhos, curvou-se e, hipnotizada, congelou seu olhar no pequeno inseto. Uma borboleta com asas azuis. Um azul forte, intenso, vivo, mais escuro que céu, mais escuro que o azul do mar. Suas asas tinham uma borda preta que emoldurava o azul das asas.

O pai achegou-se por trás de Aninha, sem fazer barulho, silenciosamente e postou-se ao lado dela. Os dois olhavam a borboleta. Aninha olhou para o pai, sem dizer uma palavra, mas pedindo que ele pegasse a borboleta para ela.

“Filha, vc achou uma linda borboleta!” – exclamou o pai. “Não precisamos pegá-la. Deixe ela livre. Olha que linda.”

A feição da menina entristeceu-se. O pai sentou-se na grama e colocou Aninha em seu colo.

“Não fique triste. Se prendermos a borboleta ela morrerá. Não vamos machucá-la. Deixe-a voar.”

A borboleta azul continuava parada sobre a flor. Aninha ainda queria pegá-la, senti-la em suas mãos.

“Pai, de onde vêm as borboletas?”

“Elas nascem num casulo. São a fase final da vida de uma lagarta, que se transforma.”

“A lagarta vira borboleta?” – espantou-se. “Mas a lagarta é tão feia, tão nojenta e vira este bichinho lindo?”

“Sim, minha filha.” – respondeu o pai carinhosamente. “A lagarta pode ser feia, mas depois vira uma linda borboleta, que voa e deixa a natureza mais bonita. É um pouco como a gente. A gente cresce, muda, se transforma e vira uma pessoa mais bonita.”

“Mas eu não sou feia como a lagarta!” – retrucou.

“Não, minha filha, você é linda. Mas todos nós precisamos saber que temos defeitos, coisas feias, que precisamos nos esforçar para mudar. E a mudança a gente só consegue com esforço e com o tempo. Você já é linda, mas vai ficar mais linda ainda se souber achar os seus defeitos e transformá-los em coisas boas, em borboletas azuis!”

Aninha ficou pensativa. Havia entendido o que o pai queria dizer. A borboleta voou e pousou sobre o braço de Aninha. Ela sorriu, permanecendo imóvel.

“Ela gostou de você! Quando crescer vai ser uma linda mulher, e será mais bela se transformar suas lagartas em borboletas azuis.”

Aninha nunca se esqueceu daquele dia, do conselho de seu pai. Nunca se esqueceu da borboleta azul que hoje repousa em uma tatuagem na nuca escondida sobre seus longos cabelos.

2 comentários:

Anônimo disse...

Olá!
Sou acadêmica de pedagogia e buscando material para um estágio que faço em um abrigo deparei-me com sua linda crônica. Tdo o conteúdo que gostaria de abordar sobre a capacidade de mudança, de aprimoramento do ser humano, vc, de maneiro lúdica e eficiente, expressou em sua crônica. Parabéns pela sensibilidade. Peço permissão para usar seu texto com os meus pequeninos. Obrigada. Dani

Renato disse...

Daniele,

Autorização concedida. Pode usar e espero que auxilie no seu trabalho.