quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

A vida não tem replay

(c) visão ao longe

Estreou esta semana no canal a cabo AXN a série Flash Forward. Não sou fã de Lost, 24 horas, CSI, Fringe, Heroes e séries que têm uma legião de fãs. Conquistaram estes fãs graças a roteiros bem elaborados e estórias interessantes que fogem da mesmice tão comum na televisão. Porém, fui fisgado pela ideia central de Flash Forward. A chamada do programa diz: "O que você faria se pudesse ter por 2 minutos 17 segundos a visão de seu futuro?"

No primeiro episódio, há um desmaio coletivo de proporções globais. Todas os habitantes do planeta perdem a consciência durante 2 minutos e 17 segundos e tem uma visão de eventos que teoricamente acontecerão no dia 29 de abril de 2010. A visão do futuro inquieta todos e inicia-se uma investigação do FBI sobre o que causou o desmaio coletivo. Morte, traição, medo e tudo que compõe um bom enredo de suspense e drama parecem estar presentes.

O cinema, recentemente, tratou do tema no filme Click (2006). Com um controle remoto, o protagonista vivido por Adam Sandler aperta o botão de "avançar" e pula etapas ou momentos desagradáveis da vida, para no final descobrir que perdeu o que vida lhe oferecia de melhor.

Outro filme que pessoalmente me agradou ao lidar com o tempo foi Feitiço do Tempo (Groundhog Day - 1993). Vi e revi o filme algumas vezes e sempre há algo de genial na estória. Bill Murray é um repórter do tempo e vai a uma pequena cidade na Pennsylvania para cobrir o dia da marmota. Uma nevasca impede a equipe de sair da cidade e ao despertar no dia seguinte, descobre que voltou ao dia anterior. O personagem de Bill Murray ganha inúmeros replays da vida.

A vida real não tem replay. O que acontece, provavelmente não se repetirá e não ficará registrado a não ser pelas testemunhas e pelas pessoas que participaram daquele evento. Quantos fatos acontecem simultaneamente no mundo? Quantas pessoas nascem e morrem sem que saibamos? Quantos pensamentos - bons e maus - são processados nos bilhões de cérebros humanos ao redor da Terra? Quantas crianças sorriem para suas mães e pais ao final do dia? E quantas não têm pais e mães?

Estes eventos, ainda que se repitam, como o sorriso maternal para um filho, são únicos. Não se repetiram da mesma forma jamais. O tempo nos brinda com uma única chance, um moemnto peculiar na história da humanidade. A nossa reação - ou inação - só depende de nós. O tempo é precioso. A vida é preciosa.

Outro dia, e não vou me alongar muito mais neste devaneio de final de tarde, estava parado no trânsito, na Rodovia Castelo Branco rumo a Barueri, que fica a pouco mais de 20 km de São Paulo. Por entre os carros enfileirados, vinha uma moto. Alguns metros à frente, uma outra moto surgiu e atingiu a moto que vinha no corredor entre os carros. Os dois motociclistas voaram sobre os veículos parados. As motos bateram na traseira de um dos carros e os dois motociclistas caíram. Num piscar de olhos, num instante, a vida dos dois mudou. Fiquei inerte observando. Não havia o que fazer, não havia como impedir o acidente, não havia como retroceder o tempo para evitar aquele fato.

Ao assistir ao acidente, veio-me o título deste post. Segui minha viagem até Campinas, convicto a cada segundo que passava de que a vida realmente não tem replay. E ainda bem que a vida também não tem controle remoto para apertarmos o botão de "avançar".

As memórias ficam guardadas. O replay só depende de nós.


segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Revoada Carnavalesca



Tarde quente e preguiçosa, em que o tempo parecia se alongar de modo elástico, distorcido pelo calor intenso, sol escaldante no céu anil. Até o ruído do vento estava ausente, certamente repousando debaixo de uma sombra. Eu, por minha vez, flertava com uma sesta, refestelado na rede confortavelmente instalada na varanda.



Começo a desconfiar que devo ter algum traço de sangue índio originário de algum ascendente português que aqui aportou em séculos distantes. Talvez um gene que passou por terras do norte do país antes de finalmente se aquietar em terras paulistas. Jorge Amado, João Ubaldo Ribeiro, Josué Montello, autores que não deixam de retratar traços regionais típicos, conduzem seus protagonistas a uma boa rede. Curiosamente, os três nomes começam com a letra J, que muito lembra um gancho sobre o qual se apóia a rede. Mas estou divagando demais e fugindo do assunto.


Dou-me muito bem com uma rede. Adormeço facilmente, e apesar de urbano, desconfio que esta minha facilidade em lidar com uma boa rede deve ser fruto de algum gene introduzido na minha constituição genética por algum antepassado.


Bem, voltemos à rede, ao calor, ao silêncio. Numa tarde de carnaval, observei uma enormidade de borboletas a desfilar. Algumas pequeninas, de leve tom amarelado, bailando pelas floreiras ao redor da varanda, imitando a comissão de frente e convidando a olhar atentamente o que viria. Outras mais alaranjadas com as bordas das asas pretas, uma ala imponente fazendo sua evolução. Uma ou duas maiores com um azul vivo nas asas e que se mostravam quando pousavam nalguma flor, como porta-bandeiras de uma escola de samba. Uma revoada de borboletas para abrilhantar o carnaval.


A natureza dava um espetáculo carnavalesco de cor e vida. Quantas vezes isto já havia acontecido antes, nos tempos de criança, e sequer tinha notado? Tantos carnavais passei neste mesmo lugar e o desfile gratuito havia passado despercebido. Demorei a reparar, mas ainda há tempo. Sempre há tempo para se observar e deixar-se ficar maravilhado com o singelo. A maturidade traz estes presentes. Basta olhar com atenção.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Jogo Rápido

Algumas notas rápidas neste pós-carnaval, ou melhor, neste começo de ano, como clamam alguns. Crendice popular da qual discordo redondamente.

1. São Paulo voltou a sofrer com um forte temporal no dia de ontem. Os túneis que passam por debaixo da Avenida Rebouças ficaram inundados, o que é inédito. Levando em conta que Dilma Roussef usará o tema enchente na campanha, vale lembrar que estes túneis foram construídos na gestão Marta Suplicy.  A obra foi criticada por vários técnicos e o Tribunal de Contas do Município suspeitou de superfaturamento. Se a obra era tão perfeita, não deveria alagar, não é Senador Mercadante?

Outro ponto que todos parecem esquecer: São Bernardo do Campo também tem sofrido com enchentes. O prefeito de São Bernardo é Luiz Marinho, do PT. Isto ninguém lembra! Mas para descer a lenha no Kassab, as vozes são muitas.

2. E por falar em Mercadante, o senador petista de São Paulo, adora usar o twitter. Anunciou no twitter que   renunciaria à liderança do partido de modo irrevogável. Levou um puxão de orelha do Lula e voltou atrás em plenário, "desdizendo" o que havia escrito. 

Agora ele ataca de novo e escreveu: "Agora na Costa Rica, o presidente Arias transferiu prestígio e fez a sucessora, Laura, mulher. Por que não comparar com a vitória de Dilma?"



Do jeito que é pé frio e péssimo com seus palpites, Serra vai dormir mais tranquilo. E não vou nem gastar tempo apresentando as diferenças que Costa Rica e Chile têm com o Brasil. Nos dois casos, a máquina pública não utliza o Bolsa-família para ganhar a eleição.



3. O Distrito Federal está sem governo. Vou provocar: por que não aprovar uma emenda constitucional e acabar com o Distrito Federal? O DF poderia ser transformado em área subordinada à presidência da república que nomearia um administrador. Seriam eliminados 3 senadores e 6 deputados federais, além de um tribunal de justiça e seus desembargadores, deputados distritais e todo um mundo de funcionários públicos que só geram despesa e roubalheira. Seria muito delirante uma ideia destas?



terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Cow Parade - II


'Mi cow' Jackson, localizada na Rua Peru esquina com Rua Colômbia.



Cowaii, na Rua Oscar Freire, diante da sensacional loja das Havaianas.  
A loja vale uma visita pelo estilo despojado e alegre.


A lista completa com a localização das vacas pode ser encontrada no Cow Parade São Paulo.

OBS: As fotos foram tiradas por este blog. Não custa nada citar a fonte, caso alguém queira reproduzi-las.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Retrospectiva de crônicas 2008/2009



Em dezembro de 2007, resolvi fazer uma retrospectiva das crônicas mais lidas no blog. A listagem está no post Retrospectiva de crônicas 2007. Nutrido pela curiosidade, queria saber quais os textos que mais atraíram os leitores. Pura curiosidade. Mas confesso, que as duas primeiras colocações não me surpreenderam, pois foram 2 dos textos que mais gostei de escrever.

No final de 2008, acabei não fazendo uma compilação. Porém, nos anos de 2008 e 2009, as crônicas mais lidas foram as mesmas de 2007. A listagem nova traz apenas as crônicas publicadas nos anos de 2008 e 2009. Ficam como sugestão de leitura para quem não gosta de folia e resolver passar por este cantinho nestes dias.

Ano 2008











Ano 2009












terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

No meio do dilúvio

Foram 47 dias seguidos de chuva. Em todos estes dias, choveu em São Paulo. Não uma garoa, mas chuvas torrenciais. Superamos o dilúvio bíblico! Foi o janeiro mais chuvoso de toda a história da cidade. Ontem, a chuva deu uma trégua e a tarde terminou ensolarada e quente.


Semana passada, na quinta-feira, fui pego no meio do dilúvio. Tinha que ir ao Fórum de Santo Amaro e saí do escritório às 16 horas. Normalmente, demoraria 40 minutos para chegar. Ao sair, notei as nuvens escuras que se formavam diante de mim. Pensei em desistir, mas fui adiante. Quando entrei na Av. 23 de Maio, começou a chover. Para quem não é de São Paulo, a Av. 23 de Maio corta a cidade de norte a sul, numa versão tupiniquim de freeway.

Em poucos minutos, estava no meio de um temporal. O trânsito parou. Ouvindo o rádio, antecipei os transtornos que me aguardavam. O aeroporto de Congonhas estava fechado. Em marcha lenta, o carro andava; mas muito pouco. Depois de 20 minutos, deparei-me com um verdadeiro rio caudaloso diante do carro. Não era um pouco de água, era muita água. Daria para pegar um bote e fazer rafting pelo meio de Moema, rumo ao Rio Pinheiros.

Parei o carro e fiquei observando a água que atravessava as pistas da avenida com forte correnteza. Nunca tinha visto isto por aqui. O que mais impressionou foi a quantidade de água que caiu em muito pouco tempo. Não há projeto de engenharia ou política urbana que evitasse os transtornos. Era preciso ter paciência e se adaptar.

O paulistano aprendeu, neste verão, que as intempéries da natureza causam imprevistos e é preciso ter flexibilidade com horários e com compromissos. Como disse um amigo meu, foi um mês em que era preciso agir como índio. Olhar para o céu e se planejar para fazer tudo antes da chuva.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Cow Parade


Cowfrinho, no Shopping Cidade Jardim.

A inusitada mostra de vacas espalhadas por São Paulo já conquistou o interesse e o olhar atento do paulistano. Uma ótima forma de quebrar a rotina e a aridez da cidade grande.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Epígrafe - IV

"É um trabalho terrível. Claro, para realizá-lo, e para qualquer tipo de trabalho, você tem de gostar muito. É preciso amar-se, senão você não faz nada que presta. E não é só isso: estraga-se a própria vida. Uma vida em que se exerce uma profissão sem nenhuma ligação amorosa é uma cadeia. Deve ser terrível. Felizmente, eu nunca fui obrigada a trabalhar naquilo de que não gostava. Uma sorte, eu tenho muita sorte: acho que sou muito bafejada por Deus."

O trecho acima foi extraído de uma entrevista da pela Profa. Cleonice Berardinelli, 93 anos, à repórter Rachel Bertol e publicada no caderno EU&, do Valor Econômico (29, 30 e 31 de janeiro de 2010, p. 23-4).

A referência ao trabalho terrível - para não tirar a citação do contexto - decorre do extenso e dedicado trabalho de compilar toda a poesia de Álvaro de Campos, um dos heterônimos de Fernando Pessoa, "contendo o que se chama aparato genético - onde contamos como estava escrito, como ele corrigiu, em seguida alterou, etc."

O que salta aos olhos na entrevista é o amor ao trabalho e a vivacidade de uma mulher de 93 anos.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Comentários e Crônicas


A interação com leitores, muitas vezes anônimos, é uma das partes mais interessantes de manter um blog. Diria que é extremamente gratificante receber um comentário num texto de alguém que se identificou com o que foi escrito. Por algum motivo, o leitor chegou até aqui e gostou do que encontrou. Esta interatividade é fascinante. Saber que alguém em Paris acessou o blog, ou que um leitor no Acre interessou-se e gostou do que encontrou, mostram a força da comunicação nas suas mais variadas formas. E tudo isto é muito gratificante para este escriba.

Sei que já falei sobre isto antes, mas um comentário anônimo e elogioso, deixado recentemente numa crônica de agosto de 2007 (Beijo Vazio), fez-me voltar ao tema e resolvi organizar uma retrospectiva destes textos de ficção. Ainda que denominadas de crônicas, talvez seria mais preciso chamar os textos de minicontos. Deixemos o rigor acadêmico de lado e fiquemos com a nomenclatura crônicas.

Confesso que é o conjunto de textos que mais gosto neste blog, pelos quais tenho maior carinho e nos quais sinto um pouco da inspiração criativa do escritor. Nascem em horas e momentos dos mais inesperados; nascem mentalmente, e depois ganham vida neste blog.

Utilizando uma das ferramentas que medem a audiência no blog, vou organizar as crônicas mais lidas e algumas das minhas preferidas. Aguardem esta retrospectiva nos próximos dias.