No meio da tarde de sábado, final de verão, Pedro escolheu uma mesa perto da calçada, num simpático café da Rua Oscar Freire. Queria ver gente. Observar as pessoas. Analisar. Distrair-se com as divertidas figuras do coração do luxo e da elegância paulistana. Pediu um café puro e um pão de queijo. Deixou o livro recém-adquirido sobre a mesa, cruzou as pernas e preguiçosamente deixou seu olhar passear.
Passeavam pela calçada, ou melhor, desfilavam mulheres com sacolas, com cachorrinhos embonecados, com óculos escuros largos sobre a face, com amigas a falar e a gargalhar alto. Uma fauna de mulheres ricas, de peruas, de patricinhas, de todas as tribos urbanas e cosmopolitas. Umas medindo as outras de cima abaixo. Grifes caras e famosas e outras nem tanto. Uma variedade de roupas e estilos, de tamanhos e de rostos, de aromas de perfumes caros e de cores. Tudo se mesclava numa tela impressionista, sem precisão, como um emaranhado de sons, aromas e formas.
Pedro fitava-as discretamente, de relance. Começou pelos pés. Admirou-se com a variedade de sapatos, sandálias, unhas, pés que por ali passavam. Achava defeito em todos. Simpatizou com alguns. Mas algo incomodava-lhe.
Distraiu-se então com os rostos. Reparou nos cabelos, alguns longos, outros curtos, presos, soltos, loiros, ruivos e castanhos. Cortes variados, visuais esquisitos, outros elegantes, outros mais simples. “Qual o mais bonito”, perguntava-se. “Qual a forma da beleza?” Uma beleza abstrata rondava sua mente e não se materializava diante dele naquela tarde. Pensou em Platão e no mundo das idéias. “Seria a beleza perfeita algo inatingível, algo invisível, algo que somente pode ser criado em nossas mentes? Haveria um molde perfeito?” O molde de beleza de Pedro estava silente, escondido em seu inconsciente.
Continuou a observar de forma incessante a procura de algo que sabia existir, que sabia estar presente dentro de si ou no mundo exterior. Sentiu-se criando um Frankesntein feminino. Juntava partes e pedaços de mulheres, misturava estilos e roupas, mas nada lhe apaziguava o espírito. Inquieto não desistia em sua busca.
Estava ali há mais de uma hora e meia, quando uma moça perguntou-lhe se queria mais alguma coisa. Despertou do transe ao ouvir a indagação. Olhou-a e o reflexo da luz sobre um ponto brilhante que repousava sobre o nariz da funcionária alvejou-o como um raio. “Por isso encontrava defeito em todas as mulheres!”, disse a si mesmo. “Você é e sempre será única. Não há substituta, não há outra igual a você. Nunca serei indiferente ao seu nome. Sempre que o ouvir, lembrarei de ti. Sempre!” O pequeno piercing acima da narina esquerda havia trazido Pedro de volta à realidade. Pediu mais um café e sorriu. Encontrara o que buscava.
Passeavam pela calçada, ou melhor, desfilavam mulheres com sacolas, com cachorrinhos embonecados, com óculos escuros largos sobre a face, com amigas a falar e a gargalhar alto. Uma fauna de mulheres ricas, de peruas, de patricinhas, de todas as tribos urbanas e cosmopolitas. Umas medindo as outras de cima abaixo. Grifes caras e famosas e outras nem tanto. Uma variedade de roupas e estilos, de tamanhos e de rostos, de aromas de perfumes caros e de cores. Tudo se mesclava numa tela impressionista, sem precisão, como um emaranhado de sons, aromas e formas.
Pedro fitava-as discretamente, de relance. Começou pelos pés. Admirou-se com a variedade de sapatos, sandálias, unhas, pés que por ali passavam. Achava defeito em todos. Simpatizou com alguns. Mas algo incomodava-lhe.
Distraiu-se então com os rostos. Reparou nos cabelos, alguns longos, outros curtos, presos, soltos, loiros, ruivos e castanhos. Cortes variados, visuais esquisitos, outros elegantes, outros mais simples. “Qual o mais bonito”, perguntava-se. “Qual a forma da beleza?” Uma beleza abstrata rondava sua mente e não se materializava diante dele naquela tarde. Pensou em Platão e no mundo das idéias. “Seria a beleza perfeita algo inatingível, algo invisível, algo que somente pode ser criado em nossas mentes? Haveria um molde perfeito?” O molde de beleza de Pedro estava silente, escondido em seu inconsciente.
Continuou a observar de forma incessante a procura de algo que sabia existir, que sabia estar presente dentro de si ou no mundo exterior. Sentiu-se criando um Frankesntein feminino. Juntava partes e pedaços de mulheres, misturava estilos e roupas, mas nada lhe apaziguava o espírito. Inquieto não desistia em sua busca.
Estava ali há mais de uma hora e meia, quando uma moça perguntou-lhe se queria mais alguma coisa. Despertou do transe ao ouvir a indagação. Olhou-a e o reflexo da luz sobre um ponto brilhante que repousava sobre o nariz da funcionária alvejou-o como um raio. “Por isso encontrava defeito em todas as mulheres!”, disse a si mesmo. “Você é e sempre será única. Não há substituta, não há outra igual a você. Nunca serei indiferente ao seu nome. Sempre que o ouvir, lembrarei de ti. Sempre!” O pequeno piercing acima da narina esquerda havia trazido Pedro de volta à realidade. Pediu mais um café e sorriu. Encontrara o que buscava.
2 comentários:
Me identifiquei com Pedro no qusito "observar", hehehehehe.
Pedro, Pedro, meu amigo, sai dessa!
Você nunca abrirá novas portas se ficar comparando todas com "uma". Cada pessoa é única na vida da outra enquanto dure o momento...depois, sempre haverá outra.
Foi uma delícia ler sua crônica!
É, ás vezes a gente procura algo no mais provável, quando a resposta está no menos improvável...
Quanto à beleza é realmente muito relativa. Acredito que como na crônica, nem sempre quem tem mais recursos financeiros e mais meios de buscá-la consegue ser verdadeiramente bonito, muitas vezes a beleza natural, aquela que ninguém consegue mexer, pôr ou tirar é a mais delineada! E nós mulheres sabemos bem disso...
Um abraço e uma boa semana!
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