sábado, 28 de maio de 2011

Preconceito Linguístico


Não fiquei surpreso quando, outro dia, meu filho disparou a seguinte crítica ao livro que lia:

-          Pai, este livro está errado! Olha, escreveram “o velho biruta” e deveria ser “o velho biruto”.

Expliquei-lhe que biruta não se flexionava com o gênero e ele compreendeu, mas uma criança de 7 anos reparar e observar a concordância correta fez-me ter a certeza de que a educação que recebe na escola está no caminho certo.

Algo muito diferente propõe o MEC.

A recente polêmica acerca do livro Por uma Vida Melhor, de Heloísa Ramos, demonstra que o MEC, sob o comando do ministro Fernando Haddad transformou-se em um braço governamental de minorias e grupos de interesse que querem impor sobre toda a sociedade sua visão de mundo. O MEC tem permanecido nas manchetes por más razões e não por elogios e conquistas louváveis. Apenas para refrescar a memória, tivemos os problemas com o ENEM por dois anos seguidos e a questão envolvendo o kit anti-homofobia, que na verdade é um kit de propaganda e proselitismo de alternativas sexuais.

Voltemos ao caso do livro em questão.

O livro foi publicado pela Editora Global, mas é um projeto de uma ONG denominada Ação Educativa.  Segundo Ruy Castro, foram publicados mais de 4 milhões de exemplares e a autora recebeu em torno de R$ 700 mil a título de direitos autorais. Estes números fogem à regra do mercado editorial brasileiro e superam valores recebidos por escritores como Paulo Coelho.

A ONG, mãe do projeto, recebe recursos de instituições estrangeiras para financiar suas atividades e o site da entidade elenca seus dirigentes, em princípio, todos com excelente currículo. Porém, currículo não é sinônimo de imparcialidade e acima de ideologias. Sua Nota Pública não convence.

A problema fundamental é que o livro sugere que certas normas gramaticais podem ser desrespeitadas, como se isto fosse admissível na linguagem culta e escrita. A autora se defendeu argumentando que a questão estava fora de contexto e que as pessoas não haviam lido o capítulo. O MEC, como de costume, calou-se e não deu satisfação à sociedade. A comissão da UFRN que aprovou o livro fez o mesmo, talvez inspirada na nossa Rainha Muda, a zeladora de plantão que cuida do governo durante o período sabático de Lula, como tem reiterado Reinaldo Azevedo (Aliás, sobre a polêmica vide post de Reinaldo Azevedo).

Então, vamos ao livro e analisemos o que está escrito. O capítulo pode ser lido aqui (link para downloado do capítulo em pdf). Na página 15 está escrito:

"Você pode estar se perguntando: “Mas eu posso falar ‘os livro?’.
Claro que pode. Mas fique atento porque, dependendo da situação, você corre o risco de ser vítima de preconceito linguístico. Muita gente diz o que se deve e o que não se deve falar e escrever, tomando as regras estabelecidas para a norma culta como padrão de correção de todas as formas linguísticas. O falante, portanto, tem de ser capaz de usar a variante adequada da língua para cada ocasião." (o negrito está no original)

Há dois problemas graves neste parágrafo: o erro e o fundo ideológico por detrás do ensino do idioma.

O erro é flagrante. VOCÊ SÓ PODE FALAR ‘OS LIVRO’ QUANDO ESTIVER ERRADO! Não há outra alternativa, não há meio certo, não há ocasião adequada – falada ou escrita – para utilização da frase desta forma, salvo se o escritor estiver utilizando um discurso de um personagem que fala errado. 

A transgressão como recurso narrativo é viável, faz parte da evolução artística e literária, mas isto não é aplicável para um aluno de ensino fundamental! A escola deve ensinar o certo, ou seja, a norma culta da língua. E o livro de Heloísa Ramos propõe algo muito diferente do certo.

A outra questão refere-se à expressão preconceito linguístico. O livro tenta impor o “lulês” como linguagem corrente no país, como equiparada à norma culta da língua. Se as pessoas falam de forma errada, a escola tem a função de corrigir o erro. O livro criou a categoria da pessoa que sofre de bullying por falar errado, uma nova minoria que fala errado e que em breve ganhará talvez uma secretaria especial, um programa de quotas ou alguma bolsa-analfabeto. E o MEC terá servido como instrumento ideológico de uma linha de pensamento minoritária.

O parágrafo transcrito tem características panfletárias, como se a incitar o falante do português errado a resistir ao preconceito linguístico. Não há incentivo à correção do erro, havendo uma inversão de valores onde o erro deve servir como instrumento de luta contra um preconceito. É a luta de classes de Marx transposta para o plano linguístico. E a professora Heloísa Campos sustenta que o “proletário” deve resistir e sem educação formal e correta, a consequência será sua manutenção na qualidade de proletário e oprimido pela elite e pelo capital.

O idioma de um país é uma característica da unidade do povo. As variações regionais são enriquecedoras do idioma e do dinamismo da língua, porém criar divisões entre norma culta e norma popular, numa clara divisão de classes consagram o fracasso do sistema educacional brasileiro. O MEC, ao aprovar este livro e esta linha de pensamento, dá sinais inequívocos de que a educação no Brasil é meramente pró-forma, ou seja, não há preocupação em educar, mas apenas em informar e manter o status quo.

O aspecto ideológico que emana do citado livro é prova inquestionável de que o ministro comanda um ministério refém de minorias que tentam conquistar feudos e criar guetos com um processo de divisão na sociedade brasileira, algo tão patente nos discursos eleitorais de Lula e de sua sucessora.

O MEC precisa ser refundado, passar por um processo de revisão de funções, ou seja, o MEC precisa se preocupar com a educação no Brasil e não em ser instrumento de grupos de interesse que apóiam o projeto de loteamento do país a que se propõe o PT.

Eu continuo defensor e amante da nossa língua portuguesa, escrita e falada de forma correta e com todos os plurais e regras de concordância.


terça-feira, 24 de maio de 2011

Dia do café



Hoje é dia do café. Não sei quem inventou a data ou a razão de ser, só sei que tomar um bom café é uma delícia.

Se o papo engrena quando um conhecido de longa data cruza nosso caminho, logo surge o convite para um café. No meio da correria, a pausa é geralmente regada a café. Para um despertar matinal, o café novamente se faz presente. Após uma refeição, ele não pode faltar. Numa tarde ensolarada – ou de chuva -, o café é um bom motivo para acompanhar a leitura, ou simplesmente deixar o tempo passar.

Café  me lembra casa de avó, bolo de fubá, sequilho. Xícara pequena ou grande, não importa,  o que vale é o conteúdo. Para um brasileiro, o café é a testemunha que silenciosamente presencia a vida passar. O café é mais que um companheiro, é um confidente de todas as horas.

Agora, com licença, que vou tomar um café que acabei de fazer.

sábado, 21 de maio de 2011

Epígrafe - IX

"E os dois ficaram fitando a luminária, sem coragem de cruzar os olhares, temendo estas palavras. Frederica parecia inculta mas tinha uma existência poética. Talvez o poema que Último estivesse procurando não existisse em forma de palavras, apenas na figura de uma pessoa. Se isso fosse possível, Frederica seria este poema e Último já o conquistara. Marlus começou a vê-la como palavras que se traduziam em formas, movimentos, odores."

(Miguel Sanches Neto. Então você quer ser escritor? Rio de Janeiro : Record, 2011, p. 26)

O trecho acima foi extraído da primeira parte do conto "Árvores Submersas" do último livro de contos de Miguel Sanches Neto. Seria mais adequado denominar de trecho, pois não se trata propriamente de uma epígrafe. Do trecho é possível decantar as palavras e o resíduo é uma epígrafe, talvez não clara e patente, mas que remanesce no subconsciente do leitor. 

O poema perfeito tenta descrever uma pessoa, uma pessoa idealizada na perfeição. A pessoa ideal jamais caberá num poema, pois o poema nunca é perfeito e a pessoa ideal somente existe no imaginário. A ser humano é imperfeito, a beleza é imperfeita, mas com o poema, o poeta almeja o sublime, a descrição da perfeita beleza. Em sua limitada condição humana, o poeta pode tangenciar a perfeição desejada, mas alcançá-la é algo divino.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Algumas perguntas para Palocci

Se só o Michel Temer saiu em sua defesa, há algo a temer?

Se a vida de consultor era tão promissora e rentável, por que voltar ao governo que paga um salário muito mais baixo que a remuneração de um consultor?

Devido à flagrante evolução patrimonial, a Receita Federal incluiu seu nome na Malha Fina como faria com qualquer outro cidadão não filiado ao PT?

Por que será que todo Ministro da Casa Civil nos últimos anos enriquece tão rápido? José Dirceu virou um "consultor" milionário também; Erenice Guerra bem que tentou enveredar pela consultoria, mas foi flagrada com a mão na cumbuca, e Palocci...

O sonho do brasileiro não é mais ganhar na Mega-Sena, é ser Ministro Chefe da Casa Civil! Nenhum emprego é tão bom e enriquece tão rápido quanto este!

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Uma noite para Murakami



“- O que exatamente você quer dizer com criar alguma coisa de verdade?

- Como posso explicar... Quando a música que você interpreta consegue tocar lá no fundo do coração das pessoas, tanto o corpo de quem toca quanto o de quem ouve, com sutileza, se desloca fisicamente. É conseguir criar esse verdadeiro estado de comunhão. Acho que é isso.”
(Após o Anoitecer. Trad. Lica Hashimoto. Rio de Janeiro : Objetiva, 2009, p. 97)

Basta o período de uma noite para que o escritor japonês, Haruki Murakami, enverede pelo relacionamento entre duas irmãs. Após o Anoitecer é seu 11o. romance e foi lançado em 2009, publicado no Brasil pela Editora Obejtiva (Alfaguara).

O autor narra a estória de duas irmãs. Mari Asai é uma garota que se refugia na solidão em busca de solucionar um conflito interno e lidar com a preferência dos pais pela irmã. Eri Asai é uma modelo de revistas femininas, bonita, popular, bem sucedida. A competitividade do ambiente familiar,  ainda mais acerbada numa família japonesa, conduzem Mari ao ostracismo e a uma série de questionamentos que são precipitados com os personagens que cruzam seu caminho.

Takahashi é o principal deles. Conduz Mari pela noite, intrometendo-se na vida dela, como um anjo que invade sua vida sem ser convidado. O passado difícil de Takahashi e suas conclusões auxiliam Mari a indagar se Eri é realmente feliz por detrás da fama e das aparências de felicidade. 

O avançar dos ponteiros do relógio são um indicativo de que a noite é um período de reflexão e mudança, um período de escuridão na alma de Mari que aos poucos se dissipa com o surgimento da luz matinal.  

Murakami utiliza com maestria constantes referências musicais, principalmente do jazz, para adicionar relevo aos ambientes e criar um clima auditivo para o estado de espírito de seus personagens. Sua narrativa é ágil e sem excessos descritivos desnecessários, o que parece que o autor segue à risca a recomendação de não utilizar palavras desnecessárias no romance.

O resultado final é um romance que trata de relacionamentos humanos, da complexidade e da beleza destes relacionamentos e como o acaso é fundamental para descobrir aqueles recônditos escuros do nosso interior. Enfim, trata-se de leitura altamente recomendável.


Cadê meu post ?

Assodado com a correria profissional, ontem, durante a espera de 45 minutos para uma reunião, escrevi dois textos. Um deles virou um post. E o que aconteceu? Evaporou-se do blogger!

Creio que mais pessoas devem ter perdido material. A "nuvem" - ou cloud computing - tem se provado cada vez menos confiável. Eu cético - ou vício de advogado - com a preservação de arquivos agora deixei de ser o chato que desconfia de certos avanços tecnológicos.

Em breve, o post antigo que será republicado.

sábado, 7 de maio de 2011

Mãe

Com ternura, repreende e corrige o desvio.
Detecta a aflição, o medo, com leitura facial e sem pronunciar uma palavra sequer.
Presença constante, ainda que imperceptível para o filho.
Comemora orgulhosamente os feitos, escondendo as lágrimas de emoção, disfarçando o choro, mas jamais capaz de ocultar a alegria incontrolável.
Pacientemente acolhe nos braços o filho inquieto, inseguro.
Sábia, tem a palavra certa para o momento adequado; palavra que conforta, anima, energiza, dá vida e coragem.
Por amor, levanta-se nas noites frias ao ouvir o mais sussurrado chamado do quarto ao lado.
Na doença, está de vigília para curar e tratar, sem medir esforços e sacrifícios.
Acompanhou seus primeiros passos  e teve a grandeza de permitir ao filho alçar o voo solo, fora do ninho.
Ensinou o filho a voar, a viver com altivez e altruísmo, independente e confiante.
Ensinou a filha a ser mãe, herança feminina valiosíssima e inestimável.
Marcou seu caráter e forjou tua personalidade, respeitando as diferenças, mas corrigindo o rumo quando necessário.
No seu dia, parabéns e muito obrigado por ser quem és.

A todas as mães, parabéns pelo seu dia!

terça-feira, 3 de maio de 2011

Sonhos





Sonhos têm lá sua vontade própria, suas surpresas, suas razões que só o inconsciente conhece. Quando o sonho é bom, o alvorecer é triste; quando o sonho é medonho, o despertar é feliz. Mas quando se pode dizer “Hoje sonhei contigo”, a alegria perdura e permeia todo o dia.