quinta-feira, 30 de abril de 2009

Ainda sobre um outro ângulo

Vik Muniz, The Bearer (Irma), 2008, reproduzido da Galeria Fortes Villaça.




Vou pegar o gancho do último post e aproveitar o feriado para recomendar a mostra de Vik Muniz no MASP. Quem estiver em São Paulo - ou passando pela cidade - vale a pena gastar um tempinho na retrospectiva de seus trabalhos.



Vik Muniz é um artista brasileiro que vive em Nova York. Juntamente com Beatriz Milhazes e Romero Brito, Vik é um artista contemporâneo de renome internacional. Seus trabalhos são releituras de obras conhecidas ou projetos artísticos que marcaram época. O artista usa materiais inusitados para formar suas imagens e obras.



Em outras palavras, aquilo que se vê é um punhado de arame retorcido ou uma torneira? Aquela imagem é um amontoado de lixo ou o retrato de um menino? Tudo dependo do ângulo e da forma como se olha.

terça-feira, 28 de abril de 2009

Mude o ângulo





Olha para o céu num dia com nuvens brancas a pontilhar aquela imensidão anil. Olhe para o tronco de uma árvore, bem de perto, e repare nos detalhes. Olhe para o chão e note os padrões de uma pedra de granito ou da calçada. Olhe para uma noite estrelada e tente ver as constelações que se desenham.



Olhe para a foto acima. Pode ser uma tiara divertida ou alguma invenção inútil e barata que o fará ficar com cara de bobo. Ou então poderá ver duas pessoas sorrindo caminhando de mãos dadas na beira da praia. Não viu? Basta imaginar.


Há uma infinidade de situações estéticas que podem ser vistas como são, ou como suponhamos que sejam. O olhar criativo, que muda o ângulo de visão, que muda a luz, que muda a cor, que muda o tom, permite vislumbrar desenhos e formas escondidas na transmutação da realidade. Tudo depende do ângulo com que se olha.


O artista é um ser humano com a capacidade de olhar para uma tela branca e projetar mentalmente o que quer atingir com o pincel e as cores das tintas. O escultor é capaz de olhar para um tronco, um bloco de pedra, um pedaço de metal, e criar algo agradável aos olhos e compreensível ao nosso cérebro.


Estas afirmações são válidas também para um empresário que faz acontecer, para um líder que influencia positivamente a comunidade em que vive, para uma mãe que sabe sempre despertar o melhor do filho, para um amigo que sabe olhar e ver aquilo que temos de mais importante.

Mude o ângulo do olhar e verás algo que talvez ninguém veja, só você. Se descobrir este algo novo, este algo inédito sobre o amigo, não guarde para si; divida o que há de bom e que descobriste.

Às vezes, vemos qualidades que ninguém mais vê, que ninguém observa, que ninguém repara. Qualidades que nem por isso deixam de ser reais ou verdadeiras. Talvez elas só sejam reveladas quando olhamos com o coração.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Milton Hatoum e sua cidade ilhada


Quando comentei com uma querida amiga que havia abraçado a última obra de Milton Hatoum, ela torceu o nariz. A discordância é saudável em qualquer debate e gosto de ouvir critícas para poder avaliar melhor a realidade. Gosto do estilo de Milton Hatoum e seu último lançamento merece atenção.

A Cidade Ilhada (Cia. das Letras, 2009) é o mais recente livro de Milton Hatoum. Um livro de contos cujo cenário principal é a cidade de Manaus e seus arredores. Ainda que o autor rejeite o termo regionalismo, como declarou em entrevista à Folha de São Paulo, por entendê-lo como limitador e pequeno, parece-nos impossível ler suas obras sem ter uma clara relação com o ambiente que cerca os personagens.

Os contos, em sua maioria, já foram publicados anteriormente e agora estão reunidos num único volume. Há uma presença marcante de personagens estrangeiros em visita à floresta. Um ictiólogo suíço, um militar indiano, um pesquisador japonês. Facetas do mundo externo que mergulham no universo da floresta. Talvez neste ponto resida a discordância de Hatoum com referência ao termo regionalismo. Seus contos narram estórias universais, que poderiam ter ocorrido em qualquer outro lugar do mundo. O drama humano, os sentimentos e as emoções dos personagens se sobreporiam às situações específicas. De fato, o regionalismo parece ater-se apenas ao cenário, ao pano de fundo das narrativas.

Quando o personagem é o estrangeiro, surge a afirmação do protagonista de um dos contos: "Para onde eu vou, Manaus me persegue." A união do mundo regional com o mundo exterior encontra sua intersecção na maioria dos contos. O regionalismo funde-se no cruzamento dos caminhos, dando vazão a textos com características de personagens universais.

Hatoum escreve de forma fluida, como as águas caudalosas dos rios. As falas dos personagens não são antecididas de travessões ou aspas. A evolução do texto dá-se de forma única, desprezando-se estes sinais de pontuação. O texto flui como o rio flui, como a vida flui. Hatoum descarta estes entraves manifestando algo peculiar e próprio no seu estilo de escrever.


Outros posts sobre Milton Hatoum: O olhar e as palavras na visão de Milton Hatoum e Fechando o círculo.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Crônica: Miragem


MIRAGEM


Olhou-a de longe sem que ela percebesse ou notasse sua presença. Seguia-a com os olhos ao longo do corredor até que ela parou diante de uma bancada com vários livros sobre fotografia e arte. Cabelos longos num tom castanho claro, jogados de lado e ele reparou na tatuagem que lhe recobria a parte superior da nuca. Usava um vestido estampado em cores vivas, solto, em estilo tomara-que-caia, que deixava os ombros desnudos, revelando a curvatura do ponto em que o pescoço encontra os ombros. Otavio tinha uma atração inexplicável por aquela parte da anatomia do corpo feminino. Podia imaginar seus lábios beijando o exato local onde ela depositava duas gotas de seu perfume preferido. Não sentiu o aroma quando ela passou, mas traçou o perfil daquela bela mulher e tentou adivinhar o perfume que lhe apeteceria. Quem sabe uma mistura de almíscar e notas cítricas, pensou.

Ajeitou-se na cadeira de forma desengonçada e nervosa. Estava incomodado com a presença dela. Suas mãos indicaram um leve suor a brotar e o coração em batimentos acelerados. Seus olhos percorreram cada detalhe visível daquele corpo que se pintava diante de seus olhos. Hipnotizado pela beleza natural do rosto de traços delicados, sentiu uma certa nostalgia. A morenice carioca era um de seus pontos fracos. O outro era o sotaque. Por mais contraditório que pudesse ser, Otavio, um paulistano nascido e criado em São Paulo, era apaixonado pelo timbre, pela sonoridade do falar carioca. Coisa do passado, coisa de uma paixão antiga que lhe descortinou as belezas do Rio e que ainda não cicatrizara por completo.

A moça folheou alguns livros grandes, com fotos em branco e preto. Depois, pegou um outro do Sebastião Salgado; e mais outro com obras de Miró. Otavio pensou em se levantar e dirigir-se à bancada onde estavam os livros. Tentaria iniciar uma conversa. Parecia congelado de medo. Seus pés estavam colados ao chão. Tomou o último gole de café com as mãos trêmulas. Inquieto, sua vontade parecia hesitante demais para superar aquele pequeno espaço entre o pequeno café no canto da livraria e a local onde repousavam os livros de arte.

Respirou fundo e tentou dominar seus pensamentos. Ao levantar, derrubou a cadeira para trás, que fez um enorme estrondo ao ir de encontro ao chão. Várias pessoas olharam e ele enrubesceu. Quando se recompôs, ela havia ido embora. Olhou ao redor. Nada, nem um sinal daquela mulher. Foi tomado de um sentimento profundo de frustração e de raiva consigo mesmo. Contentou-se quando pensou que talvez tudo não tivesse passado de uma miragem.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Respondendo sobre Monteiro Lobato



A leitora Larissa deixou o seguinte comentário:


"Olá, acabo de me inteirar de seu blog e gostaria de saber mais sobre essa sua visão em relacionar Monteiro Lobato e sua obra à questão ambiental... há mais onde eu possa pesquisar sobre este assunto? Muito bom trabalho... gostei mesmo! "


Agradeço os elogios que são sempre um incentivo a continuar.

O comentário foi feito no post Monteiro Lobato e Meio Ambiente, de 1o. de junho de 2007. Graças às ferramentas de pesquisa, estes artigos podem ser resgatados no tempo, já que muitos dos textos sobre literatura neste blog são atemporais. Mas, vamos à questão feita pela leitora.

Monteiro Lobato é mais conhecido por sua literatura infanto-juvenil, mas sua contribuição como editor e intelectual também se fez sentida. Lembraram-se dele quando Barack Obama foi eleito presidente dos EUA, pois escrevera O Presidente Negro, livro cujo título original era "O Choque de Raças" e que foi publicado em partes no jornal A Manhã, onde colaborava.

Reeditado em 1948 quando a Brasiliense lançou sua obra completa, O Presidente Negro foi reunido com A Onda Verde, que trata do avanço dos cafezais na agricultura.

Infelizmente, não tenho muito mais informações para lhe dar, apenas indicações de sites para procurar. Há o Google Books e o Google Acadêmico. O primeiro traz informações sobre as edições do livro e referência de artigos. O segundo, ainda pouco conhecida ferramenta do Google, traz artigos acadêmicos, teses e monografias sobre o tema. Algumas bibliotecas já dispõem de teses e artigos em arquivos PDF que pode ser baixados para leitura. Tudo vai depender de quanto você quer se aprofundar no tema.


Ficam estas linhas de incentivo e siga adiante na sua pesquisa. Se quiser compartilhar conosco suas descobertas, este espaço estará sempre aberto a boas discussões literárias.


quarta-feira, 15 de abril de 2009

E o tempo levou

Manter um blog vivo é uma tarefa prazerosa antes de ser obrigação ou algo a ser cumprido. Este blog vive disto, do prazer de escrever e ser um lugar onde posso simplesmente soltar a voz, botar a boca no trombone, deixar a imaginação viajar e levar aos recantos mais inesperados os bons pensamentos e algumas linhas de inspiração.

Porém, há blogs que nascem e morrem; outros desaparecem; outros são fechados e restritos. Como o tempo levou embora alguns blogs - eles continuam disponíveis, mas sem atualização -, resolvi dar uma atualizada nos meus links.

Foram 5 novos blogs , que podem ser divididos em grupos. O Invade e fim, escrito por Luana Ferraz, e Palavras e Silêncio, da Maria Fernanda. Ambos compõem este primeiro grupo. Blogs escritos por mulheres com textos, ora apaixonados, ora introspectivos, ora reflexivos.

O outro grupo inclui 3 blogs. O Terapia da Palavra é um blog para quem gosta de escrever e quer aprimorar sua escrita. O Terapia é coordenado por Claudia Letti e Maria Rachel Oliveira. Incluo neste grupo o Senhorita Rosa. Divertidíssimos os textos e os comentários. Assuntos atuais daqueles que todos discutem e que ninguém tem razão.

O tempo leva alguns, mas traz com seu sopro novos ares e novos blogs. Sempre bom dar uma arejada por aqui e ler coisas novas. Vale a pena dar uma passadinha por lá!

domingo, 12 de abril de 2009

Páscoa

"Non est hic, surrexit sicut dixit - não está aqui porque ressuscitou, como tinha anunciado (Mateus, XXVIII, 5). - Ressuscitou! - Jesus ressuscitou. Não está no sepulcro. A vida pôde mais do que a morte."
(Josemaria Escrivá, Santo Rosário, 1o. mistério glorioso)


A vida triunfou e deixa-nos, neste dia, com uma mensagem de constante esperança e fé na vida. Recomeçar sempre! Todos os dias! Não importa o tombo, a tristeza, a amargura, o vazio. Cada novo dia é uma dádiva divina, um renascer, um novo tempo que nos é brindado e presenteado.


A Páscoa é tempo de recomeço, de celebrar a esperança e o triunfo da vida sobre a morte.


Feliz Páscoa a todos!

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Duas perguntas ingênuas

Lanço aos leitores duas perguntas ingênuas para reflexão:

1. Quando o preço do petróleo atingiu níveis especulativos e abusivos, gerando lucros para a Petrobrás, por que o governo brasileiro não trocou a direção da empresa e forçou a companhia a reduzir o preço da gasolina na refinaria?

2. Por que o governo quer usar o Banco do Brasil para violar a lei vigente no país em matéria bancária desde 1964 e lesar, a olhos vistos, os acionistas do Banco com uma proposta de praticar taxas de juros abaixo das taxas de mercado? Quem é que vai arcar com o prejuízo? Seria o ministro Guido Mantega tão brilhante que pretende criar a primeira companhia aberta do mundo cujo objetivo é ter prejuízo? 

Nunca antes neste país se viu algo tão deplorável. 

As respostas serão longas, mas virão.

terça-feira, 7 de abril de 2009

Crônica: Guloseimas



GULOSEIMAS

A mesa posta era uma efusão de cores vivas e quentes. Ao centro, um bolo de chocolate ostentava um personagem de desenho, que se multiplicava por vários cantos da mesa, como se a vigiar as guloseimas tentadoras. Brigadeiros, beijinhos, balas de goma, doce de leite e outras delícias aglomeravam-se entre balas de côco embrulhadas em papel vistoso. Os docinhos pareciam pessoas amontoadas num trem de metrô na hora do rush. Cores, sabores, aromas adocicados misturavam aos gritos, risadas, estrondos de bexigas estourando.

Pedro foi o primeiro a ficar ao lado da mesa quando se anunciou o parabéns, o momento mais esperado daquela tarde, afinal poderia atacar os docinhos. Seu queixo ficava pouco acima da borda da mesa, mas os olhos estavam irrequietos, agitados, percorrendo cada cantinho, mapeando o território, traçando uma estratégia para o ataque, ansioso pelo momento decisivo. Ele sabia, como todo general, que se houvesse indecisão, não lhe restaria mais do que um brigadeiro. Os bárbaros atacam sem piedade.




Olhou para os lados e pensou em esconder um brigadeiro por debaixo da mesa. Ia ser sorrateiro, discreto, um espião à espreita. Com toda aquela balbúrdia e confusão, quem iria perceber ou notar o desaparecimento de um mísero brigadeiro. A mesa era muito grande e nem todo mundo gostava de brigadeiro. Quando ergueu a mão sobre a mesa, Aninha o repreendeu. A irmã, do alto de seus 7 anos, foi rápida ao notar o ataque. O efeito surpresa estava desfeito. Levemente enrubescido, Pedro obedeceu, mas explicou:

- Só ia arrumar aquela bala de côco que está caída!

A irmã já conhecia estas artimanhas e somente balançou a cabeça. Pedro teria que aguardar por mais alguns minutos que pareceram uma eternidade. O tempo, nesta idade, tem ares de lentidão que desaparecem com o próprio tempo.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Dentro de um comercial

Quarta-feira, quase dez horas da noite, e apesar de estar no horário do jogo da seleção brasileira com o Peru, fui ao Pão de Açúcar perto de casa - que funciona 24 horas - para comprar pilhas. Ambiente meio deserto e calmo. Algumas poucas pessoas, na maioria mulheres e casais jovens, faziam compras neste horário alternativo.

A calmaria me fez atentar para a música ambiente. Na voz de Cassia Eller, ou talvez Ana Carolina, mas tenho quase certeza que era Cassia Eller, os alto-falantes ecovam Por Enquanto. Inadvertidamente comecei a cantar em voz alta - bem, não sou afinado o suficiente a ponto de dizer que cantava, mas tentei. Ao virar num corredor, uma mulher vinha em sentido contrário também cantando e mais adiante um casal também cantava. Senti-me dentro de um comercial de televisão. Tudo parecia sincronizado de forma ensaiada. Cada um em seu pequeno mundo compartilhava a mesma canção sem dar a mínima para os que estavam à sua volta.

Não era uma reação egoísta e centrada sobre cada um, o que pode parecer típico numa cidade grande, mas eram pessoas que pareciam levar adiante sua tarefa rotineira embaladas pela letra da música, atentas às palavras. A ida ao supermercado tinha ganho trilha sonora.

Achei aquela cena muito interessante, pois lembrei de uma recente campanha do Pão de Açúcar que perguntava: "o que faz você feliz?" Uma campanha publicitária que sabia aliar emoção e beleza, memória e sensações. A resposta talvez estivesse ali, naquela loja. Numa noite qualquer havia pessoas felizes comprando ou passeando ou tomando um café ou acompanhando alguém, quem sabe atraídas por este ambiente.


Para quem não lembra da música, o vídeo traz Por Enquanto na voz de Cassia Eller.


OBS.: Post corrigido com a colaboração do Rodolfo, pois o nome da música estava errado. Falha nossa e obrigado pela correção.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Ferramentas para networking



Conversando com alguns amigos e sentindo na pele o desemprego rondando, acho bem pertinente retomar a questão das ferramentas disponíveis na internet para networking. No meu caso, passo longe da aflição de perder o emprego. Coisa de profissional liberal que tem outras preocupações, tais como arrumar trabalho suficiente para pagar as contas do mês.


A atual situação econômica é um convite a reativar o networking, algo fundamental para ser lembrado e para reduzir o tempo de recolocação no mercado de trabalho. Há 2 ferramentas que utilizo com frequência: Plaxo e LinkedIn.


O Plaxo é a primeira delas. Funciona com o uma grande agenda via web em que se pode disponibilizar seus dados profissionais e pessoais. Somente sua rede de contatos pode acessar as informações, mas há sugestão de pessoas que eventualmente você conheça, o que facilita o networking. O site também tem integração com outros sites como Twitter, Lastfm, centralizando as informações num único lugar.


Com visual um pouco mais poluído, o LinkedIn também é muito útil. O sistema de graus de contato limita que alguém use o site para enviar spam ou ficar adicionando contatos. Há também sugestões de contatos para empresas onde se tenha trabalhado e faculdades cursadas. Contatos com pessoas que você não conhece somente podem ser feitos com recomendação de algum contato comum. Isto permite credibilidade ao contato e filtra o uso indevido do site.


Acho o Plaxo mais fácil de usar e visualmente mais clean, porém ambos se complementam e dependendo do país um faz mais sucesso do que outro. Por via das dúvidas, fico com os dois.