segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Viva Drummond


MEMÓRIA
Carlos Drummond de Andrade

Amar o perdido
deixa confundido
este coração.


Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.


As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão


Mas as coisas findas,
muito mais que lindas,
essas ficarão.

(Antologia Poética. 26a. ed. Rio de Janeiro : Record, p. 179-180)




Se Drummond estivesse vivo, hoje celebraria seu natalício. Não está presente em corpo, mas vivo na memória e nos poemas deixados como legado inesgotável de lirismo, de alegria, de beleza. Drummond vive com sua obra e o encanto de seus versos borbulha entre nós.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Sorrir para o mundo



"Não prives o mundo do teu sorriso. Se não consegues sorrir; se tudo ao teu redor lhe parece cinza, escuro, olhe para quem lhe sorri e deixe-se contagiar.”


A frase não foi extraída de algum cartão da Hallmark – aqueles cartões da companhia americana com belas frases e que devem ter saído de moda com a obsolescência das cartas físicas -, ou de algum livro do Gabriel Chalita com pensamentos filosóficos, ou de algum calendário messiânico. Tampouco veio dentro de um biscoito da sorte chinês, mas neste caso teríamos um ponto de partida para um excelente conto (que está no forno).

Inventei-a. Olhar fotos, deixar a memória varrer o arquivo mental de momentos bem guardados, têm este efeito. Acaba por produzir pensamentos em forma de frases que encontrarão um destino certeiro. Alguém precisará destas palavras. Ou pelo menos, servirão de inspiração para alguns textos.

Sorrir para o mundo é contagiante. E deixar o mundo sorrir para você também.


terça-feira, 18 de outubro de 2011

Crônica: Despertador


DESPERTADOR


Era uma manhã de sol, não importando o dia da semana. Deveria ser sábado ou domingo; ou algum feriado. Um dia não útil, ou melhor, um dia em que não se trabalhava. Estava sentado numa arquibancada de madeira, daquelas bem rústicas e precárias, com uma estrutura de ferro e que lembravam um andaime. Ficava na lateral do campo perto de onde os jogadores infantis se aglomeravam no que poderia ser chamado de banco de reservas. Deixava o olhar passear pelos meninos que corriam atrás da bola durante o aquecimento, cada qual com sonhos de voos mais altos.

Avistei-a de longe e ela sorriu quando me viu. Cabelos molhados que lhe caíam muito bem, rosto sem maquiagem, ao menos imperceptível para um homem, e uma alegria que se notava. Penso que parte daquela alegria fosse devida ao fato de vê-lo ali e isto o alegrou também. Sentou-se do seu lado. Ela falava e ele ouvia. Num e noutro lance mais emocionante, ele sentia ela pegar-lhe no braço, um leve aperto, a mão repousando sobre seu antebraço. O gesto de alguns segundos se cristalizava e um arrepio lhe percorria a espinha. O sorriso era incontido.

O jogo terminou e caminharam juntos por alguns instantes.

Então, o despertador tocou, acordando-o com uma música desconhecida. Ao longo do dia, permaneceu a sensação agradável que o sonho lhe presenteara.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

A greve dos correios e o desprezo pelo cidadão



Depois de 28 dias e uma incisiva interferência da Jusitça, acabou a greve dos correios. Trata-se da segunda greve em poucos anos desta empresa que já foi uma referência em qualidade de serviços e confiança da população. Aliás, por ser monopólio estatal, o cidadão não tem escolha quando precisa enviar uma correspondência. Eis aí o principal argumento contra a violência perpetrada por um grupo de lideranças sindicais contra todos brasileiros.

Ao julgar a greve abusiva, o Tribunal Superior do Trabalho fez afirmações fortes sobre o abuso do direito de greve, da necessidade de uma reforma sindical urgente e de se acabar com fontes compulsórias de financiamento da atividade sindical em detrimento do salário dos trabalhadores, da briga entre empresa e sindicalistas em prejuízo de um país. As manifestações dos ministros do TST no julgamento são um indicativo do descaso e da omissão do governo no que tange à regulamentação do direito de greve do funcionalismo público, da reforma da legislação trabalhista e sindical e de um amplo sobre a atividade dos correios.

Esta greve foi um evento que deixou muito claro que sindicalistas estavam pouco se lixando para a população prejudicada com a falta de prestação de serviços pelo correio. Contas não chegaram pelo correio e quem arcará com as multas? Os devedores. Seria interessante se algum juiz condenasse o sindicato e a os correios a arcarem com as multas destas faturas que deixaram de ser pagas por culpa deles. O raciocínio é muito claro: se somente os correios podem prestar este serviço no Brasil, então devem ser responsabilizados pelos danos causados em sua omissão ao prestar o serviço.

Creio que com a atual qualidade dos serviços e os preços cobrados é hora de se reavaliar este monopólio estatal. Os correios foram o ponto de partida de um dos escândalos de propina do governo Lula e revelam-se como um instrumento de renda partidária sem qualquer interesse em melhorar o serviço prestado. Por exemplo, por que os correios gastam dinheiro em propaganda se prestam um serviço monopolista?  O dinheiro gasto em publicidade poderia servir para melhorar o salário dos funcionários.

O governo, por sua vez, desde a eleição de Lula, cedeu espaço demais aos sindicatos que tratam a coisa pública como parte de seu território feudal, brigando por ministérios, conselhos de empresas estatais e cargos em agências reguladoras. O interesse dos empregados fica em segundo plano. Líderes sindicais são um exemplo de lideranças que nunca trabalharam na vida, salvo em interesse próprio disfarçado de argumento público em prol dos direitos dos trabalhadores.

As greves de servidores públicos deveriam servir de reflexão para a população sobre a qualidade dos serviços prestados e sobre a forma como nos tornamos reféns de lideranças pelegas que impõem sua vontade sobre uma maioria manipulada.

O Judiciário Federal ameaça entrar em greve há 2 meses. Parece que agora a greve será iniciada. Milhões de processos ficaram parados. Quem será prejudicado? O cidadão que espera a liberação de um reajuste da aposentadoria; uma empresa que tenta restituir impostos pagos a maior ou que aguardam na fila interminável dos precatórios; ou ainda de alguma pessoa que necessite recorrer à justiça federal por algum motivo qualquer.

Vale lembrar que em ambos os casos – correios e justiça federal – os funcionários são concursados e com estabilidade. No caso do judiciário, os salários são os mais altos do poder judiciário no Brasil quando  comparados com os salários dos judiciários estaduais. Além dos 30 dias de férias, gozam de 20 dias de recesso no final do ano. Os benefícios são incontáveis quando comparados com qualquer trabalhador mortal que não seja um privilegiado de ter passado num concurso para o serviço público federal. Se a situação é tão ruim, por que não se demitem e vem tentar a sorte na iniciativa privada?

Palpitar sobre como conduzir a política econômica dos outros países, isto Dilma sabe fazer; governar seu país e mostrar pulso no atendimento dos anseios da população, isto ela não sabe. No jargão popular, Dilma viaja na maionese, aqui e lá fora. Calou-se – o que parece ser a única coisa que Dilma, a muda sabe fazer – num momento em que ela e seus ministros deveriam ter prestado contas à sociedade. Era necessária uma atuação do governo para encerrar a greve. O governo nada fez, afinal eram companheiros que estavam reclamando. A greve mostrou que o poder público foi loteado neste país e os cidadãos foram relegados ao ocaso. Este é mais um legado do governo Lula e do PT. 


quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Steve Jobs


Palavras são desnecessárias para dizer o quanto este homem inovou a tecnologia e nossa forma de lidar com os aparelhinhos eletrônicos. Um gênio e um grande revolucionário que deixará sua marca e seu legado.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

A polêmica meia-entrada


A meia-entrada foi concebida como um instrumento de acesso à cultura, permitindo que estudantes pagassem apenas metade do valor dos ingressos de espetáculos teatrais, musicais, mostras e demais eventos. Como muitas coisas neste país, algum espertalhão resolveu deturpar a boa ideia e aplicou a mentalidade cartorial e nefasta que ainda vigora nos ambientes estudantis brasileiros.

Algumas entidades estudantis avocaram para si a exclusividade de outorgar o título de estudante a quem lhe pagasse uma taxa para receber uma carteirinha, e assim poderia pagar meia-entrada.

Esta ideia foi ampliada para os idosos, para os alunos cursos de pós-graduação, para alunos de curso técnico, professores de todos os níveis, deficientes e por aí vai. Sou da opinião de que alguns fazem mais jus ao benefício do que outros, mas é fato que a meia-entrada se transformou em instrumento de abuso e aproveitamento indevido. É a famosa regra do “levar vantagem em tudo”, só falta o Gérson e o cigarro Continental (para aqueles que ainda lembram).

Nunca compactuei com esta excrescência e esta deturpação. Quando era estudante universitário, só poderia pagar meia se tivesse a carteirinha da UNE. Por questões ideológicas, preferi pagar inteira a dar um centavo àqueles sujeitos da UNE, muitos deles hoje em cargos públicos.

O fato de tratar do assunto em nada se relaciona com a discussão acerca da meia-entrada para jogos da Copa do Mundo.  Acho um absurdo a imposição da FIFA e não questiono a meia-entrada por causa da FIFA; questiono a meia-entrada como um conceito que foi aplicado de forma exagerada e que, portanto, prejudica a produção cultural e artística brasileira. A lei que deveria beneficiar a classe artística, aumentando o número de pessoas com acesso a estes espetáculos, hoje reduz o faturamento das produções que almejava incrementar. O tiro saiu pela culatra porque deturparam a finalidade da lei.

Consumidores empunhando o Código de Defesa do Consumidor revoltam-se contra quotas impostas por produtores. Órgãos de defesa do consumidor impõem exigências aos produtores e empresários artísticos com fiscalização rigorosa. Multas são aplicadas e reclamações deságuam nos Procons espalhados pelo território brasileiro. Tudo isto acarreta o aumento dos preços dos ingressos e faz com que certos eventos reduzam os pontos de venda para verificar se o comprador de fato tem direito à meia-entrada.

Talvez o momento seja inoportuno, mas a classe artística poderia aproveitar a polêmica causada pela imposição da FIFA e rediscutir esta questão da meia-entrada.