domingo, 3 de junho de 2007

Pêndulo

Sou um pêndulo que oscila, cumprindo sua trajetória no ar, balançando de um extremo ao outro do traçado invisível, sem paralisar no ar e no tempo, sempre em movimento. Movimento que por diversas vezes se revela mais lento do que gostaria, como se fosse em câmera lenta, bem lenta.

Numa extremidade da trajetória, fecho-me em mim mesmo, como concha. Emudeço e busco a solidão, momentos de reflexão, refugio-me nos meus livros, vivendo os sonhos e aventuras de personagens mais corajosos, mais valentes, mais bonitos, mais inteligentes, mais criativos do que eu. Fico à deriva, deixando que os momentos da vida me guiem e conduzam meu caminho, por tormentas e ao lado de precípicios, passo ante passo. O destino toma as rédeas de minha vida e me conduz. Na cegueira causada pela noite, os passos são curtos e titubeantes. Não há luz, mas o movimento continua, esperançoso de que a noite sempre acaba, pois um novo alvorecer está próximo. A neblina se dissipa, queimada pelo sol da manhã na fase descendente da trajetória do pêndulo.

Começa a bonança, os campos verdes com orvalho da manhã, o mar calmo para navegar, a correnteza do rio que segue a nosso favor, brisas suaves que somente aliviam o calor da viagem. Não chego à euforia desvairada, mas aprecio estes momentos de sublime paz, não entediado, mas com um certo receio de que tudo é passageiro e aflijo-me com mudanças e o que futuro me prepara. Ganho velocidade e avanço com determinação, sem olhar para trás, livre das amarras e de pesos mortos, que cortados, deixei pelo caminho. Mas sei que em breve o pêndulo iniciará sua trajetória descendente, qual as estações do ano, depois do verão vem o outono e o inverno....mas não há inverno que sempre dure, pois sucede-lhe a primavera.

Sigo como passageiro, mas tenho uma vontade cada vez maior de interromper a trajetória do pêndulo e mudar seu rumo, mudar o rumo da vida.

Um comentário:

Edna Federico disse...

A gente sempre fica com vontade de tomar as rédeas de nossa vida, né, de mudar o curso das águas...mas, nem sempre é possível e nem sempre é prudente.
Às vezes é melhor deixar o pêndulo seguir sua trajetória...