quarta-feira, 7 de março de 2007

Crônica: Uma certa madrugada


Acordou de madrugada naquela noite de início de dezembro. A negritude preenchia todo o espaço do quarto. Não havia som ou sinal de luz. Silêncio pleno. Antonio revirou-se na cama, ainda meio sonado e olhou para o relógio que marcava 5:37 da manhã. Estava sereno e sentia-se desperto. De olhos fechados, o pensamento viajou para longe, como costumava fazer nas madrugadas. As noites pareciam um refúgio seguro para uma alma angustiada. Pensava na noite como o purgatório, algo temporário, efêmero, mas necessário para se chegar a contemplar a luz do sol que nasceria em breve.

As imagens formaram-se e a imaginação tomou corpo e forma, quase real. Parecia senti-la ao seu lado e não distante. Um sentimento de paz e tranquilidade tomou-lhe o ser. Algo sublime invadiu sua alma. Pensava nela. Parecia que ela sussurrava ao seu ouvido que de longa distância estava bem, sonhando com ele no sono profundo. Será que ela está acordada? Seria um beijo que me acordou? Seria um suspiro? Seria uma transmissão de ondas telepáticas que me despertaram dos braços de Morfeu? Enfim, com um leve suspiro, deu-se conta de que ela provavelmente dormia a quilômetros de distância, talvez tocada por uma leve brisa vinda do mar em Copacabana, sem perceber meus pensamentos.

Foram alguns minutos, 10 ou 15, mas sorria internamente com aquele senso de paz interior que o pensamento nela lhe trazia. Antonio ajeitou-se na cama, virou para o lado, colocou as mãos por debaixo do rosto e voltou a dormir. Desejava sonhar com ela, desejava tê-la ao seu lado, mas aqueles momentos sublimes, de alegria silenciosa, permitiram que afastasse a angústia dos últimos dias e caísse no sono como um bebê recém-nascido nos braços da mãe.


(RLBF)

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