quinta-feira, 28 de junho de 2007

Um encontro com o passado


O Mar é um primoroso romance de John Banville (foto ao lado), escritor e crítico irlandês. Este livro lhe rendeu o prestigioso Booker Prize em 2005, prêmio máximo da literatura inglesa.



Narrado em primeira pessoa, o enredo é um diálogo entre presente e passado, onde o protagonista revisita o seu passado para conseguir viver o presente. Em um trecho, a filha do protagonista afirma: "Você vive no passado!" e isto faz com que Marden mergulhe no seu passado para romper a inércia. Ele percebe que está preso ao passado, que vive o presente de forma melancólica e sem esperança.



A estória é um pouco densa, talvez pesada para alguns, num estilo de escrita que mais se assemelha a uma longa divagação interior. Ainda estou na metade do livro, mas a qualidade do texto é indiscutível. Não é um livro para ser lido na praia, mas combina bem com dias frios de inverno ou para dias chuvosos, o que pode facilitar ao leitor vislumbrar os nevoeiros e a garoa fina no litoral inglês. Um clima que ajuda a voltar ao passado, a sonhar, e renovar as forças para viver o tempo presente.



Transcrevo um trecho como degustação:


"Naquelas noites intermináveis de outubro, deitados ali, um ao lado do outro, no escuro, estátuas derrubadas de nós mesmos, buscávamos escapar de um presente insuportável indo para o único tempo possível, o passado, ou seja, o passado distante. Voltávamos aos nossos primeiros dias juntos, lembrando, emendando, ajudando-nos mutuamente, como dois velhinhos trôpegos, de braço dado, contornando as muralhas de uma cidade onde haviam morado muito tempo atrás."

(trad. Maria Helena Rouanet, Rio de Janeiro : Nova Fronteira, p. 86)







4 comentários:

Unknown disse...

Não sei porque, Renato mas "estátuas derrubadas de nós mesmos" me trouxe de volta a referência de um poema de Yourcenar em Fogos. Deixo aqui o poema e a recomendação.
Fogos é obra prima.

"Ausente,
a tua figura aumenta
a ponto de encher
o universo.

Passas
ao estado fluido
que é o dos fantasmas.

Presente,
ela condensa-se;
atinges as concentrações
dos metais
mais pesados,
do irídio,
do mercúrio.

Morro
com esse peso
quando ele me cai
no coração."

Edna Federico disse...

Entrando agora rapidinho e depois volto para comentar o livro.
Indiquei você a um prêmio, passa lá

Edna Federico disse...

Renato, vi que você comentou no meu blog, porque apareceu aviso no meu e-mail, mas não está aparecendo o comentário.
Tem um aviso lá de comentário excluído, mas não fui eu quem exclui...deve ter dado algum tilti, sorry.

Anônimo disse...

Nossa...não sei se darei conta de comentar todos os posts desde que sai de férias.
Vamos lá....
O livro parece bom, já terminou?