sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Fernando Pessoa : Segue o teu Destino



SEGUE O TEU DESTINO


Segue o teu destino,

Rega as tuas plantas,

Ama as tuas rosas.

O resto é a sombra

De árvores alheias.


A realidade

Sempre é mais ou menos

Do que nós queremos.

Só nós somos sempre

Iguais a nós-próprios.


Suave é viver só.

Grande e nobre é sempre

Viver simplesmente.

Deixa a dor nas aras

Como ex-voto aos deuses.


Vê de longe a vida.

Nunca a interrogues.

Ela nada pode

Dizer-te. A resposta

Está além dos deuses.


Mas serenamente

Imita o Olimpo

No teu coração.

Os deuses são deuses

Porque não se pensam.


(Quando fui outro. Rio de Janeiro : Objetiva, 2006, p. 71)


O primeiro verso convida-nos a cuidar do nosso "jardim" interior, a cuidar de si e seguir o caminho do destino, o caminho traçado e que podemos traçar e alterar. E depois, afirma o poeta, "a realidade/ é sempre mais ou menos/ do que nós queremos".


Somos eternos insatisfeitos, querendo mudar para mais ou para menos, querendo que as coisas fossem diferentes, querendo que coisas se transformassem num passe de mágica, que o tempo andasse mais rápido - ou mais devagar, que um amor durasse eternamente, que os dias de sol não fossem tão quentes ou os dias de chuvas tão frios. A lista seria infindável.


Somos eternos insatisfeitos, material e espiritualmente, sempre buscando algo, sempre caminhado pela vida. Vê de longe a vida. Porém, não permitamos que a vida nos conduza, que sejamos meros pacientes. Precisamos ser atores, maestros, regentes da sinfonia da vida, tão bela e tão misteriosa.

8 comentários:

Fabiola disse...

Renato:
Amo Fernando Pessoa com todas as minhas forças

Edna Federico disse...

Lendo Pessoa parece tão fácil escrever, né?

eugenia costa disse...

por que deixa a dora nas aras, seria uma variante de dor?????feminino???

Anônimo disse...

:D

Mestre puma disse...

Acredito que dará é uma planta! Já vi versão com dor ao invés de dora? Não seria erro de digitação?

Renato disse...

Mestre puma tens razão. Foi um erro de digitação de minha parte e agradeço a correção. A versão já está corrigida.

Unknown disse...

Uma obra literária edificante! Toca na alma propondo enxergar o invisível!

Anônimo disse...

Profundo e ao mesmo tempo dialético. Quando se lê Pessoa tudo parece respectivo.