terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

A Magia da Palavra


Um escritor, ao deitar as palavras sobre a folha branca, perde o controle de sua obra. As palavras ganham vida própria, desde que lidas. Os efeitos e consequências daquelas letrinhas agrupadas de forma ordenada são imprevisíveis. Podem destruir, podem provocar ódio e rebeliões, podem incitar a intolerância. Mas podem também aproximar as pessoas, unir, apaziguar e fazer sorrir. A palavra é uma arma poderosa e mágica.


Na semana passada, na 3a feira de carnaval, estava eu olhando algumas livrarias virtuais sem grandes pretensões. Queria ver o que havia disponível de Machado de Assis. Passei por outros escritores brasileiros, alguns estrangeiros. Escolhi 1 livro jurídico que estava em promoção. Escolhi 1 outro de um autor espanhol e para aproveitar o embalo, continuei nos autores brasileiros. Chamou-me a atenção uma determinada obra que acrescentei ao "carrinho de comopras". Uma série de atos banais, rotineiros. Mal sabia eu que havia comprado um livro mágico.


Na 5a feira, dia útil, e para alguns o primeiro dia do ano, tive algumas notícias desagradáveis no âmbito profissional. Estava chateado. Em casa à noite, deparei-me com uma caixa de papelão. Os livros haviam chegado. Abri primeiro o último livro que havia comprado. É um diário. Livro grosso, mas com passagens curtas que contavam os dias ao longo de 7 anos da vida do escritor. Passei de página em página, lendo alguns trechos, pulando outros. Alguns trechos começaram a chamar minha atenção. Até que um, em especial, fisgou meu olhar. Linhas ingênuas sobre um almoço de final de ano em 1984.


Comentei este trecho no dia seguinte e ouvi um dos "causos" mais hilários que já tinha ouvido. Gargalhei sozinho em voz alta. Acharam que estava ficando louco aqui no escritório. Mas a mágica estava feita! Aquelas linhas e aquele "causo" mudaram meu humor, meu ânimo, meu dia.

Talvez tenha sido coincidência. Talvez obra do acaso. Talvez uma ajuda providencial.


Confesso que fiquei abismado. Pode parecer pura besteira, mas aquelas linhas escritas há 23 anos atrás, narrando um simples almoço, trouxeram-me momentos de sonoro riso. De riso profundo e alegre. Algo me guiou até aquele livro, até aquela página, até aquelas linhas. E fez-se a magia da palavra que sutilmente transformou um dia.


Não mencionei o livro, ainda, pois acho a magia da palavra é muito pessoal. Depende do momento, do leitor, do ânimo. Um livro sempre poderá ser mágico. Basta prestarmos atenção.


A obra é "Diário da Noite Iluminada", de Josué Montello.

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

Uma nota curta

Li esta frase de Machado de Assis inserida no início de uma obra de Josué Montello. Achei-a genial, como tudo que brotava da pena de Machado de Assis.

Escreveu em Páginas Recolhidas:

"Ou lê o livro até o fim, ou fecha-o de uma vez; abri-lo e fechá-lo, fechá-lo e abri-lo, é mau, porque traz sempre a necessidade de reler o capítulo anterior para ligar o sentido, e livros relidos são livros eternos."
Nada mais verdadeiro!

domingo, 25 de fevereiro de 2007

Getulio: uma revista ousada

Recebi o exemplar número 1 da Revista Getúlio, editada pela Fundação Getulio Vargas, e mais especificamente pela Direito GV. O publisher e editor Leandro Silveira Pereira encabeça mais esta etapa do projeto da Escola de Direito da GV.

Acompanho o projeto da Escola de Direito desde seus alicerces e leciono, como professor convidado, no GVLaw, curso de educação continuada da Escola de Direito em São Paulo. Apesar de crítico - talvez mais cético do que crítico - em relação ao projeto, vejo com admiração o que se tem feito no campo do Direito pela FGV e sua Escola de Direito. De fato, a proposta é inovadora e o projeto também.

Mas voltemos à revista, senão a divagação se torna muito extensa. Diz o editor:

"Esta revista surge na esteira de um projeto maior, dentro da Fundação Getulio Vargas, resultado de muitas reflexões. A fundação nasceu com a preocupação de formar quadros, produzir conhecimento, para auxiliar o desenvolvimento do país. "

De fato o primeiro número da revista segue a proposta deste ousado projeto. Destaco 2 artigos que me chamaram a atenção. O primeiro deles intitulado "Machado de Assis e o Direito", por Luisa Destri, que traz uma entrevista com o Professor de Literatura Brasileira da USP, Valentim Facioli. A entrevista trata das críticas de Machado de Assis ao moroso processo brasileiro (já era moroso no final do século XIX) e de uma abordagem jurídica de Dom Casmurro, tema este que pretendo retomar em um futuro post.

O segundo artigo, escrito por Carlos Guilherme Mota, historiador e professor titular de História Contemporânea da FFLCH da Universidade de São Paulo, intitulado "Os Livros que Fizeram Minha Cabeça", revela a importância dos livros na formação intelectual de um professor, pesquisador, ou simplesmente, de um indivíduo. Outro bom tema para um post exclusivo, principalmente quando se constata que um aluno de 5o. ano de um curso de direito raramente leu os autores clássicos e importantes na formação do pensamento jurídico.

Um breve trecho do artigo que trata de uma obra clássica e essencial na formação humanística de qualquer aluno ou pesquisador na área de ciências humanas:
"Um livro que marcou e ainda diz muito é Os Donos do Poder, em que Raymundo Faoro estuda a formação do patronato político brasileiro desde suas raízes ibéricas no século XIV, e como constituiu essa carapaça jurídico-política asfixiante atual (o livro foi escrito em 1958, ampliado e reeditado em 1973). Considero-o obrigatório, fundamental, incontornável."
As sugestões para a boa formação humanística são muitas. É triste, para não dizer lamentável, como os alunos dos cursos de direito hoje em dia pouco conhecem das obras clássicas. Neste ponto, a Escola de Direito da GV merece aplausos. A importância dada, pelo programa, às obras clássicas, buscando uma análise interdisciplinar é única no país.
A Revista Getulio vem contribuir de forma ousada a este projeto e contêm artigos de reflexão e diferentes, que fogem do lugar comum. É uma revista que se propõe a pensar o Direito de forma mais abrangente.
Boa sorte e sucesso aos editores e à equipe da Revista Getulio!

Dias de muito sol

Nestes últimos dias, de muito sol e calor, céu límpido e cores vivas, cruzei com um trecho na obra de Josué Montello que tão bem descreve o que temos vivenciado.

Extraído do Diário da Noite Iluminada (Rio de Janeiro : Ed. Nova Fronteira, 1994, p. 139), onde descreve os anos de 1977 a 1985, trago a passagem do dia 5 de janeiro de 1980 para apreciação de todos.

"Em dia assim, de muita luz, de pássaros cantando, de vibração contínua, sem uma nuvem no céu imensamente azul, deixem-me que recorde aqui este reparo da condessa de Noailles: hoje, nos jardins da cidade, as flores brincam com o sol."

A luz brinca com as cores, com as quaresmeiras e acácias floridas espalhadas pela cidade, com rostos alegres e descontraídos que contrastam um pouco com a sisudez de São Paulo. Os dias são um convite a atividades externas, a desfrutar dos parques e caminhadas, ou simplesmente jogar um pouco de conversa fora com amigos.

Aproveitem o resto de final de semana, afinal, neste ganhamos 1 hora a mais!

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

Mudando de estação

Mudemos de estação. Da noite para o dia, com um pouco de poesia. Fez-se a luz, com um raio de sol, com um olhar, com uma palavra amiga. Veio a inspiração no almoço solitário e aqui reproduzo.

FAGULHA

Queima em brasa acesa
A chama que dança internamente
Ruborizada de calor
Iluminando minhas entranhas
Transbordando pelo meu olhar
Contagiado pelo teu ser

Não há noite que esconda esta luz
Não há água a que este fogo sucumbe
Não há vento que assopre e apague
Não há silêncio que emudeça o crepitar

Pulsa o coração
Incandescente
Aceso
Vibrante
Pulsa todo o meu corpo
Incendiado por uma fagulha

Debalde lutei
Entreguei-me por inteiro
Ao sentimento irresistível
Alma contaminada

Por uma faísca de amor
(RLBF)

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

Um trecho de Tolstói

Não sou crítico literário, mas apenas um leitor que se delicia com literatura e procura um melhor conhecimento do ser humano através dos livros. Trago aqui um trecho de A Morte de Ivan Ilitch, de Tolstói, que comentei brevemente no post anterior. Este trecho é só um aperitivo para que o leitor se interesse pela obra.
"A maioria dos assuntos de conversa entre marido e mulher, sobretudo a educação dos filhos, levava a questões sobre as quais havia lembrança de dissensões, e a cada momento podiam deflagra-se brigas. Sobravam apenas uns raros períodos de paixão, que às vezes assaltavam os esposos, mas que duravam pouco. Eram ilhotas, às quais eles atracavam por algum tempo, mas depois novamente se lançavam ao mar da hostilidade oculta, que se manifestava no afastamento entre eles. Esse afastamento poderia magoar Ivan Ilitch, se ele não julgasse que tudo devia ser realmente assim, mas ele já considerava esta situação não só normal como também o objetivo da sua atuação na família. O seu objetivo consistia em livrar-se cada vez mais dessas contrariedades e dar-lhes um caráter de inocuidade e decência; e alcançava-o passando cada vez menos tempo com a família, e, quando não conseguia evitá-lo, procurava garantir a sua situação com a presença de pessoas estranhas. (...)"
(Tradução de Boris Schnaiderman. São Paulo : Ed. 34, 2006, p. 26)

A amargura deste relato, a distância e a solidão permeiam toda a vida de Ivan Ilitch. Tudo isto se desenvolve com amigos de aparência e culmina com uma doença que o levará à morte.

Poderíamos dizer até que espiritualmente, Ivan Ilitch já morreu. Antes que a vida deixasse seu corpo, já era um morto, entregue e abandonado, sem forças para lutar e reencontrar a alegria. Encontra uma companhia sincera em de seus criados, que o acompanha nas noites e no sofrimento. Alguém que o ouve, que lhe tenta amenizar o sofrimento. Os outros "amigos" não tem mais interesse em conviver com Ivan Ilitch. E ao saberem de sua morte, começam a confabular sobre qual deles irá assumir o cargo público de Ivan Ilitch.

Tolstói traça uma realidade sombria, onde não há espaço para amizade sincera, para um amor vibrante, mas somente interesses e egoísmo.

Tempus breve est!



Autores russos causam uma certa reserva entre leitores por serem geralmente densos, complexos e pesados. No final de outubro do ano passado, procurava um romance curto para ler, pois sabia que com a maior parte do tempo dedicada ao meu projeto de tese no doutorado, o tempo para leituras não jurídicas seria pequeno.


Deparei-me com A Morte de Ivan Ilitch, de Lev Tolstói. São 70 páginas na edição da Editora 34. Como de costume, folheei o livro na Martins Fontes da Av. Paulista. Abri o livro a esmo e li um ou dois parágrafos. Como tem acontecido ultimamente com certa frequência, abro os livros em trechos que me dizem algo e com os quais me identifico. Parece que há uma mão invisível a guiar-me até o livro e a abri-lo no trecho que tocará minha alma e me conduzirá à reflexão.


Resolvi mergulhar neste mundo novo da literatura russa. Gostei muito do livro. Li depois comentários e elogios à obra. Luiz Gastão Leães, em seus Exercícios de Memória, lançado em dezembro, a denomina de uma das "três mais belas pequenas novelas que conheço".


Tolstói era fascinado com o tema da morte. Na parte final de sua vida, em clara e profunda crise existencial, retirou-se para um convento. Pouco depois, faleceu, a 20 de novembro de 1910.


A breve novela conduz o leitor à reflexão sobre a morte, a doença, a dor e à conduta humana ao redor do ser que desfalece. São poucas linhas, mas muitos os momentos e frases que nos levam a meditar. O livro caiu-me como uma luva. Afastava-me do direito e forçou-me a enfrentar certas realidades. Realidades das quais muitas vezes tendemos a fugir, a não encarar de frente. Tirou-me de um período de deriva, de navegação sem rumo. Um daqueles vales emocionais em que nos percebemos muitas vezes.

A brevidade da vida deve mover-nos a agir. Agir, porém, pode exigir espera e que se dê tempo ao tempo. A perspectiva pode nos dar coragem para agir com mais contundência ou apaziguar um ânimo desenfreado e equivocado. Esperar pode significar aguardar o momento certo para dizer certas coisas, ou esperar um encontro ao invés de dizer as coisas apenas através de uma carta. O olho no olho pode ser mais difícil, pode enrubescer o interlocutor, mas é mais sincero. Através do olhar, revelamos os recantos interiores e a sinceridade do sentimento.


Muitas vezes um livro discretamente nos mostra uma luz no final do túnel, dissipa a névoa que baixou ao nosso redor sem percebermos e faz brilhar a luz do sol num novo dia.

A obra de Tolstoi não é mórbida, nem depressiva. É um convite à reflexão e à ação. O tempo é breve (Tempus breve est)!

terça-feira, 20 de fevereiro de 2007

Mangueira e a Língua Portuguesa

A Mangueira trouxe para a Av. Marquês de Sapucaí, no Rio de Janeiro, um enredo que tratou da Língua Portuguesa. Já era madrugada de 2a. feira quando a escola adentrou a Avenida, pelo menos foi neste horário que a Rede Globo passou o desfile.

O carnavalesco da escola justificou a escolha de enredo ao afirmar que é preciso incentivar a leitura entre os jovens do nosso país. Era um enredo para mostrar a evolução da língua e da importância e da beleza de ler.

Porém....a transmissão da Globo deixou a desejar. Gastou-se muito tempo falando de Beth Carvalho e se ela iria ou não sair em um carro alegórico e pouco tempo sobre o enredo. Perdeu-se uma grande chance de levar ao público a discussão sobre a leitura, a língua, os escritores. Culpa da Mangueira? Penso que não. A culpa foi da Globo e de uma transmissão que se alonga nas primeiras alas e passa por cima das últimas alas e carros.

Os jornais de São Paulo, tanto o Estado como a Folha, trouxeram notas muito simpáticas sobre o enredo e a participação de imortais da Academia Brasileira de Letras no desfile. Os jornais souberam valorizar o desfile e o enredo da Mangueira para aproveitar o tema e enfatizar a importância da leitura.

A Globo perdeu uma boa oportunidade para fazer propaganda cultural e mostrar como um desfile de carnaval reflete a cultura do povo.

domingo, 18 de fevereiro de 2007

Morte e vida



Chegou o carnaval. Nada como ficar em São Paulo. A cidade fica vazia, sem trânsito e sem transtornos. Pode ser aproveitada e curtida com tranquilidade, sem enfrentar horas nas estradas. Ontem ainda aproveitei as liquidações e os preços baixos para fazer compras sem tumulto. Nos últimos anos, tenho optado por ficar em São Paulo. Não me arrependo. Resultado da maturidade. Digo isto com muita serenidade e um certo fascínio. Quando tinha meus vinte anos, parecia que era preciso gozar a vida sem perder tempo, sugar a seiva da juventude. O tempo passa, não há como evitar.

Adentrando na fase dos 30, descobri como é bom amadurecer e redescobrir os prazeres da vida sem aquela ânsia da juventude. Não digo que me acomodei. Pelo contrário, acho que passamos a ser mais seletivos, mais pacientes, mais sonhadores. Os sonhos se tornam mais factíveis e alcançáveis. Henry David Thoreau, escritor norte-americano, dizia que os sonhos são como castelos feitos de nuvem, e que é preciso colocar as bases para que não desapareçam como as nuvens.

A maturidade nos mostra um pouco isto. Podemos avaliar e reavaliar as coisas. Corrigir erros, pois ainda dá tempo. Não ter medo de ficar só, pois sempre haverá um amigo a nos apoiar. Sugar a seiva da maturidade pode ser passar uma tarde com a avó ou com os pais e simplesmente fazer companhia. Muitas vezes as palavras não são necessárias.

Quando era criança - e ainda hoje -, adorava ficar ao lado de pessoas mais velhas. Lembro-me, saudoso, de tardes ao lado de minha tia bisavó, a Tia Ema. Ficava no quintal da casa da minha bisavó, que faleceu em 1977, conversando e ouvindo as estórias dela. Tia Ema faleceu pouco depois, não me lembro ao certo, acho que em 1980. Foi talvez a primeira vez, que como criança, entendi o que era a morte e o que era perder alguém. Minha mãe me deu a notícia, estava na chácara em São Roque e chorei. Um daqueles eventos que me marcaram.

A morte é uma realidade e a nossa única certeza. Todos morreremos. O brasileiro tem uma certa reserva em tratar do assunto ou discutir o assunto. Eu vejo diferente. Refletir sobre a morte nos dá vida. Sim, vida.

Se alguém lhe dissesse que sua vida vai acabar em 1 mês, o que faria? Provavelemente várias coisas e dentre elas estariam incluídas alguns pedidos de desculpas, algumas declarações de afeto e carinho, algumas loucuras. Seria a última chance para mostrar e dizer o que tem que dizer.

O ritmo da vida moderna não nos permite parar e pensar, parar e falar, ou simplesmente falar. Há coisas que se não falarmos, irão silenciar para sempre. A morte pode nos dar a coragem para falar e fazer o que não temos coragem. Reparar erros e pedir desculpas, construir pontes derrubadas, ou simplesmente sorrir para aquela pessoa que você cruza diariamente no seu caminho e mal sabe o nome dela. Diga um bom dia e sorria. Talvez ela não esteja no seu caminho amanhã.

sábado, 17 de fevereiro de 2007

Leitura de Carnaval

Comprei dois livros para me acompanhar neste carnaval. Minhas opções:

- Contos Fluminenses, de Machado de Assis. Uma bela edição da Martins Fontes (2006) que integra a Coleção Contistas e Cronistas do Brasil. Folheando o volume chamou-me atenção o conto "Confissões de uma viúva moça". Há uma excelente introdução e notas. Gosto destes extras que permitem ao leitor compreender melhor o autor, o contexto e a origem do texto. A leitura se torna muito mais enriquecedora.


- As Coisas do Alto, de Vinicius de Moraes. Poemas em edição da Companhia das Letras (2003). Leitura para ser degustada com calma e regar os lindos finais de tarde, ao por do sol. Deixo uma pitada de Vinicius.

INTROSPECÇÃO
Nuvens lentas passavam
Quando eu olhei o céu.
Eu senti na minha alma a dor do céu
Que nunca poderá ser sempre calmo.


Quando eu olhei a árvore perdida
Não vi nem ninhos nem pássaros.
Eu senti na minha alma a dor da árvore
Esgalhada e sozinha
Sem pássaros cantando nos seus ninhos.


Quando eu olhei minha alma
Vi a treva.
Eu senti no céu e na árvore perdida
A dor da treva que vive na minha alma.

Carnaval em São Paulo



Um lindo dia de sol, céu azul. Assim começa o carnaval em São Paulo. Clima fresco de final de verão com as cores da cidade e sem pressa para contemplar e degustar esta cidade.

Um ótimo dia para aproveitar os parques, museus ou simplesmente caminhar pelas ruas. Ir até R. Oscar Freire, com suas calçadas renovadas, ver vitrines e gente bonita e uma pausa para um café na Cristallo. Ou então, andar pela Av. Paulista.

A Avenida Paulista ganha ares muito diferentes em feriados e fins de semana. Por ser plana, pode-se caminhar com tranqüilidade. Os engravatados e apressados trabalhadores são substituídos por pessoas descontraídas. Não chega a ser uma orla de Copacabana, mas tem ótimas opções.

Por razões que desconheço, passei toda minha vida profissional ao redor da Avenida Paulista. Desde os tempos de estagiário, onde trabalhava num casarão na Rua Martiniano de Carvalho, que infelizmente deu lugar a um edifício residencial de luxo, vivo a maior parte do meu dia por aqui. Apenas no trecho entre a Praça Oswaldo Cruz e a Av. Brigadeiro Luis Antônio, pode-se visitar 3 centros culturais e 2 ótimas livrarias.

Gosto muito da Livraria Martins Fontes (Av. Paulista, 509 - loja 17. Tel. 3266-4603). Ela fica dentro de uma galeria na esquina da Paulista com Rua Manoel da Nóbrega. A seleção de livros é ótima, inclusive importados. Pode-se folhear um livro sem ser importunado e vou com freqüência na hora do almoço dar uma fuçada. Sempre encontra-se coisas boas. E depois, não deixe de ir ao mezanino tomar um excelente café ou capuccino. A foto que ilustra este post é do café no mezanino.

Para quem fica em São Paulo e gosta de ler, fica aqui a nossa dica.

Bom carnaval a todos. Mas mesmo sendo carnaval, os posts não vão parar. Isto aqui já virou um vício.

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

Pensamento Digital

Tecnologia pode ser um tema árido, mas é fundamental nos dias de hoje. Para aqueles que querem informação atualizada, mas de forma inteligível, aqui vai uma dica. É o blog Pensamento Digital, editado por Evaldo Indig Alves. Entrou no ar recentemente e merece uma visita.

O link é: http://blog.evaldoalves.com/

Boa leitura!

Ainda na escuridão da noite

Interessante como os temas deste blog foram ganhando vida própria. Despretensiosamente comecei a escrever e um tema foi puxando outro. Como se puxássemos o fio de um novelo, que se desenrola e puxa outro tema, e mais outro tema. Falávamos sobre a noite e encontrei este poema de Álvaro de Campos, heterônimo de Fernando Pessoa, que medita sobre a noite. Álvaro de Campos vive, neste poema, uma fase de desilusão com a vida, de cansaço.

Na noite fiquemos, mas prometo seguir em frente, para que possamos fazer o sol raiar num novo dia.

NOITE TERRÍVEL

Na noite terrível, substância natural de todas as noites,
Na noite de insónia, substância natural de todas as minhas noites,
Relembro, velando em modorra incómoda,
Relembro o que fiz e o que podia ter feito na vida.
Relembro, e uma angústia
Espalha-se por mim como um frio do corpo ou um medo.
O irreparável do meu passado – esse é que é o cadáver!
Todos os outros cadáveres pode ser que sejam ilusão.
Todos os mortos pode ser que sejam vivos noutra parte.
Todos os meus próprios momentos passados pode ser que existam algures,
Na ilusão do espaço e do tempo,
Na falsidade do decorrer.

Mas o que eu não fui, o que eu não fiz, o que nem sequer sonhei;
O que só agora vejo que deveria ter feito,
O que só agora claramente vejo que deveria ter sido –
Isso é que é morto para além de todos os Deuses,
Isso – e foi afinal o melhor de mim – é que nem os Deuses fazem viver...

Se em certa altura
Tivesse voltado para a esquerda em vez de para a direita;
Se em certo momento
Tivesse dito sim em vez de não, ou não em vez de sim;
Se em certa conversa
Tivesse tido as frases que só agora, no meio-sono, elaboro –
Se tudo isso tivesse sido assim,
Seria outro hoje, e talvez o universo inteiro
Seria insensivelmente levado a ser outro também.

Mas não virei para o lado irreparavelmente perdido,
Não virei nem pensei em virar, e só agora o percebo;
Mas não disse não ou não disse sim, e só agora vejo o que não disse;
Mas as frases que faltou dizer nesse momento surgem-me todas,
Claras, inevitáveis, naturais,
A conversa fechada concludentemente,
A matéria toda resolvida...
Mas só agora o que nunca foi, nem será para trás, me dói.
O que falhei deveras não tem esperança nenhuma
Em sistema metafísico nenhum.
Pode ser que para outro mundo eu possa levar o que sonhei.
Mas poderei eu levar para outro mundo o que me esqueci de sonhar?
Esses sim, os sonhos por haver, é que são o cadáver.
Enterro-o no meu coração para sempre, para todo o tempo, para todos os universos,

Nesta noite em que não durmo, e o sossego me cerca
Como uma verdade de que não partilho,
E lá fora o luar, como a esperança que não tenho, é invisível pra mim.

Álvaro de Campos

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007

Para variar, sobrou para nós!

Não consigo ficar calado diante dos jornais de hoje e das declarações do nosso Ministro das Relações Exteriores. Justificou o aumento do preço do gás como sendo uma questão de justiça. Como se pode falar em preço justo pelo gás boliviano? Não houve um contrato? Brasil e Bolívia não assinaram de livre e espontânea vontade o acordo?

Se ninguém foi ameaçado de morte, se não houve revólver ou tacape na cabeça dos envolvidos, se não houve coação, o preço definido no contrato é o que vale. Não há que se falar em justiça, Sr. Ministro!

Entendam, Srs. Ministros, que o contratado não pondera o justo, mas o que as partes acham adequado, desde que não se viole a ordem pública. Além do que, a Petrobrás teve seus bens nacionalizados sem ter recebido qualquer indenização por isto. Era a hora do Governo endurecer e mostrar que sabe falar grosso. Ou será que o metalúrgico que falava grosso com as multinacionais e a ditadura agora afinou de vez?

Mas se formos seguir a lógica deste governo, gostaria que o imposto que me é cobrado fosse justo. Vamos renegociar com o Governo? Receberíamos uma sonora gargalhada da Receita Federal. Somos a parte mais fraca e o Governo iria nos ignorar. Porém, o Governo Brasileiro insiste em ceder para os mais fracos e dar uma de “machão” perante os mais fortes. Insistir em Mercosul, quando a Argentina acha que o Brasil a trata de uma forma injusta, é um grande erro estratégico. Espertos são o Uruguai, Paraguai e Chile que se distanciaram destes populistas demagogos como Evo Morales e Hugo Chávez, o maior de todos. Quem sai perdendo nesta somos todos nós brasileiros.

Enquanto isto, no Palácio do Planalto o Presidente se cerca de trapalhões e incompetentes que não estão preocupados com o futuro do país, mas apenas a perpetuação no poder.

terça-feira, 13 de fevereiro de 2007

Hemingway e a noite


Passemos do silêncio da noite para outro tema, puxando o fio da meada.

A noite é metáfora da morte, da ausência de vida para alguns escritores. Ernest Hemingway reflete em seus heróis o medo da morte. Seus personagens evitam dormir de luz apagada à noite, ou dormirem sozinhos. O medo de não voltar do sono profundo atormenta os heróis de Hemingway. A surpresa da morte, a incerteza quanto à sua ocorrência talvez tenham-no levado a tirar sua vida com um tiro de carabina boca.

Em O Velho e o Mar (título original: The Old Man and the Sea), Santiago, um velho pescador, aventura-se em alto mar em busca de um grande marlim. Queria provar que não estava velho, que não estava ultrapassado e que ainda era um bom pescador. Afasta-se da costa de Cuba e fisga um peixe enorme. Luta a noite inteira contra o peixe. Nesta luta, tubarões atacam o marlim preso ao lado do pequeno barco. Santiago retorna para a costa sem o peixe, que fora devorado pelos tubarões. Entra em seu casebre, deita-se e dorme.

Este foi o primeiro livro que numa única sentada. Estava na 8a. série e apaixonei-me por Hemingway. Um escritor com estilo conciso e jornalístico. Frases curtas, sem excesso de palavras ou descrições.

O Velho e o Mar não é um livro sobre pescaria, mas sim um livro sobre superação, determinação, coragem. Estas coisas marcaram-me quando li o livro. Hoje, mais velho, e repassando a estória, outros aspectos me chamam a atenção.

Santiago volta para sua casa com o senso do dever cumprido, com um sentimento interno, pessoal de júbilo, ainda que frustrado por não poder exibir seu feito. Somente o mar e Deus presenciaram o sucesso de Santiago. Foi uma daquelas situações em que a alegria interna não precisa ser dividida. A sensação se exaure dentro dele. Como um gesto gratuito de generosidade, como um sorriso dividido e tantos outros eventos que fazem parte de nossa vida diária e que exaurem dentro de nós. Morrem conosco no final do dia, ou que às vezes contamos e dividimos, deixando transbordar o sentimento e alegria com quem quisermos.

A luta contra o marlim, durante toda a noite - notem que Santiago não dorme, como todo herói criado por Hemingway durante a pescaria - coroa a vida de Santiago. Ao final, ele não conta para ninguém o que conquistou. Simplesmente deita e dorme (entenda-se, recolhe-se no leito e morre).


Não pensem que em semana pré-carnavalesca estou tratando de temas mórbidos ou negativos. O post de hoje é apenas um capítulo para os posts seguintes. Um pouco de expectativa prende o leitor.


É só voltar amanhã.

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007

Devaneios no meio-sono

No último post (O Bonde e a Janela), fiquei depois a pensar no silêncio do meu avô, sentado na poltrona. Por anos, sentei-me ao lado dele. Recordo-me daqueles momentos de carinho silencioso, mas foram poucas as palavras. Não deu-me lições de vida, ou grandes explicações metafísicas. Apenas ficava eu, ao lado dele, olhando pela janela. Um silêncio quase que reverencial. Hoje percebo que é possível ser carinhoso no silêncio.

O que será que dominava seus pensamentos e sua memória? O que será que lamentava ou de que atos se arrependia? O que será que lhe alegrava? Quais os pensamentos, não sei...e nunca saberei.

O silêncio da noite é sempre um convite a pensar, a refletir, a falar interiormente aquilo que não temos coragem de dizer à luz do dia. São os sussurros para a pessoa amada, ainda que longe; são os pedidos de perdão, ainda que a pessoa não esteja mais ao nosso lado; são as decisões que se clareiam em nossas mentes; são novas dúvidas que surgem...

Parece que no silêncio da noite, nos devaneios do meio-sono, tudo se torna tão claro, tão iluminado. A escuridão se desfaz e nossos olhos deixam de turvar-se. Passamos a ver com precisão. Mas neste exame de consciência, muitos propósitos se perdem com o sono, com os sonhos, com o ressonar...

Deixar de fazer, deixar de se levantar depois de uma queda só nos leva ao lamento. É preciso coragem para arriscar aquilo que na noite pensamos. Ainda que custe, ainda que nos achemos incapazes de abraçar a tarefa que se desenha diante de nós.

domingo, 11 de fevereiro de 2007

Leitores: obrigado

Este blog surgiu como um exercício de criatividade. Uma espécie de laboratório para insights, pensamentos, idéias e maluquices. Afinal, nem tudo o que penso, nem tudo que interpreto está correto, ou pretendo que esteja correto. Só quer incentivar as pessoas a pensarem. A crítica é uma forma de pensar e agradeço a todos os elogios, críticas e comentários.

Forço-me a escrever quase que diariamente, o que é um momento de prazer para mim. Acho que escrever contagia, vicia. E ando numa fase muito inspirada!

Confesso que fiquei surpreso com a quantidade de visitas e comentários recebidos. Continuem a visitar o blog. Continuem a criticar e a escrever. Muito obrigado a todos.

O Bonde e a Janela




O bonde foi um meio de transporte que hoje tem ares românticos e típico de uma era pré-motorizada. Em Lisboa, os bondinhos circulam por alguns bairros com ruas muito estreitas e sinuosas. Uma das linhas do metrô de Buenos Aires, inaugurada no inícido do século passado, é servida por trens que parecem bondes que circulam no subterrâneo. Em Santos, litoral de São Paulo, uma linha de bonde voltou a funcionar e circular pelo centro histórico, com função turística.

O bonde viajava em velocidade mais lenta que os atuais ônibus ou veículos. Isto permitia que o passageiro interagisse com os transeuntes de forma mais intensa. O contato visual era mais longo. Explico-me.

Contava meu avô que conheceu minha avó pela janela do bonde. Minha avó morava no bairro da Vila Mariana, em São Paulo. Durante toda sua vida morou numa casa, na Rua França Pinto. O bonde passava por aquela rua, vindo de Santo Amaro e subia até o Largo Ana Rosa. Um dia e mais outro e sempre aquela jovem na janela a olhar o bonde. E no bonde, um jovem de bigode fino a olhar aquela jovem de olhos verdes na janela da casa. Imagino – pois isto ninguém me contou – que os olhares se cruzaram, talvez um esboço de sorriso, um leve aceno com o chapéu, e a jovem encabulada, deve ter baixado o queixo e os olhos. Um certo dia, meu avô desceu do bonde e tocou a campanhia. Iniciaram uma conversa no portão, namoraram, casaram-se e tiveram 3 filhos.

Quando meu avô se aposentou, frequentemente ficava no final de tarde, antes do jantar, sentado numa poltrona olhando pela janela. Olhava o movimento, em silêncio. Nas noites em que jantávamos na casa deles, sentava-me do lado dele, numa cadeirinha de vime, própria para as crianças. Conversávamos pouco. Não me lembro de nenhuma conversa relevante, a não ser a explicação do porquê de uma nota de mil réis estar presa no batente da janela. Simplesmente fazia companhia para ele, olhando a rua, as pessoas, os carros, os ônibus...

Em Janelas Fechadas, que já comentei aqui, o bonde era a expectativa do retorno do pai da filha de Benzinho, era o portador de uma nova vida. A janela, por onde Benzinho e D. Binoca olhavam o bonde, a porta para o mundo exterior, como metáfora dos olhos que apreciam o externo. Visitantes se debruçam na janela e conversam com as moradoras sem entrar na casa. A janela, quando aberta, era um convite ao diálogo, era uma mostra da abertura para o convívio e o contato externo. Um limite entre o privado da casa e o público da rua.

Vou transpor as coisas no tempo e numa associação, talvez grosseira, tentar mostrar que hoje continuamos a usar a janela, a olhar pela janela. A janela de hoje chama-se computador. Não seria coincidência que o programa que a maioria de nós usa para trabalhar, brincar, jogar, conversar, comunicar-se no computador seja exatamente o Windows? O nome é muito adequado. O computador é uma janela para o mundo.

Passamos horas na frente do computador. Olhando fixamente para aquela tela, que é a nossa janela, quase hipnotizados pelo que nela acontece...pelas letras que aparecem no fundo branco...pelos números que surgem numa planilha....pelos desenhos e cores que se definem num slide para uma apresentação....pela comunicação que se dá através de email ou de comunicadores instantâneos. Já pensaram que aquela janelinha do MSN que pula na tela poderia ser muito bem uma janela de bonde que passa? Será que ao aparecer uma janelinha com a foto de uma pessoa o coração não bate mais forte como quando passava um bonde?

A tecnologia mudou e revolucionou a forma de comunicação. Alguns achavam que o email e a internet iam desincentivar a escrita, inibir a interação social e criar seres anti-sociais. Nada mais equivocado. A blogosfera mostra como hoje se escreve mais. O email, o msn, o orkut permitem maior interação social, mais contato, mais informação entre amigos e nos relacionamentos sociais. Claro, que o privado se tornou mais público, mas é possível fechar-se a janela quando não se quer a interação com o mundo virtual.

Contardo Calligaris, psicanlista de 58 anos, escreveu a peça “O Homem da Tarja Preta” sobre as angústias do homem moderno. A peça ainda não foi encenada, mas em entrevista ao caderno de fim de semana do Valor Econômico, ele menciona que o personagem passa a noite “a brincar nas salas de chat na internet e começa, então, uma longa e animada reflexão sobre a sua dificuldade em ser homem.” A internet permite esta interação nova. Pode funcionar como uma válvula de escape para as angústias do mundo moderno, do aprisionamento individual, das dúvidas que nos perseguem.

O bonde pode não circular mais, mas continuamos a nos debruçar na janela, a olhar o mundo, a olhar as pessoas, a interagir com os amigos, e a fazer novos amigos. É só abrir as janelas!


sexta-feira, 9 de fevereiro de 2007

George Orwell e o Brasil

George Orwell (1903-1950), escritor inglês do século passado, tem 2 livros dos quais gosto muito: 1984 e A Revolução dos Bichos. Escritos logo após a Segunda Guerra Mundial, as obras são primorosas. Não se trata apenas de crítica política, mas da liberdade, da verdade e da influência da propaganda para manipular o povo.

O primeiro li 2 vezes. Publicado inicialmente em 1949, o livro conta a estória de Winston Smith que live em Oceania, uma das 3 nações em que se divide o mundo. Oceania é uma sociedade autoritária e vigiada 24 horas por dia por câmeras em todos os lugares. O vigilante é o Big Brother e as câmeras observam não só as ações das pessoas, mas também seus pensamentos. E cria-se uma série de situações para manter o Big Brother no poder. A História é alterada conforme interessem ao Big Brother, mentiras se tornam verdades, pessoas desaparecem...enfim, um livro clássico. (A obra em inglês pode ser encontrada em: http://www.online-literature.com/orwell/1984/)

O segundo também trata a relação numa fazenda de forma política e de um levante orquestrado pelos animais contra o fazendeiro. Recentemente saiu uma nova edição da obra por aqui. Animal Farm (título original) é um clássico lançado nos finais da Segunda Guerra Mundial, em 1945. Orwell era socialista e criticava abertamente tanto o comunismo como o capitalismo. Neste livro o autor constrói uma sátira em que critica a Rússia Soviética e o autoritarismo stalinista, ambos resultantes da Revolução Russa.

Em tempos de Hugo Chávez e Evo Morales, de um possível 3º mandato do Presidente Lula e da anistia ao José Dirceu, ficam as dicas de leitura para o carnaval. Qualquer semelhança não é mera coincidência!

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007

Santo Ipod!

Hoje senti na pele como anda o Aeroporto de Congonhas, num dia com chuva: um inferno! Como se o paulistano ainda precisasse desta.

O drama começou pelo estacionamento. O novo edifício garagem inaugurado há pouco mais de um ano estava lotado! Sim, lotado. Demorei exatos 35 minutos para estacionar o carro.

Aí veio o vôo! Claro, atrasado. Tomei café, comi um pão de queijo, fui na livraria, vi os repórteres se aglomerando....e nada do vôo ser confirmado. A previsão era para as 13:35. O embarque ocorreu às 14:00 e o avião só decolou às 14:45. Ficamos 45 minutos dentro do avião parado no solo. Uma delícia!

Isto tudo mostra como falta planejamento neste país. Acreditem o estacionamento de Congonhas já está saturado. O negócio é voltar a usar táxi para o aeroporto.

E de resto, bom, preparem um kit. Eu já tenho o meu: um bom livro e meu Ipod. Revista não adianta. Você corre o risco de ler a revista toda antes de chamarem seu vôo. Como diz uma amiga minha, "tadim" de quem precisa viajar de avião. E quem perde com isto é o país!

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007

Só, na noite.

Vou retomar o assunto de ontem, como havia prometido. Deparei-me com um poema de Carlos Drummond de Andrade, que fora dedicado a Josué Montello. Primeiro o texto do poeta, depois os comentários.

Nova Canção do Exílilo

A Josué Montello

Um sabiá
na palmeira, longe.
Estas aves cantam
um outro canto.

O céu cintila
sobre flores úmidas.
Vozes na mata,
e o maior amor.

Só, na noite,
seria feliz:
um sábia,
na palmeira, longe.

Onde é tudo belo
e fantástico,
só, na noite,
seria feliz.
(Um sabiá,
Na palmeira, longe.)

Ainda um grito de vida e
voltar
para onde é tudo belo
e fantástico:
a palmeira, o sabiá,
o longe.
(A Rosa do Povo. 7ª. ed. Rio de Janeiro : Record, 1991, p. 69-70)

O longe, a noite, a solidão. Poderíamos dizer que as três coisas são sinônimas. Não amedrontadoras, mas silenciosas. Ontem, depois do anoitecer, sai na varanda, com as luzes apagadas para tentar ver alguma estrela no céu e ouvi uma cigarra. Sim, uma cigarra em São Paulo! Não parecia que estava no meio da metrópole, mas longe, voando na solidão dos pensamentos.
A correria da vida não nos deixa parar e contemplar. As árvores, as flores, os sons. Desligue a televisão e escute seus pensamentos. Escute o silêncio.

O longe, o distante, o devaneio fazem parte da nossa imaginação. Fazem parte dos nossos pensamentos. Fazem parte das boas memórias. Ontem, só, na noite, estava feliz. Não só, mas acompanhado dos pensamentos.

O Judiciário e os Aeroportos

Fiquei, como muitos, estarrecido com a decisão judicial que pretendia impedir aeronaves de "grande porte" de aterrisarem no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Não sei de onde o MM. Juiz concluiu que um Fokker 100 é uma aeronave de grande porte. Mas, a convicção de um juiz não pode ser questionada. Da decisão se recorre, mas a decisão pode e deve ser analisada.

Confesso que tenho certas restrições com relação a decisões judiciais que afetam uma infinidade de pessoas e o País sem que - talvez - o nobre magistrado se dê conta do alcance de sua decisão liminar. Uma liminar é uma decisão preliminar, dada no começo do processo, sem uma análise mais aprofundada dos fatos. Vale dizer que a liminar foi revogada, nesta tarde, pelo Tribunal Regional Federal da 3a. Região.

Mas ficam várias perguntas: por que as aeronaves não podem pousar em Congonhas e podem pousar no Santos Dumont, cuja pista é 300 metros mais curta? Por que um Fokker 100 pode pousar no Aeroporto de Bauru, onde o avião desce freado e dá um tranco enorme quando pousa, se a pista é muito mais curta que a de Congonhas? Qual o risco real de um Fokker 100 pousar na pista principal de Congonhas que é mais longa que a pista auxiliar, se a decisão judicial não proibia os pousos e decolagens de Fokker 100 na pista auxiliar?

Acho que falta bom senso, ou talvez experiência de vida ao magistrado. Hoje em dia, os magistrados são aprovados nos concursos exclusivamente por seu conhecimento teórico, mas muitos são imaturos e nunca experimentaram - na prática - o trabalho jurídico. Juiz, hoje, escolhe a carreira por causa da estabilidade, e não por vocação.

Isto eu já disse há 5 anos atrás, num discurso como Paraninfo de uma turma da Universidade Paulista. E a coisa só piorou de lá para cá!

terça-feira, 6 de fevereiro de 2007

Um pouco de poesia

VAGANDO

Amor platônico?
Meu espírito vaga sem rumo
Em busca do que tenho
Do que não me falta

Entediado
Navego pela vida
Pelas ruas
Pelas esquinas

Sonhando um devaneio
Surreal
Jogo mental que distorce a realidade
E fulmina-me na inércia

Contemplo o nada
Olhar distante
Corpo Presente
Alma ausente

O que me acometeu?
O que me tomou?
O que me faz sofrer?
O que me faz sorrir?

Sigo vagarosamente
Sem olhar
Tateando o que me cerca
Passos lentos, pífios
Sem atitude
Passivo
Passageiro da vida.

(O poema é de autoria do autor do Blog. Podem copiar, mas favor citar o autor.)

Viver é escrever sem borracha

Sou cliente de um banco que todo ano me manda uma lembrancinha de aniversário. Ano passado foi um DVD. Este ano uma caixa de papel reciclado com um lápis. No lápis, está gravada uma frase do Millôr Fernandes: "Viver é desenhar sem borracha", que dá o título ao post.

Gostei mais do lápis do que do DVD. Uma simples frase me aguça mais a criatividade e faz pensar. Quantas vezes já ouvimos falar que a vida é um livro a ser escrito, ou que um dia que começa é uma página em branco a ser preenchida. O tempo é a tinta, e só depende de cada um de nós escrever muito ou pouco.

Escrever nestas páginas em branco é uma tarefa única e individual. Há coisas que só nós podemos fazer. Muitas delas são simples, muitas delas não tem preço. Acho que estas coisas são as mais valiosas, aquelas que ficam na memória para sempre. Simplesmente se faz algo para um amigo porque se quer, não buscando nada em troca, mas demonstrando todo o carinho e afeto que se tem pela pessoa.

Outro dia, soube de uma comunidade no Orkut chamada: “escrevi e não mandei”. Quantas vezes pensamos em ligar para um amigo, em mandar um email, em escrever um bilhetinho (hoje em dia deveria usar a palavra “torpedo” ou mensagem pelo celular). O tempo pode ser cruel com as boas ações que deixamos de fazer. Arriscar fazer uma surpresa só traz reações boas e positivas. E quem dá, recebe em dobro, já dizia minha avó.

Viver é desenhar! E torço para que ninguém precise de borracha. Mas se precisar, sempre há tempo para corrigir os erros.

Se algum leitor achar que este post está sem pé nem cabeça, volte amanhã. Ou mande para algum amigo ou amiga. Diga que lembrou dele ou dela. Vou retomar o fio da meada amanhã com uma idéia que me veio do livro Janelas Fechadas.

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2007

Almedina no Brasil

Advogado vive no meio dos livros e adora uma boa livraria, mesmo que não seja jurídica.

A Editora Almedina abriu recentemente uma loja em São Paulo. A loja fica na Alameda Lorena, 670, quase esquina com a Av. Nove de Julho. Além de obras jurídicas, a livraria tem uma boa seleção de livros de cultura geral e ciências humanas.

Em Coimbra, a loja matriz fica ao lado do Portal de Almedina, que dá acesso por ruas de paralelepípedos e ladeiras à Universidade de Coimbra e à Igreja da Sé. A Universidade de Coimbra, situada no alto do morro tem uma vista esplendorosa. Os prédios da universidade são uma viagem no tempo e fazem o visitante sentir a história viva.

A Almedia é uma das melhores editoras portuguesas na área jurídica, mas comprar livros no site da editora era meio complicado e algumas vezes inviável em razão do custo do frete.

Agora, é só dar uma passadinha na loja nos Jardins.

Lembrando Paulo Francis

Como o tempo passa rápido! Faz 10 anos que morreu Paulo Francis. A imprensa brasileira perdeu um jornalista insubstituível. Seu estilo, por vezes arrogante, ferino e desbocado ganhou admiradores e desafetos. Era impossível dar uma de tucano e ficar em cima do muro com os artigos do Paulo Francis.

Assistia com prazer ao programa Manhattan Connection quando Paulo Francis era vivo. Depois de sua morte, o programa perdeu a graça. Bem que o Diogo Mainardi tenta seguir seus passos, mas Paulo Francis era Paulo Francis.

Um homem de vasta cultura, um intelectual no melhor estilo, e que não tinha papas na língua. Se achava o escritor medíocre, dizia com todas as letras. Se gostava, elogiava de forma única.
Daniel Piza escreveu ontem no Estadão um artigo lembrando Paulo Francis. Mencionou algo de passagem que me chamou a atenção. Paulo Francis usava muito a onomatopéia em seus artigos. Sempre terminava com um "waal", sua assinatura característica. Em seu artigo, Daniel Piza diz: "Tudo isso era banhado no humor carioca dos bons tempos, debochado e onomatopaico (pfui, sifu, duca), e dava um resultado que ninguém pode repetir."

Ainda que os mais novos não tenham tido a oportunidade de ler Paulo Francis, fica aqui a dica e a sugestão para uma leitura que sempre provoca.
Quem tiver interesse, segue o link do artigo de Daniel Piza:

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007

Cômico, se não fosse o nosso Judiciário.

Deu no Migalhas, um informativo jurídico que circula na internet, de hoje:

"O servidor do Judiciário estava dando uma olhada no resumo das novelas pela internet (tem gente que faz isso!), quando sem querer, ao invés de copiar o despacho do MM Juiz, fez cópia do resumo da novela global "O Profeta". Resultado, o resumo da novela foi parar no andamento do processo, para quem o consulta pela internet. Pode um negócio desses ?! É demais. Se o andamento dos processos já são, não raro, uma novela, esse acabou sendo, literalmente. O caso, difícil de acreditar, aconteceu num feito que tramita no JEC do Fórum Regional III - Jabaquara, SP. Não acredita, então veja abaixo."
http://www.migalhas.com.br/mostra_noticia.aspx?cod=35137

Depois dizem que a culpa da morosidade do Judiciário é só dos advogados...

Metendo a mão na cumbuca

Política era um dos temas que pretendia discutir neste blog, mas sinceramente, é difícil escrever qualquer coisa depois de tudo que vem acontecendo no Brasil. A gente fala, fala, fala...e parece que ninguém escuta.

A eleição para a Presidência da Câmara dos Deputados, ontem, é uma prova disto. O PSDB não sabe fazer oposição. O PMDB é poder, não importa como chegue lá ou através de que meios. O PT...bem, aqui não é preciso falar nada.

Talvez o melhor a fazer seja seguir o conselho do Diogo Mainardi: dormir. O problema é que o tempo é implacável e corremos o risco de perder - de novo - o bonde da história. Só o Lula acha que está tudo lindo e maravilhoso. Deve ser por causa do Aerolula...novinho, lindo por dentro e não enfrenta os problemas dos aeroportos brasileiros. Pelo contrário, quando Lula vem a São Paulo, congestiona ainda mais o aeroporto de Congonhas.

Simão Bacamarte, o alienista de Machado de Assis, é um retrato do Brasil de hoje. Mas este comentário fica para depois.

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

O email definitivo

Poderíamos dizer que há algo de definitivo na internet? Parece que não. Quando tudo parece calmo, algum novo programa surge e inova a forma de ver a internet. A velocidade com que as mudanças ocorrem impressionam, sempre cada vez mais rápidas.

Começamos com o acesso discado, depois veio a banda larga. Antes era necessário um provedor para se acessar a rede mundial. Agora isto já não é mais necessário, e exatamente por isso, que a idéia de ter um email desvinculado do provedor se torna tão atrativa. Os primeiros serviços de email gratuitos tinham a restrição de espaço e confiabilidade. Os novos serviços são bem melhores e merecem atenção.

Três são os mais confiáveis: Gmail, Yahoo e Hotmail. A revista Info fez uma comparação dos três e deu a maior nota ao Gmail. Concordo e também acho o melhor. Uso o Gmail e vejo que ele é bem inovador. Funciona como um ótimo backup. Incorpora idéias simples, mas que facilitam a pesquisa e a localização das mensagens. E como o espaço é grande, dá para guardar fotos e músicas. Ele nunca lota e você não precisa apagar as mensagens!

O Gmail tem uma série de vantagens: caixa postal com 2 GB de espaço, possibilidade de fazer o download dos emails para o seu computador, visual bom e interação fácil, acesso rápido, interação com o Google Talk (serviço de mensagem instantânea) e o agrupamento das mensagens (talvez uma das melhores coisas do Gmail).

Outra opção para quem vai abrir mão do provedor – e você vai abrir mão do provedor mais cedo ou mais tarde – é criar o seu próprio domínio. Hospede-o em um dos serviços de hospedagem e pronto. Saí mais barato do que pagar um provedor e o endereço de email é seu para sempre.

Fica a dica e vale a pena testar.