segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007

Devaneios no meio-sono

No último post (O Bonde e a Janela), fiquei depois a pensar no silêncio do meu avô, sentado na poltrona. Por anos, sentei-me ao lado dele. Recordo-me daqueles momentos de carinho silencioso, mas foram poucas as palavras. Não deu-me lições de vida, ou grandes explicações metafísicas. Apenas ficava eu, ao lado dele, olhando pela janela. Um silêncio quase que reverencial. Hoje percebo que é possível ser carinhoso no silêncio.

O que será que dominava seus pensamentos e sua memória? O que será que lamentava ou de que atos se arrependia? O que será que lhe alegrava? Quais os pensamentos, não sei...e nunca saberei.

O silêncio da noite é sempre um convite a pensar, a refletir, a falar interiormente aquilo que não temos coragem de dizer à luz do dia. São os sussurros para a pessoa amada, ainda que longe; são os pedidos de perdão, ainda que a pessoa não esteja mais ao nosso lado; são as decisões que se clareiam em nossas mentes; são novas dúvidas que surgem...

Parece que no silêncio da noite, nos devaneios do meio-sono, tudo se torna tão claro, tão iluminado. A escuridão se desfaz e nossos olhos deixam de turvar-se. Passamos a ver com precisão. Mas neste exame de consciência, muitos propósitos se perdem com o sono, com os sonhos, com o ressonar...

Deixar de fazer, deixar de se levantar depois de uma queda só nos leva ao lamento. É preciso coragem para arriscar aquilo que na noite pensamos. Ainda que custe, ainda que nos achemos incapazes de abraçar a tarefa que se desenha diante de nós.

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