Autores russos causam uma certa reserva entre leitores por serem geralmente densos, complexos e pesados. No final de outubro do ano passado, procurava um romance curto para ler, pois sabia que com a maior parte do tempo dedicada ao meu projeto de tese no doutorado, o tempo para leituras não jurídicas seria pequeno.
Deparei-me com A Morte de Ivan Ilitch, de Lev Tolstói. São 70 páginas na edição da Editora 34. Como de costume, folheei o livro na Martins Fontes da Av. Paulista. Abri o livro a esmo e li um ou dois parágrafos. Como tem acontecido ultimamente com certa frequência, abro os livros em trechos que me dizem algo e com os quais me identifico. Parece que há uma mão invisível a guiar-me até o livro e a abri-lo no trecho que tocará minha alma e me conduzirá à reflexão.
Resolvi mergulhar neste mundo novo da literatura russa. Gostei muito do livro. Li depois comentários e elogios à obra. Luiz Gastão Leães, em seus Exercícios de Memória, lançado em dezembro, a denomina de uma das "três mais belas pequenas novelas que conheço".
Tolstói era fascinado com o tema da morte. Na parte final de sua vida, em clara e profunda crise existencial, retirou-se para um convento. Pouco depois, faleceu, a 20 de novembro de 1910.
A breve novela conduz o leitor à reflexão sobre a morte, a doença, a dor e à conduta humana ao redor do ser que desfalece. São poucas linhas, mas muitos os momentos e frases que nos levam a meditar. O livro caiu-me como uma luva. Afastava-me do direito e forçou-me a enfrentar certas realidades. Realidades das quais muitas vezes tendemos a fugir, a não encarar de frente. Tirou-me de um período de deriva, de navegação sem rumo. Um daqueles vales emocionais em que nos percebemos muitas vezes.
A brevidade da vida deve mover-nos a agir. Agir, porém, pode exigir espera e que se dê tempo ao tempo. A perspectiva pode nos dar coragem para agir com mais contundência ou apaziguar um ânimo desenfreado e equivocado. Esperar pode significar aguardar o momento certo para dizer certas coisas, ou esperar um encontro ao invés de dizer as coisas apenas através de uma carta. O olho no olho pode ser mais difícil, pode enrubescer o interlocutor, mas é mais sincero. Através do olhar, revelamos os recantos interiores e a sinceridade do sentimento.
Muitas vezes um livro discretamente nos mostra uma luz no final do túnel, dissipa a névoa que baixou ao nosso redor sem percebermos e faz brilhar a luz do sol num novo dia.
A obra de Tolstoi não é mórbida, nem depressiva. É um convite à reflexão e à ação. O tempo é breve (Tempus breve est)!
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