quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007

Só, na noite.

Vou retomar o assunto de ontem, como havia prometido. Deparei-me com um poema de Carlos Drummond de Andrade, que fora dedicado a Josué Montello. Primeiro o texto do poeta, depois os comentários.

Nova Canção do Exílilo

A Josué Montello

Um sabiá
na palmeira, longe.
Estas aves cantam
um outro canto.

O céu cintila
sobre flores úmidas.
Vozes na mata,
e o maior amor.

Só, na noite,
seria feliz:
um sábia,
na palmeira, longe.

Onde é tudo belo
e fantástico,
só, na noite,
seria feliz.
(Um sabiá,
Na palmeira, longe.)

Ainda um grito de vida e
voltar
para onde é tudo belo
e fantástico:
a palmeira, o sabiá,
o longe.
(A Rosa do Povo. 7ª. ed. Rio de Janeiro : Record, 1991, p. 69-70)

O longe, a noite, a solidão. Poderíamos dizer que as três coisas são sinônimas. Não amedrontadoras, mas silenciosas. Ontem, depois do anoitecer, sai na varanda, com as luzes apagadas para tentar ver alguma estrela no céu e ouvi uma cigarra. Sim, uma cigarra em São Paulo! Não parecia que estava no meio da metrópole, mas longe, voando na solidão dos pensamentos.
A correria da vida não nos deixa parar e contemplar. As árvores, as flores, os sons. Desligue a televisão e escute seus pensamentos. Escute o silêncio.

O longe, o distante, o devaneio fazem parte da nossa imaginação. Fazem parte dos nossos pensamentos. Fazem parte das boas memórias. Ontem, só, na noite, estava feliz. Não só, mas acompanhado dos pensamentos.

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