sexta-feira, 30 de março de 2007
Poesia: INÉRCIA
Sua voz é um bálsamo
Que descongela meu coração impenetrável
Recheando-o de vida
Fazendo-o ganhar ritmo
Num pulsar acelerado
Oh, amor intangível!
Oh, lábios intocados!
Solitário te desejo ardentemente
Desejo que consome meu interior
Sem forças, sem coragem, inerte
O amor que dá vida
O anseio que move o desejo
Petrifica com o medo
Temor insuperável
Congela na inércia
Deixa-me sem ação.
Covarde!
Bombardeia a razão
Covarde, sim!
Mas jamais insensível
Jamais gélido
Apenas um pobre homem
Apenas um homem covarde
Apenas um homem inerte!
(RLBF - mar 07)
Poesia: Fernando Pessoa
Sossega, coração! Não desesperes!
Sossega, coração! Não desesperes!
Talvez um dia, para além dos dias,
Encontres o que queres porque o queres.
Então, livre de falsas nostalgias,
Atingirás a perfeição de seres.
Mas pobre sonho o que só quer não tê-lo!
Pobre esperença a de existir somente!
Como quem passa a mão pelo cabelo
E em si mesmo se sente diferente,
Como faz mal ao sonho o concebê-lo!
O sossego não quer razão nem causa.
Quer só a noite plácida e enorme,
A grande, universal, solente pausa
Antes que tudo em tudo se transforme.
Fernando Pessoa, 2-8-1933.
quinta-feira, 29 de março de 2007
Palavras emprestadas
"3 de abril de 1982
Fui chamar Yvonne para dividir com ela esta emoção.
(Diário da Noite Iluminada. Rio de Janeiro : Nova Fronteira, 1994, p. 311)
Um jeito perfeito de começar o dia!
quarta-feira, 28 de março de 2007
Espelho
terça-feira, 27 de março de 2007
Rio e São Paulo na Vejinha
segunda-feira, 26 de março de 2007
Singela lembrança de Josué Montello
Meu contato com o escritor se deu recentemente e motivado por uma daquelas coincidências inexplicáveis da vida. Coincidência que se não tivesse acontecido, provavelmente teria perdido o estímulo de conhecer Josué Montello. Li Janelas Fechadas em janeiro e comentei em alguns dos primeiros posts neste blog.
A leitura se torna um mapa da vida e uma reflexão sobre o momento presente. Sinto nas palavras de Josué Montello transbordar a delicadeza e a sensibilidade, como se falasse aos mais jovens. No Prefácio da obra, ele justifica a razão de escrever um Diário. Vou pinçar um trecho do Prefácio:
“Diligentemente, cuidadosamente, tratei de reter neste longo registro de meu destino o tempo que ia fluindo. Entretanto, por maior que seja nosso cuidado e a nossa vigilância, só em parte conseguimos guardar as horas que se esvaem, como se espetássemos, no painel das lembranças, asas de borboletas. Daquelas que tatalaram diante de nossos olhos, coloridas, leves e nervosas, e que apanhamos no ar, frágeis e belas, para que facilmente nos refluam à memória, na imobilidade do vôo interrompido.”
Ao congelar a borboleta em pleno vôo, Montello nos conduz por anos importantes da vida brasileira. É um livro para ser lido com calma, pois os comentários estão divididos por dias. Vou separar alguns e colocá-los aqui nos próximos dias.
Crônica: A Quaresmeira
A Quaresmeira, carregada de flores, sombreava parte do gramado recém-aparado pelo caseiro. Parou e fitou as flores roxas. Sentou-se na relva, esticou as pernas e apoiou-se com os braços estendidos para trás. As memórias da infância e das longas férias passadas naquela chácara vieram-lhe à mente. Brincadeiras com os primos e os irmãos, as casinhas de bambu construídas, as pipas e as arapucas montadas, as fogueiras e suas labaredas, os tombos, as brigas, as gargalhadas, os sustos....tudo se passava em repetidas imagens.
Então, deitou-se na grama, na sombra, mas de modo que pudesse avistar o céu azul com poucas nuvens. Cruzou as mãos por detrás da nuca, apoiando a sua cabeça. Notou que não deitava no chão há anos. Aquele homem afrescalhado em que se transformara, cheio de manias, de ternos bem cortados e sapatos engraxados impecavelmente, via-se agora deitado na grama. Não chegou a tirar os tênis, não ousaria tanto, mas sentiu-se novamente um menino. As nuvens passavam lentamente e Pedro ia imaginando figuras e mais figuras, desenhos, animais, imagens...
Sem se dar conta, adormeceu.
Pedro estava sentado numa grande mesa. Havia muito barulho, como se fosse um jantar ou uma recepção. Não conhecia as pessoas do seu lado, mas rapidamente avistou Luiza na sua diagonal. Olhou para ela e sorriu. Gritou pelo seu nome, mas foi em vão. Sua boca mexia-se, mas a voz era silente. Suas cordas vocais não reverberavam o ar que brotava de seus pulmões. O movimento da boca era inútil.
Reparou que Luiza olhava para baixo e seus olhares não se cruzaram. As belas mãos, de dedos longos e finos, as unhas bem cuidadas atraiam o olhar de Pedro, que se fixou nelas.
Tentou levantar-se da cadeira, erguer os braços, mas estava colado por uma força invisível que o impedia de se mover. Debalde voltou a gritar por Luiza, que o tratava com indiferença. De repente, a mesa começou a se mover e a se esticar. Luiza se distanciava de Pedro que lutava cada vez mais intensamente para se mexer. Não havia meios de conseguir desgrudar daquela força magnética. Seus olhos fitavam Luiza de forma fixa e apaixonada, porém ao vê-la se distanciar, sua feição passou a ser de angústia e desespero.
Uma forte luz vinda do alto repousava sobre os cabelos longos de Luiza. De súbito foi tomada por dois homens que a levaram da mesa, um segurando-lhe o braço esquerdo e outro segurando-lhe o braço direito.
Sentou-se na grama ao sentir a mordida de uma formiga no canto do olho esquerdo. Notou três urubus que sobreavam por cima dele, já em altura mais baixa, esperando a hora para degustar aquele grande ser que ali repousava. Despertou do breve cochilo assustado e desnorteado com o sonho. Tentava fazer sentido de todas aquelas imagens. A rejeição de Luiza o incomodara. A sua impotência deixara-o com um gosto amargo na boca.
Levantou-se, ainda suado, e rumou para a casa que ficava no alto do morro.
Como poderia ter sonhado tão confusamente em apenas 15 minutos? Estava perplexo e com um pressentimento ruim. Pensou em ligar-lhe, mas era domingo de carnaval e não podia fazê-lo. Este era o acordo que haviam definido: sem ligações nos finais de semana e feriados, salvo se houvesse autorização ou alguma emergência.
Será que algo de ruim lhe acontecera? Algum acidente na estrada? Algum assalto, alguma doença, alguma notícia ruim? Pedro pressentia o pior e aqueles urubus sobrevoando sua cabeça não eram bom presságio.
domingo, 25 de março de 2007
Poesia: Vinicius de Moraes
O POETA
A vida do poeta tem um ritmo diferente
É um contínuo de dor angustiante.
O poeta é o destinado ao sofrimento
Do sofrimento que lhe clareia a visão de beleza
E a sua alma é uma parcela do infinito distante
O infinito que ninguém sonda e ninguém compreende.
Ele é o eterno errante dos caminhos
Que vai, pisando a terra e olhando o céu
Preso pelos extremos intangíveis
Clareando como um raio de sol a paisagem da vida.
O poeta tem o coração claro das aves
E a sensibilidade das crianças.
O poeta chora.
Chora de manso, com lágrimas doces, com lágrimas tristes
Olhando o espaço imenso da sua alma.
O poeta sorri.
Sorri à vida e à beleza e à amizade
Sorri com a sua mocidade a todas as mulheres que passam.
O poeta é bom.
Ele ama as mulheres castas e as mulheres impuras
Sua alma as compreende na luz e na lama
Ele é cheio de amor para as coisas da vida
E é cheio de respeito para as coisas da morte.
O poeta não teme a morte.
Seu espírito penetra a sua visão silenciosa
E a sua alma de artista possui-a cheia de um novo mistério.
A sua poesia é a razão da sua existência
Ela o faz puro e grande e nobre
E o consola da dor e o consola da angústia.
A vida do poeta tem um ritmo diferente
Ela o conduz errante pelos caminhos, pisando a terra e olhando o céu
Preso, eternamente preso pelos extremos intangíveis.
Vinicius de Moraes. (As Coisas do Alto. São Paulo : Companhia das Letras, 1993, p. 63-4.)
sexta-feira, 23 de março de 2007
Teste seus conhecimentos.
"Uma prova da Universidade Federal de Pernambuco e a revolução cultural do ministro Haddad
quarta-feira, 21 de março de 2007, 18:36:33 Reinaldo Azevedo
Vocês sabem que não é apenas o PIB que passa por uma revolução sob o governo do Apedeuta. Também a educação. Uma nova aurora se anuncia. Ao lançar outro dia um pacote para o setor o Lula disse que taí uma área com a qual não se pode brincar. Ou o resultado é analfabetismo na certa. Corajoso!
quinta-feira, 22 de março de 2007
Pausa para um café.
"A amizade é poesia escrita em gestos, olhares, abraços e carinho. A amizade é poesia atenta que sente o espírito. A amizade é a poesia da vida."
(RLBF)
Amizade. Amigo. Palavras que representam algo sem o qual não podemos viver.
quarta-feira, 21 de março de 2007
A vida é feita de escolhas
terça-feira, 20 de março de 2007
A Elegância do Comportamento
Algo leve para se ler neste primeiro dia de outono, que aliás está delicioso em São Paulo. Pelo menos hoje o dia aqui está mais bonito que no Rio.
segunda-feira, 19 de março de 2007
Poesia: SUSSUROS
Não sei se escutas meus sussurros
No silêncio da noite
Por vezes em voz alta
Por vezes em pensamentos
Mas não me importa a resposta
Continuo a fazê-los
Incansável
Para que saibas
Que penso em ti!
Sozinha não te deixarei
Desamparada não te sentirás
Ainda que sussuros recaiam em ouvidos moucos
Ainda que se percam na distância
Ainda que o tempo nos afaste
Continuarei a fazê-los
Continuarei a sussurrar-te
O tempo não me calará
E esperarei
E esperarei
Um dia chegar
E assim responderá.
(RLBF)
domingo, 18 de março de 2007
Presente em corpo, ausente em alma.
sexta-feira, 16 de março de 2007
Crônica: Borboleta Azul
Entre as flores do canteiro, numa hortênsia florida, Aninha encontrou uma borboleta. Aproximou-se lentamente, colocou as mãozinhas sobre os joelhos, curvou-se e, hipnotizada, congelou seu olhar no pequeno inseto. Uma borboleta com asas azuis. Um azul forte, intenso, vivo, mais escuro que céu, mais escuro que o azul do mar. Suas asas tinham uma borda preta que emoldurava o azul das asas.
O pai achegou-se por trás de Aninha, sem fazer barulho, silenciosamente e postou-se ao lado dela. Os dois olhavam a borboleta. Aninha olhou para o pai, sem dizer uma palavra, mas pedindo que ele pegasse a borboleta para ela.
“Filha, vc achou uma linda borboleta!” – exclamou o pai. “Não precisamos pegá-la. Deixe ela livre. Olha que linda.”
A feição da menina entristeceu-se. O pai sentou-se na grama e colocou Aninha em seu colo.
“Não fique triste. Se prendermos a borboleta ela morrerá. Não vamos machucá-la. Deixe-a voar.”
A borboleta azul continuava parada sobre a flor. Aninha ainda queria pegá-la, senti-la em suas mãos.
“Pai, de onde vêm as borboletas?”
“Elas nascem num casulo. São a fase final da vida de uma lagarta, que se transforma.”
“A lagarta vira borboleta?” – espantou-se. “Mas a lagarta é tão feia, tão nojenta e vira este bichinho lindo?”
“Sim, minha filha.” – respondeu o pai carinhosamente. “A lagarta pode ser feia, mas depois vira uma linda borboleta, que voa e deixa a natureza mais bonita. É um pouco como a gente. A gente cresce, muda, se transforma e vira uma pessoa mais bonita.”
“Mas eu não sou feia como a lagarta!” – retrucou.
“Não, minha filha, você é linda. Mas todos nós precisamos saber que temos defeitos, coisas feias, que precisamos nos esforçar para mudar. E a mudança a gente só consegue com esforço e com o tempo. Você já é linda, mas vai ficar mais linda ainda se souber achar os seus defeitos e transformá-los em coisas boas, em borboletas azuis!”
Aninha ficou pensativa. Havia entendido o que o pai queria dizer. A borboleta voou e pousou sobre o braço de Aninha. Ela sorriu, permanecendo imóvel.
“Ela gostou de você! Quando crescer vai ser uma linda mulher, e será mais bela se transformar suas lagartas em borboletas azuis.”
Aninha nunca se esqueceu daquele dia, do conselho de seu pai. Nunca se esqueceu da borboleta azul que hoje repousa em uma tatuagem na nuca escondida sobre seus longos cabelos.
A bagunça continua na aviação
Hoje, no retorno, o vôo chegou com 10 minutos de antecedência. Um milagre de 6a feira!
quarta-feira, 14 de março de 2007
Dia da Poesia: Cecília Meireles
Deixo-os com um poema de Cecília Meireles, de sua obra Canções:
RESPIRO TEU NOME
Respiro teu nome
Que brisa tão pura
súbito circula
no meu coração!
Respiro teu nome.
Repentinamente,
de mim se desprende
a voz da canção.
Respiro teu nome
Que nome? Procuro...
- Ah! teu nome é tudo.
E é tudo ilusão.
Respiro teu nome.
Sorte. Vida. Tempo.
Meu contetamento
é límpido e vão.
Respiro teu nome.
Mas teu nome passa.
Alto é o sonho. Rasa,
minha breve mão.
(Canções. Rio de Janeiro : Nova Fronteira, 2005, p. 10-11)
O tempo pode ser curto e breve, o encontro efêmero demais, mas teu nome permanece comigo e nunca passa.
Bentinho e o irracional
O que mais me chamou a atenção em Dom Casmurro é a racionalidade de Bentinho. Creio que me identifiquei um pouco. O conflito racional versus emocional permeia uma série de obras clássicas. Desde a Grécia antiga, encontramos este dilema. Antígona se sacrifica pelo irmão conduzida estritamente pela racionalidade, pelo certo. Romeu e Julieta morrem abraçados e levados apenas pelo amor, pelo emocional. São apenas alguns exemplos para ilustrar meu argumento.
Bentinho é um sujeito racional, um ciumento doentio. A cena do Capítulo CVI parece-me o ponto de partida da suspeita. Transcrevo um trecho:
“Foi justamente por ocasião de uma lição de astronomia, à praia da Gloria. Sabes que alguma vez a fiz cochilar um pouco. Uma noite perdeu-se em fitar o mar, com tal força e concentração, que me deu ciúmes.” (p. 327)
A cena do olhar distante revela que Capitu havia conversado com Escobar e este lhe ajudara a economizar dez libras esterlinas. Em palavras de hoje, Capitu usou Escobar para aplicar o dinheiro que rendeu juros.
Esta cena tem 2 aspectos que merecem reflexão: o ciúme e o olhar distante. Fiquemos com a mais óbvia primeiro e tornarei a falar do olhar distante em outro post, trazendo trechos de autores modernos.
Quando estava no seminário, Bentinho já sofrera de ciúmes quando fora comunicado que Capitu vivia alegre e contente. Achou que ela tinha arrumado outro namorado, que estava feliz pela distância. Depois no enterro de Escobar, Bentinho interpreta o olhar como a prova final. O trecho é do Capítulo CXXIII:
“No meio della, Capitu olhou alguns instantes para o cadáver tão fixa, tão apaixonadamente fixa, que não admira lhe saltassem algumas lágrimas, poucas e caladas...” (p. 374).
Aquele gesto foi para Bentinho a confissão. Sua racionalidade havia produzido uma realidade – talvez – diversa da verdadeira. Uma realidade imaginária, fruto de seus pensamentos. Algo meio Kantiano, onde a única realidade que existe é a do pensamento. O bom senso levaria Bentinho a confrontar Capitu com suas dúvidas. Mas ele não o faz. E o fim trágico do romance se dá por causa do silêncio de Bentinho.
Há um certo delírio nas conclusões de Bentinho, mas acho que qualquer psicólogo poderia explicar que o ciúme doentio é uma patologia que carece de tratamento. O ciúme é algo irracional, mas do qual não podemos fugir. Todos sentimos ciúme. O grau é que varia. O ciúme pode ser bom e lembrar-nos de quão verdadeiro e sincero é o sentimento pela pessoa querida, mas não pode – e não deve – levar-nos a envenenar o relacionamento. É preciso sangue frio ou contar até dez para deixar a poeira baixar e então confrontarmos a situação. Normalmente o passar do tempo revela que aquele ciúme é uma grande besteira. O que não podemos é deixar o ciúme minar e corroer nossas entranhas a ponto de não falarmos, a ponto de distanciarmos da pessoa, a ponto de desistirmos da pessoa querida.
segunda-feira, 12 de março de 2007
Poesia: AO CAIR DA TARDE
A penumbra avança
E escrevo-te estas linhas
Lançadas no papel branco
Palavras que brotam do coração
Coração apertado
Que busca tua alma
Tocá-la de forma indelével
Levantar-te do sono profundo
Arrastar-te da deriva
Despertar-te para o sol
Alçar-te para vôos altos
Guiar-te pela vida
Com passos largos
Com rumo certo
Dou-te a mão forte
E mesmo cegada pelo amargor
Anseio conduzi-la numa jornada única
Até a planície florida
Ao campo sem sombras
Onde não há prantos nem lágrimas
Onde o céu é sempre anil
Onde o sorriso nunca fugirá do teu lindo rosto
Onde o amor frutificará
E a felicidade será tua companhia
Por todos os dias
E por todas as noites
De lua cheia ou lua nova.
(RLBF - mar 07)
domingo, 11 de março de 2007
Ouvindo o silêncio
TARDE
Na hora dolorosa e roxa das emoções silenciosas
Meu espírito te sentiu.
Ele te sentiu imensamente triste
Imensamente sem Deus
Na tragédia da carne desfeita.
Ele te quis, hora sem tempo
Porque tu eras a sua imagem, sem Deus e sem tempo.
Ele te amou
E te plasmou na visão da manhã e do dia
Na visão de todas as horas
Ó hora dolorosa e roxa das emoções silenciosas.
(As Coisas do Alto. São Paulo : Companhia das Letras, 1993, p. 47)
sexta-feira, 9 de março de 2007
Se eles podem, eu também posso.
quinta-feira, 8 de março de 2007
Viva a diferença!
Comecemos pela explicação da foto. Não se trata de vislumbrar a mulher como ser frágil ou delicada que só gosta de ganhar flores e deve ser tratada como um bibelot precioso. O campo florido é uma imagem agradável, que retrata boas lembranças, ou brincadeiras particulares, que já inspirou grandes pintores e obras de arte. Enfim, alguém vai entender o porquê desta foto.
Depois o título que parece paradoxal. Mas não é! Somos todos a favor de igualdade de direitos, de tratamento equânime entre homens e mulheres no ambiente de trabalho, contra o preconceito e a discriminação. Mas pergunto-me: e as nossas diferenças?
Acho maravilhoso que homens e mulheres sejam diferentes. É um fato. Hoje, na área jurídica, creio que haja mais mulheres do que homens trabalhando e sempre me dei muito bem ao trabalhar com mulheres. Elas são mais detalhistas, mais atenciosas. Elas são mais intuitivas que nós homens, mais perceptivas. Tentamos copiar as coisas boas, mas muitas vezes não temos êxito. Recentemente, falaram-me que tinha muita sensibilidade. Recebi isto como um grande elogio, principalmente vindo de uma mulher.
Mas no ambiente de trabalho, estas diferenças precisam respeitadas e aproveitadas. Explico-me. Uma mulher que tem dupla jornada - e muitas têm - não pode ficar até altas horas no escritório. Isto é compreensível e deve ser compreensível. As empresas devem analisar estes pontos e respeitar esta necessidade feminina de ter mais tempo em casa. Muitas empresas se adaptaram a isto. Não é o caso de achar que a mulher tem menos capacidade de trabalho, nem de que é menos ambiciosa. A capacidade de trabalho da mulher, penso, é maior que a do homem. Os homens raramente têm jornada dupla e a ambição feminina é diferente.
As diferenças não devem ser motivo de discriminação ou tratamento desigual. As diferenças devem motivo de compreensão e complementação no ambiente de trabalho. Por isso, volto a dizer: Viva a diferença! Não devemos procurar que mulheres se pareçam com homens e vice-versa.
quarta-feira, 7 de março de 2007
Crônica: Uma certa madrugada
As imagens formaram-se e a imaginação tomou corpo e forma, quase real. Parecia senti-la ao seu lado e não distante. Um sentimento de paz e tranquilidade tomou-lhe o ser. Algo sublime invadiu sua alma. Pensava nela. Parecia que ela sussurrava ao seu ouvido que de longa distância estava bem, sonhando com ele no sono profundo. Será que ela está acordada? Seria um beijo que me acordou? Seria um suspiro? Seria uma transmissão de ondas telepáticas que me despertaram dos braços de Morfeu? Enfim, com um leve suspiro, deu-se conta de que ela provavelmente dormia a quilômetros de distância, talvez tocada por uma leve brisa vinda do mar em Copacabana, sem perceber meus pensamentos.
Foram alguns minutos, 10 ou 15, mas sorria internamente com aquele senso de paz interior que o pensamento nela lhe trazia. Antonio ajeitou-se na cama, virou para o lado, colocou as mãos por debaixo do rosto e voltou a dormir. Desejava sonhar com ela, desejava tê-la ao seu lado, mas aqueles momentos sublimes, de alegria silenciosa, permitiram que afastasse a angústia dos últimos dias e caísse no sono como um bebê recém-nascido nos braços da mãe.
segunda-feira, 5 de março de 2007
Escrever: uma forma de terapia.
Marcelo Rubens Paiva, em sua crônica no Estadão de sábado, que trata de separações, conduz o personagem a escrever como auto-terapia. O personagem tenta escrever poesia, mas não sai da primeira linha de seu poema.
Interessante que os blogueiros fazem exatamente isto. Escrevem para fazer auto-terapia. Incluo-me entre estes blogueiros. Sempre escrevi como forma de auto-conhecimento, como forma de terapia. Às vezes, o que vou escrever é antes falado em voz alta. Num final de tarde, como agora, quando o silêncio é meu único companheiro e ouvinte. Sinto que falar sozinho, em voz alta, ajuda a dar forma ao texto. E a escrita, ajuda a dar razão – ou não – às idéias e às coisas que se passam na minha cabeça.
No último post, citei um texto de Drummond em que ele fala da literatura como uma das grandes consolações da vida. Escrever acaba sendo uma forma de consolar a alma, de ouvir o íntimo. E as pessoas têm feito isto através de blogs.
Confesso que não tenho coragem de abrir a alma como muitos fazem em blogs. Coloco no blog um pouco do que penso, mas sem expor muito da intimidade. Isto fica reservado. Acho que é uma forma de se preservar.
O interessante disto tudo é que quando surgiu o email, falavam que o ser humano ia deixar de escrever. Ocorreu o inverso. O ser humano, hoje, escreve muito mais. E divulga o que escreve e pensa. A privacidade e a intimidade ficam mais expostas. Talvez possamos, lendo o que se passa com os outros, entendermos que não somos loucos, nem diferentes. Somos todos humanos, com preocupações iguais, com sentimentos semelhantes, com angústias e aflições.
Continuo escrevendo e continuarei a escrever. Algumas coisas divido com os mais próximos. Outras deixo guardadas. Talvez se percam quando um vírus atacar meu computador, mas me ajudaram a entender melhor a vida.
sábado, 3 de março de 2007
Pedra no meio do caminho
quinta-feira, 1 de março de 2007
Parabéns ao Rio de Janeiro!
Outono
Galhos mortos
Árvore retorcida
Descolorida
A vida apenas a passar
Nos passos arrastados
Pesados, lentos.
Coração paralisado
Congelado e vazio
Quase moribundo
Despido de sentimento
Embalagem oca
Recheado de vácuo
O ponteiro do relógio corre
Sem dó
Sem pausa
Sem piedade.
A vida escapa
E o amor também.
(RLBF)
Poesias num excelente blog
É um blog de poesias. Algumas de poetas conhecidos e outros nem tanto, mas todas com susas mensagens. Uma para cada momento. Ou para momentos em que precisamos refletir. Boa leitura e companhia são garantidas neste blog.
Vale a visita!