O sol já ia alto naquela manhã de domingo de carnaval. Passava das 10 e uma leve brisa seca amenizava o calor dos raios solares. Pedro caminhou pela trilha que riscava o gramado defronte da casa e contornava o morro. A descida era suave e andava a passos lentos, contemplando as flores e o verde ao seu redor.
A Quaresmeira, carregada de flores, sombreava parte do gramado recém-aparado pelo caseiro. Parou e fitou as flores roxas. Sentou-se na relva, esticou as pernas e apoiou-se com os braços estendidos para trás. As memórias da infância e das longas férias passadas naquela chácara vieram-lhe à mente. Brincadeiras com os primos e os irmãos, as casinhas de bambu construídas, as pipas e as arapucas montadas, as fogueiras e suas labaredas, os tombos, as brigas, as gargalhadas, os sustos....tudo se passava em repetidas imagens.
Então, deitou-se na grama, na sombra, mas de modo que pudesse avistar o céu azul com poucas nuvens. Cruzou as mãos por detrás da nuca, apoiando a sua cabeça. Notou que não deitava no chão há anos. Aquele homem afrescalhado em que se transformara, cheio de manias, de ternos bem cortados e sapatos engraxados impecavelmente, via-se agora deitado na grama. Não chegou a tirar os tênis, não ousaria tanto, mas sentiu-se novamente um menino. As nuvens passavam lentamente e Pedro ia imaginando figuras e mais figuras, desenhos, animais, imagens...
Sem se dar conta, adormeceu.
Pedro estava sentado numa grande mesa. Havia muito barulho, como se fosse um jantar ou uma recepção. Não conhecia as pessoas do seu lado, mas rapidamente avistou Luiza na sua diagonal. Olhou para ela e sorriu. Gritou pelo seu nome, mas foi em vão. Sua boca mexia-se, mas a voz era silente. Suas cordas vocais não reverberavam o ar que brotava de seus pulmões. O movimento da boca era inútil.
Reparou que Luiza olhava para baixo e seus olhares não se cruzaram. As belas mãos, de dedos longos e finos, as unhas bem cuidadas atraiam o olhar de Pedro, que se fixou nelas.
Tentou levantar-se da cadeira, erguer os braços, mas estava colado por uma força invisível que o impedia de se mover. Debalde voltou a gritar por Luiza, que o tratava com indiferença. De repente, a mesa começou a se mover e a se esticar. Luiza se distanciava de Pedro que lutava cada vez mais intensamente para se mexer. Não havia meios de conseguir desgrudar daquela força magnética. Seus olhos fitavam Luiza de forma fixa e apaixonada, porém ao vê-la se distanciar, sua feição passou a ser de angústia e desespero.
Uma forte luz vinda do alto repousava sobre os cabelos longos de Luiza. De súbito foi tomada por dois homens que a levaram da mesa, um segurando-lhe o braço esquerdo e outro segurando-lhe o braço direito.
Sentou-se na grama ao sentir a mordida de uma formiga no canto do olho esquerdo. Notou três urubus que sobreavam por cima dele, já em altura mais baixa, esperando a hora para degustar aquele grande ser que ali repousava. Despertou do breve cochilo assustado e desnorteado com o sonho. Tentava fazer sentido de todas aquelas imagens. A rejeição de Luiza o incomodara. A sua impotência deixara-o com um gosto amargo na boca.
Levantou-se, ainda suado, e rumou para a casa que ficava no alto do morro.
Como poderia ter sonhado tão confusamente em apenas 15 minutos? Estava perplexo e com um pressentimento ruim. Pensou em ligar-lhe, mas era domingo de carnaval e não podia fazê-lo. Este era o acordo que haviam definido: sem ligações nos finais de semana e feriados, salvo se houvesse autorização ou alguma emergência.
Será que algo de ruim lhe acontecera? Algum acidente na estrada? Algum assalto, alguma doença, alguma notícia ruim? Pedro pressentia o pior e aqueles urubus sobrevoando sua cabeça não eram bom presságio.
A Quaresmeira, carregada de flores, sombreava parte do gramado recém-aparado pelo caseiro. Parou e fitou as flores roxas. Sentou-se na relva, esticou as pernas e apoiou-se com os braços estendidos para trás. As memórias da infância e das longas férias passadas naquela chácara vieram-lhe à mente. Brincadeiras com os primos e os irmãos, as casinhas de bambu construídas, as pipas e as arapucas montadas, as fogueiras e suas labaredas, os tombos, as brigas, as gargalhadas, os sustos....tudo se passava em repetidas imagens.
Então, deitou-se na grama, na sombra, mas de modo que pudesse avistar o céu azul com poucas nuvens. Cruzou as mãos por detrás da nuca, apoiando a sua cabeça. Notou que não deitava no chão há anos. Aquele homem afrescalhado em que se transformara, cheio de manias, de ternos bem cortados e sapatos engraxados impecavelmente, via-se agora deitado na grama. Não chegou a tirar os tênis, não ousaria tanto, mas sentiu-se novamente um menino. As nuvens passavam lentamente e Pedro ia imaginando figuras e mais figuras, desenhos, animais, imagens...
Sem se dar conta, adormeceu.
Pedro estava sentado numa grande mesa. Havia muito barulho, como se fosse um jantar ou uma recepção. Não conhecia as pessoas do seu lado, mas rapidamente avistou Luiza na sua diagonal. Olhou para ela e sorriu. Gritou pelo seu nome, mas foi em vão. Sua boca mexia-se, mas a voz era silente. Suas cordas vocais não reverberavam o ar que brotava de seus pulmões. O movimento da boca era inútil.
Reparou que Luiza olhava para baixo e seus olhares não se cruzaram. As belas mãos, de dedos longos e finos, as unhas bem cuidadas atraiam o olhar de Pedro, que se fixou nelas.
Tentou levantar-se da cadeira, erguer os braços, mas estava colado por uma força invisível que o impedia de se mover. Debalde voltou a gritar por Luiza, que o tratava com indiferença. De repente, a mesa começou a se mover e a se esticar. Luiza se distanciava de Pedro que lutava cada vez mais intensamente para se mexer. Não havia meios de conseguir desgrudar daquela força magnética. Seus olhos fitavam Luiza de forma fixa e apaixonada, porém ao vê-la se distanciar, sua feição passou a ser de angústia e desespero.
Uma forte luz vinda do alto repousava sobre os cabelos longos de Luiza. De súbito foi tomada por dois homens que a levaram da mesa, um segurando-lhe o braço esquerdo e outro segurando-lhe o braço direito.
Sentou-se na grama ao sentir a mordida de uma formiga no canto do olho esquerdo. Notou três urubus que sobreavam por cima dele, já em altura mais baixa, esperando a hora para degustar aquele grande ser que ali repousava. Despertou do breve cochilo assustado e desnorteado com o sonho. Tentava fazer sentido de todas aquelas imagens. A rejeição de Luiza o incomodara. A sua impotência deixara-o com um gosto amargo na boca.
Levantou-se, ainda suado, e rumou para a casa que ficava no alto do morro.
Como poderia ter sonhado tão confusamente em apenas 15 minutos? Estava perplexo e com um pressentimento ruim. Pensou em ligar-lhe, mas era domingo de carnaval e não podia fazê-lo. Este era o acordo que haviam definido: sem ligações nos finais de semana e feriados, salvo se houvesse autorização ou alguma emergência.
Será que algo de ruim lhe acontecera? Algum acidente na estrada? Algum assalto, alguma doença, alguma notícia ruim? Pedro pressentia o pior e aqueles urubus sobrevoando sua cabeça não eram bom presságio.
Só restava-lhe esperar a passagem dos dias e dar tempo ao tempo.
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