quarta-feira, 28 de março de 2007

Espelho


Miramo-nos no espelho e vemos o externo. Somente o exterior, a capa que recobre nosso interior, nossos sentimentos, nossa alma. Olhar-se é algo rotineiro, que fazemos todos os dias, uns mais outros menos. Notamos um cabelo branco que aparece, uma ruguinha, uma espinha, uma olheira depois de uma noite mal dormida.


É raro, porém, olharmos nos nossos próprios olhos e dizer em voz alta aquilo que está guardado lá no fundo, naquele recanto escondido da alma. Temos medo encarar a nossa própria realidade. Por vezes, assustamo-nos com aquelas palavrinhas que afloram ou com sentimentos que achávamos que não existiam.


Fechamo-nos de uma forma a nos proteger dos outros, como numa brincadeira de esconde-esconde, a disfarçar nossas fraquezas. Sem falar, silenciosamente armazenando tudo no interior. Silenciosamente deixando as coisas fermentarem até que um momento elas transbordam. Em alguns casos com reflexos até físicos. O emocional mexe com o físico, abala nossas estruturas e pilares. Ficamos sem chão.


Outras vezes, olhamos e não vemos os outros. Nestes anos de vida profissional, tentei aprender a ter mais sensibilidade para detectar algum problema que abala um colega de trabalho. É mais fácil com as mulheres do que com os homens, mas acho que consegui apreender o que abala as pessoas que comigo convivem. Um olhar, uma palavra escrita de forma diferente ou até uma simples falta de um ponto de exclamação acionam o meu sistema de alerta. Aquela pessoa precisa de atenção. Basta, na maioria das vezes uma simples pergunta: "Está tudo bem?"


A verdadeira amizade obriga-nos a agir assim, a descermos da nossa torre de marfim e pacientemente escutar ou simplesmente dizer: "Estou aqui se quiser conversar! Conte comigo!" O meu espelho não é só meu, mas permite que veja os outros.

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