Carlos Drummond de Andrade escreveu no final do prefácio de uma antologia poética editada pela Ed. Record em 1991 (26a. edição organizada pelo autor):
"Acho que a literatura, tal como as artes plásticas e a música, é uma das grandes consolações da vida, e um dos modos de elevação do ser humano sobre a precariedade da sua condição."
Curto e grosso o poeta de Itabira sintetiza com precisão o que acredito. Música e literatura têm sido uma constante companhia. Um mergulho no interior para conhecer melhor o ser humano, para um auto-conhecimento, para consolar-me das agruras e angústias que se apresentam.
A vida coloca-nos pedras, pedriscos, pedregulhos e verdadeiras montanhas no meio do caminho. Quando achamos que tudo corre bem, tropeçamos. Quando parecemos escorregar ladeira abaixo, um galho de árvore nos serve de apoio. Estas metáforas da vida são ricas e permitem dar valor àquele empurrãozinho de um amigo. Ao amigo que escuta, que ajuda que estende a mão. Ao amigo que pressente a tristeza e divide e contagia com sua alegria, dividindo e fazendo mágica.
A pedra no meio do caminho não deve ser motivo de tropeço e queda. A pedra no meio do caminho deve ser motivo de novo impulso e vida. Um novo ânimo para a grande aventura que é a vida.
NO MEIO DO CAMINHO
No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.
(Carlos Drummond de Andrade. Antologia Poética. 26a. ed. Rio de Janeiro : Record, 1991, p. 196)
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