sexta-feira, 11 de abril de 2008

Vertentes do silêncio


O comentário da Edna - que ela chamou de longo -, no post Fechando o Círculo, provocou uma sequência ao assunto do silêncio.

Retomo o assunto pelo comentário e para mencionar o último livro de Lya Luft, O Silêncio dos Amantes, que será lançado pela Editora Record neste final de semana e objeto de artigo de Ubiratan Brasil no Estadão de 10 de abril (Caderno 2, p. D-14). A temática dos últimos posts não foi inspirado no livro de Lya Luft, mas no livro de Milton Hatoum. O comentário - e comentários longos têm o benefício de incitar o debate, coisa que adoro, pois o blog passa a ser um diálogo e não um monólogo - coincidiu com o recente lançamento, o que revela uma preocupação com o tema. É a arte discutindo a vida.

O trecho transcrito no Estadão parece repetir exatamente o que sugeriu a Edna - e antecipo que concordo. Eis o trecho de Lya Luft:

"Sem que eu soubesse, as coisas não ditas haviam crescido como cogumelos venenosos nas paredes do silêncio, enquanto ele ficava acordado na cama, fitando o teto, como branco dos olhos reluzindo na penumbra. Se eu o interrogava, o que você tem amor? ele respondia que não era nada, estava pensando no trabalho. A gente sabia que era mentira, ele sabia que eu sabia, mas nenhum de nós rompeu aquele acordo sem palavras. Nunca imaginei o mal que o roía. Era impossível qualquer coisa tornar a morte algo melhor do que tudo tínhamos. Isso era o que eu achava. Ele também falava pouco no passado, a infância numa cidadezinha do interior, o monte de irmãos, os pais morrendo cedo, ele responsável pelos menores. Haveria ali, com uma raiz venenosa, alguma coisa tão triste que o levava a querer morrer?"

Cogumelos venenosos nas paredes do silêncio é uma belíssima imagem para o silêncio que corrói, que desarma, que mina o relacionamento. Talvez tenha me precipitado, e só agora possa efetivamente fechar o círculo. Esqueci de falar do silêncio negativo, do silêncio que destrói. De fato, o silêncio, quando se instala num relacionamento, ele tende a ser muito espaçoso, tão espaçoso que afasta os envolvidos.


Vejo duas vertentes deste silêncio. O primeiro é o silêncio causado pela semelhança de pensamento, por pessoas que pensam igual, e que se entendem somente com um olhar. Tive um sócio com o qual conseguia conversar somente olhando. Eu sabia o que ele estava pensando e isto sempre funcionava muito bem em negociações e reuniões. Exatamente por pensarmos igual, acomodamo-nos. O comodismo se instalou e ocupou seu espaço minando as frequentes conversas. Um certo dia, a coisa estourou. Confesso que não tinha visto a situação desta forma tão racional até refletir sobre o silêncio para escrever este post.


Uma outra forma, mais comum num relacionamento afetivo, é o silêncio que decorre de subestimar o parceiro. Um deixa de dar valor ao que o outro fala, deixa de escutar, deixa de pedir a opinião. As decisões deixam de ser conjuntas e passam a ser meramente informadas. As tentativas de vencer esta barreira, de falar sem ser ouvido, tendem a cansar um dos envolvidos e o silêncio adentra a relação sem ser convidado. Com a rotina, o silêncio se alastra e vai criando raízes, novamente afastando os parceiros. É a falta de comunicação a que Lya Luft se refere como problema abordado em seu novo livro.


Um tema que pode ser visto na realidade de tantos casais. Um tema que é objeto de livros e de crônicas - inclusive neste blog. Um tema que vai continuar a nos intrigar e despertar reflexão. E esta reflexão para ser feita, exige o silêncio, mas o silêncio bom!

4 comentários:

Fabiola disse...

Eu acho que o silencio pode ser fundamental
Mas se mal utilizado pode se transformar em um enorme obstáculo

bjocas

Anônimo disse...

O silencio vai continuar sendo por toda eternidade um segredo e um misterio.

Essa mudez dentro dentro de um relacionamento eh consequencia de uma surdez cronica. isso eh fato. Ja que voce nao me ouve, porque eu hei de falar?...

Isso eh comodo? pode ser. Pra cada moeda havera sempre duas faces....


Mas entre falar e correr o risco de nao ser ouvida....
Eu prefiro berrar!!!!

Beijos, flores e estrelas....

Edna Federico disse...

riso...não achou longo? Como gosto de escrever, fico me policiando para não tornar os comentários verdadeiros posts.
Então, é exatamente isso que penso, naquele silêncio que acomoda a relação e mais...quando a pessoa acha que a outra tem obrigação sempre de saber o que ela quer. Aquele clássico: "você não diz que me ama." A resposta: "pra que? você sabe que te amo..."
Mesmo sabendo, é tão bom ouvir de vez em quando...
Beijo

Ana Casanova disse...

Olá,
eu acho que o silencio mina as relações.Quando as pessoas estão juntas e não têem nada para dizer, justificando isso com o "saber o que o outro pensa", as coisas vão muito mal mesmo.Todas as pessoas têem opiniões umas iguais mas outras contrárias, sobre os mais variados temas.Há silencios que "pesam"" e falam por si!
Beijinhos