domingo, 14 de outubro de 2007

Ingenuidade na bicicleta

Li este texto de Caco de Paula ontem e transcrevo um trecho:

"Lembro-me disso sempre que escolho um novo caminho a seguir e procuro percorrê-lo mais com a alegria de uma criança de 10 anos que com a desconfiança dos quarentões. Você me dirá que um adulto já não pode agir com a ingenuidade de uma criança. Que já perdeu o entusiasmo movido por essa ingenuidade. E eu direi que, se isso for verdade, cabe ao adulto cultivar o entusiasmo e temperá-lo com, digamos, a sabedoria que os anos lhe deram, se é que deram. E, ainda que o adulto já não tenha todo o brilho genuíno da curiosidade da criança, que possa ver nela menos o símbolo de uma pequena pessoa inconsequente e mais o que ela é em essência: um ser livre para praticar a generosidade consigo mesmo.

Alguém já disse, ou deveria ter dito, que o adulto tende a ser justamente quem perde essa generosidade consigo, com os outros, com o ambiente. Só mais tarde fui conhecer os versos do poeta americano Robert Frost, que, diante de uma bifurcação na floresta, escolheu a estrada menos trilhada - e isso fez toda a diferença para ele. Era mais ou menos esse o espírito naquele fim de semana. E continua a ser agora, nestes tempos de insustentabilidade ambiental, econômica, social, afetiva." (Caco de Paula. "Origem e destino" in Revista Vida Simples, Outubro 2007, Edição 58, p. 78)


Ingenuidade e curiosidade. Coisas que vamos perdendo com o passar dos anos - menos as mulheres que continuam curiosas em sua essência. Ingenuidade de saber dizer "não sei", "não entendi", de pedir desculpas por um erro - aliás, aceitar que erramos faz parte desta ingenuidade -, de sermos simples e transparentes, de sair para almoçar e caminhar um quarteirão a mais para explorar e quem sabe descobrir um novo restaurante, ou para apenas apreciar a cidade.


O artigo de Caco de Paula utiliza o passeio de bicicleta para ilustrar esta ingenuidade materializada. Talvez o famoso slogan da Nike (Just do it!) seja outro exemplo desta volta aos tempos de criança. Comer um bombom não vai estragar sua dieta, tirar os sapatos enquanto está na sua mesa no escritório - desde que não fique passeando descalço se o escritório não for seu -, não vai escandalizar os colegas e por aí as coisas vão.


Coisas simples. Ingenuidade. E a vida fica mais leve. Lições que podemos aprender com as crianças.


Ah, para quem se interessou por Robert Frost, o poema The Road Not Taken e um comentário podem ser lidos em um post passado.

2 comentários:

Kátia Barros disse...

A ingenuidade nos deixa livre para contemplar o novo, abertos para sorrir, chorar, gargalhar, amar, desconstruir e viver... Só as pessoas realmente puras e ingênuas não tem medo do risco, por mais que isso esteja disfarçado em ousadia...

Edna Federico disse...

Ingenuidae e espontaneidade, coisas que perdemos quando crescemos, infelizmente.
Eu procuro ser os dois, mas confesso que nem sempre consigo...às vezes meu lado adulto me trava, riso.