(c) visão ao longe
Estreou esta semana no canal a cabo AXN a série Flash Forward. Não sou fã de Lost, 24 horas, CSI, Fringe, Heroes e séries que têm uma legião de fãs. Conquistaram estes fãs graças a roteiros bem elaborados e estórias interessantes que fogem da mesmice tão comum na televisão. Porém, fui fisgado pela ideia central de Flash Forward. A chamada do programa diz: "O que você faria se pudesse ter por 2 minutos 17 segundos a visão de seu futuro?"
No primeiro episódio, há um desmaio coletivo de proporções globais. Todas os habitantes do planeta perdem a consciência durante 2 minutos e 17 segundos e tem uma visão de eventos que teoricamente acontecerão no dia 29 de abril de 2010. A visão do futuro inquieta todos e inicia-se uma investigação do FBI sobre o que causou o desmaio coletivo. Morte, traição, medo e tudo que compõe um bom enredo de suspense e drama parecem estar presentes.
O cinema, recentemente, tratou do tema no filme Click (2006). Com um controle remoto, o protagonista vivido por Adam Sandler aperta o botão de "avançar" e pula etapas ou momentos desagradáveis da vida, para no final descobrir que perdeu o que vida lhe oferecia de melhor.
Outro filme que pessoalmente me agradou ao lidar com o tempo foi Feitiço do Tempo (Groundhog Day - 1993). Vi e revi o filme algumas vezes e sempre há algo de genial na estória. Bill Murray é um repórter do tempo e vai a uma pequena cidade na Pennsylvania para cobrir o dia da marmota. Uma nevasca impede a equipe de sair da cidade e ao despertar no dia seguinte, descobre que voltou ao dia anterior. O personagem de Bill Murray ganha inúmeros replays da vida.
A vida real não tem replay. O que acontece, provavelmente não se repetirá e não ficará registrado a não ser pelas testemunhas e pelas pessoas que participaram daquele evento. Quantos fatos acontecem simultaneamente no mundo? Quantas pessoas nascem e morrem sem que saibamos? Quantos pensamentos - bons e maus - são processados nos bilhões de cérebros humanos ao redor da Terra? Quantas crianças sorriem para suas mães e pais ao final do dia? E quantas não têm pais e mães?
Estes eventos, ainda que se repitam, como o sorriso maternal para um filho, são únicos. Não se repetiram da mesma forma jamais. O tempo nos brinda com uma única chance, um moemnto peculiar na história da humanidade. A nossa reação - ou inação - só depende de nós. O tempo é precioso. A vida é preciosa.
Outro dia, e não vou me alongar muito mais neste devaneio de final de tarde, estava parado no trânsito, na Rodovia Castelo Branco rumo a Barueri, que fica a pouco mais de 20 km de São Paulo. Por entre os carros enfileirados, vinha uma moto. Alguns metros à frente, uma outra moto surgiu e atingiu a moto que vinha no corredor entre os carros. Os dois motociclistas voaram sobre os veículos parados. As motos bateram na traseira de um dos carros e os dois motociclistas caíram. Num piscar de olhos, num instante, a vida dos dois mudou. Fiquei inerte observando. Não havia o que fazer, não havia como impedir o acidente, não havia como retroceder o tempo para evitar aquele fato.
Ao assistir ao acidente, veio-me o título deste post. Segui minha viagem até Campinas, convicto a cada segundo que passava de que a vida realmente não tem replay. E ainda bem que a vida também não tem controle remoto para apertarmos o botão de "avançar".
As memórias ficam guardadas. O replay só depende de nós.