quarta-feira, 23 de maio de 2007

Volto com a discussão sobre A Trégua

Vou tirar logo da frente o tema que mais espinhoso. Não concordo com o protaganista acerca do período menstrual feminino, pode ficar tranquila. Na semana passada houve um post no blog Pensamento Nosso (minha vez de retribuir a gentileza) sobre TPM e há uma série de comentários sobre o que as pessoas acham. Pessoalmente, tenho mais paciência que o normal neste período. Agora, do ponto de vista profissional, ou seja, de trabalhar com mulheres, nunca notei nenhuma mudança na postura ou na conduta. Sempre trabalhei com mulheres ao meu lado e talvez uma ou outra fique mais irritadiça durante um período do mês, mas sempre relevei isto.

O livro poderia levar a muitas e muitas discussões. Isto é o que o torna tão universal, tão representativo da condição humana e atemporal. Lembrem-se que a obra foi escrita no final dos anos 50 e continua muito atual.

De fato, achei Santomé com uma visão rasa da vida, sem relevo, sem transcendência. A única meta na vida dele era a aposentadoria. Esqueceu de viver e isto inclui cuidar dos filhos, superar a perda da mulher e permitir que se coração descobrisse um novo amor. Acho que nossas opiniões são parecidas quanto à conduta do protagonista.

A descoberta de Avellaneda, porém, é o ponto fulcral. Evita o sentimento, quase repelindo-o. Mas o sentimento é mais forte que a razão. Santomé demora a se entregar à paixão e luta contra o sentimento, talvez por medo de viver uma nova perda, por medo da rejeição. Em dado momento decide-se assumir completamente aquele romance, sem antecipar a surpresa trágica que a vida lhe havia reservado. O final é triste. Avellaneda morre e Santomé se depara novamente com o luto, com a perda, com uma falta de sentido para sua vida. Hâ uma profunda revolta do protagonista com o destino de sua vida, uma revolta com Deus.

Penso que a mesma história poderia ser recontada do ponto em que Santomé perde a esposa. A dor e o sofrimento poderiam ter levado a uma maior união dos filhos com o pai e juntos superariam a dificuldade. Como diz o ditado popular: "Deus dá o frio conforme o cobertor". Dificuldades todos nós temos, a questão é como enfrentá-las. Santomé escolhe o caminho da revolta, o caminho de deixar a vida passar, esperando por algo.

Quando algo aparece e este algo é o amor por Avellaneda que descortina um novo horizonte diante de si, ele reluta, hesita. Teima em não fugir da rotina, da estabilidade, da inércia. O sentimento é mais forte e por alguns meses Santomé se vê jovem, vibrante, alegre novamente, tudo por causa de Avellaneda.

O livro permite muitas discussões e reflexões. E sou da opinião que todo livre tem algo a nos dizer, algo a nos fazer pensar e algo a nos acrescentar.

4 comentários:

Anônimo disse...

Antes de mais nada, obrigada pela visita e pelo comentário elogioso.

Para entender melhor seu post, tive que ler o que a leitora comentou sobre o livro, obviamente. Como não conhecia o livro, sinto que não posso dizer nada além daquilo que ficou mais explícito: a discussão diante do período menstrual feminino. Li também o post do blog "Pensamento Nosso", e posso dizer seguramente que me identifiquei muito. Não sou diferente, uma vez por mês choro, me descabelo, acho pêlo em ovo, fico emburrada, nervosa, irritada, explosiva e depois entendo que estou de TPM. Meu namorado já sabe lidar, ainda bem! (risos).

Um abraço, até mais!

Edna Federico disse...

Renato, obrigada pela referência ao blog!
Então, também não posso comentar sobre o livro, já que não o li, vou comprar e ler.
Mas, tomando como base o que foi escrito por vocês dois, dá pra concluir que o protagonista realmente tem uma visão pessimista da vida.
Quanto ao pensamento dele sobre a TPM, tenho que concordar com a Fernanda, o imbecil é ele!
Deu pra perceber que você não pensa como ele, riso, pelo que escreveu no meu blog e aqui também.
Quero agradecer também a Flávia, que comentou aqui, por ter entrado no meu blog.

Anônimo disse...

Bom, vamos a tréplica, riso.
Vejo que no geral nossa opinião é quase a mesma sobre o protagonista.
Qto ao caso TPM, fico feliz que vc não compartilhe da opinião medíocre de Santomé e, apesar do livro ter sido escrito nos anos 50, aonde com certeza o machismo era maior; continuo achando que o imbecil é ele!
Li o post do blog pensamentonosso e ri muito, confesso que minha TPM não chega a tanto, mas é complicado mesmo. Tb trabalho com muitas mulheres e uma ou outra fica mais irritadiça em certas épocas.
Vc tem razão sempre aprendemos com os livros e cada pessoa tem uma visão da história, isso que é interessante e instigante.
Qto ao romance de Santomé, ou a pessoa que ele é, vejo que concorda que ele tem uma visão rasa sobre a vida.
Ele se trava, se limita, não se permite ir em frente e continuo não gostando de pessoas assim. O medo é bom qdo impõe limites, mas não qdo te impede de fazer as coisas, principalmente de ser feliz.
Hum, gostei desse negócio de desafio...rs...indica outro livro ai para debatermos.

Fabiola disse...

Renato...fiquei com vontade de ler o livro....vupor na minha lista paraler nas férias.....
Como mulher.... acho que nos controlamos mais diante de estranhos ou quando somos profissionais

Mas quando estamos do lado de namorados/amigos/ maridos...ai o trem sai do trilho