Notei outro dia, na hora do almoço, que os últimos posts do blog têm tido um tema que os une, como se costurados numa grande colcha de retalhos. Isto aconteceu inadvertidamente. Talvez seja o inconsciente que leva a puxar o fio da meada e une prismas para revelar a complexidade da realidade. Isto já havia acontecido antes quando fiz uma série de posts temáticos. Tratamos da morte e da noite e das ligações entre ambos na literatura. Falamos também da ligação entre a noite e as angústias da vida moderna.
O tema começou com uma crônica sobre a noite, mas na verdade acho que o tempo era o tema de fundo. Tempo de espera, tempo de caminhar na escuridão à espera do novo dia.
Foi com Cecília Meirelles que o tempo me atacou de frente:
“Mas a alma é de asas velozes
E o mundo é lento.”
Quantas vezes queremos que o tempo seja mais veloz? Quantas vezes queremos que o tempo seja mais lento? Eterna insatisfação, mas o tempo é implacável, é breve e escapa-nos. Em momentos difíceis, quando aflige-nos a solidão, a dor, a angústia, o tempo parece congelar, movendo-se a passos lentos. Ponteiros do relógio que deslizam de forma mais suave em câmera lenta. Estes períodos de provação parecem entender a noite que resiste em deixar o dia clarear.
Estes posts formam uma colcha de retalhos sobre o tempo. Creio que as 2 crônicas também tratam do tempo. Relendo-as consigo ver a noite como um momento atemporal. O silencia e a solidão, a ausência de luz tiram-nos o referencial do tempo, até que a luz do dia afaste qualquer devaneio.
A música também nos conduz no tempo. Tempo de memória, tempo de viajar nos pensamentos conduzidos pela memória auditiva.
E tudo isto poderia ser concluído num único momento.
Fiquei contente em perceber a colcha de retalhos. Almoçando sozinho, correndo pela falta de tempo, percebi que esta ausência de tempo havia me levado a refletir exatamente sobre o tempo. Tempo que nos é dado para ser bem usado.
Um comentário:
Renato, eu adoro o que você escreve. É incrível mesmo como nossos escritos revelam nosso estado de espírito naquele momento. Há tanto o que se dizer sobre a relatividade do tempo, não!? Mas você escreveu muito bem.
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