sexta-feira, 4 de maio de 2007

Poesia: Cecília Meireles

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Não fiz o que mais queria.
Nem há tempo de cantar.
Basta que fiquem suspiros
na boca do mar.

Basta que lágrimas fiquem
nos olhos do vento.
Não fiz o que mais queria
e assim me lamento.

E a minha pena é tão minha,
quem a pode consolar?
Chorava caminhos claros
noutro lugar.

Chorava belos desertos
felizes de pensamento.
Mas a alma é de asas velozes
e o mundo é lento.

(Canções. Rio de Janeiro : Nova Fronteira, 2005, p. 150-1)

Já que hoje consegui ficar no escritório o dia inteiro, vou tirar o atraso nos posts. Tenho descoberto Cecília Meirelles com toda sua delicadeza e sensibilidade. Interessante como um poema pode ser lido num dia e não nos dizer absolutamente nada. Em outro dia qualquer, como que atraídos por uma força invisível, deparamo-nos com o mesmo poema e um mundo novo se descortina diante de nossos olhos. Não precisa ser um poema, pode ser aquele livro que sussurra baixinho: "Olha eu aqui! Me compre!"

O mundo é lento e testa nossa paciência. Queríamos que tudo fosse mais rápido, que pudéssemos nos transformar sem esforço, sem enfrentar os defeitos e os erros. Queríamos que num passe de mágica a realidade se transmudasse para os nossos sonhos. Mas o mundo é lento e as almas velozes devem ser pacientes.

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