Continuo a ler um dos Diários de Josué Montello. Ontem, antes de dormir, li mais algumas páginas. A vantagem de um livro de memórias é que os trechos mais curtos, permitem uma leitura pausada, em curtos períodos de tempo, sem que se perca o fio da meada.
Há algo porém que tem me impressionado nesta leitura. Nunca fui muito atraído por livros de memórias, mas recentemente mudei de idéia, mais um conceito revisto aos trinta e muitos anos. Ao ler, tenho tido respostas a dúvidas ou confirmações de coisas que imaginava e que pensei. Trechos relembram meu avô, dando conselhos - claro que mais simplicidade e menos beleza linguística - e falando sobre a vida. A coincidência é que meu avô materno morreu exatamente 16 anos antes que Josué Montello, num dia 15 de março. Abrevio a divagação para transcrever um trecho que ontem li. Um trecho que fala das dificuldades e o que elas nos ensinam, um trecho que mostra a importância de conduzir a vida um dia por vez. Um dia após o outro....sempre.
"31 de dezembro de 1980
Eu próprio, ao refletir sobre os percalços do ano-velho, vejo agora neles a provação que nos faz amar a vida com outra intensidade. Os calhaus do caminho ficaram para trás. Nossa vida nada mais é do que a transformação do dia de hoje em dia de ontem, enquanto esperamos o dia de amanhã. A memória, que tudo recolhe, faz a triagem necessária. O que é bom de lembrar também se chama saudade.
Entretanto, o que vale mesmo, nas tribulações com que a vida nos sacode nos seus abalos císmicos, é a revelação, ou a confirmação, das amizades puras, com as quais se enfeitam as aventuras da própria vida. E essa revelação, ou confirmação não me faltou. No aconchego e no carinho de toda a família. No desvelo com que fui tratado. A começar por minha incomparável companheira."
(Diário da Noite Iluminada. Rio de Janeiro : Nova Fronteira, 1994, p. 214)
A semana começa e as páginas estão em branco, prontas para serem preenchidas. Só cabe a nós escrevê-las.
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