sábado, 19 de maio de 2007

Crônica: Prisma



Pedro retornou ao hotel extenuado. Esperara por ela mais de 2 horas e nada. Nem uma ligação sequer, nem um recado. Nada. Seu orgulho não permitiu que ele ligasse. Seria orgulho ou seria um senso de derrota, um sentimento de rebaixamento, de fazer pouco caso de si mesmo? Tudo estava muito confuso, seus pensamentos obnubilados por aquelas horas sentado no bar no centro de Curitiba. Simplesmente esperando. Estava desconfortável no bar, envergonhado, ansioso, mas havia pressentido algo de ruim. Algo de negativo. Parecia que todos olhavam para ele e que todos sabiam que aquele homem havia levado um belíssimo “cano” de alguém. Em certo momento saberiam que ele esperava uma mulher, mas hoje poderia ser outro homem. Pedro não tinha traços efeminados e não levantaria qualquer suspeita. O burburinho deixava-lhe passar quase que despercebido, porém sentia-se como diante de um canhão de luz, como se estivesse sozinho no palco e tivesse esquecido o texto por completo.

Abriu a porta do quarto, escancarou a da varanda e debruçou-se sobre o parapeito. Suspirou lentamente. Uma certeza tomou-lhe a alma: era o fim. Seu coração chorava lágrimas profundas e apertava-lhe o peito. Soluçava num pranto que lavava-lhe a alma. A intuição que sentira naquela manhã, antes da viagem, agora se confirmava. Temia confrontá-la e viu-se agindo como Bentinho diante do suposto adultério de Capitu. Qual Dom Casmurro, Pedro iria decidir por si próprio. Iria fugir.

As lágrimas aos poucos secaram e não se ouviam mais seus soluços, nem seus gemidos. Pedro era covarde e desistia fácil. Não acreditava em si mesmo, apoucava-se, fabricava mentalmente uma visão acerca de si mesmo que não cabia na realidade. Era algo fantasioso, onde era visto como um ser desinteressante, sem valor, despido de qualquer encanto ou beleza física ou moral. Via-se no espelho como um ser amorfo, sem nenhum tempero. Um homem insoso. Esta forma de se ver lhe paralisava, quase que lhe trazendo um constante pânico de lidar com determinadas situações. E abrir-se com Luciana era uma delas. Tinha medo.

Simples assim: tinha medo! O mantra do temor ressoava internamente e o medo se agigantava. O racional transformava uma simples ligação telefônica em algo imenso, impossível, um obstáculo intransponível. Luciana não queria encontrar-se com ele. Pedro insistiu. Ela foi reticente, mas disse que tentaria. Com grande esforço, Pedro havia insistido. Seria uma despedida e quem sabe até culminaria com um beijo que poderia reacender uma chama apagada no interior de Luciana. Agora o fracasso lhe caía sobre os ombros e devastava-lhe a pouca auto-estima.

Abriu uma garrafinha de uísque que estava sobre o frigobar do quarto de hotel e atirou-se no sofá. Refestelado, tomeu um gole de uísque e disse:

- Eu hei de te esquecer, mas não precisavas ser assim...não precisava ser cruel comigo.

Enxugou as lágrimas que restavam e ligou a televisão em busca de algo para lhe distrair até que caísse no sono.

Um comentário:

Edna Federico disse...

É, desilusão é complicado...bonita crônica, como sempre.
Bom domingo!