sábado, 21 de abril de 2007

Poesia: Pablo Neruda


Pablo Neruda é um dos maiores poetas latino-americanos. Nascido em 12 de julho de 1904, em Parral, soube cantar poeticamente o Chile e as Américas. Em 1945 esteve no Brasil e foi recepcionado na Academia Brasileira de Letras por Manuel Bandeira. Entre seus poemas há uma Ode ao Rio de Janeiro. Faleceu em 23 de setembro de 1973.


Em abril de 2000, quando fui ao Chile, visitei a casa de Neruda em Santiago. Toda decorada com motivos marítimos para manter viva na memória o clima de Isla Negra, outra casa de Neruda às margens do Pacífico.


Publicou Los Veinte Poemas de Amor y Una Canción Deseperada em 1924. O poema que aqui trago é o de número 20.


"Posso escrever os versos mais tristes esta noite.

Escrever, por exemplo: 'A noite está estrelada,
e tiritam, azuis, os astros, ao longe'.

O vento da noite gira no céu e canta.

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Eu a amei, e às vezes ela também me amou.

Em noites como esta eu a tive entre os meus braços.
Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito.

Ela me amou, às vezes eu também a amava.

Como não ter amado os seus grandes olhos fixos.

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Pensar que não a tenho. Sentir que a perdi.

Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela.
E o verso cai na alma como no pasto o orvalho.

Que importa que o meu amor não pudesse guardá-la.
A noite está estrelada e ela não está comigo.

Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe.
Minha alma não se contenta com tê-la perdido.



Como para aproximá-la o meu olhar a procura.
Meu coração a procura, e ela não está comigo.


A mesma noite que faz branquear as mesmas árvores.
Nós, os de então, já não somos os mesmos.

Já não a amo, é verdade, mas quanto a amei.
Minha voz procurava o vento para tocar seu ouvido.

De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos.
Sua voz, seu corpo claro. Seus olhos infinitos.

Já não a amo, é verdade, mas talvez a ame.
É tão curto o amor, e é tão longo o esquecimento.

Porque em noites como esta eu a tive em meus braços,
a minha alma não se contenta com tê-la perdido.

Ainda que esta seja a última dor que ela me causa,
e estes sejam os últimos versos que lhe escrevo."




(Antologia Poética. Trad. Eliane Zagury. 14a. ed.
Rio de Janeiro : José Olympio, 1996, p. 45-7)

Este curto poema me fascina. Sei-o praticamente de cor. Quantas vezes, contemplando as estrelas, estes versos não me afloraram. "Minha alma não se contenta em tê-la perdido" e "é tão curto o amor, e é tão longo o esquecimento.". Companhia para momentos de desilusão ou de simples reflexão numa noite estrelada.

2 comentários:

Fabiola disse...

lindo!!!!

Amo Neruda!!!! Vou postar essa semana um dele!!!!

Anônimo disse...

Certos poemas parecem que foram feitos para nós, não é?
Não conhecia esse, mas é lindo e me fizeram recordar momentos lindos tb...

Fernanda