segunda-feira, 23 de abril de 2007

Olhar na cidade grande


Volto com um trecho de A Trégua:


"A única coisa que não engana (assim, como traço isolado) é o olhar. Em nenhum lugar encontrei seus olhos. No entanto (só agora isto me ocorre), não sei como são, de que cor. Retornei cansado, aturdido, chateado, aborrecido. Embora exista outra palavra mais certeira: retornei solitário." (p. 64)


Li recentemente um artigo que aborda a questão da comunicação virtual. Ainda que a comunicação nos dias de hoje esteja mais fácil, mais rápida, mais instantânea, nada substitui um olhar direto nos olhos.


O olhar é revelador. Para um bom observador, o olhar pode revelar uma dor na alma, que fica escondida pelo interlocutor esperando que um amigo faça a pergunta: está tudo bem mesmo? O olhar sincero não esconde o que se passa na nossa alma. O olhar é um reflexo do nosso interior.


A vida moderna faz com que nos prendamos demasiado em nós mesmos e esqueçamos de quem está do nosso lado. E isto não se refere apenas às pessoas queridas, mas também às pessoas que cruzam conosco no nosso dia: o porteiro do prédio, a moça do café, o dono da banca de jornal, o manobrista do estacionamento. Não estou propondo que numa cidade grande cumprimentemos todo mundo, mas estou sim dizendo que um sorriso e gesto de gentileza e educação podem mudar o dia de uma pessoa.


Barbara Gancia comentou na semana passada sobre algo chamado de cegueira psicossocial. Nós só vemos as pessoas e as coisas que nos interessam. Um estudo realizado com garis na cidade de São Paulo revelou que a maior reclamação dos garis era o fato de não serem vistos. Eram tratados como coisas, ou como funcionários que preferimos não ver.


De fato, um olhar, um sorriso pode tornar a vida das pessoas que nos cercam mais alegre e tornará nosso dia mais alegre também. Não custa nada prestar mais atenção.


Antes que me esqueça, diferentemente do protagonista de A Trégua, eu sei que seus olhos são castanhos.

2 comentários:

Fabiola disse...

engraçado né?
As pessoas estão tão mecanizadas que não enchergam os garis....

Simone disse...

sem contar no tom da voz que tem um poder que a comunicação escrita tb não tem.
para mim, não tem nada que expresse melhor isso do que a música "gentileza", da Marisa Monte. Não apenas pela letra mas pela história do profeta Gentileza.
Agora, 99% das pessoas linkadas no meu blog, conheci pela internet e a amizade saiu para o mundo real. MUITO legal! Amizades sinceras e verdadeiras, pessoas com interesses em comum, e tb diferentes, que se uniram por uma causa, uma luta e hoje possuem laços de amizade.