Na borda da piscina
Deu um longo impulso por debaixo d´água, esticou os braços e
as pontas dos pés, abaixou a cabeça para diminuir a resistência ao máximo e
deslizar rente ao fundo da piscina. A água abraçava-lhe o corpo por inteiro,
num gostoso sentimento de ternura. Bolhas de ar rompiam a superfície plácida da
piscina e ela deslizava como uma arraia discreta e bela de gestos lentos e
coreografados. Surgiu do outro lado, a água escorrendo pelo rosto, os
longos cabelos jogados para trás. Abriu os olhos e apoiou-se na borda da
piscina buscando a toalha para secar a mão que buscava o celular. Tirou uma e
outra foto fazendo careta, cortando metade do rosto, tentando captar a luz nas
margens da piscina deixando as gotículas agirem como pequenos prismas. O
sorriso discreto era de uma menina que se divertia, apesar da idade cronológica
negar tal aparência.
Ficou séria e tirou uma foto de apenas metade do rosto. A
composição era proposital. Queria apenas um fragmento, um recorte, um pedaço
de como ela se via. Era para ser algo conceitual, pensou. Reparou nos fios
brancos que se infiltravam na bela cabeleira como impostores indevidos. Lembrou
de como ele dizia aqueles fios brancos traziam-lhe um charme maduro e que ela
de cabelo molhado e de cara limpa sem maquiagem era a mulher mais bonita que
conhecera. Beleza pura, sem filtros, ele falava. E ela, descrente do elogio
sentia o coração aquecido e um enrubescido.
Ele tinha estas pílulas de afeto. Lançava-as como flechas,
em doses homeopáticas, mas eram habituais e generosas. Ela gostava e se
encantava com estes detalhes. Depois de um encontro, vinha alguma mensagem mencionando
algum detalhe que havia passado despercebido para ela. A cor do esmalte que
combinava com a blusa, os sapatos mocassim que pareciam tão confortáveis, os
óculos novos que destacavam ainda mais os belos olhos castanhos. Sempre havia
uma mensagem, sempre havia um gesto de atenção. Sim, atenção aos detalhes. Ele
era muito observador, discreto não parecia que observava com tanto afinco. Era
como se ela fosse seu objeto de estudo e análise. Fazia anotações em seu
caderninho mental e depois destilava-as em suas gotas de afeto. Sempre gentil,
sempre atencioso.
Ela gostava de ser mimada e paparicada, mas havia algo que lhe
incomodava. Olhou para o céu azul, fechou os olhos e deixou o sol banhar-lhe o
rosto, que se iluminou. Ela só queria que ele tomasse uma decisão. Simples
assim, mas nem tudo é simples como parece.
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