quinta-feira, 26 de abril de 2007

Crônica: Devaneio de final de tarde


Eduardo fumava preguiçosamente debruçado na janela aberta. A sala escura, com as luzes apagadas, trazia-lhe o conforto após a longa jornada de trabalho. Observava a fumaça que saía do cigarro e dava piruetas no ar. O chão molhado da rua, as sirenes das ambulâncias, as buzinas dos carros que inundavam o ar no final de tarde não lhe incomodavam. Estava absorto no seu devaneio.

Recostou-se na parede, meio de lado e sorriu. Sua alma transbordava de alegria. Uma alegria interior misturada com saudade, relembrando palavras que ela havia lhe dito. Sentia como se a abraçasse, sentia-a junto dele, envolta por seus braços que a consolavam e lhe davam segurança. Um simples abraço que a distância impedia. A certeza de que os pensamentos se cruzavam no espaço etéreo inundou-o com uma profunda tranqüilidade.

“Saudade Edu!” ela havia escrito. Pensou em ligar. Pegar o telefone e simplesmente perguntar como havia sido seu dia, ouvir sua voz por alguns minutos, ouvir seu riso ou quem sabe fazê-la rir um pouco, mesmo cansada no final de dia. “Mas o que vou dizer? O que vou falar? O que vou perguntar? Será que ela está ocupada? Será que ela vai gostar? Será que não vou ser chato?”.

Aquelas idéias metralharam sua cabeça rapidamente, num instante.

- Ah, deixa pra lá! – disse em voz alta. – Ela sabe que estou pensando nela. Quem sabe amanhã eu ligo.

Naquele instante tocou o telefone. “Será?”, disse a si mesmo. Do outro lado da linha era um cliente, e rapidamente o mundo dos sonhos evaporou e Eduardo voltou à realidade.

2 comentários:

Simone disse...

nunca devíamos perder a chance de ligar porque os momentos são únicos. podemos ligar outro dia mas não será o mesmo telefonema, a mesma sensação, o mesmo desejo. mas quem consegue tirar essas "serás" da cabeça? difícil, mas não impossível. ainda vou aprender.

Anônimo disse...

Pois é, nosso grande problema é esse, sempre ficar adiando as coisas! Vamos deixando para amanhã, deixando, deixando e muitas vezes o momento passa e não falamos ou fazemos o que temos vontade.
Não seria muito mais fácil, muito mais natural, muito mais gostoso e ambos não ficariam mais felizes se ele tivesse tido a coragem de ligar?
Por que é muito mais fácil termos a coragem de brigar, discutir e falar palavras que às vezes magoam, do que falar que amamos, ter um gesto de carinho?
Acho que isso daria um bom post, Renato...sorriso.