sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Estou revoltado!

Eu bem que tentei dar um "toque" mais literário, mais leve a este blog, mas não consigo ficar calado diante das barbaridades que são ditas pelo nosso presidente. A briga pela CPMF esquentou e alguns dizem que a CPMF "subiu no telhado".

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva atacou empresários e políticos que são contra a prorrogação da CPMF. "Quem tem medo da CPMF é quem sonega imposto", afirmou, ao discursar na inauguração de uma ponte e um trecho da BR-259 em Colatina (ES).
Pois bem, vamos dar um desconto e considerar que o presidente disse isto no calor de um discurso, MAS ao fazer tal afirmação atribuiu conduta criminosa à maioria de brasileiros que trabalham como empresários e que lutam - muitas das vezes - contra um governo corrupto e que presta serviços de péssima qualidade.
Em primeiro lugar, a afirmação de Lula é mentirosa. Eu sou contra a CPMF e não sou sonegador. Agora, e a turma do Mensalão? E o Sr. Duda Mendonça, Sr. José Dirceu, Sr. Delúbio Soares? Será que eles pagam os impostos direitinho?
Dizer que todo mundo que é contra a CPMF sonega imposto é um artifício da tortuosa lógica petista. Viramos inimigos do povo! Isto me lembra uma peça brilhante, escrita pelo dramaturgo noruguês Henrik Ibsen. A peça chama-se "Um inimigo do povo". Não é o único exemplo. Há outros grandes exemplos na literatura que tratam da questão da defesa de princípios, ainda que isto custe a vida.
Lula, ao fazer a afirmação, tentou desqualificar milhões de brasileiros que assinaram um abaixo assinado contra a CPMF, que são reféns de uma Receita Federal que age com ilegalidade em determinados casos, que são órfãos de um tributo que deveria ter melhorado a saúde, e não servido para aparelhar a máquina estatal.
A não aprovação da CPMF obrigará o governo a enxugar a máquina pública, a melhorar a gestão da coisa pública, e trabalhar mais com menos recursos. É isto que todo empresário faz quando o governo aumenta sua participação na fatia do lucro das empresas.
Só espero que os senadores tenham coragem de derrubar a CPMF. A esperança não morre nunca!

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Crônica: Página de um diário



Roberto chegou ao escritório, mais cedo que de costume. Abriu a gaveta e tirou um caderno espiralado, de capa preta e folhas num tom de areia. Havia comprado há algum tempo para servir como um diário. Estava intacto aguardando o momento em que precisasse, ou criasse coragem para derramar seu interior naquelas folhas. Hoje era o dia. Não pôs data. O ambiente, ainda silencioso, era o pano de fundo perfeito para o mergulho interior.

"Te compreendi como nunca, enquanto me ajeitava no sofá para tentar dormir. Um vazio inundava meu ser que misturava-se com ódio e ira. Um grande caldeirão de sentimentos negativos, com um gosto de amor murcho no fundo, mofado, que azedava o caldo fervente. E como estava fervente! Não pude deixar de pensar em você e sentir tua dor, tua angústia, teu medo, que devem ter sido muito semelhantes ao meu. Não havia mais ponte a ser cruzada, não havia mais diálogo possível. Tudo desmoronara, principalmente a minha ingenuidade de achar que um relacionamento seria salvo e mantido com comunicação. Não sabia que há horas em que a comunicação desaparece, que se fala com uma parede, ou com um ser surdo e mudo. As línguas se tornam ininteligíveis e o esforço por compreendê-las desaparece. Apenas gritos, socos na mesa, palavrões, temas ressuscitados...as lágrimas não se fizeram presentes ainda, só a ira, o ódio, a raiva. As brigas de final de dia foram isto: brigas profundas, com marcas que talvez não cicatrizem. Agressões emocionais que atacam a auto-estima e o valor interno de cada um. ‘Imbecil, idiota, imprestável, inútil, ignorante, ingênuo’. Todas estas palavras começando com a letra i.“

Roberto achou graça nesta constatação e no meio desta observação irrelevante - que também começa com i -, ele sorriu. Um primeiro sorriso em alguns dias, nem se lembrava mais.

Seu interior era um deserto árido, ressecado por um longo fim de semana, interminável - com i também -, sufocante, indigesto. Conviver ao lado da mulher havia se tornado uma tormenta, um situação desagradável. Não conseguia sentir-se confortável ao lado dela. Tudo o incomodava. Havia chegado a um ponto em que tudo era motivo de implicância, e ele sabia bem que isto era um péssimo sinal. Implicava com as roupas, o sapato, o penteado, o elástico de meia velha que prendia o cabelo, o brinco que sempre se repetia, a toalha amarfanhada no banheiro, o shampoo fora do lugar, o açúcar que era sempre deixado sobre a mesa após o café da manhã...E a lista crescia. Roberto anotava tudo mentalmente. Tudo represado para lhe mostrar que ela não estava nem um pouco preocupada com as coisas que ele dizia e pedia. Caíam no esquecimento, afinal fazia mais de 2 meses que ele pedira a ela que pregasse um botão em seu terno. Esquecido o terno, esquecido estava Roberto. Parecia um fantasma ambulante, um homem invisível, pelo menos quando interessava, porque havia momentos em que a invisibilidade não funcionava nunca. Ele bem que tentava, mas ela o perseguia e não deixava que a invisibilidade funcionasse.

As noites mal dormidas no sofá da sala. Estas noites eram o sinal, um passo dado que não tinha volta. ‘Seria hora de procurar uma terapia de casais?’, pensou. ‘Ou seria tarde demais?’

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Janelas abertas

(São Luís, Maranhão)


No fim de semana, um comentário de Bruno Azevedo, nosso leitor de São Luís, sobre o livro Janelas Fechadas, de Josué Montello, fez-me refletir.


Janelas Fechadas foi o primeiro livro que comentei neste blog. Abri as janelas do blog com 3 textos com comentários e reflexões sobre a obra. Os textos foram: Janelas Fechadas (1) , Janelas Fechadas (2) e O Bonde e a Janela.


Escreveu o leitor:


"(...) ai tem também uma discussão sobre a modernidade, ao meu ver. Se você conhece São Luís deve conhecer o anil e saber o que ele representa hoje na ilha. Em Janelas Fechadas tem tudo isso ai chegando. E as pessoas esperam, esperam. Fantástico!"


Infelizmente não conheço São Luís e não consigo relacionar o Anil e sua importância para a ilha. Confesso que ler sobre lugares que não conheço me deixa um pouco aflito. Parece que não consigo me situar, como se estivesse num lugar sem um mapa. Mas, Bruno fala da modernidade. As personagens da obra esperam algo. Uma constante espera, esperança inesgotável. Benzinho espera uma carta que não chega. D. Binoca espera o tempo passar. E o bonde sempre passa diante da janela da família.


Achei interessante a referência à modernidade. É uma interpretação válida e que pode ser extraída da obra. Esperam a modernidade, o progresso, uma mudança que levará novos ares e que permitirá virar a página. Talvez o desfecho da obra, quando Benzinho resolve ceder, finalmente, aos interesses de José Senhor, indique exatamente este ponto crucial de mudança. Ela pára de esperar e age. Muda, vira a página e segue adiante.


As janelas abrem-se para novas experiências, para novas oportunidades, para a vida e cria-se espaço para as mudanças.

domingo, 25 de novembro de 2007

Um pouco de poesia de Álvaro de Campos


Um pouco de Álvaro de Campos para embalar as reflexões num domingo preguiçoso e abafado.


Estou vazio como um poço seco.
Não tenho verdadeiramente realidade nenhuma.
Tampa no esforço imaginativo!


(sem data e título - Poemas de Álvaro de Campos/Fernando Pessoa. edição de Cleonice Berardinelli. Rio de Janeiro : Nova Fronteira, 1999, p. 316)



Um ser oco por dentro, assim como o poço seco. Vazio de emoções, vazio de sentido, vazia a realidade. Plana a realidade, sem relevo, sem dimensão. Escuridão que faz com que se caminhe lentamente, tateando o redor, com passos curtos e titubeantes. Momentos que afligem e inquietam, mas momentos que todos - uma vez ou outra - enfrentamos.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Para rir com o Incrível Hulk

Vou dar crédito a quem merece. Então não vou reproduzir as fotos, mas apenas o link.

Visitem este post no Blog do Anderson. É de morrer de rir. Aquele humor que só brasileiro sabe fazer.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Dúvida cruel

Extraído do Blog do Reinaldo Azevedo, postado hoje:

"Se alguém imagina que, não votando na CPMF, vai criar algum problema com o governo, é um ledo engano. As pessoas vão criar problema para os milhões de brasileiros que dependem do dinheiro do SUS (Sistema Único de Saúde)".

A fala acima é de Lula. Trata-se de uma confissão. Ele está assumindo que o PT, em 22 anos de oposição, atuou sistematicamente para prejudicar os brasileiros ao jamais votar uma proposta do governo — incluindo a CPMF. É justo, então, supor que, se o PT tivesse “colaborado com o povo", o país governado pelo PT seria um pouco melhor.

Ou será que, num país melhor, o PT jamais seria governo?

Dúvidas, dúvidas..."

É para se pensar. Esta a lógica petista!

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Politicamente correto


262 municípios param hoje no Brasil para celebrar o Dia da Consciência Negra. Mais um feriado. Um feriado para celebrar a morte de Zumbi dos Palmares, em 1695. Zumbi lutou pelo fim da escravidão e pela liberdade dos povos trazidos da África para trabalharem nos engenhos e nas fazendas brasileiras. A expressão povos não é um erro de digitação. A África não é composta de um único povo, mas de várias tribos, com culturas diferentes, estilos de vida diferentes, e no mais das vezes, odeiam-se mutuamente. Enfim, são diferentes.


Escrevi no post anterior sobre a massificação do comportamento e como a sociedade uniformiza, extraindo a identidade individual e como "ser diferente" tem algo de especial no mundo moderno. Antes que critiquem, não estou defendendo a desilguadade, mas sim a valorização das diferenças culturais e individuais.


A igualdade que se busca e que se propala num dia como hoje é a igualdade humana, sem distinção de cor, raça, sexo ou religião. O dia de hoje serve como uma data de reflexão, mas não precisava ser feriado.


O brasileiro só sabe que feriado é motivo para não trabalhar, mas pouco sabe da importância das datas e o que se comemora nestas datas. Até o Natal deixou de ser um dia de oração e reflexão, de reunião familiar, para se tornar uma data comercial.


Importamos a idéia do politicamente correto. Ouvi no rádio pela manhã que a cultura "afro-brasileira", os heróis "afro-brasileiros" etc. Por que mudar o nome das coisas ou dar um ar politicamente correto? Isto conduz a questões como quotas em universidades e outras políticas importadas dos EUA, onde a cultura de segregação exisitiu de forma violenta. Sou da opinião de que tais políticas não deveriam aplicadas no Brasil. Sim, sou contra as quotas em universidades. O sistema deveria ser outro, privilegiando a educação pública básica, ao invés de garantir o acesso à universidade a pessoas sem condições de frequentar um curso universitário, independente de raça, cor, credo ou sexo.


Estas políticas separam, segregam mais do que unem. É uma política que trata seres humanos iguais, de forma desigual. Se somos todos iguais, independente de cor, raça, credo ou sexo, por que alguns precisam de uma nota mais baixa para ingressar num curso universitário? E depois que ingressam, não conseguem acompanhar o ensino que lhes é dado gratuitamente.


Dias como o de hoje deveriam servir para reflexão e união, sem necessidade de se parar metade do país. Aprender a respeitar as diferenças é algo que enriquece e cria a beleza da multiplicidade cultural do Brasil. Porém, estas diferenças não podem servir de motivo para a criação de privilégios politicamente corretos.

domingo, 18 de novembro de 2007

Mundo de aparências

Brinquedos Fisher Price, calcinhas Victoria’s Secret, tacos de golfe Callaway, perua Land Rover. A lista de itens adjetivados por marcas é um traço característico em As Viúvas das Quintas-feiras, de Claudia Piñeiro. As marcas, símbolo de status e de sucesso financeiro, são pinceladas ao longo do livro. No final, o retrato de uma sociedade é percebido pelo leitor. Não vislumbro apenas uma sociedade abastada típica de condomínios fechados, nem depreendi do livro uma crítica apenas às classes altas. Um paralelo entre o comportamento das classes abastadas e das classes menos favorecidas poderia ser traçado, e perceberíamos grandes semelhanças.

Entrar numa favela de São Paulo não é algo corriqueiro ou permitido a qualquer um. Quase toda favela tem um líder, alguém que precisa autorizar a entrada, ou então que saberá da presença de um intruso em pouco tempo após o estranho adentrar em seu território. Marcas e grifes também são sonho de desejo e consumo de jovens e moradores destas comunidades. Ao invés de tacos de golfe, preocupam-se com os tênis e óculos escuros. Guardadas as devidas proporções, o paralelismo dos dois mundos é factível e revela enormes semelhanças.

Semelhanças que indicam algo muito característico do mundo contemporâneo – e criticado por Claudia Piñeiro nas entrelinhas de sua obra -, um mundo que se baseia muito mais na apareência do que no conteúdo. Daí a frase de Rilke ser muito propícia para esta discussão.

Julgamos as pessoas pela aparência, na maioria das vezes. Esquecemos o conteúdo, as qualidades, os princípios. A busca desenfreada – e ressalto o desenfreada – pela beleza, por tratamentos estéticos, por dietas suicidas, onde mulher busca igualar-se ao um padrão dado pela indústria e pela televisão. Um padrão uniforme, que dissolve as diferenças e torna todas muito semelhantes. Perde-se a unicidade, a beleza do individual, a beleza do ser diferente.

O mundo pasteuriza certas condutas e valoriza mais a aparência. Numa passagem de As Viúvas das Quintas-feiras, o filho de Virginia – a protagonista do livro – é incluído numa lista dentro do condomínio por ser um potencial consumidor de droga. Ele fumou maconha algumas vezes. Virginia se desespera, muito mais preocupada com “o que vão falar” do que com a saúde do filho, com as causas do consumo da droga, com a forma como sua conduta contribuiu para esta conduta. Importa a aparência e não o conteúdo.

Não vou escrever um post gigantesco - se bem que as idéias querem ganhar o papel -, e vou terminar apenas citando alguns outros exemplos disto. No Estadão de hoje (p. D14), a crônica Nosso Avesso, de Luis Fernando Veríssimo aborda o tema de outra forma. Escreveu: “Você e eu também temos a personalidade que aparece e os seus fundos, e quem vê nossa cara (que é o nosso avesso, como escreveu a Clarice Lispector) nem sempre adivinha a confusão que tem lá atrás.

A aparência ganha força também no modo como as coisas são ditas. A palavra democracia, por exemplo, foi definida de forma obtusa nesta semana que passou. O povo passou a ser o detentor da sabedoria divina, independente da existência de direitos e garantias individuais. Mussolini e Hitler foram eleitos pelo povo e mantiveram-se no poder com o apoio popular. A democracia pode ser aparente, mas é preciso avaliar o conteúdo do regime que se diz democrático. Em outras palavras, não importa o regime, o que importa é o exercício do poder. Acrescento: e como este poder é exercido.

Mas isto, é outra história e exige um outro post.

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Uma frase para pensar

"O nosso mundo é um pano de cena atrás do qual se escondem os segredos mais profundos."

Rainer Maria Rilke, poeta.

Ponto de partida para unir algumas idéias e introduzir o tema do próximo post onde voltarei ao tema de As Viúvas das Quintas-feiras, de Claudia Piñeiro.

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Poesia: HIPNOSE



HIPNOSE


Eu me perco nos teus olhos

Mar profundo

Sentimento infinito

No escuro dos teus olhos.

Inebriado, enlevado

Hipnotizado pelo encanto

Flutuo ao arrepio da realidade

Salto do corpóreo

E viajo no etéreo onde o tempo

É imóvel.

Paralisado nos teus olhos

Delicio-me com o calor interno

Que brota, que borbulha nas entranhas

Que revolve meu interior.

Perdido nos teus olhos

Nâo quero voltar à realidade

Só quero sonhar

Mergulhado no teu olhar.


(22 outubro 2007)

terça-feira, 13 de novembro de 2007

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Cala boca, Chávez!

O Rei Juan Carlos não se conteve e soltou um sonoro "Cala boca, Chávez!" durante uma sessão da Cúpula Ibero-Americana de Líderes no Chile.

Achei deliciosa a cena. Finalmente alguém teve coragem de dizer algumas poucas e boas para aquele fanfarrão. Só por que ele é presidente de um país, não tem o direito de chamar outros de fascistas (Chávez chamou o ex-primeiro ministro espanhol Aznar de fascista). Um líder tem que saber aceitar opiniões diversas com respeito, coisa que Chávez não sabe.

E a macacada latino-americana saiu em defesa de Chávez.

Apenas uma pergunta para reflexão: se as empresas espanholas pararem de investir na América Latina, quem vai investir? O novo xeque do petróleo?

Vejam o que está acontecendo na Bolívia. Tocou a Petrobrás para fora e agora não tem dinheiro para aumentar a produção de gás. E quem vai sofrer as consequências da incompetência e da moleza do governo brasileiro vai ser o cidadão que investiu no gás como combustível. Fica a triste lição: não dá para confiar no governo.

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Caçar porcos selvagens

Li este texto no 30&alguns e reproduzo:

Havia um professor de química em um grande colégio com alunos de intercâmbio em sua turma. Um dia, enquanto a turma estava no laboratório, o professor notou um jovem do intercâmbio que continuamente coçava as costas e se esticava como se elas doessem. O professor perguntou ao jovem qual era o problema. O aluno respondeu que tinha uma bala alojada nas costas pois tinha sido alvejado enquanto lutava contra os comunistas de seu país nativo que estavam tentando derrubar seu governo e instalar um novo regime. No meio da sua história ele olhou para o professor e fez uma estranha pergunta:

O senhor sabe como se captura porcos selvagens?”

O professor achou que se tratava de uma piada e esperava uma resposta engraçada. O jovem disse que não era piada.

“Você captura porcos selvagens encontrando um lugar adequado na floresta e colocando algum milho no chão. Os porcos vêm todos os dias comer o milho gratuito. Quando eles se acostumam a vir todos os dias, você coloca uma cerca, mas só em um lado do lugar em que eles se acostumaram a vir. Quando eles se acostumam com a cerca, ele voltam a comer o milho e você coloca um outro lado da cerca. Mais uma vez eles se acostumam e voltam a comer. Você continua desse jeito até colocar os quatro lados da cerca em volta deles com uma porta no último lado. Os porcos que já se acostumaram ao milho fácil e às cercas, começam a vir sozinhos pela entrada. Você então fecha a porteira e captura o grupo todo. Assim, em um segundo, os porcos perdem sua liberdade. Eles ficam correndo e dando voltas dentro da cerca, mas já foram pegos. Logo, voltam a comer o milho fácil e gratuito. Eles ficaram tão acostumados a ele que esqueceram como caçar na floresta por si próprios, e por isso aceitam a servidão.”

O jovem então disse ao professor que era exatamente isso que ele via acontecer neste país. O governo ficava empurrando-os para o comunismo e o socialismo e espalhando o milho gratuito na forma de programas de auxílio de renda, bolsas isso e aquilo, impostos variados, estatutos de proteção, cotas para estes e aqueles, subsídio para todo tipo de coisa, pagamentos para não plantar, programas de bem-estar social , medicina e medicamentos gratuitos, sempre e sempre novas leis, etc, tudo ao custo da perda contínua das liberdades, migalha a migalha.”


Uma fábula cheia de realidade!

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Crônica: O Banco


O BANCO

Pronto. Estou pronto. Só falta o verniz fresco secar e irei para minha nova morada. Começar uma vida cheia de aventuras. As ripas novas presas nos suportes de ferro. Tudo com brilho fresco, estalando de novo. Basta esperar e para dentro de um caminhão irei. Depois para uma loja, ou direto para o destino final. O ponto final poderia ser uma praça para ficar ao relento. Ou talvez um lugar mais protegido e elegante como um shopping center. Ou talvez numa fazenda histórica ou sítio no campo, com ar puro, pássaros cantando, noites enluaradas, mas sujeito a chuvas, trovoadas, orvalho, frio.

Quem sabe não irei para um mosteiro, debaixo de arcadas silenciosas, com vista para o pátio interno. O som do canto gregoriano, o passo leve dos monges, as orações entoadas em uníssono, a conversa pausada e tranquila, serena. Muita paz, muito silêncio. Ou então para uma praia, com vista para o mar, as ondas, as pessoas aglomeradas. Mas tem a maresia, a ressaca, a areia, o vento. Para onde irei, não sei. Todos estes lugares parecem tão atraentes, tão cheios de vida.

Tenho que aguardar até amanhã quando meu destino será traçado e passarei a trabalhar. Trabalhar, sim, banco também trabalha. Alguns se sentarão, outros se apoiarão, outros dormirão estirados nas minhas madeiras. Ouvirei sussurros, lamentos, murmúrios, cochichos, sorrisos, choros, gritos. Presenciarei brigas, beijos, abraços, segredos, carinhos, cafunés, fofocas. Sempre ouvimos de tudo um pouco. Afinal, ficamos ali, parados, no aguardo de sermos notados.

Esperando um casal de namorados, ou um idoso cansado, ou um mendigo sem rumo, ou crianças que subirão e pisarão em mim. Tantas coisas, tantas vidas, tantos eventos que testemunharei paciente e imóvel. Quem sabe não vou poder escrever um livro sobre tudo que vou testemunhar? Quem sabe não vou morar perto da casa de um escritor? Ou quem sabe não me mandam para um lugar cheio de imortais e escritores? Ah, sim, lá vou ter inspiração de sobra e vou ter com quem conversar, pois escritor vive falando sozinho, pensando em voz alta, delirando. É isto que quero: ser um banco diante do busto de Machado de Assis, na porta de entrada da Academia.

Gritaria

Tenho alguns amigos, pessoas esclarecidas e cultas, que desistiram de acreditar no poder do voto. Desiludidos, diante da impotência de suas vozes que não sou ouvidas, resolveram não votar mais. Eu discordo de tal posição. Entendo a posição deles, mas não concordo. Podem me achar ingênuo, idealista, sonhador, crédulo, mas sou insistente. Acredito nas minhas convicções e procuro fazer minha parte.

Confesso, porém, que tenho me sentido órfão com as últimas decisões de nossos legisladores. Não temos um partido de oposição sério, que saiba fazer oposição. A novela da CPMF mostrou que o PSDB é um partido em constante crise existencial, como escreveu Dora Kramer no Estadão de ontem. Agora o PSDB decidiu votar contra a CPMF. Vamos ver se eles mantêm a palavra.

Outro ponto é a questão do 3o. mandato do Presidente Lula, tema sobre o qual já escrevi bastante neste blog e que venho alertando as pessoas. Alguns riram, outros me acharam louco. Mas no final, acho que estava certo que este risco existe.

Por fim, há a questão do imposto sindical. Uma excrescência que vem de herança de Getúlio Vargas, dos anos 1940, de caráter fascista. Os tempos são outros, mas os sindicatos e os sindicalistas vivem disto. Então um deputado propõe acabar com o imposto sindical que "rouba" um dia de trabalho do empregado para financiar pelegos. O Senador Paulo Paim disse que vai mexer no projeto de lei para a contribuição seja facultativa, só que quem vai decidir é a assembléia do sindicato. Em suma, não vai mudar nada.

Eu continuo gritando e falando e escrevendo. Ainda bem que este espaço é meu e ninguém pode me calar!

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Estórias parecidas

A última crônica (Passos no Infinito) que escrevi trouxe alguns comentários muito interessantes. As crônicas sempre geram mais comentários do que os posts normais e isto provoca, no sentido de gerar um debate sadio.

A escreveu:

"É duro perceber que quem está perto é míope pras nossas necessidades, vontades, desejos...Parece uma história que conheço, com outros personagens, com sentimentos semelhantes. Um dia eu te conto..."


Toda vez que me ponho a escrever alguma coisa, ou quando vem a inspiração e tudo brota instantaneamente - parece até miojo, que depois de 3 minutos está pronto -, fico pensnado se aquilo que escrevo vai conseguir dizer alguma coisa a quem lê. Ou seja, se vou conseguir me comunicar com o leitor. Claro que cada leitor vai interpretar aquilo que lê com base em suas próprias referências e experiências, mas tento criar situações que possam ser universais, que muitas pessoas possam se identificar.


Surpreendo-me quando consigo fazer isto e os comentários são sempre um indicativo de que aquilo que é narrado de forma imaginária parece real e palpável. E isto ocorre também com estórias infantis e contos de fada, que tem uma função importante na formação da consciência e do caráter das crianças, além de instigar a leitura.


A semelhança entre as estórias de pessoas tão diferentes e de locais distantes mostra como há preocupações parecidas entre nós, seres humanos. Mudam os lugares, os rostos, os nomes, mas a vida é sempre parecida.

sábado, 3 de novembro de 2007

Vinicius de Moraes : Revolta

REVOLTA

Alma que sofres pavorosamente
A dor de seres privilegiada
Abandona o teu pranto, sê contente
Antes que o horror da solidão te invada.

Deixa que a vida te possua ardente
Ó alma supremamente desgraçada.
Abandona, águia, a inóspita morada
Vem rastejar no chão como a serpente.

De que te vale o espaço se te cansa?
Quanto mais sobes mais o espaço avança...
Desce ao chão, águia audaz, que a noite é fria.

Volta, ó alma, ao lugar de onde partiste
O mundo é bom, o espaço é muito triste...
Talvez tu possas ser feliz um dia.

(As Coisas do Alto. São Paulo : Companhia das Letras, 1993, p. 65)

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

As Viúvas de Quintas-Feiras



Este é o título do último livro de Claudia Piñeiro, escritora argentina de 47 anos. O livro fez grande sucesso na Argentina - vendeu mais de 150 mil exemplares -, e agora foi lançado no Brasil pela Alfaguara (256 páginas, 2007). Ganhou o prêmio Clarín, que incluiu no júri José Saramago.



Estou nos últimos capítulos do livro e vou comentar um pouco nos próximos posts.


A narrativa é ágil e a leitura é muito agradável. Em crítica publicada no dia 28 de outubro de 2007 no Jornal Estado de São Paulo, Eric Nepomuceno trata a obra como "densa e profunda". Achei estranha a conclusão, mas depois compreendi o que ele quis dizer. Numa leitura superficial, o livro parece fútil. Não em termos de qualidade literária, mas na forma como a estória é conduzida. Na verdade, a futilidade demonstra - sem criticar - como as pessoas dão mais valor à aparência do que ao conteúdo. É o famoso conflito do ter e do ser.


Claudia Piñero conta uma estória da classe média alta argentina, que se foge da cidade para um country - condomínio fechado de alto padrão nos arredores de Buenos Aires. Algo semelhante aos bairros de Alphaville, em São Paulo, aos condomínios fechados na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Trata-se de uma estória cosmopolita que se aplica à maioria das cidades grandes ao redor do mundo, principalmente na América Latina, com a disparidade de renda.


Iniciei a leitura sem grandes expectativas, mas confesso que tenho que rever minha posição e concordar com Eric Nepomuceno: a obra tem profundidade, só que a profundidade está escondida nas aparências.


A sinopse abaixo foi trazida do site da Siciliano:


"Neste livro, Cláudia Piñeiro descreve uma classe obcecada por conforto e segurança. A história se passa no condomínio Altos de la Cascada, reservado a famílias abastadas de Buenos Aires, Argentina, e aparentemente imunes à crise econômica que abala o país. No condomínio, donas de casa se preocupam em manter a piscina e o jardim impecáveis, enquanto os homens fecham grandes negócios entre partidas de tênis. Ali, um grupo seleto de conhecidos se reúne semanalmente, longe dos olhares dos filhos, das empregadas domésticas e das esposas, que, acostumadas à exclusão periódica, se autodenominam "as viúvas das quintas-feiras". Mas o cotidiano naquele que parece ser o mundo perfeito é quebrado por um acontecimento dramático - três corpos são encontrados no fundo de uma das luxuosas piscinas. As misteriosas mortes irão revelar o lado obscuro de uma sociedade em que nada é tão perfeito quanto parece."