Trechos de Órfãos do Eldorado, de Milton Hatoum (Cia. das Letras, 2008):
"Não lembrava com nitidez do rosto; dos olhos, sim, do olhar. Rever o que foi apagado pela memória é uma felicidade. Tudo voltou: o sorriso, o olhar vivo no rosto anguloso, olhos mais puxados que os meus." (p. 31)
"O olhar de Dinaura era o que mais me atraía. Às vezes um olhar tem a força do desejo." (p. 31)
"Não lembrava com nitidez do rosto; dos olhos, sim, do olhar. Rever o que foi apagado pela memória é uma felicidade. Tudo voltou: o sorriso, o olhar vivo no rosto anguloso, olhos mais puxados que os meus." (p. 31)
"O olhar de Dinaura era o que mais me atraía. Às vezes um olhar tem a força do desejo." (p. 31)
"Olhei desconfiado para Florita, e esperei outras palavras sobre o sonho, mas ela saiu em silêncio. Os sonhos e o acaso me levavam para um caminho em que Dinaura sempre aparecia." (p. 33)
"Ela escapava sem dizer palavra. Não sei se escapava: era o silêncio que dava impressão de fuga." (p. 37)
Separei estes trechos após escrever o post anterior sobre as palavras e o silêncio. O acaso sempre tem um papel importante no encadeamento das idéias, na inspiração, na forma de decifrar os mistérios da vida. Parece que o acaso se torna algo incrivelmente presente, bastando que nos atentemos para os fatos.
No post anterior, procurava mostrar o silêncio decorrente da alegria, da felicidade que nos deixa sem palavras. A falta de palavras é uma manifestação tão doce, tão sincera quando nos deparamos com um fato que simplesmente não conseguimos traduzir em palavras. Realidade cantada em prosa e verso. Quantas músicas descrevem o estado de transe, o estado sublime pelo qual somos tomados diante de uma surpresa ou de um simples gesto que nos toca profundamente? E quantas vezes nos faltam palavras?
Milton Hatoum, em seu mais novo livro, cria uma ilusão com a palavra, o olhar e o silêncio. Isto é notável depois de um terço do livro. Dinaura, a mulher amada por Arminto, comunica-se com o olhar e raras palavras. Quase não há diálogo. Há gestos, olhares, toques. É perceptível como o escritor utiliza estes três aspectos para instigar o leitor. E como falava eu de palavras - ou a falta delas -, dou mais um passo com o olhar e as palavras, socorrendo-me da obra de Milton Hatoum.
Ele fala do silêncio também e acho que o próximo tema já está dado. Tenho mais 2 posts prontos, mas não vou fugir da linha de raciocínio. Os comentários ao último post instigaram-me a continuar nesta linha. Sobre o silêncio, falemos amanhã.