Autocaricatura de Drummond
Carlos Drummond de Andrade nasceu em 31 de outubro de 1902 e é preciso preservar na memória um dos grandes poetas brasileiros. Mineiro de Itabira, em Minas Gerais, Drummond renovou e inovou na poesia brasileira. Alguma Poesia, sua primeira obra, foi lançada em 1930, indicava integrante do Modernismo que proclamava a liberdade das palavras, rompendo com os movimentos literários anteriores.
Neste pequena lembrança, trago-lhes o poema Mãos Dadas.
MÃOS DADAS
Carlos Drummond de Andrade
Não serei poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi o suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.
(Antologia Poética. 26a. ed. Rio de Janeiro : Record, p. 118)
O primeiro verso repisa a libertação propalada pelo Modernismo, mas o poema, recheado com toques sociais engajados (não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida e olho meus companheiros), aborda o momento presente, a vida presente com a sensibilidade que perscruta a beleza do gesto singelo e corriqueiro.
De mãos dadas, o poeta capta a alegria interior de ter alguém para dar as mãos e da magnitude do momento, daquele momento que se torna único e faz parte "de uma história". Não se derrama com exageros, mas sugere ao leitor que aprecie o momento presente e saiba saborear a vida.
Acompanhado, o poeta não se sente só, mesmo diante da "enorme realidade". O poeta convida a viver o presente, sem ficar preso ao passado que imobiliza. "O presente é tão grande, não nos afastemos. / Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas".
Aproveitem o feriado e boa leitura!