INSTANTE
Ela saiu pisando duro. Ele aguardava-a, sereno, do lado de fora do prédio, pontual, como de hábito. Esboçou um sorriso ao vê-la caminhando em sua direção. Ela beijou-o no rosto, um beijo rápido, formal, displicente. Ele notou que algo lhe incomodava, que o dia havia sido difícil, que ela estava irritada. Ela desfiou uma ladainha de reclamações, xingou o chefe, xingou o computador, xingou o telefone que não parava de tocar, xingou o ar condicionado que estava muito gelado. Ele ouvia tudo em silêncio, atentamente, anotando mentalmente cada reclamação, cada detalhe negativo do dia dela. Ela soltou a voz e sabia que ele pacientemente ouviria cada resmungo, cada palavra indignada. Ele esperou e ela foi perdendo o fôlego.
Caminharam algumas poucas quadras, ele em mudo, atento a ouvi-la. Ela parou num ímpeto, olhou-o e perguntou meio envergonhada:
- Estou muito ranzinza hoje, né? Só reclamo!
- Você está linda! - respondeu sem hesitar, a voz firme e forte. Não foi um sussurro, mas uma afirmação, intensa, cheia de afeto e que poderia ser ouvida por qualquer um que passasse ao lado deles. Disse a frase sem receio de ser ouvido e isto a desmoronou. O sorriso meio tímido dele a aqueceu por dentro.
Ela, envergonhada, baixou o olhar e deixou sua mão procurar a dele. Ainda fria do ar condicionado, os dedos finos e delicados contrastavam com o calor da mão dele. Os dedos se entrelaçaram e de mão dadas continuaram a caminhar, sem palavras. Com a mão livre, ela tocou a ponta do nariz dele e disse:
- Só você tem o dom de me desmontar deste jeito!
Agora, era ele quem enrubescia e deixara escapar as palavras. Seu rosto brilhou com a mudança do humor dela, sentiu um leve arrepio e um júbilo interior quase incontrolável. Pensou que tudo aquilo era bom. Era bom andar de mão dadas com ela.
Ela percebeu, naquele instante, que o passado não importava. Uma hora, um dia, um mês, um ano, dois anos, muitos anos. O passado evaporara com o simples gesto das mãos unidas. O dia de amanhã, incerto também, deixou de lhe afligir. Viveu o presente, o instante, o momento. O ponteiro do relógio parecia mover-se em ritmo preguiçoso.
O instante era infinito. O instante - aquele instante - era um marco.
Caminharam algumas poucas quadras, ele em mudo, atento a ouvi-la. Ela parou num ímpeto, olhou-o e perguntou meio envergonhada:
- Estou muito ranzinza hoje, né? Só reclamo!
- Você está linda! - respondeu sem hesitar, a voz firme e forte. Não foi um sussurro, mas uma afirmação, intensa, cheia de afeto e que poderia ser ouvida por qualquer um que passasse ao lado deles. Disse a frase sem receio de ser ouvido e isto a desmoronou. O sorriso meio tímido dele a aqueceu por dentro.
Ela, envergonhada, baixou o olhar e deixou sua mão procurar a dele. Ainda fria do ar condicionado, os dedos finos e delicados contrastavam com o calor da mão dele. Os dedos se entrelaçaram e de mão dadas continuaram a caminhar, sem palavras. Com a mão livre, ela tocou a ponta do nariz dele e disse:
- Só você tem o dom de me desmontar deste jeito!
Agora, era ele quem enrubescia e deixara escapar as palavras. Seu rosto brilhou com a mudança do humor dela, sentiu um leve arrepio e um júbilo interior quase incontrolável. Pensou que tudo aquilo era bom. Era bom andar de mão dadas com ela.
Ela percebeu, naquele instante, que o passado não importava. Uma hora, um dia, um mês, um ano, dois anos, muitos anos. O passado evaporara com o simples gesto das mãos unidas. O dia de amanhã, incerto também, deixou de lhe afligir. Viveu o presente, o instante, o momento. O ponteiro do relógio parecia mover-se em ritmo preguiçoso.
O instante era infinito. O instante - aquele instante - era um marco.
Um instante que lhe revelou que não estava sozinha, que alguém estava ali, por ela. Que as palavras dele eram sinceras, mesmo que ranzinza, mesmo que reclamona, mesmo que descabelada, mesmo com uma manchinha de molho de tomate que respingara do macarrão do almoço e que esquecera de disfarçar. O que importava, naquele instante para ele, era ela. Somente ela! E ele sempre a tratara assim.