quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Trechos de silêncio




"(...) Não, é um triste light. Depois, segue-se uma pausa. Para que reparemos como o silêncio é algo realmente genial. Todos têm o silêncio à sua disposição, mas apenas os artistas sabem usá-lo bem, ou tão bem. Mozart, neste caso, o faz como um quieto milagre de perfeição. Uma pausa como esta primeira, em 'Fantasia', depois daquela introdução vaga, serve para nos dar a consciência de como o vazio é repleto do divino. Sete segundos, de puro nada, e começa de novo a melodia, desta vez de forma mais delicada.(...)"


(Fernanda Young, Tudo que você não soube. Rio de Janeiro : Ediouro, 2007, p. 49)




O silêncio tornou-se um bem estranho, escasso na vida moderna, e talvez por isso, muito precioso. Invariavelmente, volto para casa dirigindo no silêncio. Não ligo o rádio. Vou ouvindo ou 'conversando' com meus pensamentos. Pensamentos silenciosos que talvez só eu ouça, que talvez não sejam sentidos - ou talvez sejam 'ouvidos' à distância -, mas que transportam-me para longe. Abstraio o trânsito, o cansaço, as contrariedades do dia.



O silêncio faz-me flutuar, leva-me a locais distantes, a imaginar rostos e sorrisos, a sonhar, a apreciar a beleza oculta da cidade. E é sempre um perceptível que este aparente vazio "é repleto do divino." Rejuvenesço nestes momentos que são energizadores.


Final de tarde é momento de refúgio. É momento de silenciar, de dedicar tempo ao que vale a pena. Recuso-me a atender o celular ou o telefone do escritório. Desfruto do silêncio, mas que jamais é solitário. Insipiro-me no silêncio e escrevo. Alguns textos para o blog, outros textos pessoais. E sei que o silêncio dá frutos, como a semente lançada na terra. Frutos, por vezes, invisíveis, mas sempre alegres e formosos. Frutos que ganham forma de palavras e o silêncio ganha vida.


Silêncio que nutre a alma de bons sentimentos e que dá coragem para compartilhar os bons sentimentos. Silêncio que é rico e iluminador. Silêncio que permite refletir e compreender um pouco deste mistério que é a vida. Silêncio - o seu - que convida-me a te entender, a me preocupar, a estar do seu lado.


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