sábado, 25 de dezembro de 2010

Noite de Natal


O Natal
Odylo Costa, filho

Na palha já velhas
do antigo curral
nasce o Deus menino.
E o reino animal,

seguindo os pastores,
logo se movia
para ver Jesus,
José e Maria.

E os anjos cantavam
por vales e céus
a paz entre os homens
e a glória de Deus:

alegria eterna,
sempre renovada,
notícia perene,
noite iluminada.

(Poesia Completa. Rio de Janeiro : Aeroplano : Fundação Biblioteca Nacional, 2010, p. 341)

FELIZ NATAL A TODOS!

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Noites de um Verão Qualquer, Skank



NOITES DE UM VERÃO QUALQUER
Composição: Samuel Rosa/César Mauricio

Noites de um verão qualquer
Eu me sufoco nesse ar
O corpo venta em preto
O chão devora o espaço ocular

Noites de um verão qualquer
Deixa que ela entenda o traço
Que invente a fuga por nós dois
Que sou seus pés, eu sou também seus braços

Noites de um verão qualquer
Dentro da febre desse abraço
Satélite voltou do céu
Eu sou o resto, sou também o aço

Noites de um verão qualquer
Sob sua pele encontrei abrigo
Pra gente se devorar
Na órbita do seu umbigo

Seguem infinitos metros
Pra perto desse abraço
Eu tento respirar
Desdar o nó que aperta esse laço

Noites de um verão qualquer
Deixa que ela entenda o traço
Que invente a fuga por nós dois
Que sou seus pés, eu sou também seus braços

* * * * *

Começando o verão no clima da estação. Calor, preguiça e um convite a tardes lentas numa rede. Momentos de luz e muito sol. Noites que demoram a chegar e premiam o astro rei com todo seu esplendor. A música é só um pouco da trilha sonora para aqueles momentos de final de tarde. O clipe oficial está disponível aqui.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Crônica: Dia de chuva



DIA DE CHUVA


A chuva contínua, desde a noite do dia anterior, fez com que seu dia começasse de forma pouco interessante. Consumido pela rotina, cansado pelas longas horas das últimas semanas – o que era típico no final de ano -,  amuado pela cobrança no trabalho e pelo aperto de tempo diante dos prazos e metas, a terça-feira começara pouco promissora. Mecanicamente cumpriu o ritual matutino. O rosto espelhava a falta de ânimo; os gestos se arrastavam em câmara lenta; as palavras escapavam-lhe da boca, quase que derramadas, sem qualquer firmeza e contundência. Só em pensar no trânsito daquela manhã, a vontade de  ficar em casa lhe tentou.  

Estoicamente, pensando unicamente no dever, deu início à sua jornada. Não havia motivo real ou concreto para sentir a tristeza lhe dominar. Lembrou das palavras da mãe que costumava dizer que “fulano está triste como dia de chuva”. Dias de chuva eram tristes, macambúzios, sombrios. O tilintar dos pingos não lhe diziam nada, não embutiam a poesia vislumbrada por poetas, nem indicavam um desejo de aconchego no lar ou num cantinho quente e iluminado.  Tolerava os dias de chuva, mas não os queria bem.

A chuva foi o cenário do seu trajeto até o trabalho. Dia cinza de trânsito lento e congestionado. Porém, o calor dera uma trégua e não precisou ligar o ar condicionado do carro, algo pouco usual para o mês de dezembro. Enfim, preferia o sol.

Passou pela portaria do prédio para pegar o jornal e recebeu um envelope pardo do tamanho de meia folha de papel. Pensou ser alguma encomenda de alguém do escritório, mas ao ver seu nome escrito e identificar o remetente, rapidamente seu semblante se transformou. Abriu cuidadosamente o envelope enquanto caminhava pelo hall do prédio, quase tropeçando no cinzeiro perto da porta do elevador. Era um livro! Um livro de poesias e uma pequena mensagem. Leu e releu a mensagem, detendo-se sobre o nome que assinava aquele gesto carinhoso.

O silêncio matutino foi quebrado som de sua voz  agradecendo em voz alta. Falava sozinho. Mesmo sabendo da distância, ele agradeceu com empolgação. Folheou o livro. Deteve-se em um e outro poema. Depois mais um e mais outro. Aquele pequeno envelope pardo havia trazido o sol de que tanto precisava. O sol que sempre se apresentava nestes momentos e que mais uma vez havia espantado a chuva interior.


quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Alfinetadas de Monteiro Lobato

"Fazia dois meses que o governo se preocupava seriamente com o caso do rinoceronte fugido, havendo organizado o belo Departamento Nacional de Caça ao Rinoceronte, com um importante chefe geral do serviço, que ganhava tres contos por mês e mais doze auxiliares com um conto e seiscentos cada um, afora grande numero de datilografas e "encostados". Essa gente perderia o emprego se o animal fosse encontrado, de modo que o telegrama de dona Benta os aborreceu bastante. Em todo caso, como outros telegramas recebidos de outros pontos do país haviam dado pistas falsas, tinham esperança de que o mesmo acontecesse com o telegrama de dona Benta. Por isso vieram. Se tivessem certeza de que o rinoceronte estava mesmo lá, não vê que vinham!"
(Monteiro Lobato. Caçadas de Pedrinho. 2a. ed. São Paulo : Brasiliense, 1950, p. 84. A transcrição respeitou a grafia original da edição consultada.)

Volto ao livro que queriam censurar. De fato este trecho traz um ranço preconceituoso, pois Monteiro Lobato não mede palavras para criticar o funcionário público "encostado", aquele que tradicionalmente pendurava o paletó na cadeira apenas para marcar presença, mas trabalhar que é bom...

A crítica é direta e atual. Basta olhar os jornais de hoje que tratam do fantasioso PAC, do Ministério da Pesca e sua futura titular, a Senadora - futura desempregada - Ideli Salvati (juntamente com Aloizio Mercadante), do dia de ontem, quando o Judiciário brasileiro parou para comemorar o dia da Justiça, e por aí seguimos.

Aliás, acho que o Poder Judiciário não trabalha um mês do ano sem ter um feriado, uma folga ou um ponto facultativo. Janeiro ainda é recesso ou férias forenses; fevereiro ou março tem carnaval; abril tem Páscoa; maio traz o dia do trabalho; junho comemora-se o Corpus Christi; julho, no Estado de São Paulo, para no dia 9 para comemorar a Revolução Constitucionalista; setembro tem a Proclamação da Independência; outubro o dia da padroeira do Brasil; novembro tem finados, Proclamação da República e o dia da consciência negra; dezembro - ufa, cansado de tanto dia para descanso - traz o dia da justiça (8 de dezembro) e o início do recesso, Natal, Ano Novo etc.  E ainda tem o dia do funcionário público que não me lembro quando é. 

Só agosto escapa! O único mês do ano em que não há uma folguinha para juízes, promotores, cartorários e todos os outros com suas jornadas de trabalho de 6 horas, diferente de todos os outros mortais que trabalham 8 horas diárias.

E os juízes e promotores queriam 60 (SESSENTA!!!!) dias de férias por ano, como está sendo discutido no Congresso Nacional! 

Monteiro Lobato tinha razão: emprego público é uma beleza!

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

A manchete enganosa e a educação

Foram divulgados os resultados do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa, em inglês). O exame é realizado a cada três anos pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e mede o desempenho de alunos em leitura, matemática e ciências.

O melhor desempenho do Brasil foi em leitura e ficamos na 52a. colocação dentre os 65 países avaliados. Um resultado pífio, vergonhoso. Os dados completos estão disponíveis no Estadão e na Veja. Prestem atenção na classificação por notas e vejam que há países latinoamericanos acima do Brasil na lista.

Mas se algum desavisado lesse a notícia no site do Estadão hoje pela manhã, lá por volta das 7:30 horas,  deveria ficar de pé, cantar o hino nacional, soltar fogos de artifício, ligar para o Palácio do Planalto para parabenizar o presidente, bradar com alegria que é brasileiro com muito orgulho, que temos do que nos ufanar...bem, esta palavra talvez não seja compreendida pelos alunos brasilieiros que fizeram a prova. 

A manchete do Estadão era algo do tipo "Brasil é um dos países que teve melhor desempenho no Pisa". Foi alterada por "Brasil melhora em avaliação internacional, mas continua um dos piores do mundo." Não se trata de torcer contra; trata-se de exigir que o jornal retrate na manchete o que vem no texto abaixo, sem ilusões,  sem enganar o leitor e sem o caráter panfletário ufanista.

A chamada no site da Veja era mais comedida: "Desempenho de alunos brasileiros está bem abaixo do ideal."

Curioso como um jornal deste nível comete um erro tão básico. Aliás, isto tem se repetido com vários meios de comunicação impressos. Basta um pouco de atenção, um olhar mais crítico. Por que isto? Porque quem escreve é produto de má qualidade da educação brasileira.

O Brasil precisa melhorar muito no quesito educação. Nas últimas eleições, ninguém tratou do assunto. Os dois partidos deixaram a desejar neste ponto. O Brasil só não piora porque há milhares de heróis por este país que se esforçam dia e noite para educar e ensinar. Devemos nos orgulhar dos professores apaixonados pela tarefa de educar. 

Quanto ao governo e ao Ministério da Educação, é hora de fazer uma profunda avaliação crítica de como o dinheiro é gasto. Talvez seria o caso de mandar o Ministro Fernando Haddad de volta para a escola.


quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Epígrafe - VI

"Costume dizer que o sentido da vida é o outro. Tudo o que a gente faz é para o outro. Vamos sumir. O que vai restar de nós estará no outro. Se sou um escritor, é a minha obra que o outro vai ter e passar adiante. A lembrança, os afetos, é no outro que sobrevivemos."

Ferreira Gullar (Pessoa - Revista de literatura lusófona, Ano I, Número 1, out/dez 2010, p. 14)