"Fazia dois meses que o governo se preocupava seriamente com o caso do rinoceronte fugido, havendo organizado o belo Departamento Nacional de Caça ao Rinoceronte, com um importante chefe geral do serviço, que ganhava tres contos por mês e mais doze auxiliares com um conto e seiscentos cada um, afora grande numero de datilografas e "encostados". Essa gente perderia o emprego se o animal fosse encontrado, de modo que o telegrama de dona Benta os aborreceu bastante. Em todo caso, como outros telegramas recebidos de outros pontos do país haviam dado pistas falsas, tinham esperança de que o mesmo acontecesse com o telegrama de dona Benta. Por isso vieram. Se tivessem certeza de que o rinoceronte estava mesmo lá, não vê que vinham!"
(Monteiro Lobato. Caçadas de Pedrinho. 2a. ed. São Paulo : Brasiliense, 1950, p. 84. A transcrição respeitou a grafia original da edição consultada.)
Volto ao livro que queriam censurar. De fato este trecho traz um ranço preconceituoso, pois Monteiro Lobato não mede palavras para criticar o funcionário público "encostado", aquele que tradicionalmente pendurava o paletó na cadeira apenas para marcar presença, mas trabalhar que é bom...
A crítica é direta e atual. Basta olhar os jornais de hoje que tratam do fantasioso PAC, do Ministério da Pesca e sua futura titular, a Senadora - futura desempregada - Ideli Salvati (juntamente com Aloizio Mercadante), do dia de ontem, quando o Judiciário brasileiro parou para comemorar o dia da Justiça, e por aí seguimos.
Aliás, acho que o Poder Judiciário não trabalha um mês do ano sem ter um feriado, uma folga ou um ponto facultativo. Janeiro ainda é recesso ou férias forenses; fevereiro ou março tem carnaval; abril tem Páscoa; maio traz o dia do trabalho; junho comemora-se o Corpus Christi; julho, no Estado de São Paulo, para no dia 9 para comemorar a Revolução Constitucionalista; setembro tem a Proclamação da Independência; outubro o dia da padroeira do Brasil; novembro tem finados, Proclamação da República e o dia da consciência negra; dezembro - ufa, cansado de tanto dia para descanso - traz o dia da justiça (8 de dezembro) e o início do recesso, Natal, Ano Novo etc. E ainda tem o dia do funcionário público que não me lembro quando é.
Só agosto escapa! O único mês do ano em que não há uma folguinha para juízes, promotores, cartorários e todos os outros com suas jornadas de trabalho de 6 horas, diferente de todos os outros mortais que trabalham 8 horas diárias.
E os juízes e promotores queriam 60 (SESSENTA!!!!) dias de férias por ano, como está sendo discutido no Congresso Nacional!
Monteiro Lobato tinha razão: emprego público é uma beleza!
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