terça-feira, 27 de abril de 2010

Poesia Completa de Vinicius de Moraes



O Projeto Brasiliana USP disponibilizou a obra poética completa de Vincius de Moraes. As obras estão digitalizadas e acessíveis no site da biblioteca. Trata-se de mais uma etapa na digitalização de obras importantes para a cultura brasileira. Organizadas em ordem cronológica, a poesia de Vinicius fica acessível a pesquisadores e ao público em geral. Os arquivos estão em formato pdf e podem ser baixados e arquivados.

A Brasiliana USP é um projeto da Reitoria da USP e é depositária do fantástico acervo de José e Guita Mindlin, que dão nome à biblioteca física. A digitalização do acervo permite o acesso amplo a documentos e livros antigos, fonte inesgotável de pesquisa sobre a cultura brasileira.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Criando leitores

A leitura não é algo inato e natural à criança. É preciso despertar o gosto pela leitura e pela literatura nos pequenos. Tenho aprendido na prática como fazer isto, com erros e acertos, mas com incentivo constante. Visitas a livrarias, ler junto com eles e demonstrar interesse sincero pelo livros que leem.

Muitas vezes crio estórias com eles. Eles começam, eu continuo e eles terminam. A criatividade infantil é algo fértil e permite inspirar ótimas estórias. Algumas das crônicas deste blog surgiram de estórias que foram criadas a partir de situações sugeridas pelos meus filhos.

Passar estas estórias para o papel, ou seja, iniciá-los na escrita é outra etapa. Tudo tem seu tempo, mas se a redação se transforma em algo lúdico e concreto, revela-se mais fácil e prazerosa. Recentemente deparei-me com este desafio.

Minha filha tinha que redigir uma estória como tarefa de casa. Deveria usar 3 personagens e criar diálogos. Esbarrou no título. Não tinha ideia do que denominar sua redação. Sugeri que deixasse o título por último. Mais 10 minutos se passaram e ela começou a ficar aflita. A estória não saía. Então, peguei 3 bonecos de playmobil e coloquei-os diante dela. "Pronto", disse-lhe, "aqui estão seus 3 personagens. Agora imagine a conversa deles e coloque no papel."

Ela sorriu e o bloqueio se foi. A redação ficou fácil e divertida e o título não demorou a surgir no meio do texto.

Achei fascinante como uma simples sugestão - e não fazer o trabalho por ela - ajudou-a a escrever o texto que precisava. Escrever deve, antes de tudo, ser um exercício prazeroso e lúdico, de modo a evitar que os pequenos não adquiram o gosto por algo tão importante na sua formação. E os pais têm papel fundamental nesta tarefa!

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Crônica: Seu Geraldo



SEU GERALDO


Nas minhas primeiras memórias de infância, desde que me recordo das manhãs de domingo, ele já fazia parte do meu cotidiano. Pontualmente às 9:30 da manhã, saíamos todos, a pé, rumo à Nossa Senhora do Brasil para a missa dominical. Morávamos na Rua México, bem perto da igreja, e sempre caminhávamos até lá, mesmo nos dias de chuva. Era um ritual familiar.


Ao contornar a esquina, através da praça, de longe eu avistava o carrinho, sempre estacionado ao final da escadaria de granito, mas sem atrapalhar o fluxo dos fiéis. O aroma da pipoca fresquinha e quentinha era sentido logo em seguida, completando a visão. A tentação era inevitável, mas meu pai, carinhosamente, não cedia aos meus pedidos.

- Antes da missa não, Eduardo! Devemos guardar o jejum e um pouco de sacrifício não lhe fará mal. – dizia toda vez em que eu pedia pipoca antes da missa.

Atrás do carrinho, um homem de estatura mediana, levemente grisalho, pele morena curtida pelo sol, um bigode bem cuidado e olhos negros e atentos. Era Seu Geraldo, o dono do carrinho de pipoca. Não se considerava um pipoqueiro, mas um vendedor de sonhos, como me disse uma vez. Um homem gentil, de coração enorme e sábio. Não era estudado, mas desde que chegou a São Paulo, vindo do interior, vendia pipocas diante a igreja. Somente pipocas. Nada de balas e outras guloseimas. Só pipoca, doce e salgada.

Quando a missa acabava, tinha vontade de sair em disparada até o carrinho, mas me continha. Andava sempre ao lado de meu pai e minha mãe. Vencida a porta principal da igreja, meu pai entregava-me o dinheiro para que eu fosse comprar o prêmio tão almejado. Corria pelos degraus e ficava parado diante do carrinho. Cumprimentava Seu Geraldo e esperava pacientemente ele fazer sua mágica. Os grãos dourados eram despejados na panela envelhecida pelo tempo. Acrescentava o óleo. O fogo alto trazia o som da explosão do milho que desabrochava em pequenos flocos brancos e apetitosos. O batuque na panela diminuía e Seu Geraldo lançava no carrinho a pipoca pronta, faltando apenas o sal, que era colocado a gosto do cliente. Imaginava que a pipoca seria como a neve, mas com um sabor incomparável.

Tinha prazer em observar aquele homem trabalhar e conversar com os clientes. Enquanto papai conversava com o Dr. Camargo e o Dr. Arruda Botelho, vizinhos de nossa fazenda no interior, eu era conduzido pelas palavras de Seu Geraldo.

Seu Geraldo vendia sonhos e alimentava estes sonhos. Era um leitor perspicaz de mentes e de olhares. Parecia saber exatamente o que dizer a cada cliente, a cada pessoa que se aproximava de seu carrinho. A alguns, recomendava que rezassem mais; a outros, que soubessem perdoar e seguir em frente. Sempre contava-me alguma estória, algum episódio, alguma conversa com um estranho que se aproximara para comprar pipocas.

- Sabe, Eduardo, as pessoas vêm à igreja por dois motivos: ou têm fé, ou precisam de alguma coisa. Elas vêm pedir uma graça. Ninguém vem à igreja para passear.- disse-me uma vez. Estes saquinhos com o milho estourado trazem um pouco de conforto e o cliente sempre leva um conselho. Alguns nem percebem, mas os saquinhos têm uma frase escrita no lado de fora. Escolho o saquinho conforme a cara do cliente. Sempre funciona. Eles compram a pipoca e saem andando. Então, notam a frase. Alguns, ao lerem, olham para trás e me lançam um sorriso. Estes sorrisos são minha recompensa.

Ele tinha razão. Percebi isto quando cresci e continuei a ir àquela mesma missa dominical. Naquela igreja casei, e lá estava Seu Geraldo no casamento, como convidado. Um certo domingo porém, havia uma outra pessoa trabalhando no carrinho. Estranhei aquilo e perguntei pelo Seu Geraldo.

- Ele voltou para Jaú. Me vendeu o carrinho e disse que não volta mais.

Fiquei espantado, surpreso, preocupado, afinal ele nunca dissera nada sobre ir embora. Entrei na igreja e com o olhar fixo na imagem de Nossa Senhora, rezei por aquele amigo, que tantas alegrias me dera na infância e na juventude.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Book

Para muitos, ainda hoje, trata-se de algo totalmente desconhecido, tanto em sua parte externa, como em seu conteúdo.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Vai começar o show!

A campanha eleitoral está nas ruas. José Serra e Dilma Roussef se desimcompatibilizaram de seus cargos. Marina Silva também começa a montar sua campanha. Vai ser divertido.

Dilma Roussef nunca participou de uma eleição na vida, quer para cargo majoritário, quer para cargo executivo, ou até para um cargo no grêmio estudantil. Falta-lhe traquejo e carisma. Em poucos dias, soltou a primeira pérola: afirmou que é uma mulher de coragem, que não foge da luta e que por isso não fugiu do país na época da ditadura. Ela acusou os exilados políticos de covardes. Uma gafe tremenda.

Alguns correligionários correram para dizer que ela não disse o que disse. Mas ela disse sim. Nos dias de hoje, qualquer discurso é registrado ou filmado por celular ou relatado via twitter e demais formas de mídia. Não tem jeito, se falar besteira vamos ficar sabendo. E tenho a impressão de que vamos ouvir muitas besteiras nesta campanha.

sábado, 10 de abril de 2010

O Xadrez das Cores, um curta genial

Este curta metragem de Marco Schiavon é genial. São 21 minutos que demonstram como a grandeza humana supera o mal.


Parte 1



Parte 2




Parte 3

terça-feira, 6 de abril de 2010

O Tempero do Acaso



Tenho uma leve suspeita de que se alguém se aventurasse a estudar o papel do acaso na literatura, produziria uma ótima tese acadêmica. Faz algum tempo que grifo, nos livros que leio, todas as passagens em que o acaso desempenha papel importante; outras vezes têm papel fundamental no enredo.


Ontem, ao assistir o discurso de posse da Profa. Cleonice Berardinelli na Academia Brasileira de Letras, veio-me à mente a ideia para este post. No final do discurso, a nova imortal, contou uma petite histoire, como ela mesma a denominou.

Uma meninha de 8 anos passava suas férias em São Lourenço, Minas Gerais. Como havia pouco a fazer no local, a chegada dos novos hóspedes no hotel era um evento que despertava a curiosidade de todos. Naquela tarde, agruparam-se na varanda da casa da fazenda para aguardar os novos hóspedes. Chegava um senhor distinto, de cabeleira branca e farto bigode preto. Curiosas, as meninas incitaram a menorzinha a acorrer à bagagem e descobrir quem era aquele senhor. Ela foi e contou a todas que se tratava de Alberto de Oliveira. Acostumada a declamara poesias, a pequena tinha consciência de que se tratava do grande poeta.

Após o jantar, o poeta sentou-se num canto da varanda, menos iluminado e mais discreto. Novamente, foi a menina convidar o poeta a juntar-se ao grupo maior. Iniciaram uma longa conversa e ela pôs-se a declamar poesias. Uma. E mais outra. E mais outra. Até que pediu que o poeta também participasse. Como se fazia tarde e já era hora de se recolher, a menina pediu ao poeta que escrevesse uns versinhos para ela. Porém, como retornaria a São Paulo no dia seguinte, e o poeta estaria em São Paulo dentro de alguns dias, combinaram novo encontro na capital paulista, quando então o poeta entregaria o caderno à pequena menina.

Encontraram-se como combinado e ela guarda até hoje os versinhos escritos pelo poeta. No início, a dedicatória: “À Cleonice...”

Esta versão livre da história narrada ontem, traz consigo o tempero do acaso. 74 anos depois daquele evento, Cleonice Berardinelli assumiu a Cadeira número 8 da ABL. E quem é o fundador da cadeira? O poeta Alberto de Oliveira.

Fico a pensar se Alguém lá em cima não deve ter dado um largo sorriso ao ver o acaso de um evento corriqueiro ter seu desenlace explicado 74 anos depois. No reino dos mortais, tenho a certeza de que muitos se emocionaram com a bela narrativa da professora.


Obs.: Assim que o texto do discurso estiver disponível, prometo atualizar o post com um link para o texto, para fazer justiça à história narrada, que foi pobremente aqui reproduzida.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Crônica: Cerimônia

A Coroação de Napoleão (1805-1807), Jacques-Louis David


CERIMÔNIA


Adentrou no amplo salão repleto de senhores engravatados, alguns em trajes cerimoniais, alguns acompanhados de senhoras em trajes de gala, outros acompanhados de moças com aparência de filhas, ou talvez romances novos que floresciam na terceira idade. Da porta de entrada, no meio de uma multidão cuja faixa etária média ultrapassava os sessenta anos, João varreu o público com um olhar atento. Não havia mais lugares vazios para que se sentasse e ele esgueirou-se junto à parede, buscando um caminho para a parte mais central da sala.



Propositalmente, escondeu-se por trás da massa humana que se amontoava de pé nos espaços laterais entre as cadeiras. Novamente seu olhar varreu a sala em busca da razão de sua ida àquele evento. Ele estava acostumado ao formalismo destas cerimônias, onde circulava de forma extremamente confortável. Lidava com os protocolos, as fórmulas, os rituais de modo familiar e natural.


Num canto da sala, perto de uma porta lateral, ele avistou-a. De vestido longo, cabelos bem arrumados, rosto maquiado, ela estava lá. Não conteve um sorriso que lhe desenhou o rosto. Ao vê-la, escondeu-se um pouco mais para ter certeza de que permaneceria incógnito. Ela estava séria, compenetrada, atenta a tudo que se passava. Segurava alguns papéis na mão, provavelmente um roteiro de tudo que haveria de acontecer. A concentração que transparecia do rosto dela indicava que tudo sairia com a precisão de um relógio suíço. Ela era minuciosa e detalhista, atenta a detalhes que somente ela parecia perceber. Foi assim, aos poucos, que ela o cativara.


O olhar fixou-se nela. Linda e com aparência serena, apesar da tensão que certamente disfarçava pela importância do evento. “Será que alguma vez estive presente naqueles pensamentos? Será que algum dia ela nutriu alguma expectativa que frustrei? Será que alguma vez ela sonhou comigo?”. A resposta a pular no palco de seus pensamentos fora negativa e o sorriso de João foi murchando. Ele tinha ido até lá apenas para vê-la. Imaginou que a coragem para falar com ela fosse brotar de um arroubo, ou de um palpitar mais forte do coração, ou que talvez ela o visse ao longe e viesse até ele. Ela continuava a olhar fixamente para o púlpito onde discursava uma figura ilustre, sem sequer piscar.


Rendido e frustrado, abaixou a cabeça e rumou para porta pedindo licença por entre a multidão. Como um homem invisível, ele saia do evento sorrateiramente. Ela não o vira e não saberia de sua covardia. Silenciara antes sobre seus sentimentos e fazia-o novamente. Sentimentos que escondera e deixara que se perdessem na escuridão da noite. Sentimentos que ele imaginava e estava certo de que em nada mudariam a situação. Achava, paralisado pelo temor de expor seu mundo interior, que ela não gostaria de saber.