sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Trata de escrever




"Para que as palavras se transformem em obra de arte, trata de escrevê-las. Exatas. Insubstituíveis. E que fixem um rosto, um olhar, um sorriso, um drama, uma vida, um ser humano, saído de ti, com teu sangue, com tua carne, e que exista como realidade autônoma, fiel a ti mesmo, e que só por si seja tu próprio com a tua singularidade. A literatura é exatamente esse texto no papel. Desde Homero. Desde sempre."

(Josué Montello. Diário da Noite Iluminada. Rio de Janeiro : Nova Fronteira, 1994,p. 64)


Num canto de minha mesa de trabalho, mantenho empilhados, de forma não muito organizada, os últimos livros que li e que, invariavelmente, contêm trechos marcados e rabiscados a lápis. Sempre a lápis para não machucar o livro. Deixo-os ao meu lado para extrair idéias, para guiarem um texto ou para fazerem companhia num momento de silêncio.


Peguei este trecho, escolhido aleatoriamente, de um dos Diários de Josué Montello. Parecem palavras que servem de guia a um escritor jovem e inexperiente escritor. Descreve com maestria o que escrever. Mas insiste: trata de escrever. Não deixe as palavras apenas no vácuo, lança-as no papel. Palavras de incentivo para todos que gostam de escrever.

Ou talvez como o personagem da minha crônica Resolução de Ano Novo.
Bom fim de semana a todos!

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Surpresas da Vida




Como sempre, a vida é muito surpreendente. Quando menos se espera, ela dá uma volta: às vezes nos assusta e às vezes nos maravilha, mas o fato é que sempre nos tira do lugar.”

Esta frase inicia a transcrição de uma aula dada pelo poeta Bruno Tolentino com o título de “Do Enigma ao Mistério”, publicada na Revista Dicta & Contradicta (Número 01, junho 2008, p.14), que faleceu em 27 de junho de 2007. Bruno Tolentino ganhou o Prêmio Jabuti por 3 vezes: em 1995, por As Horas de Katharina; em 2003, por O mundo como Idéia, e em 2007, por A imitação do amanhecer. No texto, o poeta reflete sobre a vida e o tempo, este tesouro que nos é dado gratuitamente a cada dia que se inicia.

Dizer que a vida é surpreendente parece um tanto óbvio, mas esta simples afirmação guarda uma profunda verdade. Cada um de nós – incluindo você leitor -, poderá listar uma série de fatos e acontecimentos surpreendentes ao longo das próprias vidas. Exatamente sobre estas surpresas que quero escrever hoje.

Quando se conhece uma pessoa, naquele primeiro contato, é impossível imaginar se aquela pessoa se tornará um grande amigo, companheiro (ou companheira) de jornadas, presente nas horas de alegria ou de tristeza, ou se simplesmente será um encontro efêmero, uma pequena faísca de luz, rápida e fugaz. Só o tempo dirá.

Há pouco mais de um ano atrás, a vida surpreendeu-me com uma encruzilhada. Um momento em que o futuro planejado parecia desfazer-se como uma nuvem de fumaça, etérea. Era preciso trilhar um novo caminho, recuperar-se do tombo imprevisto e dar uma guinada radical de rumo profissional. Decisão que não foi fácil, mas era necessária. A escolha foi feita e hoje sei que a rota escolhida foi a mais acertada.

Porém, naquela tarde de quinta-feira, no velho escritório da Avenida Paulista, em meio ao vazio da sala e circundado de caixas, o temor do que o futuro me reservava foi apaziguado por um pequeno recado. Fechava uma das últimas caixas com pastas e papéis, quando recebi aquele recado e li aquelas palavras sobre mudança. Somente uma pessoa poderia ter escrito aquele recado encorajador e trazer consigo um efeito mágico. Uma pessoa única. A vida me brindava com uma maravilhosa surpresa!


terça-feira, 26 de agosto de 2008

Notas Olímpicas

As Olimpíadas acabaram e alguns ficaram com a sensação de um desempenho frustrante dos atletas brasileiros. A ladainha se repete com pleitos de mais investimento em esporte de base, criação de programas etc. O presidente Lula disse que o desempenho do Brasil foi "razoável". Discordo.

Em termos de medalhas, o Brasil conquistou 15 medalhas no total. Foi o melhor desempenho do país desde Atlanta em 1996, quando o país também conquistou 15 medalhas. Foram mais medalhas do que em Atenas em 2004. Ganhamos menos medalhas de ouro, mas o talento individual - sempre o esforço individual precisa ser ressaltado - foi responsável por este desempenho.

Esportes onde o país tem tradição, como vôlei, judô e iatismo, contribuiram para este resultado. Enquanto o país só pensar em futebol, jamais se tornará uma potência olímpica.

* * * * *

Em nota vergonhosa, um atleta cubano de taekwondo, ao perder a medalha de bronze, acertou um chute no rosto do árbitro. Ele foi banido do esporte pela federação internacional. Fidel Castro defendeu o atleta e disse que os árbitros estão "comprados" e que há corrupção no esporte. Uma conduta que deixaria o Barão de Cobertain de cabelos em pé. Faltou muito espírito olímpico a este atleta. Para ver mais, clique aqui. A notícia é do portal Terra.


* * * * *

De volta à realidade, passamos a enfrentar a maratona do horário eleitoral gratuito. Ainda bem que existe TV à cabo.


Aqui em São Paulo as pesquisas indicam - de forma surpreendente - a liderança de Marta Suplicy. Algo inexplicável. Bem, talvez haja uma explicação. Seus eleitores são maioria entre pessoas com baixa renda e menor nível de escolaridade. Traduzindo: o povo que é beneficiário do Bolsa Família, o maior programa eleitoreiro já implantado no país. É por isso que não há candidato do PT falando de uso de máquina pública nestas eleições.

sábado, 23 de agosto de 2008

Crônica: Amiga Imaginária





"Quando se ama não é preciso entender o que se passa lá fora, pois tudo passa a acontecer dentro de nós."

(Clarice Lispector)


AMIGA IMAGINÁRIA


Ele tinha uma mania, ou melhor um hábito, algo adquirido recentemente, coisa de pouco mais de dois anos. Ele parecia uma criança quando estava sozinho no carro, apenas mais um cidadão perdido no lento trânsito da capital paulista. O silêncio interno do veículo era quebrado por um intenso diálogo mental e gestual. Falava, gesticulava, gargalhava, cantarolava. Sem se preocupar com o mundo ao redor, imaginava que tinha uma passageira com ele, sentada ao seu lado. Uma amiga muito bela, de pele levemente morena, olhos castanhos, cabelos longos e uma pintinha no lado direito do rosto. Naquela noite, fazendo o mesmo percurso de sempre, parado no mesmo congestionamento de sempre, ela perguntou num tom de irritação perceptível:


- Como é que você agüenta este trânsito infernal todos os dias?


Ele explodiu numa sonora gargalhada, bateu com as duas mãos no volante arqueando-se para frente, quase chorou de tanto rir. Nem percebeu o olhar estranho do motorista e passageiro do carro ao lado, que sem dúvida o tomaram por maluco.


- Eu sabia que no dia em que você viesse me visitar, ia dizer exatamente isto. Sei que você tem pavor de congestionamento. Mas sabe qual é o meu segredo?


- Qual? – retrucou ela, curiosa.


- Sua companhia! Com sua companhia não há trânsito ruim, dia de chuva torrencial que encharca os sapatos ou cansaço que me impeçam de rir. Meu segredo é você. Meu segredo é conversar com você, mesmo quando não estás fisicamente comigo. Quando está longe, deixo meu pensamento levar as palavras até você. E escuto com atenção, pois sempre me vem uma resposta sua. Estes papos me conduzem pelo caminho e fazem com que dedique estes momentos somente a você. Assim o caminho é sempre divertido, sem que me importe com o trânsito ou aquelas coisas chatas do trabalho.


Ela sorriu encabulada, vermelha como uma pimenta, e esqueceu completamente do trânsito.



sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Ainda sobre erros nas Olimpíadas

Contardo Calligaris, na Folha de São Paulo de ontem (21 de agosto de 2008, p. E-16):

"Resta se perguntar por que um campeão pode falhar. Pois bem, até os campeões precisam daquela coisa que faz com que, um dia, milagrosamente, a disposição, o humor, a temperatura, o brilho do sol ou o barulho da chuva conspirem para que dê tudo certo. Ou seja, precisam de sorte. Boa sorte a Diego nos próximos Jogos Olímpicos."

O imponderável. Tudo precisa estar perfeito, inclusive o imponderável. Parece que nestas Olimpíadas o imponderável resolveu se instalar em algum lugar distante do Brasil, mais provavelmente na China.

* * * * *

Nota do Jornal Valor Econômico: "Depois da medalha de ouro olímpico, empresas nacionais e até estrangeiras iniciam sua própria competição para patrocinar o nadador César Cielo. O total pode aumentar até dez vezes em relação aos R$ 30 mil mensais antes da Olimpíada."

Medalha garante um bom prêmio e um bom salário, essenciais para que o atleta continue a treinar e a buscar novos títulos. Este prêmio é a recompensa de anos de sacrifício, mas que pertencem exclusivamente ao atleta.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Choro e erros




Em dias de Olimpíadas, temos visto uma infinidade de atletas brasileiros chorando na televisão. Se ganham, choram; se perdem, choram. Sinceramente, estou meio cansado dos chorões. Tudo bem, dirá alguém, o brasileiro é um povo emotivo, mas eu já cansei. Tentei evitar falar do assunto para fugir do usual e conseguir extrair algo positivo de tanto choro.

Talvez o problema seja a infinidade de perguntas idiotas lançadas por repórteres em momentos inadequados; talvez seja a falta de preparo psicológico de nossos atletas. Porém, acho que precisamos superar uma atitude subdesenvolvida de depositar em atletas brasileiros a salvação da pátria. Diego Hipólito pedindo desculpas a povo brasileiro foi medonho. Ele não tem que pedir desculpas ao povo brasileiro, afinal as conquistas dele são DELE e não de todo o povo brasileiro. Por acaso o povo brasileiro se sacrificou nos treinamentos com ele? Por acaso o povo brasileiro financiou os treinamentos dele? Por acaso o povo brasileiro ia ganhar algum pedacinho da medalha dele?

Não estou renegando minha pátria, mas lanço as questões para refletirmos. Errar todo mundo erra. Falhar numa competição esportiva é normal. Agora, deixar-se levar pela narração do Galvão Bueno e chorar uma medalha perdida, é ridículo. E ressalte-se: medalha não se perde; medalha se ganha. A falha na final é fatal e cruel. O esporte pode ser cruel. Mas o esporte ensina exatamente isto, que errar não é o fim do mundo. É preciso achar forças para começar de novo, para lutar e batalhar por um objetivo. Se o objetivo não for alcançado, muito se conquista com a tentativa e a persistência.

Chega de chorar pelos erros. É hora de olhar para frente e lutar novamente. Sempre.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Storm, música da banda Lifehouse

Achei que este blog estava precisando de um pouco de música.

Fui cativado pela letra na primeira vez que ouvi esta música. "And I will get lost in your eyes". Escrevi algo parecido num passado não tão distante no poema HIPNOSE. Perder-se nos teus olhos, presentes ou ausentes, ao vivo ou por meio de uma foto. Imerso no olhar que hipnotiza, encanta, mexe, acalma, equilibra. Um olhar é muito poderoso. Um olhar carinhoso mais poderoso ainda. Um olhar sincero, que move e faz sonhar.



STORM

How long have I been in this storm?
So overwhelmed by the ocean's shapeless form
Water's getting harder to tread
With these waves crashing over my head

If I could just see you
Everything would be all right
If I'd see you
This darkness would turn to light

And I will walk on water
And you will catch me if I fall
And I will get lost into your eyes
I know everything will be alright
I know everything is alright

I know you didn't bring me out here to drown
So why am I ten feet under and upside down
Barely surviving has become my purpose
Cause I'm so used to living underneath the surface

If I could just see you
Everything would be all right
If i'd see you
This darkness would turn to light

And I will walk on water
And you will catch me if I fall
And I will get lost into your eyes
And everything will be alright

And I will walk on water
You will catch me if I fall
And I will get lost into your eyes
I know everything will be alright
I know everthing is alright

Everything is alright
Everything is alright

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Crônica: Aparência


APARÊNCIA


- Preciso de você. Você é meu refúgio. – disse Marcos, enquanto abraçava Gabriela dentro do carro, em mais uma despedida. O tom de voz dele era firme, sem qualquer sentimento, sem qualquer tremor no timbre que pudesse complementar aquela súplica com algo verdadeiro por trás. Ela reparou na formalidade com que ele discorria e lançava ao pé do ouvido um murmúrio que deveria ser doce, que deveria deixá-la arrepiada, que deveria revirar seu estômago, que pintaria seu dia com estrelas de alegria. Mas , não. Tudo era frio, tudo não se passava de um galanteio de um cafajeste insensível, interesseiro, dito tantas e tantas vezes, em outras circunstâncias e locais, para outras mulheres do mesmo jeito, a mesma frase, com o mesmo efeito.

Ele tentou beijá-la. Ela esquivou-se, virando o rosto e empurrando-o levemente.

- Vai ou você vai perder o avião. Tá quase na hora do seu vôo! – afirmou Gabriela, escondendo a decepção que se descortinava diante de seus olhos.

Ele não insistiu. Sorriu, abriu a porta do carro, pegou sua mala no banco traseiro e acenou depois de fechar a porta. Gabriela acompanhou-o com os olhos até que entrasse no saguão de embarque do aeroporto de Congonhas. Estava enfurecida, tomada de um ódio incomum. Repetia um mantra de ira contra aquele homem por qual se entregara de corpo e alma, mas que percebia ser despido da mesma entrega.

O carro rumou pela Avenida Ruben Berta, no trânsito pesado do final de manhã, que se movia em ritmo lento. Ela bateu no volante com força, descarregando sua revolta. Como poderia ser tão tonta, tão ingênua de achar que havia algo mais profundo, mais forte entre eles. Como um disco riscado, as palavras dele se repetiam. Mudou a estação do rádio uma vez. Outra vez. Mais outra. Desligou o rádio. Nada conseguia apaziguar seu ânimo de vingança misturado com uma frustração intensa.

Marcos tinha vindo a São Paulo a trabalho. Encontraram-se na noite anterior. Saíram para jantar e depois ele foi até o apartamento dela. Não era namoro, não havia compromisso, mas ela estava apaixonada por ele. Nenhum dos dois havia dito nada além do usual. Ela se achava moderna, achava que podia se relacionar sem se envolver, afinal, uma mulher de 34 anos, com um bom emprego, morando sozinha nesta cidade enorme não tinha tempo para longos envolvimentos ou namoros. Desta vez, a realidade forçava Gabriela a repensar seu modo de vida. “Um choque de realidade, minha filha!” – dissera-lhe uma amiga que namorava firme e provocava Gabriela e sua filosofia de auto-suficiência.

Ela esperava mais deste encontro. Esperava que ele olhasse nos seus olhos e dissesse que estava apaixonado por ela. Ele calou-se. Só jogou algumas palavras no final para dar uma aparência de moço interessado e ela achou insuficiente. Estava irritada consigo mesma, perplexa, confusa. Queria e não queria. Queria forças para esquecê-lo , mas ao mesmo tempo queria ele ao lado todos os dias. Queria pular nos braços dele, e queria que ele nunca mais aparecesse.

O trânsito movia-se no ritmo do tempo, ao menos era o que parecia. Gabriela perdeu-se nos pensamentos paradoxais, alheia a tudo que estava à sua volta, imersa num mundo só seu, num mundo silencioso que bloqueava qualquer ruído externo. Fechada em si, nem se deu conta do celular apitando na bolsa.

sábado, 9 de agosto de 2008

Selo: Seja consciente, cuide do Meio Ambiente


Recebi este selo da Margarete, do Pérolas das Flores a quem agradeço. Primeiro, pela lembrança, e segundo por reconhecer neste blog a preocupação com a cidadania, onde inclui-se a sustentabilidade e o meio ambiente.

Cuidar do meio ambiente é agir de forma consciente no dia-a-dia. São ações pequenas, cotidianas e individuais que vão garantir a sobrevivência do nosso planeta e das condições de vida na Terra. Sou um fã incondicional da reciclagem. Separo meu lixo, principalmente papel, e faço questão de levar aos locais de coleta com meus filhos. Transformo algo que poderia parecer obrigação em uma atividade lúdica e educativa. Vejo nas crianças de hoje uma consciência e uma preocupação com o assunto que muitos adultos não têm, o que é uma pena.

As crianças, além de serem o futuro, são um ótimo exemplo de conduta e de zelo pelo meio ambiente.
Se você não participa da coleta seletiva, ou se não separa seu lixo, procure se informar sobre um local de coleta. Além de contribuir com o planeta, estes centros de coleta beneficiam trabalhadores e catadores com uma importante fonte de renda.
O bem que se faz com esta atitude se multiplica!

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Incentivo Paterno e Educação

A escolha do curso universitário é um momento de grandes dúvidas e aflições para a maioria de jovens prestes a enfrentar o vestibular. Digo curso universitário porque o curso não necessariamente corresponderá à profissão exercida. Comigo não foi diferente. Decidi-me pelo Direito no início do ensino médio – colegial naquela época. No último semestre, considerei economia, administração e jornalismo. Resisti às tentações da dúvida e abracei o Direito. Talvez meio ingênuo ou imbuído daquela típica arrogância adolescente, prestei vestibular apenas para uma faculdade. Tinha mania de ser diferente de muitos que prestavam o maior número possível de provas para “se garantir”. Passei em 50º. lugar e ingressei no curso de Direito da Universidade de São Paulo.

Conto esta história para ilustrar mais um post sobre o Dia dos Pais. Lembro-me quando comuniquei aos meus pais que minha escolha tinha sido o Direito. Houve certa surpresa e seguiu-se uma sequência de argumentos – por parte de meu pai – de que a carreira não tinha futuro, de que estava saturada, de que era difícil entrar nas melhores faculdades, de que a concorrência era muito grande... Fiquei um pouco irritado com aqueles argumentos. Esperava apoio e compreensão, incentivo, mas ouvi palavras de desânimo.

Anos mais tarde, compreendi exatamente o que meu pai fez. Ele me provocou. Ele sabia que eu iria encarar aqueles argumentos como um grande desafio, que iria buscar forças para conquistar a meta traçada. Ele estava me incentivando a sonhar alto e a alcançar meu potencial. Demorei a perceber isto. Só me lembrei deste fato quando lhe perguntei um dia sobre uma possível mudança na carreira profissional. As palavras foram de incentivo puro, muito diferentes daquele momento da juventude. Meu pai sabia como despertar a motivação e o “fogo” interno porque ele me conhecia muito bem.

A função primordial da educação não é treinar, mas formar cada um para que alcance e desenvolva plenamente seu potencial individual. O modo depende da individualidade do sujeito. O pai não deve simplesmente “treinar” um filho, mas educá-lo, formá-lo para que este potencial seja alcançado, para que ele se sinta realizado com o incentivo paterno. Incentivo que deve ser moldado e personalizado para cada filho.

A vida ensina muitas coisas. A perspectiva do tempo permite olhar o passado de forma diferente e reconhecer, com carinho, a dedicação dos pais naqueles momentos em que mais se precisou deles. Quando jovens, julgamos os pais de forma equivocada. O passar do tempo revela que geralmente eles estavam certos.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Reflexo no Espelho





As palavras movem. O exemplo arrasta!


Não me lembro da primeira vez que ouvi esta frase. Deve ter sido no início da juventude, na adolescência ou em algum momento antes de entrar na faculdade. O fato é que este pensamento tem estado presente comigo desde que me recordo. Este é o meu ponto de partida para iniciar este post e refletir um pouco sobre a paternidade, tema apropriado com o Dia dos Pais se aproximando.


Os filhos trazem semelhanças físicas com os pais. Os olhos, o cabelo, o rosto. Mas há outros traços e características que herdamos, em decorrência do convívio, dos exemplos e da conduta daqueles responsáveis pela nossa formação. As palavras podem tocar, emocionar e levar à ação, porém, é o exemplo que mostra a coerência das palavras. O exemplo silencioso que se reflete na vida dos filhos.


Outro dia, notei meu filho no sítio caminhando com as duas mãos no bolso. Vi-me refletido nele. Era como se eu voltasse a ter 4 anos de idade, um perfeito reflexo no espelho, uma viagem no tempo. Eles - os filhos - nos imitam em tudo, nas coisas boas e nas coisas ruins, o que aumenta a carga de responsabilidade na formação e educação deles.


Mesmo sem que notemos, eles reparam. Adquirem gostos semelhantes, querem ser iguais aos pais. Não se surpreendam ao perceber que um filho age de forma educada ou carinhosa, ou qunado pede para ler o jornal junto com você, ou quando quer ouvir música ao seu lado. Isto é puro reflexo dos pais. Cada um do seu jeito, já que cada filho é um indíviduo com características próprias, mas uma interpretação renovada das virtudes paternas.


Quando alguém me pergunta se sou filho do Paulo, logo em seguida vem a comparação: "Você fala de um jeito muito parecido com ele!". De fato, peguei os mesmos cacoetes do meu pai no jeito de falar, na entonação da voz, e até com algumas palavras parecidas.


Vejo isto também nos meus filhos. O interesse pela leitura, o gosto por cozinhar, o apreço pela música - que faz com que divida meu iPod com eles -, enfim traços da personalidade que não são físicos, mas adquiridos pela convivência. O exemplo é imitado sem imposição, por livre escolha deles.


Não tenho dúvida que a paternidade é diferente da maternidade e que as funções são diferentes. Não se trata de dizer que uma é mais importante que outra. Ambas são importantes e ambas recompensam seus sujeitos de modo diverso. O fundamental é não esquecer que sempre haverá olhinhos atentos à nossa conduta em todos os momentos da vida.

domingo, 3 de agosto de 2008

Sigilo, Estado e a Lei

Toda vez que aparece um projeto de lei ou alguém do governo sugere mexer no sigilo, seja ele bancário, de comunicação, de dados ou de qualquer coisa, fico arrepiado. E o tempo confirma este meu temor.

O sigilo bancário, ao menos com relação à movimentação bancária, foi afrouxado quando da época da CPMF. A Receita Federal tem poderes para solicitar a qualquer banco a movimentação bancária integral de qualquer CPF no país. Sob a alegação de que não se pode proteger o criminoso, todos os cidadãos de bem têm os seus dados bancários passíveis de investigação pela Receita Federal SEM a necessidade de autorização judicial.


A lógica é torta, assim como muitas coisas neste país. O cidadão honesto e correto tem seus direitos fundamentais violados sob o manto do interesse público, algo vazio, mas um slogan poderoso no âmbito do legislativo, do executivo e do judiciário.


A manchete da Folha de São Paulo do dia 3 de agosto de 2008 é alarmante: "PF obteve acesso total ao registro de chamadas do país."


Informam Leonardo Souza e Hudson Corrêa que "na Operação Satiagraha, que investiga Daniel Dantas, a Polícia Federal obteve senhas na Justiça para ter acesso irrestrito ao cadastro completo e monitorar o histórico dos telefonemas, mas não a gravação da conversa, de qualquer assinante no país."


Todos nós fomos espionados pela Polícia Federal. Não importa que você não tenha cometido um crime, ou sequer seja suspeito, seu sigilo telefônico foi disponibilizado para a Polícia Federal.


Ler a reportagem da Folha e a entrevista do Delegado Protógenes Queiroz revela o risco que existe no país hoje. Não se trata de sensacionalismo. Trata-se de um homem que se julga acima da lei, acima do bem e do mal, um sujeito imbuído de uma missão - ainda que sua missao viole as normas e leis vigentes no país, porque ele acha que estas leis tem um lógica peculiar influenciada por pessoas que não estão comprometidas com os ideiais de uma sociedade livre da corrupção.


A entrevista é para deixar qualquer um boquiaberto.


O sigilo, previsto constitucionalmente, é uma garantia fundamental, uma garantia de direitos individuais que impedem o Estado e seus instrumentos de invadirem a esfera particular do cidadão. O projeto de lei que "blinda" os escritórios de advocacia vai ser vetado pelo presidente Lula. Sou integralmente a favor do projeto. Sou integralmente a favor do sigilo bancário, de correspondência, do sigilo telefônico e do sigilo profissional. O Estado que se vire para prender aqueles que violam a lei, mas não invada a minha esfera pessoal.