sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Vocação


Nessa época eu já falava em vocação, que vem a ser a vontade de fazer isto e não aquela outra coisa eventualmente mais proveitosa e até mais fácil: Vocare, aprendi nas aulas de latim. O chamado. Obedecer a esse chamado é uma destinação e não condenação, porque nesta entra o amargor que transforma o escritor numa esponja de fel. Obedecer à vocação seria simplesmente exercer o ofício da paixão, era o que me ocorria quando diante da pequena mesa abria o estojo com as canetas, escolhia pena preferida, molhava no tinteiro e começava a escrever minhas histórias. Mas tomando o cuidado para não sujar os dedos, esfregar o mata-borrão melhorava, mas cuidado com a blusa!

Vocação seria então apenas isto, atender ao chamado sem se preocupar com o resultado, cumprir o aprendizado da paciência e do amor.”
(Lygia Fagundes Telles. Conspiração de Nuvens. Rio de Janeiro : Rocco, 2007, p. 128-9)

Todos nós temos uma vocação, um chamado, quer profissional, quer na vida de um modo geral. As palavras de Lygia Fagundes Telles fizeram-me pensar na minha vocação profissional que abracei com tanta paixão. Sou advogado e nutro um amor incondicional pelo Direito e pelo ofício que escolhi.

Nestes 14 anos como advogado – sempre como advogado -, nunca pensei em seguir uma carreira pública, nunca me passou pela cabeça tomar outro rumo na vida. Confesso que advogar não é tarefa fácil. É um ofício solitário, pois passamos horas e horas estudando, escrevendo, pensando. Por vezes, revela-se ingrato e cruel diante de situações injustas. A recompensa e a satisfação profissional decorrem do amor ao Direito. O cliente raramente reconhece a dedicação do profissional e muitas vezes não paga o valor previamente acordado dos honorários.

Advogar é uma constante indignação sadia, é não se conformar com a situação, é lutar incansavelmente pelo direito do cliente. É preciso lutar e perseverar, vencendo o desânimo que aparece quando se é derrotado. Isto exige buscar energias e renovar o ânimo constante de luta.


Tenho colegas, que cansados da labuta profissional, sonham em mudar de área, em partir para outra profissão ou abrir um negócio que não tenha nada a ver com o Direito. Não penso assim, porém tenho uma teoria de que muitos jovens advogados vão se desiludir com a profissão. Não há retorno rápido, não há sucesso fácil e não se fica rico da noite para o dia, pelo menos se o profissional atuar eticamente. Para se ter sucesso na profissão, é preciso abraçar a vocação sem se preocupar com o resultado, e seguir adiante com paciência e amor.


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2 comentários:

Simone disse...

pois é! sabe que eu tb amo o que faço e o engraçado é que as pessoas se surpreendem quando perguntam o que eu quero fazer daqui 5 anos e eu digo: ser secretária. É como se, obrigatoriamente, eu tivesse que deixar de fazer o que gosto para mudar para uma posição de mais "status". Por isso, em entrevistas, sou obrigada a mentir. Ou, como diz minha conselheira, dizer uma "inverdade", rs

Edna Federico disse...

É muito bom fazer o que se gosta, pois aí sim sai bem feito.
O que mais vemos hoje em dia é gente insatisfeita com a profissão e querendo ganhar dinheiro rápido.