quinta-feira, 23 de abril de 2009

Milton Hatoum e sua cidade ilhada


Quando comentei com uma querida amiga que havia abraçado a última obra de Milton Hatoum, ela torceu o nariz. A discordância é saudável em qualquer debate e gosto de ouvir critícas para poder avaliar melhor a realidade. Gosto do estilo de Milton Hatoum e seu último lançamento merece atenção.

A Cidade Ilhada (Cia. das Letras, 2009) é o mais recente livro de Milton Hatoum. Um livro de contos cujo cenário principal é a cidade de Manaus e seus arredores. Ainda que o autor rejeite o termo regionalismo, como declarou em entrevista à Folha de São Paulo, por entendê-lo como limitador e pequeno, parece-nos impossível ler suas obras sem ter uma clara relação com o ambiente que cerca os personagens.

Os contos, em sua maioria, já foram publicados anteriormente e agora estão reunidos num único volume. Há uma presença marcante de personagens estrangeiros em visita à floresta. Um ictiólogo suíço, um militar indiano, um pesquisador japonês. Facetas do mundo externo que mergulham no universo da floresta. Talvez neste ponto resida a discordância de Hatoum com referência ao termo regionalismo. Seus contos narram estórias universais, que poderiam ter ocorrido em qualquer outro lugar do mundo. O drama humano, os sentimentos e as emoções dos personagens se sobreporiam às situações específicas. De fato, o regionalismo parece ater-se apenas ao cenário, ao pano de fundo das narrativas.

Quando o personagem é o estrangeiro, surge a afirmação do protagonista de um dos contos: "Para onde eu vou, Manaus me persegue." A união do mundo regional com o mundo exterior encontra sua intersecção na maioria dos contos. O regionalismo funde-se no cruzamento dos caminhos, dando vazão a textos com características de personagens universais.

Hatoum escreve de forma fluida, como as águas caudalosas dos rios. As falas dos personagens não são antecididas de travessões ou aspas. A evolução do texto dá-se de forma única, desprezando-se estes sinais de pontuação. O texto flui como o rio flui, como a vida flui. Hatoum descarta estes entraves manifestando algo peculiar e próprio no seu estilo de escrever.


Outros posts sobre Milton Hatoum: O olhar e as palavras na visão de Milton Hatoum e Fechando o círculo.

Um comentário:

Edna Federico disse...

Não conhecia o livro, valeu pela dica.
Beijo