SEGUE O TEU DESTINO
Segue o teu destino,
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
De árvores alheias.
A realidade
Sempre é mais ou menos
Do que nós queremos.
Só nós somos sempre
Iguais a nós-próprios.
Suave é viver só.
Grande e nobre é sempre
Viver simplesmente.
Deixa a dor nas aras
Como ex-voto aos deuses.
Vê de longe a vida.
Nunca a interrogues.
Ela nada pode
Dizer-te. A resposta
Está além dos deuses.
Mas serenamente
Imita o Olimpo
No teu coração.
Os deuses são deuses
Porque não se pensam.
(Quando fui outro. Rio de Janeiro : Objetiva, 2006, p. 71)
O primeiro verso convida-nos a cuidar do nosso "jardim" interior, a cuidar de si e seguir o caminho do destino, o caminho traçado e que podemos traçar e alterar. E depois, afirma o poeta, "a realidade/ é sempre mais ou menos/ do que nós queremos".
Somos eternos insatisfeitos, querendo mudar para mais ou para menos, querendo que as coisas fossem diferentes, querendo que coisas se transformassem num passe de mágica, que o tempo andasse mais rápido - ou mais devagar, que um amor durasse eternamente, que os dias de sol não fossem tão quentes ou os dias de chuvas tão frios. A lista seria infindável.
Somos eternos insatisfeitos, material e espiritualmente, sempre buscando algo, sempre caminhado pela vida. Vê de longe a vida. Porém, não permitamos que a vida nos conduza, que sejamos meros pacientes. Precisamos ser atores, maestros, regentes da sinfonia da vida, tão bela e tão misteriosa.
8 comentários:
Renato:
Amo Fernando Pessoa com todas as minhas forças
Lendo Pessoa parece tão fácil escrever, né?
por que deixa a dora nas aras, seria uma variante de dor?????feminino???
:D
Acredito que dará é uma planta! Já vi versão com dor ao invés de dora? Não seria erro de digitação?
Mestre puma tens razão. Foi um erro de digitação de minha parte e agradeço a correção. A versão já está corrigida.
Uma obra literária edificante! Toca na alma propondo enxergar o invisível!
Profundo e ao mesmo tempo dialético. Quando se lê Pessoa tudo parece respectivo.
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