O título deste post fará muitos lembrarem de uma música do Djavan. Nesta manhã cinzenta em São Paulo, consegui arrumar tempo para finalmente colocar no papel algo que vem amadurecendo na minha cabeça: a forma como as cores afetam nossa sensibilidade.
Durante toda a primeira parte de O Mar, de John Banville, há uma predominância de tons de cinza, nas suas mais variadas tonalidades e matizes, por ora metálico, por ora opaco, mas sempre cinza. Somente percebi isto depois da metade do romance, e então comecei a grifar e sublinhar todas as vezes que Banville se referia a cor ou quando utilizava cor na descrição de alguma situação. A razão desta utilização magistral da cor no romance somente se esclarece quando atingimos a parte final do romance e as peças do quebra-cabeça se encaixam, revelando a linda foto da vida.
Na parte final do romance, surgem tons de azul, alguns rosáceos, arroxeados, mas sempre cores frias. O simbolismo parece revelar um período de transição da vida, uma passagem de um momento de dor para um momento de renovação e recomeço. Faz-se a luz no final do túnel!
As cores e suas tonalidades podem nos permitir momentos de prazer silencioso. Na última sexta, retornava de uma reunião na fábrica de um cliente em São Bernardo do Campo. Deixei a fábrica pouco antes das 18 horas e um lindo entardecer descia sobre São Paulo. Voltando pela Imigrantes - rodovia que liga a Região do ABC à Capital - notei o céu azul, com algumas poucas nuvens. Eram cirrus, sopradas, de uma leveza única, que pareciam areia jogada sobre uma tela anil. Leves pinceladas brancas sobre a tela do pintor celeste. Aos poucos o branco foi sucedido pelo rosa claro e depois mais escuro. Um espetáculo gratuito, silencioso, para quem quisesse olhar e apreciar. Preferi contemplar o espetáculo ao invés de me irritar com o congestionamento.
Estas cores se repetem em nossas vidas. De tons cinzas, negros ou da ausência de cores, sucedem-se momentos de cores vivas e alegres. Tudo é uma questão de tempo, tudo é uma questão de enfrentar os problemas e seguir em frente, caminhando sempre.
5 comentários:
Muito interessante seu olhar sobre as cores. De fato, o cinza nunca me agradou, mas ele existe, assim como todas as demais. A diferença está na forma de vê-las. Uma semana colorida para você!
Beijinhos Mi - Balzaquiana
Sim, as cores fazem parte de nossa vida.
Acho até que nos vestimos de acordo com nosso humor...
Tudo está contido na otica do olhar, que preenche nosso sentimento de matizes diferenciados.
Você descreve bem Sampa, que tem nuancias extremas.
Boa semana.
Selma
Putz, texto show esse.
concordo com vc, as cores fazem parte de tudo na nossa vida
Lendo o livro Histórias e Canções de Chico Buarque/Wagner Homem pág. 214 tem uma música chamada "Imagina" (1983), composta por Tom Jobim e Chico Buarque para o filme "Viver Um Grande Amor". Na letra da música há diversas referências as palavras "Lua cris". No papel principal do filme, interpretando a canção tem Djavan, que é autor da música "Nem um dia" que tem a expressão "amores gris", lembrado no seu texto, diga-se de passagem muito bem redigido. As duas palavras têm a mesma sonoridade e são colocadas em canções. Gostaria de saber se as mesmas são corruptelas de quais palavras? Se a primeira (cris) teria inspirado a segunda (gris), principalmente, porque a ordem dos acontecimentos permitiria isso.
Atenciosamente,
Carlos Lobo Guerra e Jarlene Santos Guerra.
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