NA MADRUGADA
Acordou desnorteado com a gola do pijama empapuçada de suor apesar do quarto estar fresco. Não sentia as cobertas sobre seu corpo; não conseguia racionar e situar-se. Apalpou a cama ao seu redor sem saber se estava de cabeça para baixo ou próximo da beirada. Esticou o braço direito sobre a cabeça e acertou com força a cabeceira da cama, gemendo com a dor da batida. Tateou a cabeceira numa tentativa de voltar a si. Pelo lado esquerdo a cama parecia infinita, sua mão não alcançava a borda do colchão. Esquecera-se das cobertas que estavam sobre seu corpo. Estava tomado de um sentimento de queda livre, num poço fundo e escuro, porém a queda constante assemelhava-se a de uma folha de papel, suave e pouco amedrontadora.
Suas pernas formigavam e isto lhe causou aflição. Pensou estar soterrado ou preso por algo pesado que prensava suas pernas, impedindo-o de se movimentar. Tentava mexê-las e elas não reagiam. Não se sentou na cama por medo de bater a cabeça. Olhou ao redor na noite escura, buscando uma luz, um ruído, algo que lhe trouxesse de volta a referência que perdera.
Um tímido brilho vinha de um canto do quarto. Era o relógio que estava coberto com a revista que arremessara na noite anterior e cobria as horas. Eram 4:39 da madrugada. Pedro não viu as horas. Sem os os óculos que repousavam sobre o criado mudo, não enxergaria o número marcado no relógio. Esfregou os olhos e aos poucos voltou a sentir suas pernas. O desespero momentâneo se desfazia de forma inversamente proporcional à lucidez que recobrava.
Passou a mão pelo pescoço e limpou o suor da nuca. Empurrou o lençol e o cobertor para a ponta da cama. Ouviu quando ambos caíram no chão. Respirou aliviado. Sentou-se na cama. Mirava a escuridão sem ver nada. O sonho veio à memória de forma embaçada. Esforçou-se e as imagens ganharam contornos precisos. Repassou em detalhes aqueles momentos que havia assistido há pouco. Era ela. Havia sonhado com ela. O sorriso inesquecível estava ali, diante dele, com todos os sons, com todas as cores, com toda a vivacidade que ela tinha. Tomado por um torpor que lhe aqueceu a alma, Pedro sorriu e quis que o tempo não existisse.
Mas era só um sonho. Deitou-se novamente e chorou em silêncio.
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