"E os dois ficaram fitando a luminária, sem coragem de cruzar os olhares, temendo estas palavras. Frederica parecia inculta mas tinha uma existência poética. Talvez o poema que Último estivesse procurando não existisse em forma de palavras, apenas na figura de uma pessoa. Se isso fosse possível, Frederica seria este poema e Último já o conquistara. Marlus começou a vê-la como palavras que se traduziam em formas, movimentos, odores."
(Miguel Sanches Neto. Então você quer ser escritor? Rio de Janeiro : Record, 2011, p. 26)
O trecho acima foi extraído da primeira parte do conto "Árvores Submersas" do último livro de contos de Miguel Sanches Neto. Seria mais adequado denominar de trecho, pois não se trata propriamente de uma epígrafe. Do trecho é possível decantar as palavras e o resíduo é uma epígrafe, talvez não clara e patente, mas que remanesce no subconsciente do leitor.
O poema perfeito tenta descrever uma pessoa, uma pessoa idealizada na perfeição. A pessoa ideal jamais caberá num poema, pois o poema nunca é perfeito e a pessoa ideal somente existe no imaginário. A ser humano é imperfeito, a beleza é imperfeita, mas com o poema, o poeta almeja o sublime, a descrição da perfeita beleza. Em sua limitada condição humana, o poeta pode tangenciar a perfeição desejada, mas alcançá-la é algo divino.
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